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Carta do Editor Algomais nasceu em 5 anos Permitam-me um dedo de prosa sobre o passado, o presente e o futuro de nossa Algomais que completa este mês cinco anos de existência com uma edição histórica de 164 páginas. O empresário Roberto Marinho dizia que uma publicação nasce ou morre em dez anos. Algomais contradiz tal assertiva porque nasceu em cinco anos. Vejam bem: em cinco anos, Algomais passou de 6 mil para 20 mil exemplares, em sede própria, distribuição pontual e elogiada qualidade editorial. A pesquisa dá a dimensão do sucesso: duas em cada três pessoas da Classe A nos lêem; na classe B, 30% são nossos leitores. Oitenta e oito por cento dos assinantes da revista são formadores de opinião, pois têm nível superior. A pernambucana Algomais se inseriu de vez no promissor mercado editorial brasileiro de revistas. E pisa firme na mesma direção, confiante no que aponta o futuro. Até 2014, os fabricantes nacionais de papel ampliarão sua capacidade instalada em 200% para atender a demanda das editoras. A Aner (Associação Brasileira dos Editores de Revistas) prevê pelo menos 20 novos lançamentos por ano (comparado com os Estados Unidos, diz o vice-presidente executivo da Abril Media, Jairo Leal, o Brasil pode dobrar o tamanho do seu mercado de revistas). É fascinante. Prestem atenção no desenvolvimento do Blog que a Algomais lançou em fevereiro último e o que ele pode representar doravante. Algomais trata da expansão da sua marca transferindo o sucesso da publicação para outras plataformas. Este é o sentido real do empreendimento. No futuro, segundo prevêem os especialistas, as revistas migrarão para a nova plataforma tecnológica dos tablets como o Ipad para descobrir uma nova fonte de receita: o comércio eletrônico. O e-commerce virá jun- to com as revistas, com anúncios interativos, links para mais informação, mapas, vídeos e realidade aumentada. Para nós, é um privilégio poder participar ativamente da montagem desse cenário. Afirmo que esta é uma edição histórica porque marca de forma brilhante os cinco anos da revista. Trabalhamos para lembrar as transformações ocorridas em Pernambuco nos últimos tempos e de que forma essas mudanças estão ligadas com o desenvolvimento da revista. Que foi premonitória logo no seu primeiro número. Em março de 2006, o título de Capa dizia: Refinaria pode acertar o passo de Pernambuco (confira no texto assinado por Ivo Dantas e Camila Lindoso). Para definir o que é a Algomais, transcrevo um texto que preparei para responder a pergunta que me fizeram há algum tempo: Como merecer uma reportagem da Algomais? Ei-lo: Para merecer uma reportagem da Algomais é preciso ser, pertencer ou estar ligado de alguma forma a Pernambuco. É desta forma que a revista tem abordado os temas pernambucanos, procurando oferecer informações novas e uma análise equilibrada sobre a diversificada riqueza cultural do estado, seus personagens históricos e protagonistas contemporâneos, a economia em franco desenvolvimento e os aspectos relevantes de áreas dinâmicas como política, educação, saúde, tecnologia, religião, meio ambiente, esportes e comportamento. Uma atitude que identifica a Algomais como a revista de Pernambuco, slogan adotado desde o primeiro número que bem a define editorialmente. Uma boa leitura. Roberto Tavares Editor Geral 6 > > março 2011

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Sumário Seções Carta do Leitor... 10 Entrevista... 18 Fuxicos Literários... 24 Pensando Bem... 26 De Olho... 28 Francamente... 28 João Alberto... 30 Pano Rápido... 104 Economia... 114 Gestão Mais... 118 Palavra do ibef-pe... 120 Algom@is... 154 Comer Bem... 156 Memória Pernambucana... 160 Última Página... 162 Edição 60 Circulação 17.março.2011 Criação Alex Camilo e Rodrigo Linck Tiragem 20.000 exemplares CAPA... O novo passo de Pernambuco 34 Reportagens Inversão de papéis... Entrevista Eduardo Campos... O início de um novo ciclo... Muito investimento, pouca qualidade... Saúde ainda é alvo de polêmica... Muitos projetos, poucas obras... Os shows da cultura... ARTIGO Pernambuco, o futuro agora... Religião, literatura, política, medicina: aqui se falou de tudo... Em sintonia com os fatos e os leitores... Exportações em destaque... Um século de frevo... Frevo visita o samba... Leão, imortal, imortal... O resgate do patrimônio de Olinda... Um profeta passou por aqui... Suape chega aos 30 anos sem pisar no freio... Remédio feito de ciência e amor... Respostas que interessam a Pernambuco... Eduardo X Quem?... Entre a lealdade e a independência... 36 37 38 40 42 44 46 48 50 68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 O avanço da consciência ecológica... A marca de uma sertaneja... População do Recife cresceu 8%... A economia do dia a dia... 100 ARTIGO Para Sérgio Moury... 102 ARTIGO Uma nova bolha à vista na Internet?... 106 Saúde e beleza em harmonia... 108 Degradado, Geraldão vai sofrer reforma milionária... 110 Nova fábrica da Ambev vai gerar 200 empregos... 116 Elas estão mais sabidinhas?... 122 Pela preservação das aves de Aldeia... 126 ARTIGO O Plano Fatal... 136 Adeptos das cinquentinhas temem mordida do Detran... 138 Indochina, Reino de Buda e da Motocicleta... ARTIGO Educação Ambiental - Um Desafio para a Escola... Maria que inspira arte... Madureira celebra 35 anos de carreira inventando arte... 92 94 96 142 146 148 150 Talento pernambucano para os hermanos verem... 152 O Capitão e o Capitão capítulo 4 Dona Pichita... 158 8 > > março 2011

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Cartas do Leitor Maria Bonita I Roberto, A marca de uma sertaneja, matéria da repórter Mirela Soane, edição de fevereiro dessa Algomais, revelou o talento da menina. O tema é escorregadio, confesso, mas ela se saiu muito bem, sobretudo pelo curto espaço de tempo que dispunha e, ainda, ser um assunto desconhecido para ela. A suite, de Luiz Otávio Cavalcanti, Renascimento do Sertão está primorosa. Parabéns aos dois, a Roberto, Zé Neves, Sérgio e Adrianna Coutinho, pela diagramação. Wanessa Campos Maria Bonita II Lampião deu provas de saber logo ver a beleza da mulher. Fez sua companheira inseparável, sua Maria Bonita. Seus jagunços deviam babar com uma mulher bonita, natural e com coragem. À época devia tão somente usar água e sabão, mas já calçava algo em couro parecido até com os tênis de agora, resistentes ao solo sertanejo. Hoje com certeza seria a top-model das caatingas. Imaginem se tivesse os diversos produtos de maquiagem de hoje para ficar mais bela. Caso contasse com um estilista seria a nº 1 das passarelas do sertão. Que Wanessa Campos nos traga em seu livro um novo colírio para os olhos. Carlos Tigre, (Cacá) Maria Bonita III Mirela, quero parabenizar pelo excelente artigo A Marca de uma Sertaneja. Mostrou o lado humano e lindo de Maria Bonita, cuja beleza faz jus ao nome, mas ao mesmo tempo sua meiguice e elegância nos revela uma linda mulher desconhecida de todos... A capa está fantástica, olhar altivo, doce, mostrando a 10 > > março 2011 grande mulher que ela foi, as mãos afagando carinhosamente os cachorrinhos. Gesto esse que parte do coração de quem amou e foi muito amada na vida. É uma revista para ler e guardar. Tinane Almeida Algomais I Roberto: Acho que já se tornou normal dizer que a revista Algomais está pra lá de ótima. A última edição nº 59 veio para continuar coroando de êxito o trabalho que vocês vêm fazendo na imprensa pernambucana. A começar da capa com Maria Bonita, seguindo com a entrevista com Leonardo Dantas onde escancara a realidade do nosso atual carnaval (?). O artigo de Jorge Jatobá desnudando as mazelas de nossas praias. A matéria de capa onde descobri que minha amiga Wanessa Campos, competente jornalista, diga-se de passagem, está escrevendo um livro sobre a rainha do cangaço. A opinião franca sobre seus próprios livros do escritor Abdias Moura, além das matérias com o inesquecível Marcílio Campos e o nosso maestro Marlos Nobre que, se tivessem nascido no sudeste ou mesmo na Bahia, seriam mais reconhecidos. Infelizmente, nós pernambucanos, não sabemos valorizar o que é nosso e para finalizar, o artigo de Francisco Cunha, um eterno vigilante desse nosso Recife. Parabéns a você e todos que fazem a Algomais. José Torres - Praia da Piedade- Grande Recife Algomais II É louvável a forma como a direção da Algomais conduz cada edição dessa laboriosa revista, estando sempre a oferecer ao leitor os mais variados temas que abordam Pernambuco. Sempre leio as excelentes crônicas do colunista Francisco Cunha, cujo zelo e desvelo com o meio ambiente muito me comovem. A preocupação do nobre jornalista caminha paralela à nossa, pois nasci no Recife e aprendi a amar essa cidade. Não é de hoje que interajo diariamente com tudo que diz respeito ao meio ambiente em seus vários aspectos. Emociono-me fácil só em ver seu pôr-do-sol. Converso com pássaros e falo, da minha varanda, todos os dias com as árvores do meu Rosarinho. A cidade do Recife é fascinante, reúne em seu espaço geográfico rios, pontes e um conjunto arquitetônico que remonta a quatro séculos. A cidade é linda e poderia ser bem mais não fossem a sujeira exposta e a falta de verde nas ruas e o desprezo com o pouco que ainda resta. Quem sabe as crônicas de Francisco Cunha, em forma de grito, não encontrem um dia guarida no peito de nossos gestores? Parabenizo à Algomais pela qualidade editorial de cada edição e por ter em seus quadros um cidadão que tem prestado bons serviços ao nosso esquecido Recife. Luiz Maia Recife www.luizmaia.blog.br Algomais III Prezado Sérgio, parabéns a toda equipe da Algomais. Recebemos com alegria e muita satisfação, todos os meses, aqui em São Paulo, a Revista de Pernambuco, que está sempre cada vez melhor. Clementina tem muito orgulho em ter criado o Troféu que Algomais oferece a personalidades que se destacaram nas suas áreas, anualmente, e se considera parte da Revista. Neste Ano 5 que o sucesso continue!! Nelson da Franca Ribeiro dos Anjos u

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Cartas do Leitor Algomais IV Sérgio: tenho recebido a revista e agradeço por isto. Esta ultima que tem a entrevista do Leonardo, achei muito boa até porque o comentário sobre o Galo da Madrugada é perfeito Antes era paixão, hoje é negocio. O artigo sobre Maria Bonita me deixou realmente sensibilizada porque é um resgate à nossa história e a mulher nordestina e a mulher como um todo. E a matéria sobre Marcílio Campos foi demais pois lembrei dos nossos sonhos nas mãos dele quando fazíamos quinze anos morávamos em Campina Grande. Mas meu pai (Agenor Vasconcelos, empresário de sucesso na área de panificação) só se conformava se as filhas fizessem vestido com Marcílio, foi demais... Muito bem merecida. Outro artigo, a titulo de sugestão,sobre as ruas do Recife e seus nomes, as pontes e seus nomes.outro dia fui procurar saber quem foi o francês, até no Google e nada de saber quem foi Jean Émile Favre, só muito superficialmente e deixando muito a desejar. Muitos não sabem quem foi o conde da Boa Vista. Fica a sugestão. Isolda Vasconcelos Menos uma placa Chico. É isso, rapaz, Exterminadores do Passado do Recife. Por coincidência, o tema do seu artigo na última Algomais é, também, tema de três crônicas minhas para o JC nas primeiras semanas de março: Crônica da Casa Assassinada (1 e 2) e Recordações da Casa dos Mortos. Nas três, a casa, infelizmente, é o Recife. Além de vigiar e orar, amigo, temos que resistir. A sanha dos exterminadores tem algo de nazi-fascista, não se iluda. Nessa guerra, temos que lutar como os marquis e partisans. Eles, os exterminadores, têm, por certo, poder e armas. Mas nós temos o que eles não têm. Inteligência e razão. Muerte a la burricie!, como diria Unamuno. A Algomais será nossa trincheira. Você, o general. Não tenho a menor dúvida, Chico, que os mineiros, atuais donos do Paço Alfândega, jogaram fora o acervo do pequeno, mas encantador museu sobre a história do Recife que existia no andar da praça de alimentação. Assim como estão esperando que o Chanteclair, em obras há dez anos, desmorone. Já está em ruínas. À luta, companheiro! E conte comigo na linha de frente do seu pelotão. Saudações pernambucanas. Joca de Souza Leão Rodovia Recife x Caruaru Chamo a atenção para o que vem ocorrendo no leito da BR-232. Várias placas de concreto estão danificadas, os remendos efetuados são de baixa qualidade. Alguns veículos, para evitar a buraqueira, invadem perigosamente a preferencial do outro que vai corretamente viajando, o que provoca passagens perigosas. A sinalização não está boa como anteriormente se encontrava. O bonito e importante túnel que bem poderia ser rebatizado com o nome do inesquecível Joaquim Nabuco, está precisando de uma nova pintura e uma caprichosa mão de obra. Quando passamos pelo mesmo é que vemos como está diferente. Nada mais satisfatório seria para o embelezamento da movimentada estrada tronco-central Recife/Caruaru do que uma revisão urgente na mencionada BR-232, como também maior segurança será oferecida aos que utilizam a referida rodovia, principalmente os turistas. Reinaldo Lessa Recife O Capitão... Fiquei impressionada com o realismo da reportagem-ficção O Capitão e o Capitão. Me senti como se estivesse sentada ao lado do Sinhô Pereira ouvindo-o contar as histórias... Isso é que é narrativa de qualidade! Com certeza vou acompanhar todos os capítulos dessa história (com um gostinho de quero mais) que a Algomais está nos dando o prazer de ler. Rafaella Vieira - Recife-PE u Expediente Av. Domingos Ferreira, 890, sala 803 Boa Viagem 51110-050 Recife/PE Fone: (81) 3327.3944 Fax: (81) 3466.1308 www.revistaalgomais.com.br 12 > > março 2011 Diretoria Executiva Sérgio Moury Fernandes sergiomoury@revistaalgomais.com.br Francisco Carneiro da Cunha franciscocunha@revistaalgomais.com.br Diretoria Comercial Luciano Moura lucianomoura@revistaalgomais.com.br Conselho Editorial Francisco Carneiro da Cunha presidente Luciano Moura Ricardo de Almeida Sérgio Moury Fernandes Doryan Bessa Bruno Queiroz Redação Fone: (81) 3327.3944/4348 Fax: (81) 3466.1308 redacao@revistaalgomais.com.br Editor-geral Roberto Tavares robertotavares@revistaalgomais.com.br Editor-executivo José Neves Cabral zeneves@revistaalgomais.com.br Reportagens Ivo Dantas ivodantas@revistaalgomais.com.br Mirela Soane mirela@revistaalgomais.com.br Camila Lindoso camila@revistaalgomais.com.br Fotografia Alexandre Albuquerque (81) 9212.9423 Editoria de Arte Adrianna Coutinho adrianna@revistaalgomais.com.br Rivaldo Neto rneto@revistaalgomais.com.br Assinatura assinatura@revistaalgomais.com.br Fone: (81) 3325.5636 www.revistaalgomais.com.br Publicidade Engenho de Mídia Comunicação Ltda. Av. Domingos Ferreira, 890, sala 808 Boa Viagem 51110-050 Recife/PE Fone/Fax: (81) 3466.1308 engenhodemidia@engenhodemidia.com.br Filiada ao Auditada por Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista.

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Cartas do Leitor O nome da moda Marcelo, obrigado pela homenagem prestada a Marcílio do qual sou primo em segundo grau, com quem tive o grande prazer de conviver. Gostaria de esclarecer que Marcílio trabalhava no Novo Continente, que era de propriedade do meu avô Bernardo Florentino Alves Campos e de meu pai, Milton de Oliveira Campos, e não na casa Matos. Meu avô era tio de Wilson da casa Matos. Bernardo Campos Fortaleza OBS: Complementando, gostaria de acrescentar que foi o meu avô, Bernardo Campos, quem custeou a viagem de Marcílio a Paris, e que o Novo Continente era uma grande, e a melhor, loja de tecidos e roupas da Rua da Imperatriz. Depois de vir de Paris, onde foi duas vezes para a Maison Dior, Marcílio ganhou de O Novo Continente um ateliê no primeiro andar. Posteriormente ele se instalou num casarão na Rua José de Alencar. Marcos Alencar I A entrevista concedida por Marcos Alencar à Algomais foi extremamente sensata, objetiva e de uma clareza espetacular, contribuindo enormemente para o debate sobre a melhora do Judiciário brasileiro. Se alguns dos pontos abordados fossem colocados em prática, com certeza iriam prover ganhos para toda a sociedade. Gustavo I. Passos Lima Marcos Alencar II Parabenizo Marcos Alencar pela abordagem de um paradigma nacional: as leis do trabalho. No mínimo é um contra-senso como o Brasil tutela a relação de trabalho, inibindo a geração de oportunidades formais, punindo a produção nacional em um mercado tido como global. Neste quesito os países asiáticos estão há séculos no rumo certo. Gustavo Schwambach R.D.Grupo Borborema Porto de Galinhas Quero comentar sobre a matéria De Olho edição nº 006 que fala sobre Porto de Galinhas, onde deveriam oferecer ao público turistas ou não uma qualidade de serviços, hospitalidades e preços razoáveis de um lugar onde se possa passar um dia, final de semana com a família pagando-se uma quantia acessível a todo público, mas o que presenciamos é uma caristia de todos os lados, só para ficar em uma barraca/cadeira praia por exemplo, temos que pagar no minímo uns R$ 40,00 e ainda consumir um prato cardápio que sai acima dos R$ 35,00,e uma diária no barato fica por uns R$ 600,00. Desse jeito vão espantar os turistas... Como diz o nosso Alexandre Garcia, É uma VERGONHA uma coisa dessa! O sol brilha para todos, vamos aproveitar/curtir aquela beleza da natureza que Deus nos deu e não esplorar o próximo Aminadab de Castro Melo Via Mangue I Mirela Soane, meu nome é Roberto Carvalho de Medeiros. Sou oficial da Marinha reformado no posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra e resido atualmente em São Paulo (Capital) onde atuo na área acadêmica. Recebo regularmente a excelente revista Algomais aqui em SP, uma cortesia especial do Sérgio Moury Fernandes, onde procuro contribuir divulgando-a junto ao meu círculo de pessoas. Li, com interesse (n.58 - Jan/2011), a matéria elaborada pela sra sobre a Consciência ecológica x poder social, com especial atenção ao assunto relacionado com o Parque dos Manguezais. Tive o privilégio de ser um dos Comandantes da antiga Estação Rádio Pina durante os anos de 1989 e 1991, retornando ao Recife em 2003 para exercer o cargo de Capitão dos Portos de Pernambuco entre 2003 e 2005. Em decorrência, participei diretamente das atividades desenvolvidas pela Marinha naquele local, tanto como ex-comandante da Rádio Pina, bem como seu representante no estado de Pernambuco, neste caso administrando aquele gigantesco espaço geográfico como área de responsabilidade da Marinha após ter sido desativada aquela Organização Militar. Sempre defendi a transformação daquele terreno em um espaço misto, separando uma parcela mais apropriada para uso acadêmico (pesquisa e investigação científica), e deixando outras duas para uso público mediante acompanhamento especializado (visitas, caminhadas, etc.) e para lazer recreativo. Permaneço com este pensamento e faço votos que as etapas posteriores às atuais sejam promissoras e convergentes. Tão logo começou o debate sobre o destino desse terreno, recebi um e-mail de pessoas conhecidas pedindo que eu comentasse tal assunto. Decidi escrever um texto registrando minha experiência, expectativas e sugestões. O arquivo em anexo contém o meu artigo o qual convido para você conhecer, a fim de contribuir para sua pesquisa e, quem sabe, servir como uma provocação para uma outra matéria específica e/ou complementar. Comandante Roberto Medeiros. prof. universitário. (11) 7035-3962. u 14 > > março 2011

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Cartas do Leitor Via Mangue II É com profundo pesar pela ignorância da população em entender o verdadeiro significado desta Via mangue e pelo alento de vossa reportagem publicada recentemente na Algomais sobre consciência ecológica que espero estar contribuindo com as informações que se seguem. Basta um ligeiro estudo para se verificar que a pecha de desafogo de trânsito não vai se concretizar. Vai apenas trocar de lugar. É fácil elencar os gargalos: 1 cruzamento: Antônio Falcão (que flui com grande fluxo no sentido Boa viagem Imbiribeira). 2 cruzamento: Antônio Galvão ( que flui no sentido inverso) 3 ponto: estreitamento do túnel 4 ponto: saída do túnel em confluência com a saída do Carrefour em via de apenas duas faixas estreitas e invadidas por diversos comércios (hoje já engarrafado nos horários de pico). 5 ponto: Barão de Souza Leão ( sem comentários). 6 ponto: Capitão Zuzinha ( sem comentários enorme fluxo vindo do aeroporto e zona sul a boa viagem) Estes serão os novos pontos de envazamento que não serão resolvidos, pois não há interesse em resolvê-los. Então? Qual a solução? Muito mais rápido e menos oneroso seria reduzir drasticamente o número de cruzamentos da av. Domingos Ferreira; eliminar o canteiro central; acabar com o estacionamento nas ruas adjacentes que receberão o tráfego de retorno; colocar fiscalização efetiva no sentido de e manter este fluxo em andamento em detrimento da indústria de multas; e, finalmente, conscientizar a população no sentido de manter nosso ecossistema para as gerações futuras protegendo-o com ações de esgotamento sanitário decente, fiscalização atuante para evitar invasões, sem apadrinhamento de políticos demagogos e investir essa dinheirama em um sistema de transporte de massa sobre pilotis nos atuais canais de esgoto a céu aberto vindo desde Barra de Jangada, passando por Candeias, Piedade, Boa viagem, Pina até encontrar o metrô na atual estação Joana Bezerra. Depois, eliminar os ônibus desse trecho e trazer transporte interligando este metrô ao metrô ferroviário atual. Mas, para isso, teríamos de ter um governador e prefeito comprometidos com política de transporte de massa, turismo e preservação ecológica. Artur Wiedemann - Recife Trio Elétrico Parabenizo esta revista pelas magníficas matérias publicadas na edição 59. Foi muito oportuna a entrevista com Leonardo Dantas sobre o Carnaval. É uma realidade o que ele fala principalmente do Galo da Madrugada que deixou de ser um clube de máscara para se tornar um rap, um algomerado de pessoas com o mesmo objetivo: ocupar espaço nas ruas, fazer parte da multidão para nada. Não há dança nem beleza para ser admirados como nos clubes carnavalescos que têm as troças, os blocos líricos, os maracatus etc. O Galo passa pelas ruas em vários trios elétricos deturpando nossas tradições culturais e até mesmo acabando com elas usando os trios elétricos. Essas máquinas produzem som estridente que prejudica o ouvido provocando surdez. Também mutilam árvores, partem fios elétricos e rasgam a ornamentação das ruas. O trio elétrico é uma praga Alexandre Albuquerque maligna que se espalhou pelo Nordeste uma invenção baiana que está acabando com Pernambuco. Acabaram com as orquestras de frevo, com as bandas de música que são a nossa cultura, principalmente o Carnaval. Em todas as bandas existem compositores de frevo. Não existe frevo sem banda nem banda sem frevo. Outrossim pagam milhares de reais aos trios, quando por muito menos teríamos várias orquestras, valorizando nosso povo e nossa economia, pagando aos músicos que gastariam o dinheiro na cidade. Muitos trios elétricos são de outras localidades, recebem milhões e vão gastar em outro estado, é uma evasão de divisas. E Carnaval é frevo. A Prefeitura do Recife faz um concurso de músicas carnavalescas em cima do Carnaval, não divulga as músicas com as bandas. Como vão tocar músicas que não têm as partituras e não conhecem? O concurso deve ser em outubro e o mês de novembro deve ser reservado para a distribuição dessas partituras com as bandas. Leonardo Dantas é um grande carnavalesco e sabe o que fala. Renan Pimenta de Holanda Filho 16 > > março 2011

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Entrevista A revista de Pernambuco Alexandre Albuquerque Algomais: revelando Pernambuco para os pernambucanos ANIVERSÁRIO Com o compromisso de ser A Revista de Pernambuco, Algomais analisa desde o início o recente ciclo de desenvolvimento do Estado AAlgomais surgiu em 2006, quando Pernambuco ainda não era alvo dos holofotes da mídia local e nacional devido ao ciclo de desenvolvimento que o Estado viveria nos anos seguintes. Atenta aos primeiros indícios dessa nova fase e à lacuna existente no mercado editorial de revista, a Algomais se propôs a acompanhar e analisar 18 > > março 2011 criticamente todos os fatos políticos, sociais, culturais e econômicos que movimentariam a vida do pernambucano. Com a proposta inovadora de assinatura gratuita e entrega na residência do leitor, a Algomais pouco a pouco mostrou seu profissionalismo e competência, conquistando credibilidade e tornando-se, literalmente A Revista de Pernambuco. Nesta edição especial de aniversário, os sócios da Algomais Sérgio Moury Fernandes, Luciano Moura, Francisco Cunha e Ricardo de Almeida falam como surgiu o projeto, os desafios, as iniciativas lançadas e os planos para a revista.

Como surgiu a ideia de criar a Revista Algomais? Francisco Cunha Fui para uma festa de fim de ano da Fecomércio e Antônio Magalhães comentou que havia percebido que o ambiente de Pernambuco era propício para uma revista. Ele citou o caso da Carta Capital, que começou quinzenal e foi progressivamente passando para semanal. Também falou sobre uma palestra que havia participado em que o palestrante falava sobre isso e me perguntou se eu queria participar de um projeto desse tipo. Fiquei muito honrado, mas expliquei que não entendia nada de duas partes fundamentais de um projeto editorial. Além do editorial propriamente dito (que ele poderia dar conta), tinha a parte comercial e a parte de circulação, que são essenciais em um projeto editorial. Conversei com Sérgio sobre esse projeto. No momento ele ouviu, mas não esboçou muita reação. Até que um dia ele me ligou... Sérgio Moury Fernandes Coincidiu que na época eu estava saindo do Jornal do Commercio. Fiquei pensando na proposta e achei que poderíamos evoluir o projeto. Tivemos um segundo encontro com Antônio Magalhães e pedimos a ele um projeto de estrutura de redação. Ele nos apresentou um projeto com estrutura semanal e chegamos a conclusão de que não valeria a pena fazer com uma estrutura desse tipo. A dificuldade de fazer uma revista semanal é quase a mesma de fazer um jornal diário e a gente pediu que refizesse o projeto no formato de revista mensal. O nome Algomais já veio no projeto de Antônio Magalhães e mandamos logo registrar. Tivemos vários problemas porque já tinha um horóscopo registrado com esse nome. Pensamos em vários outros, mas nenhum nos agradou. Neste meio tempo, demos prosseguimento ao projeto até que nos informaram que o nome tinha ficado caduco e entramos com o processo imediatamente e saiu o registro da marca Algomais. Como foi a definição da periodicidade, O sucesso se deve ao projeto comercial de circulação, qualidade editorial e ao foco voltado para Pernambuco A grande estratégia para circular mais foi o compromisso de entregar a revista na casa do leitor em determinado dia do mês e cumprir Alexandre Albuquerque Alexandre Albuquerque do plano de negócio e distribuição? Sérgio A primeira ideia era que fosse semanal e depois decidimos fazer mensal. Discutimos a estrutura de redação e concluímos que a distribuição seria através de assinaturas e que não deveríamos cobrar por essas assinaturas e que elas seriam de graça. Fizemos o plano de negócio para que ela recebesse a receita de publicidade e esta é a maneira que estamos até hoje. Compramos inicialmente um mailling, ou melhor, uns dois ou três maillings que davam 17 mil nomes. Fizemos uma primeira triagem e de 17 mil passamos para sete mil; na segunda triagem, passou para quatro mil e com este número começamos. Quatro mil exemplares mandamos para as casas das pessoas e dois mil para venda. Isto é, começamos com a tiragem de seis mil exemplares. Como foi a composição da sociedade? Sérgio Eu como pessoa física e sociedade com a TGI. Tempos depois, passei para Luciano uma porcentagem da minha parte. Então, hoje, somos eu, Luciano e a TGI. Sendo uma revista gratuita, qual a estratégia para conseguir mais leitores? Luciano Moura Não existe uma estratégia só. Existe um conjunto de ações, de estratégias. A decisão de fazer a revista gratuita não foi aleatória. A gente ouvia por aí, em conversas, em eventos realizados em outras cidades, que existia uma tendência mundial de mídia impressa gratuita muito forte. E já decidimos nascer assim.. Também foi importante a captação de novos assinantes com ações específicas e pontuais em restaurantes de classe A e B, em eventos da TGI etc. Ricardo Almeida O número zero da revista foi lançado em um café da manhã da TGI, em dezembro de 2005 e recolhemos muitas assinaturas porque todo mundo que recebia a revista já se cadastrava como assinante. Colhemos assinaturas em vários eventos ligados ao mundo publicitário, a segmentos específicos de mercado. Era uma forma de estar apresentando a revista ao mercado e ai começou o boca a boca, a repercussão e a revista passou a ser desejada, esperada. Outra coisa importante é a pontualidade. Por isso o slogan: revista pernambucana, pontualidade britânica. Além da estratégia comercial, da pontualidade, qualidade gráfica e distribuição gratuita outra coisa importante foi o conceito, a linha editorial que ela defende desde sempre. Sérgio A grande estratégia para a Algomais ter crescido em circulação foi o nosso compromisso de entregar a revista na casa do leitor em determinado dia do mês e cumprir. Hoje estamos tirando 18 mil exemplares. Desses, 16.600 são para assinantes. Esta edição de março, de aniversário, foi de 20 mil. Como vocês definiram o slogan a revista de Pernambuco? Luciano Lembro exatamente como foi. Numa reunião de pauta, Francisco falou que sentia falta de alguma coisa que amarrasse o nome da revista a Pernambuco. Ele disse que precisávamos definir isso e nos u 2011 março > > 19

Alexandre Albuquerque apropriar porque se não fizéssemos, alguém iria fazer. Naquele momento discutimos e ficou como dever de casa pensar em um slogan para a revista. Foram sugeridos alguns e o escolhido foi: a revista de Pernambuco. Tenho orgulho de dizer que fui eu quem sugeriu. Foi votado e escolhido por ser simples, direto e objetivo. Ricardo A gente sentia falta de um slogan. Um dos slogans da TGI é: Sintonia com o mundo, crença responsável no Brasil e compromisso radical com Pernambuco. E nós sentíamos falta de um veículo que pudesse abordar de maneira mais consequente, mais isenta o momento que Pernambuco estava vivendo, sem ufanismo, mas sem derrotismo. A gente compreendia que o estado começava a viver um momento extraordinário da economia, como estamos continuando a viver, e não havia uma abordagem mais sistêmica, mais compreensiva dessas questões. Essa foi uma opção: ser a revista de Pernambuco. Francisco Naquele momento, há cinco anos, embora já tivesse iniciado esse ciclo de crescimento de Pernambuco, a refinaria parecia ser o grande projeto estruturador do estado. Na época de lançamento da revista a mídia não dava ao fato de que Pernambuco viveria um novo ciclo o mesmo destaque que dá agora. Não tinha um veículo que estivesse voltado, sintonizado com este novo momento. Como não tinha, era uma boa oportunidade para a Algomais ocupar esse espaço. Lembro quando levamos a revista para o, então, governador Jarbas Vasconcelos. Ele disse: essa revista veio ocupar uma lacuna em relação a Tenho orgulho de dizer que fui eu quem sugeriu o slogan A revista de Pernambuco Sentíamos falta de um veículo que pudesse abordar de forma consequente e isenta o momento que Pernambuco estava vivendo Alexandre Albuquerque cobertura deste novo momento que Pernambuco está vivendo. Como a Algomais alcançou credibilidade? Francisco O sucesso se deve ao projeto comercial de circulação, qualidade editorial e ao foco voltado para Pernambuco, principalmente porque não havia um veículo focado nisso. Ela foi ganhando credibilidade ao longo do tempo por causa dessas três coisas. Hoje ela tem a credibilidade editorial suportada por uma estratégia comercial e de distribuição. Hoje ela atinge os principais formadores de opinião da região. Luciano A qualidade editorial também se deve ao fato de não existir vinculação entre a área comercial e editorial do tipo: faz um anúncio que a gente faz uma matéria. Já devolvemos anúncios porque ficou mal entendido em algum momento. Inclusive isso está previsto na carta de princípios publicada numa das primeiras edições da revista. Francisco Outro aspecto que contribui para a qualidade da revista é o funcionamento regular do conselho editorial. Isso é uma característica marcante da revista. O conselho editorial funciona de fato e realmente se encontra mensalmente e discute o conteúdo, a pauta, projeta um número à frente e não só o que vai sair. Avaliamos também a edição anterior. O preço é um elemento estratégico, principalmente para o público A e B. De alguma forma o fato da revista ser gratuita foi uma preocupação? O fato de não ter preço poderia prejudicar a credibilidade da revista? Francisco Não existia em Pernambuco nada parecido. Com a abrangência que a revista se propôs, ninguém havia feito uma distribuição para um mailling de seis mil pessoas logo no seu lançamento e gratuito. Receber em casa uma revista que não pediu, não assinou, gera um momento de desconfiança. Que revista é essa? Qual o propósito? Serve para que partido político? O povo pernambucano é muito partidário, portanto, claro que levou um tempo para ganhar essa credibilidade por não ser algo assinado. À medida que o tempo foi passando, essa barreira foi transposta. Sérgio Nós fomos persistentes. A gente botou na cabeça que ia fazer a revista com distribuição gratuita e fomos persistentes. Em algum momento pensaram em desistir? Sérgio De maneira nenhuma. A Algomais nos dá mais prazer do que dificuldade. Desde o número zero (que circulou de forma experimental, com mil exemplares) até a edição 60 que estamos fazendo agora, a revista sempre cresceu em alguma coisa de um número para o outro. Não tinha motivos para pensar em recuar o projeto. Pelo contrário, sempre pensamos em crescer. Ele está sempre evoluindo. Francisco Quando me perguntam o que eu achei da revista, digo que sou suspeito pra falar. Sempre acho que a revista atual é melhor do que a anterior. Continuo achando. Luciano Isso é muito claro. Os primeiros comentários sobre a revista se resumiam a: parabéns pela revista! ; A revista é ótima!. Hoje o que vem são comentários sobre as matérias, sobre o conteúdo. Como é a equipe de profissionais da Revista Algomais? Sérgio Quando iniciamos o projeto, era para ter uma estrutura de redação terceirizada (freelancer) para produzir a revista. Teria Antônio Magalhães, que foi o pai do negócio, e o 20 > > março 2011

resto das matérias seria distribuída com o pessoal contratado. O entendimento era que teríamos os melhores jornalistas de Pernambuco escrevendo pra revista. Mas com o tempo percebemos que isso poderia trazer algum problema. Embora os caras fossem competentes, não existia um compromisso de base com a carta de princípios da revista. Então fomos evoluindo para uma estrutura de redação própria. Foi aí que tomamos a decisão de fazer sempre assim: ter dois jornalistas mais experientes e o resto da equipe de gente jovem - jornalistas e estagiários pra que a gente forme mão de obra. O conceito hoje é esse: temos os experientes Roberto Tavares e José Neves e os jovens Ivo Dantas, Mirela Soane e Camila Lindoso. Ivo foi estagiário nosso e agora é responsável pelo Blog. Quais são os desafios da revista? Luciano Crescer. Crescer sempre. Do ponto de vista comercial, vender mais. Do ponto de vista de distribuição, distribuir mais. Do ponto de vista de redação, fazer mais belas matérias como a que foi feita sobre Maria Bonita, publicada na última edição. Sérgio Consolidar a revista. Pessoas que não acreditavam na revista hoje são admiradores dela. Consolidar o projeto como meio de comunicação esse é o grande objetivo da gente. Isso inclui crescermos muito O futuro do segmento revista aponta para uma forte consolidação do meio digital como mídia informativa na internet, porque eu acho que não tem como dissociar internet do papel. Queremos melhorar, cada vez mais, a parte de conteúdo, melhorar a revista, ver a questão gráfica, sempre estar acompanhando a evolução gráfica, o que tem de novo no mercado. Hoje se ouve falar em tablet. Esse é um caminho para a revista? Francisco Curiosamente, depois que entramos no mercado houve todo tipo de oferta, de todo tipo e natureza, que causou uma confusão no mercado. Mas, como já foi falado, por causa do profissionalismo e da seriedade a Algomais vai se firmando cada vez mais. Mas essa questão levantada é muito interessante. Qual é o futuro da mídia no segmento de revista, considerando todas as novas tecnologias? A turma da internet está conseguindo derrubar governos, que dizer da informação? Eu acho que haverá uma forte tendência da consolidação do meio digital como mídia informativa. Se isso vai se transformar, como alguns já vem se transformando, em completamente digital, só o futuro vai dizer. Eu acho que não. Assim com a televisão não acabou com o cinema; a TV não acabou com o rádio e esses meios convivem, os novos meios também vão conviver, mas será cada vez mais seletivo. Será cada vez mais segmentado. Por conta disso, o nosso projeto já contempla a segmentação. Transferir parte do nosso conteúdo para digital, através do blog, é uma tentativa de saber como esse terreno irá se comportar. Quem disser que sabe, ou está enganado ou enganando. Hoje já tem revistas e livros feitas para o Ipad. Como é que isso vai se comportar? É o Ipad que vai prevalecer ou outros tablets? Quais outras iniciativas marcaram a história da revista? Luciano Uma das coisas é o Prêmio Quem Faz Algomais por Pernambuco que temos feito com muito cuidado, muito critério. Em um dos prêmios, o governador Eduardo Campos foi um dos mais indicados e ele fez questão de estar no evento. A presença dele causou um enorme congestionamento no trânsito e lembro claramente que ele disse o seguinte: Pernambuco tinha televisão de qualidade, jornais de qualidade, mídia de qualidade como um todo. Faltava uma revista. Faltava. Porque agora tem a Algomais. A revista também desenvolveu outras iniciativas como o Polo Jurídico e o Anuário Sócio Econômico de Pernambuco. Todos os estados do país tinham, menos Pernambuco. Inclusive, a Secretaria de Imprensa do Governo nos procurou certa vez solicitando algumas edições do anuário, pois o governador faria algumas visitas e gostaria de levar o material consigo. u Alexandre Albuquerque 2011 março > > 21

Os leitores perguntam se a Algomais será quinzenal, semanal? Sairá da fronteira de Pernambuco? Sérgio Fizemos uma pesquisa no ano passado que mostrou que nosso leitor está satisfeito com uma revista mensal. Com relação ao mercado regional, já fizemos um teste e comercialmente não é interessante. Além disso, iria mexer na nossa ideologia que é: Algomais, a revista de Pernambuco. O plano que temos é manter a revista mensal, fortalecer o nosso blog e pensamos ainda para este ano interiorizar a revista. Vamos abrir aos poucos para Gravatá, Serra Talhada e ampliar Caruaru. Com relação a mudar a periodicidade, também fizemos a experiência com a Algomais Express que serviu mais como um espera blog. Serviu de transição, pois precisávamos movimentar a redação, com notícias rápidas e curtas. Vamos desativar a Express para poder focar e consolidar a revista Algomais e o blog. Qual é o público da Algomais? Sérgio O público da Algomais é significativamente A e B, formador de opinião. Mas houve um aumento significativo da classe C - são pessoas que se interessaram pela revista, que procuraram por ela. Hoje distribuímos em bairros que antes não faziam parte do nosso roteiro. Alexandre Albuquerque Como é feita a circulação e distribuição da revista? Sérgio Temos uma parceria com a LogExpress que faz a etiquetagem e a distribuição da revista, cuja entrega é protocolada. Isso pode ter algum furo, já que o porteiro do prédio pode receber a revista e não entregar ao destinatário, por exemplo. Nosso cronograma é anual. Por exemplo, já sabemos o dia que a revista vai circular em dezembro. Então, cobramos o cumprimento das datas à gráfica e o término da entrega à LogExpress. A distribuição da revista é feita por roteiros. Por exemplo, Boa Viagem tem está dividida em três áreas. Bairros maiores são divididos em sub-roteiros. Tudo isso é acompanhado por um sistema de informática que controla o assinante, o roteiro, o bairro. Temos hoje o sistema da Cartello que controla o cadastro do assinante e estamos desenvolvendo um sistema da CWA, específico de circulação que devemos inaugurar no decorrer deste ano. O sistema da CWA é responsável pela circulação dos principais jornais e revistas do Brasil, entre eles o Jornal do Commercio. A revista é auditada. Mas o que é isso exatamente? Luciano Isso é algo que diz respeito diretamente à área comercial. Numa situação hipotética, seria muito fácil pra mim dizer que tiro 50 milhões de revistas. Ter auditoria significa dizer eu tenho 50 milhões e provo. Porque existe uma auditoria externa séria que vai à gráfica, certifica-se, pode até ligar para alguns assinantes para checar o recebimento e emitir um parecer independente. Basicamente serve para balizar os investimentos publicitários. Com isso, tem-se a ideia de que tantas pessoas estão lendo a revista, qual a possibilidade de visibilidade de determinado anúncio.essa é uma informação que interessa ao mídia e ao atendimento. A Algomais tem hoje 70 mil leitores. De acordo com pesquisa feita, há 3,8 leitores por exemplar. As parcerias com as empresas envolvidas no processo de realização da revista são fundamentais para a solidez dela? Francisco Sem dúvida. Há mais O público da Algomais é significativamente A e B, formador de opinião de 15 anos, quando participei da criação da rede Gestão, procurei a referência conceitual de Rede e não encontrei. Hoje, a ideia da internet como instrumento de mobilização social tem como base o conceito de rede. Quando idealizamos o projeto da revista pensamos em não inventar a roda. Ou seja, conseguir articular uma rede de competências - com características de seriedade e profissionalismo - de organizações e de pessoas que pudessem se incorporar ao conceito da revista. Então é o caso de Luciano, de Sérgio, da TGI, da LogExpress, da Cartello, dos parceiros. Trabalhamos desde o início com esse conceito de rede. Ou seja, contamos com pessoas que já estavam no mercado, que já tinham experiência. O que significa a revista para vocês? Luciano Realização. Algo prazeroso. Sérgio Resultado financeiro a revista não dá, ela se auto-alimenta. Mas dá prazer e satisfação. No meu caso e de Luciano, que temos outras atividades na área comercial, ela não deixa de agregar valor ao trabalho que temos paralelo. Ela não deixa de abrir portas por ser uma coisa séria. Francisco Pessoalmente é uma atividade que traz satisfação. Fazer uma coisa bem feita, ver o impacto que tem sobre o leitor... dá muita satisfação. Além disso, sempre gostei de escrever e ter um espaço na revista e poder interagir com o leitor é um prazer. O prazo de entrega do texto às vezes aperta, mas escrevo com muita satisfação. No ponto de vista empresarial, fazer parte de um projeto sério que tem credibilidade, que trabalha seriamente pelo desenvolvimento de Pernambuco também agrega valor à atividade de consultoria da TGI. Ricardo É muito bom fazer parte de um veiculo que qualifica o debate e a troca de ideias inteligentes sobre Pernambuco. 22 > > março 2011

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Fuxicos Literários Naqueles tempos, anos 50 do século passado, haviam sido criados os chamados Institutos de Previdência Social e muitas eram as siglas para denominálos, IAPI, IAPC, IAPB, IAPM, IPASE, IAPETEC, entre tantas outras, e delas o prof. Arsênio Tavares, famoso cirurgião pernambucano e catedrático de Clínica Cirúrgica em nossa Faculdade de Medicina, era um crítico ferrenho, achando que somente confundiam a quem as lia. Numa sessão do Conselho Universitário, da qual ele fazia parte, presentes, entre outros, o Magnífico Reitor Joaquim Amazonas e as representantes da Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE), a Madre Torres e a Madre Oliveira, o professor, também famoso pelas suas irreverências, dirigiu-se aos membros daquele Conselho nos seguintes termos: Senhores membros do CU! A reunião, entre protestos e risos dos membros do egrégio Conselho, terminou naquele exato momento. Mr. Jesus Piretti foi, durante muito tempo, o gerente do The British Country Club, um dos clubes aqui criados pelos ingleses e localizado no bairro recifense dos Aflitos. Numa de suas viagens à Inglaterra, Mr. Hanson, sócio daquela agremiação, lhe pediu alguém de confiança para dormir em sua casa, durante o período de sua ausência, de modo a dar, também, proteção à cozinheira. Mr. Piretti chamou Zedequias, servente do Clube, uma boa alma, mas ignorante como poucos. Foi feito o arranjo e três meses depois a família Hanson voltou. Um dia, o inglês se queixou que o Zedequias tinha botado estranhas idéias na cabeça da cozinheira, que ela já não era a mesma pessoa, estava agora cheia de direitos etc.etc. Mr. Piretti passou um sermão daqueles no Zedequias: Você desencabeçou a empregada do homem! E Zedequias, na sua abissal ignorância: E eu desencabacei ninguém, seu Piretti, aquela velha já não tinha mais Mr. Piretti quase tinha um ataque. * * * Ascenso Ferreira era um figuraço: um gigante de 2 metros de altura, mais de 130 quilos de peso, paletós e chapéus enormes, lábios grossos e pendurados, vozeirão engrolado, charuto permanentemente na boca. Era visto, pelas ruas do Recife, livros e discos debaixo do braço, procurando vendê-los aos amigos. Tendo-se encontrado com seu amigo Juscelino, Ascenso Ferreira lhe teria pedido um emprego. Poucos dias depois, o Jornal do Commercio (edição de 1º de março de 1956) publicava telegrama procedente do Rio de Janeiro: O poeta pernambucano Ascenso Ferreira foi nomeado, ontem, pelo presidente Juscelino, diretor do Instituto Joaquim Nabuco, no Recife. Mesmo reconhecendo a grande figura humana e o poeta extraordinário que ele era, houve forte reação àquela nomeação, considerando-se que ele não preenchia os requisitos que o cargo exigia, disciplina, método de trabalho, espírito de liderança etc. Ascenso diria, em seguida: Que besteira é essa? Não vou mexer em nada lá naquela repartição. Comigo fica tudo como está. A mim só interessam o ordenado e a caminhonete. Juscelino me prometeu um emprego e me arranjou foi uma tremenda encrenca. E, em entrevista concedida a Edson Régis e publicada no Diário da Noite recifense de 16 de março de 1956, ao saber que o cargo lhe daria apenas um jipe para sua locomoção: Jipe não me cabe, meu bem. As lotações não param para mim porque eu sou grande demais e ocupo o lugar de dois passageiros... * * * Foi aventada a possibilidade de Juscelino indicar Ascenso para a direção de um escritório comercial do Brasil em país sulamericano. Ascenso teria dito ao repórter: 24 > > março 2011

Sei que Juscelino me daria uma chefia dessas, mas eu não posso sair do Recife. Um homem como eu, que tem casa civil e militar, não pode nem ao menos pensar em residir no Rio, quando mais no estrangeiro. E, diante da confusão do repórter, o esclarecimento: Matriz e filial, tá bem? Quero dizer que tenho duas casas, duas famílias, duas mulheres. Ascenso seria nomeado, por Juscelino, Assessor do Ministério da Educação e Cultura, onde, diziam, só comparecia para receber o salário. * * * O ainda não famoso poeta Castro Alves, ao vir, rapazola ainda (com 14 anos), em 1862, para o Recife, hospedou-se inicialmente no Convento de São Francisco e, algum tempo depois, numa república de estudantes na Rua do Hospício, sobre a qual nada se sabe. De lá, em 1865, ele sairia para morar com um dos seus grandes amores, Idalina (simplesmente Idalina, não se conhecendo maiores detalhes sobre ela, nem, sequer, o sobrenome), numa casa alugada na Rua do Lima, no bairro de Santo Amaro, pertinho da Casa de Saúde do Dr. Ramos e do Cemitério Público do Recife. Segundo Regueira da Costa, Castro Alves teria, certa vez, dito: Estou muito satisfeito com os meus vizinhos ali, os doidos do Dr. Ramos, à direita, os mortos do Cemitério. * * * No Diario de Pernambuco, edição de 26 de janeiro de 1866, encontra-se interessante anúncio: Enquanto o Sr. Acadêmico Antônio de Castro Alves não pagar R$ 63$000 que deve de aluguel da casa em que morou na Rua dos Coelhos, verá seu nome neste jornal. * * * Anos 50, século passado. Nas calçadas da Sloper, grupos de profissionais liberais se encontravam, nas 6as.feiras, ao término do expediente em seus consultórios, para conversas amenas e edificantes. Era o chamado Congressinho da Sloper, formado, entre outros, pelo cardiologista Fernando Moraes, pelo radiologista Scyla Cabral da Costa, pelo advogado e deputado Júlio de Melo (o Julinho) e pelo dentista e professor da Faculdade, Henrique Freire de Barros. O Dr. Henrique havia feito um serviço dentário, uma obra-prima de valor inestimável, implantando uma dentadura completa num cliente que, porém, nunca se lembrara de lhe pagar o serviço. Numa daquelas memoráveis tardes de 6as. feiras, inesperadamente, defrontam-se os dois. O cliente, não se dando por achado, cumprimenta o dentista sorrindo. E este, num assomo de cólera, dando-lhe uma gravata, arranca, com dois dedos da mão direita, a belíssima dentadura, joga-a no chão e a pisoteia, deixando-a totalmente quebrada. Enquanto a vítima, de boca murcha, se retirava, o dentista gritava em voz alta: Com a minha dentadura, você não vai rir mais, seu caloteiro! * * * Primeiras décadas do século passado. Potyguar Matos, pesqueirense Rostand Paraíso rparaiso@rhp.com.br de nascimento, viera para o Recife em busca de horizontes mais largos. Recém-chegado do interior, morou algum tempo numa modesta pensão da 1º de Março, em cima da Cristal, em frente ao Café Lafayette. Ali, sem qualquer conforto, partilhava não um quarto, mas, na realidade, uma cama com um igualmente pobre estudante. Cama que dizia ele, usada em horários diferentes (Potyguar trabalhava à noite), tinha a vantagem de estar sempre quentinha. Potyguar se destacaria, entre a intelectualidade pernambucana, como jornalista, historiador e professor universitário, tornando-se famoso, também, pela sua oratória e pelo fato de ter sido o primeiro brasileiro que, não sendo sacerdote, ocupou o cargo de Reitor de uma Universidade Católica, a de Pernambuco. A 8 de setembro de 1986, foi eleito para a Academia Pernambucana de Letras. Foi, ainda, Diretor do Arquivo Público de Pernambuco. Certa vez, reunido com outros intelectuais pernambucanos no Torre de Londres, acolhedor restaurante localizado no Parque 13 de Maio, Potyguar foi afrontado por um grupo de estudantes que ali bebiam e faziam grande algazarra. Um dos estudantes, mais exaltado e estimulado pelas muitas cervejas já ingeridas, dirigiu-se, com o dedo em riste, para Potyguar, que havia reclamado do barulho: Só não lhe dou uns tabefes porque você tem idade para ser meu pai... E Potyguar, em voz alta o bastante para ser ouvido pelos outros: E só não fui porque não quis... 2011 março > > 25