ACURÁCIA DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE FEIXE CÔNICO NA DETECÇÃO DE DEFEITOS ÓSSEOS PERIODONTAIS E PERDA ÓSSEA ALVEOLAR

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Transcrição:

Braz J Periodontol - June 2014 - volume 24 - issue 02 ACURÁCIA DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE FEIXE CÔNICO NA DETECÇÃO DE DEFEITOS ÓSSEOS PERIODONTAIS E PERDA ÓSSEA ALVEOLAR Accuracy of cone-beam computed tomography in detecting periodontal bone defects and alveolar bone loss Vanessa Camillo de Almeida 1, Luciana Saraiva 2, Rodrigo Carlos Nahás de Castro Pinto 3, João Batista César Neto 2, Giuseppe Alexandre Romito 4, Cláudio Mendes Pannuti 5 1 Mestranda do programa de pós-graduação em Ciências Odontológicas da FOUSP 2 Professores doutores da disciplina de Periodontia da FOUSP 3 Doutorando do programa de pós-graduação em Ciências Odontológicas da FOUSP 4 Professor titular da disciplina de Periodontia da FOUSP 5 Professor associado da disciplina de Periodontia da FOUSP Recebimento: 31/03/14 - Correção: 25/04/14 - Aceite: 20/05/14 RESUMO As tomografias computadorizadas de feixe cônico (TCFC) vêm ganhando espaço no cenário odontológico devido ao elevado nível de nitidez e detalhamento das imagens, bem como pela redução na dose de radiação, comparativamente às tomografias computadorizadas convencionais. Para analisar o uso da TCFC especificamente na área de Periodontia, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura sobre o desempenho da TCFC no diagnóstico de defeitos ósseos periodontais e perda óssea alveolar para avaliar avaliar o risco-benefício real deste exame de imagem visando à futura utilização na prática clínica do periodontista. Para isso, foi realizada uma busca na base de dados MEDLINE/ PubMed, em Março de 2014 utilizando algumas palavras-chave. Quatorze artigos preencheram os critérios de inclusão e exclusão, sendo observado que a maioria foi conduzida em cadáveres humanos. A superioridade da TCFC em relação à radiografias periapicais para detecção de perda óssea alveolar ainda parece ser controversa. Entretanto, a TCFC apresenta acurácia superior a das radiografias periapicais quando são analisados defeitos ósseos e lesões de furca. Além disso, a TCFC parece apresentar boa relação risco-benefício, pois a dose de radiação pode ser equivalente a um exame periapical de boca toda. Portanto, por possibilitar avaliação tridimensional de defeitos ósseos, apresentar elevada acurácia e boa relação risco-benefício, a utilização da TCFC pode ser considerada uma opção na prática clínica do periodontista. UNITERMOS: diagnóstico, doenças periodontais, tomografia computadorizada por raios X. R Periodontia 2014; 24:47-56. INTRODUÇÃO A tomografia computadorizada (TC) é um método de diagnóstico por imagem que utiliza a radiação X e permite obter a reprodução de uma secção do corpo humano em qualquer um dos três planos do espaço (Parks, 2000). Devido às limitações das radiografias convencionais, as imagens tridimensionais começaram a atrair grande interesse dos odontólogos (Scarfe & Farman, 2008; Cavalcanti, 2012). Existem dois tipos de tomografias computadorizadas: tradicional (TCT) ou fan beam, a qual atualmente utiliza An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 a tecnologia multislice, e de feixe cônico (TCFC) ou cone beam. A tomografia computadorizada tradicional apresenta vantagens sobre as radiografias convencionais, tais como maior nitidez e detalhamento da imagem, porém seu uso é hoje muito restrito dentro da prática odontológica pelo alto custo e pela elevada dose de radiação (Scarfe & Farman, 2008; Cremonini et al., 2011). Por sua vez, a tomografia computadorizada de feixe cônico está associada à considerável redução da dose de radiação (Scarfe et al., 2006; Tomasi et al., 2011) preservando um elevado nível de detalhamento das imagens. 47

Por fornecer melhores imagens que os exames radiográficos convencionais e por apresentar baixo custo e reduzida dose de radiação em relação à TCT, a TCFC vem sendo amplamente utilizada na odontologia (Cavalcanti, 2012), com destaque para as especialidades de implantodontia (Cremonini et al., 2011; Tomasi et al., 2011), cirurgia (Tomasi et al., 2011) e ortodontia (Hatcher & Aboudara, 2004). Diversos estudos têm sido conduzidos na área de Periodontia, com objetivo de verificar o desempenho da TCFC no diagnóstico de defeitos ósseos periodontais e perda óssea alveolar, principalmente em comparação comas radiografias periapicais. No entanto, poucos estudos reportam a acurácia de TCFC no diagnóstico destas lesões. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura sobre o desempenho da TCFC no diagnóstico de defeitos ósseos periodontais e perda óssea alveolar, a fim de avaliar o risco-benefício real deste exame de imagem visandoa sua futura utilização na prática clínica do periodontista. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada umabusca na base de dados MEDLINE/ PubMed, em Março de 2014, utilizando as seguintes palavraschave: cone beam CT AND bone loss and periodontal, cone beam CT AND accuracy and periodontal e tomography and accuracy AND periodontology. A partir dos artigos selecionados também foi feita busca manual nas referências. A busca foi realizada por um único revisor e outros dois revisores foram responsáveis pela leitura e avaliação dos artigos. Os artigos eram considerados elegíveis para inclusão se preenchessem os seguintes critérios de inclusão: 1. Estar publicado na língua inglesa; 2. Avaliar desempenho ou acurácia de tomografia computadorizada por feixe cônico na detecção de perda óssea alveolar, defeitos ósseos periodontais, deiscências/ fenestrações, crateras ou lesões de furca. Os seguintes critérios de exclusão foram considerados: 1. Relatos de caso; 2. Artigos relacionados às áreas de endodontia, ortodontia e implantodontia; 3. Avaliação de desempenho ou acurácia da TCFC em lesões periapicais, fraturas radiculares, localização de forame mandibular, ou quaisquer mensurações que não as consideradas nos critérios de inclusão. RESULTADOS Quatorze artigos preencheram os critérios de inclusão e exclusão. Destes, 1 utilizou exames imagenológicos de pacientes em banco de dados (tabela 1), 8 fizeram uso de cadáveres humanos (tabela 2), 3 empregaram mandíbulas suínas (tabela 3) e 3 recrutaram pacientes com periodontite crônica que seriam submetidos ao tratamento cirúrgico (tabela 4). Um dos estudos foi conduzido tanto em mandíbulas suínas quanto em cadáveres humanos e, por isso, tem seus resultados relatados nas tabelas 2 e 3.A maioria dos trabalhos (10) foi desenvolvida in vitro, o que evidencia a fase inicial da pesquisa sobre o uso da TCFC como método de auxílio de diagnóstico em Periodontia. No estudo de de Faria Vasconcelos et al. (2012) (tabela 1) foram utilizadas imagens (tomografias e radiografias periapicais) de banco de dados de clínica radiológica particular,cuja amostra consistiu em 39 dentes com defeitos ósseos periodontais de 11 pacientes, ambos gêneros, com Tabela 1 Estudos conduzidos com banco de dados. Autores/ ano Objetivo Tipo de defeito Padrão ouro Tipo de medida do defeito de Faria Vasconcelos et al. (2012) Comparar radiografias periapicais com TCFC na detecção e localização de perda óssea alveolar através de medidas lineares de altura, profundidade e largura de defeitos. Defeitos ósseos já Não. Lineares: altura da crista óssea (medida da junção cemento-esmalte até a crista óssea), profundidade do defeito (distância da junção cemento-esmalte até o fundo do defeito) e largura do defeito (medida do ponto mais alto da crista óssea até a raiz do dente adjacente ao defeito). Apenas as medidas da altura óssea apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre as técnicas. TCFC tem como vantagem a observação tridimensional do defeito. 48 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

idade entre 39 e 66 anos. Foram realizadas três medidas para cada sítio: altura da crista óssea, profundidade e largura do defeito, observadas por três examinadores. Não foram encontradas diferenças significativas entre as medidas da profundidade e largura do defeito para ambas as técnicas. Já com relação à altura óssea, foi verificada diferença estatisticamente significativa entre as medidas observadas na TCFC e na radiografia periapical. Entretanto, como não havia padrão-ouro, não se pode afirmar qual técnica apresentou melhor acurácia. Mesmo assim, pode-se apontar a possibilidade de avaliação tridimensional de defeitos combinados como uma vantagem da TCFC. Os estudos conduzidos com cadáveres humanos estão sumarizados na tabela 2. Dos estudos que utilizaram mandíbulas humanas, Misch et al. (2006) e Noujeim et al. (2009) compararam o desempenho de TCFC e radiografias periapicais na detecção de defeitos ósseos periodontais. No primeiro estudo, foram utilizadas duas mandíbulas humanas secas, sobre as quais foram criados alguns tipos de defeitos ósseos, com o uso de brocas. Três examinadores fizeram duas observações cada e constataram que TCFC, radiografias periapicais e sondagem apresentaram resultados muito semelhantes. No entanto, a TCFC permitiu a observação do defeito em todas as direções, o que não ocorreu com as periapicais, onde foi impossível mensurar os defeitos criados no centro da vestibular e da lingual. Noujeim et al. (2009) utilizaram onze hemimandíbulas humanas, sobre as quais foram confeccionadas lesões com auxílio de broca nas interproximais de dentes posteriores, totalizando 163 sítios, dos quais 65 eram controles, 50 tinham lesões pequenas e 48 receberam lesões maiores. Dez examinadores apontaram presença ou ausência das lesões, relatando grau de certeza de 0 a 5. Os resultados evidenciaram a elevada acurácia da TCFC em comparação às radiografias periapicais, embora lesões maiores tenham sido mais facilmente detectadas com ambas as técnicas do que as lesões menores. Outros estudos utilizaram não somente mandíbulas, mas crânios humanos (tabela 2). Vandenberghe et al. (2007) avaliaram, através de radiografias intraorais digitais e de TCFC, 30 sítios (perda óssea vestibular, lingual, mesial, distal, crateras ósseas e lesões de furca) em 2 crânios humanos adultos. Em 2008, os mesmos autores compararam TCFC e radiografias periapicais digitais na detecção dos mesmos tipos de defeitos. Entretanto, para este trabalho foi utilizado um crânio adulto seco com simulação de tecido mole e um crânio humano adulto preservado em formol. Em ambos os estudos, as observações dos examinadores permitiram apontar a superioridade da TCFC na descrição da morfologia de crateras e lesões de furca, embora não tenha sido relatada diferença estatisticamente significativa entre as modalidades radiográficas com relação às medidas lineares nas faces dos dentes. Também utilizando crânios humanos adultos, Mol & Balasundaram (2008) avaliaram a eficácia diagnóstica da TCFC em relação a radiografias periapicais e interproximais, através da comparação de medidas lineares da altura óssea e da capacidade em se determinar presença ou ausência de perda óssea. As imagens foram avaliadas por seis examinadores e os resultados obtidos mostraram que a TCFC foi apenas ligeiramente melhor do que as radiografias Autores/ano Objetivo Tipo de defeito Mengel et al. (2005) Investigar acurácia e qualidade com que defeitos periodontais são representados em radiografias intraorais, panorâmicas, tomografias computadorizadas e tomografias digitais volumétricas em comparação a espécimes histológicos. Tabela 2 Estudos conduzidos com cadáveres humanos. com brocas esféricas e cilíndricas: defeitos de 2 ou 3 paredes; lesões de furca grau I a III; deiscência e fenestrações. Padrão ouro Medidas no exame histológico. Tipo de medida do defeito Lineares: variando de acordo com o tipo de defeito e técnica (histológico ou imagens). Tomografias digitais volumétricas (0.19 ± 0.11 mm) e tomografias computadorizadas (0.16 ± 0.10 mm) foram os exames imagenológicos mais fiéis aos achados histológicos, porém as tomografias volumétricas apresentaram melhor qualidade de imagens. An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 49

Tabela 2 Estudos conduzidos com cadáveres humanos. (Cont.) Autores/ano Objetivo Tipo de defeito Padrão ouro Tipo de medida do defeito Misch et al. (2006) Avaliar acurácia da TCFC versus sondagem e radiografia periapical. 2 mandíbulas secas com perda óssea horizontal de mais de 20% Defeitos: vestibular, lingual e interproximal de pré-molar e molar, com broca fazendo sulcos de tamanhos variados. Moldagem dos sulcos e transferência para blocos de acrílico, medidos com paquímetro eletrônico. 6 sítios marcados por guta-percha, com sonda periodontal sobre as marcações, com sonda sobre a radiografia periapical e com ferramenta do software na TCFC. Medidas: JEC à base do defeito ósseo, JEC à crista óssea adjacente ao defeito e profundidade do defeito. TCFC apresentou acurácia semelhante às outras técnicas, tendo como vantagem a avaliação tridimensional do defeito. Média de todos os defeitos: Sonda periodontal: 0,34 ± 1,50 Radiografia periapical: 0,27 ± 1,26 TCFC: 0,41 ± 1,19. Vandenberghe et al. (2007) Validar uso de radiografias intraorais digitais e TCFC na determinação de perda óssea alveolar e defeitos ósseos. Defeitos ósseos já Medida direta sobre tecido ósseo com paquímetro digital. 30 sítios em 19 dentes: mesial, centro e distal de cada dente, profundidade de crateras ósseas e furca. TCFC apresentou melhores resultados que radiografia digital na avaliação de crateras e lesões de furca. Mol & Balasundaram (2008) Verificar eficácia diagnóstica de aparelho de TCFC específico na detecção de perda óssea alveolar e verificar acurácia de medidas de altura óssea, comparando com radiografias periapicais e interproximais. Defeitos ósseos já Medida direta sobre tecido ósseo com paquímetro digital. Lineares e presença/ ausência de perda óssea (ponto de corte de 3 mm). TCFC foi apenas ligeiramente melhor para medidas lineares de altura óssea em região anterior, mas apresentou acurácia significativamente maior para detecção de perda óssea em dentes posteriores. (Média de 0,74 para TCFC e de 0,48 para exame periapical da boca toda). Vandenberghe et al. (2008) Explorar valor diagnóstico de radiografias intraorais digitais e TCFC na determinação de perda óssea periodontal, crateras infraósseas e lesões de furca. Defeitos ósseos já Medida direta sobre tecido ósseo com paquímetro digital. Altura óssea de 43 sítios e, em 11 dentes, foram verificadas crateras e lesões de furca (0, 1, 2 ou 3). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para medidas lineares entre TCFC e radiografia periapical digital, porém TCFC foi superior para lesões de furca e crateras ósseas. 50 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

Autores/ano Objetivo Tipo de defeito Noujeim et al. (2009) Verificar acurácia da TCFC na detecção de perda óssea periodontal. Tabela 2 Estudos conduzidos com cadáveres humanos. (Cont.) com broca na interproximal de dentes posteriores (163 sítios: 65 controles, 50 lesões pequenas, 48 lesões maiores). Padrão ouro Presença/ ausência de lesão na mandíbula seca. Tipo de medida do defeito Presença/ausência, com grau de certeza de 0 a 5 em 3 experimentos: Todas as lesões Somente lesões grandes Somente lesões pequenas. TCFC apresentou melhor acurácia na detecção de lesões criadas com broca do que radiografias periapicais convencionais nos 3 experimentos, com as respectivas áreas sob a curva ROC: 0,731 periapical x 0,817 TCFC 0,783 periapical x 0,864 TCFC 0,678 periapical x 0,770 TCFC. Ising et al. (2012) Validar uso de imagens tridimensionais para quantificar altura de deiscências. com brocas, na face vestibular, simulando deiscências. Medida direta sobre tecido ósseo com paquímetro digital. De uma marca posicionada sobre a JCE até base da deiscência. Imagens 2D da TCFC e reconstrução 3D possibilitaram medir deiscências com alto nível de precisão. Fleiner et al. (2013) Desenvolver nova abordagem para medidas radiográficas circunferenciais do nível ósseo periodontal usando TCFC. Defeitos ósseos já Medida com sonda manual, da JCE à crista óssea alveolar. Lineares: da JCE até a crista óssea nas faces: mesiovestivular, centrovestibular, distovestibular, mesiolingual, centrolingual e distolingual. E lesão de furca. TCFC mostrouse precisa para ser usada na verificação do nível ósseo periodontal circunferencial. Precisão variou de 0,36 a 0,69 mm em relação ao padrãoouro. 100% das lesões de furca foram detectadas na TCFC. intraorais na detecção de perda óssea na região anterior, apresentando acurácia significativamente maior apenas em dentes posteriores. Ising et al. (2012) empregaram quatro crânios formolizados a fim de validar o uso de imagens tridimensionais para quantificar altura de deiscências ósseas. Para isso, utilizando brocas, foram confeccionadas deiscências na vestibular de alguns dentes. A distância da junção cemento-esmalte até a base da deiscência deveria ser medida na tomografia e comparada com a medida real, realizada com paquímetro digital. Não houve comparação com técnicas radiográficas bidimensionais, mas os resultados encontrados mostraram An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 que tanto as imagens bidimensionais geradas pela TCFC quanto as imagens tridimensionais possibilitaram medir as deiscências com alto nível de precisão. Fleiner et al. (2013) também utilizaram um crânio humano em seu estudo, porém este não apresentava tecido mole ou substitutos. Três examinadores mediram na TCFC as distâncias da junção cemento-esmalte até a crista óssea em seis sítios de cada dente. Essas medidas foram comparadas com medições reais realizadas sobre o crânio seco, com auxílio de sonda periodontal manual. Assim como no estudo anterior, não foram feitas comparações entre TCFC e técnicas radiográficas bidimensionais. Mesmo assim, os autores puderam concluir 51

que a técnica empregada mostrou-se precisa e acurada para detecção do nível ósseo periodontal circunferencial. Mengel et al. (2005) foram os únicos a comparar medidas de diversos tipos de defeitos em radiografias periapicais, panorâmicas, tomografias computadorizadas e tomografias digitais volumétricas com cortes histológicos. O estudo foi conduzido tanto em mandíbulas humanas (7) quanto em mandíbulas suínas (6) e revelou a superioridade das tomografias em produzir medidas fiéis às encontradas histologicamente. Diferentemente dos estudos conduzidos com cadáveres humanos previamente citados que, na maioria, criaram as lesões ósseas mecanicamente, através do uso de brocas, Umetsubo et al. (2012) criaram, quimicamente, os defeitos ósseos (tabela 3). Para isso, foi empregado o ácido perclórico na região de furca dos segundos molares de 15 mandíbulas suínas. Após 2 horas de exposição ao ácido, foram criadas 30 lesões incipientes. Outros 30 sítios foram incluídos como controles, totalizando 60 sítios para avaliação. As TCFC foram avaliadas por dois examinadores que tinham como objetivo detectar onde havia ou não lesão. Após cálculo de sensibilidade e especificidade, os resultados revelaram elevada acurácia e moderada reprodutibilidade da TCFC. Diferentemente dos trabalhos anteriores, Braun et al. (2014) não utilizaram mandíbulas inteiras, mas sim segmentos com cinco dentes suínos mandibulares e tecido mole presente (tabela 3). Diversos tipos de defeitos foram criados com brocas: defeitos de 1, 2 ou 3 paredes; lesões de furca grau I a III; deiscência e fenestrações. TCFC e radiografias periapicais digitais dos segmentos foram avaliadas por quinze cirurgiões-dentistas sem experiência na observação de tomografias, que deveriam afirmar presença ou ausência das lesões. Surpreendentemente, apesar da inexperiência dos examinadores, a TCFC apresentou melhores resultados para todos os tipos de defeitos criados em comparação com o diagnóstico baseado nas periapicais digitais. Tabela 3 Estudos conduzidos com mandíbulas suínas. Autores/ ano Objetivo Tipo de defeito Padrão ouro Tipo de medida do defeito Mengel et al. (2005) Investigar acurácia e qualidade com que defeitos periodontais são representados em radiografias intraorais, panorâmicas, tomografias computadorizadas e tomografias digitais volumétricas em comparação a espécimes histológicos. com brocas esféricas e cilíndricas: defeitos de 2 ou 3 paredes; lesões de furca grau I a III; deiscência e fenestrações. Medidas no exame histológico. Lineares: variando de acordo com o tipo de defeito e técnica (histológico ou imagens). Tomografias digitais volumétricas (0.19 ± 0.11 mm) e tomografias computadorizadas (0.16 ± 0.10 mm) foram os exames imagenológicos mais fiéis aos achados histológicos, porém as tomografias volumétricas apresentaram melhor qualidade de imagens. Umetsubo et al. (2012) Testar reprodutibilidade, sensibilidade e especificidade da TCFC em detectar lesões de furca incipientes. com ácido perclórico na região de furca. Presença/ ausência de lesão na mandíbula seca. Não foram feitas medidas: presença/ ausência de lesão de furca. Elevada acurácia (78 a 88%) e moderada reprodutibilidade da TCFC na detecção de lesões de furca incipientes criadas com ácido perclórico. Braun et al (2013) Comparar valor diagnóstico de imagens de defeitos periodontais usando radiografias periapicais digitais e TCFC. com brocas: defeitos de 1, 2 ou 3 paredes; lesões de furca grau I a III; deiscência e fenestrações. Presença/ ausência de lesão na mandíbula. Não foram feitas medidas: presença/ ausência. TCFC mostrou melhores resultados para todos os tipos de defeitos criados, apesar da inexperiência dos examinadores. 52 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

Tabela 4 Estudos conduzidos em pacientes com periodontite crônica. Autores/ ano Objetivo Tipo de defeito (metodologia do defeito) Padrão ouro Tipo de medida (onde e como) Walter et al. (2010) Comparar avaliação intraoperatória de envolvimento de furca com dados observados na TCFC. Defeitos já existentes (lesões de furca). Momento intraoperatório. Não foram feitas medidas: comparação entre grau de furca determinado através das imagens tomográficas e lesões reais observadas clinicamente. TCFC apresentou conformidade com o observado durante cirurgia: 84% dos dados obtidos pela TCFC foram confirmados durante cirurgia (κ= 0,926). Feijó et al. (2012) Verificar acurácia da TCFC em medidas de defeitos ósseos horizontais. Defeitos já Medida com sonda manual, da JCE à crista óssea alveolar, no transcirúrgico. Lineares: da JEC até a crista óssea em 3 pontos de cada face (vestibular, mesial, distal e lingual). Não houve diferença estatística entre medidas reais e TCFC, que se mostrou eficaz na reprodução de medidas clínicas de defeitos horizontais Medida Clínica: 5,86 ± 1,98 Medida na TCFC: 6,11 ± 2,32. Qiao et al (2014) Verificar acurácia de TCFC em detectar lesão de furca em molares superiores. Defeitos já existentes (lesões de furca). Momento intraoperatório. Grau de furca e outras medidas da área de furca. 82,4% dos dados obtidos pela TCFC foram confirmados (alto nível de acurácia). Sem diferença estatística entre TCFC e transcirúrgico para comprimento do tronco da raiz e largura da entrada da furca. Com diferença estatística entre TCFC e transcirúrgico para perda óssea horizontal e perda óssea vertical na área da furca. As TCFC também já foram testadas em estudos com humanos (tabela 4). Walter et al. (2010) realizaram estudo com quatorze pacientes com periodontite crônica, que foram submetidos à terapia periodontal inicial (orientação de higiene bucal, raspagem e alisamento radicular, remoção de fatores predisponentes e programa periodontal de suporte a cada 3 ou 4 meses), seguida de indicação cirúrgica nos sítios que apresentassem PCS 6 mm ou aumento da lesão de furca inicial. Foram feitas TCFC de todos os 25 molares superiores indicados para cirurgia, as quais foram comparadas com o momento transcirúrgico. Tal comparação revelou grande correlaçãoentre imagem e situação real. Com isso, os autores concluíram que a TCFC possibilita estimar e classificar o grau de envolvimento da furca com exatidão, bem como analisar a anatomia radicular, o que propicia diagnóstico preciso e consequente plano de tratamento bem elaborado. Similarmente, Qiao et al. (2014) conduziram estudo com 15 pacientes com periodontite crônica que, após terapia inicial, ainda apresentavam pelo menos um molar superior com PCS 6 mm e lesão de furca avançada, definida como perda horizontal inter-radicular de grau 2 ou 3. Foram feitas avaliações pré-cirúrgicas das furcas dos 20 dentes incluídos, bem como TCFC. Comparando-se os achados nas TCFC com o momento intraoperatório, 82,4% dos dados obtidos com as imagens foram confirmados, revelando um elevado grau de acurácia. Além disso, tendo em vista outras mensurações realizadas, não foram encontradas diferenças estatísticas entre TCFC e transcirúrgico para comprimento do tronco da An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 53

raiz e largura da entrada da furca. Em contrapartida, foram encontradas diferenças estatísticas entre TCFC e transcirúrgico para perda óssea horizontal e perda óssea vertical na área da furca. Com isso, a conclusão seguiu-se muito parecida com o trabalho anterior, evidenciando o benefício do uso da TCFC para se chegar ao diagnóstico e prognóstico mais preciso, o que possibilitará elaborar o plano de tratamento mais adequado. Feijó et al. (2012) em estudo que também comparou avaliações transcirúrgicas com tomografias, incluíram 8 molares superiores de pacientes com periodontite crônica severa, que necessitavam de intervenção cirúrgica. Foram realizadas três medidas da junção cemento-esmalte até a crista óssea em cada face dentária (mesial, distal, vestibular e palatina) na TCFC e durante o ato cirúrgico com auxílio de sonda periodontal milimetrada. Comparando-se as mensurações, assim como nos estudos anteriores, podese verificar a eficácia da TCFC em reproduzir as medidas verificadas clinicamente, neste caso, da altura do nível ósseo alveolar em perdas horizontais. DISCUSSÃO Dos quatorze artigos analisados, sete tinham como objetivo avaliar acurácia de TCFC (Mengel et al., 2005; Misch et al., 2006; Mol & Balasundaram 2008; Noujeim et al., 2009; Feijó et al., 2012; Fleiner et al., 2013; Qiao et al., 2014). Entretanto, destes, apenas três realmente calcularam este valor (Mol & Balasundaram, 2008; Noujeim et al., 2009; Qiao et al., 2014). Umetsubo et al. (2012) tinham como objetivo avaliar reprodutibilidade, sensibilidade e especificidade da TCFC, mas com estes valores, apresentaram a acurácia da TCFC ao final do estudo. Para se calcular a acurácia de uma técnica, os resultados obtidos são comparados com a presença real da condição estudada, chegando-se a uma quantidade total de acertos. Para isso, é necessário haver um padrão-ouro, que servirá de base de comparação para este cálculo. Por conta disso, o estudo de de Faria Vasconcelos (2012), embora apresente diferença estatística entre TCFC e radiografias periapicais, não permite afirmar qual técnica foi superior na detecção de defeitos ósseos. Mengel et al. (2005), Misch et al. (2006), Feijó et al. (2012) e Fleiner et al. (2013) utilizaram o termo acurácia como sinônimo de precisão ou para expressar a correlação entre os valores observados e o padrão ouro, avaliando o desempenho da TCFC através de médias e desvios-padrão. Dos estudos que realizaram medidas lineares para avaliar nível ósseo alveolar, Misch (2006), Vandenberghe et al. (2007), Vandenberghe et al. (2008) não observaram superioridade da TCFC em relação a outras técnicas. Ainda, Mol & Balasundaram (2008) apresentaram apenas discreta superioridade da TCFC em relação a exame periapical da boca toda para medidas lineares de altura óssea em dentes da região anterior. Essa superioridade foi mais evidente em dentes posteriores. Em contrapartida, Ising et al.(2012), Fleiner et al. (2013) e Feijó et al. (2012) notaram elevada precisão da TCFC na medição de alturas ósseas. Entretanto, nenhum destes trabalhos apresentou a real acurácia da TCFC. Mengel et al. (2005), Noujeim et al. (2009) e Braun et al. (2014), que avaliaram o desempenho da TCFC na detecção de defeitos com 1, 2, 3 paredes ou crateras ósseas, relataram resultados superiores com a TCFC quando comparada com o desempenho de radiografias periapicais. Noujeim et al. (2009) obtiveram acurácia média da TCFC de 0,817, sendo que a acurácia foi maior na detecção de lesões grandes (0,864) e menor nas lesões pequenas (0,770), mas, ainda assim, a acurácia da TCFC sempre foi maior do que das radiografias periapicais. Todos os estudos que avaliaram desempenho ou acurácia de TCFC em lesões de furca apresentaram resultados muito precisos e/ou superiores em relação a outras técnicas. Mengel et al. (2005) e Braun et al. (2014) compararam desempenho diagnóstico de TCFC e radiografias periapicais em lesões de furca e apontaram a superioridade da primeira técnica. Walter et al.(2010), Umetsubo et al. (2012) e Qiao et al. (2014) obtiveram elevados valores de acurácia para TCFC na detecção de lesões de furca: 84%, 78 a 88% e 82,4%, respectivamente. Baseando-se nesses estudos, a acurácia de TCFC encontrada para lesões de furca é,em média,de aproximadamente 83%. Vandenberghe et al. (2007) e Vandenberghe et al. (2008) embora não tenham obtido desempenho da TCFC superior ao de radiografias periapicais na avaliação linear de nível ósseo periodontal, encontraram superioridade na detecção de crateras e lesões de furca. Contudo, ainda assim, sem apresentarem os valores de acurácia. Com esses estudos, fica evidente, portanto, a superioridade da TCFC em relação às radiografias convencionais no que se refere ao detalhamento das imagens e consequente auxílio no diagnóstico de defeitos ósseos e perda óssea alveolar. Todavia, essa maior riqueza de imagem está diretamente relacionada à dose de radiação. Dependendo do aparelho de TCFC e do FoV (Field of View ) utilizado, a dose de radiação da TCFC varia entre 29 e 477 μsv, muito menor do que os aproximadamente 2000 μsv gerados em uma aquisição da região maxilofacial pela tomografia fan-beam (Scarfe & Farman, 2008). Uma radiografia periapical apresenta uma dose de radiação de cerca de 5μSv (Ngan et al.,2003). Assim sendo, quando comparada às radiografias convencionais, a dose de radiação 54 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

da TCFC apresenta-se similar à do exame periapical da boca toda (Hatcher & Aboudara, 2004) ou equivalente ao exame de cinco radiografias periapicais usando a película de D-Speed (Kodak) (Mah et al., 2003). Portanto, o uso da TCFC na periodontia parece ser vantajoso na relação risco-benefício, uma vez que no exame periodontal são necessárias radiografias periapicais da boca toda, o que produz uma dose de radiação similar à da TCFC. No entanto, a TCFC permite maior detalhamento da imagem, além de observação tridimensional dos defeitos ósseos;que são importantes informações imagenológicas para a formulação do correto diagnóstico e tratamento periodontal. CONCLUSÕES A TCFC apresenta desempenho superior às radiografias periapicais na detecção de defeitos ósseos periodontais e perda óssea alveolar, principalmente no diagnóstico de defeitos de 1, 2 ou 3 paredes, crateras e lesões de furca. Essa técnica diagnóstica parece apresentar boa relação riscobenefício, pois a dose de radiação pode ser equivalente a um exame periapical de boca toda. considered an advance in dentistry imaging due to its high quality images and lower radiation exposure, compared to the conventional CT. To analyze specifically the use of CBCT in Periodontics, the aim of this study was to make a literature review about the CBCT performance in detecting periodontal bone defects and alveolar bone loss, in order to evaluate the real risk-benefit of CBCT, possibly enabling periodontists to use this technique in the future. A search in MEDLINE/ PubMed was performed in March 2014 using some keywords. Fourteen articles met the inclusion and exclusion criteria, being observed that the majority was conducted with human cadavers. In relation to periapical radiographs, CBCT superiority in detecting alveolar bone loss seems to be controversial. However, accuracy of CBCT is higher than periapical radiographs taking into consideration the analysis of bone defects and furcation involvement. Besides, CBCT seems to present great risk-benefit relation, because radiation dose can be equivalent to a full-mouth periapical exam. Therefore, due to the possibility of tridimensional analysis of bone defects, its high accuracy and good risk-benefit relation, the use of CBCT by the periodontist may be considered an option in the periodontal practice. ABSTRACT Cone beam computed tomography (CBCT) has been UNITERMS: diagnosis; periodontal diseases; tomography, X-ray computed. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1- Braun X, Ritter L, Jervøe-Storm PM, Frentzen M. Diagnostic accuracy of CBCT for periodontal lesions. Clin Oral Investig2014; 18(4):1229-1236. 2- Cavalcanti MG. Cone beam computed tomographic imaging: perspective, challenges, and the impact of near-trend future applications. J CraniofacSurg 2012;23(1):279-282 3- Cremonini CC, Dumas M, Pannuti CM, César-Neto JB, Cavalcanti MPG, Lima LA. Assessment of linear measurements of bone for implant sites in the presence of metallic artefacts using cone beam computed tomography and multislice computed tomography. Int J Oral MaxillofacSurg 2011; 40(8):845-850. 4- defaria Vasconcelos K, Evangelista KM, Rodrigues CD, Estrela C, de Sousa TO, Silva MA. Detection of periodontal bone loss using cone beam CT and intraoral radiography. DentomaxillofacRadiol 2012; 41(1):64-69. 5- Feijó CV, Lucena JG, Kurita LM, Pereira SL. Evaluation of Cone Beam Computed Tomography in the Detection of Horizontal Periodontal Bone Defects: An In Vivo Study. Int J Periodontics Restorative Dent 2012;32(5):e162 e168. 6- Fleiner J, Hannig C, Schulze D, Stricker A, Jacobs R. Digital method An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 for quantification of circumferential periodontal bone level using cone beam CT. Clin Oral Invetig 2013;17(2):389-396 7- Hatcher DC, Aboudara CL. Diagnosis goes digital. Am J OrthodDentofacialOrthop 2004; 125(4):512-515. 8- Ising N, Kim KB, Araujo E, Buschang P. Evaluation of dehiscences using cone beam computed tomography. Angle Orthod. 2012; 82(1):122-130. 9- Mah JK, Danforth RA, Bumann A, Hatcher D. Radiationabsorbed in maxillofacial imaging with anew dental computed tomography device. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 2003;96(4):508-13. 10- Mengel R, Candir M, Shiratori K, Flores-de-Jacoby L. Digital volume tomography in the diagnosis of periodontal defects: an in vitro study on native pig and human mandibles. J Periodontol 2005;76(5):665-673. 11- Misch KA, Yi ES, Sarment DP. Accuracy of cone beam computed tomography for periodontal defect measurements. J Periodontol 2006;77(7): 1261-1266. 12- Mol A, Balasundaram A. In vitro cone beam computed tomography imaging of periodontal bone. DentomaxillofacRadiol 2008; 37(6):319 55

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