MANUAL DE DIRETRIZES NACIONAIS PARA EXECUÇÃ ÇÃO O DE MANDADOS JUDICIAIS DE MANUTENÇÃ

Documentos relacionados
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO DEPARTAMENTO DE OUVIDORIA AGRÁRIA E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS - DOAMC PREVENÇÃO E MEDIAÇÃO DOS CONFLITOS AGRÁRIOS

MANUAL DE DIRETRIZES NACIONAIS PARA EXECUÇÃO DE MANDADOS JUDICIAIS DE MANUTENÇÃO E REINTEGRAÇÃO DE POSSE COLETIVA.

Dispõe sobre a divulgação de dados processuais eletrônicos na rede mundial de computadores, expedição de certidões judiciais e dá outras providências.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO DESPACHO

SUMÁRIO. Capítulo I Teoria da Constituição...1

No procedimento investigatório criminal serão observados os direitos e garantias individuais consagrados

PARTE 1 - DELEGACIA DE POLÍCIA

DIREITO CONSTITUCIONAL

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

Enunciados do Fórum Nacional da Justiça Juvenil FONAJUV

CADERNO 1 - ADMINISTRATIVO > PRESIDÊNCIA > GABINETE

CUMPRIMENTO DO MANDADO JUDICIAL

Ao Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito de Osasco Jorge Lapas Av. Bussocaba, 300 Osasco CEP

Enunciados do Fórum Nacional da Justiça Juvenil FONAJUV. Da apuração dos atos infracionais

ANEXO. Artigo 1º. c) Ilícito Aduaneiro: qualquer violação ou tentativa de violação da legislação aduaneira. Artigo 2º

PROVIMENTO N.º 003/2013 CCI

Direito Penal. Lei nº /2006. Violência doméstica e Familiar contra a Mulher. Parte 4. Prof.ª Maria Cristina

Evolução da Disciplina. Direito Constitucional CONTEXTUALIZAÇÃO INSTRUMENTALIZAÇÃO

CORREGEDORIA-GERAL DA JUSTIÇA PROVIMENTO Nº 15, DE 11 DE JUNHO DE 2012.

DIREITO CONSTITUCIONAL

PROVA DE NOÇÕES DE DIREITO CÓD. 02

Pós Penal e Processo Penal. Legale

b) A garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais.

MUNICÍPIO DE PARAMIRIM

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA FUNDAMENTOS E ASPECTOS PRELIMINARES

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Direitos da Pessoa com Deficiência

Direito Constitucional

Do Conselho Nacional de Justiça e Dos Tribunais e Juízes dos Estados

CONSIDERAÇÕES JURÍDICAS SOBRE A SENILIDADE: OS AVANÇOS DECORRENTES DA IMPLEMENTAÇÃO DO ESTATUTO DO IDOSO

PORTARIA Nº 01, DE 1º DE JUNHO DE 2015

PROJETO DE LEI Nº, DE 2016

GUSTAVO FILIPE BARBOSA GARCIA TERCEIRIZAÇÃO

TRlBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE LISBOA NORTE

CARLOS MENDONÇA DIREITO CONSTITUCIONAL

SERVIÇOS DE REGISTROS PÚBLICOS COMARCA DE SAPUCAIA DO SUL

TJRJ Oficial de Justiça

CONSIDERANDO que ao Ministério Público do

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado

Dispõe sobre a atuação da inspeção do trabalho no combate ao trabalho infantil e proteção ao trabalhador adolescente.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DECRETO JUDICIÁRIO Nº /2016

LEGISLAÇÃO DO MPE. Organização do Ministério Público. Lei Complementar 106/2003 Parte 13. Prof. Karina Jaques

PÓS GRADUAÇÃO PENAL E PROCESSO PENAL Legislação e Prática. Professor: Rodrigo J. Capobianco

EXCELENTÍSSIMO SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 4ª VARA FEDERAL DE CURITIBA/PR. AÇÃO REINTEGRAÇÃO DE POSSE Nº Processo:

Da Ordem Social: da família, da criança, do adolescente e do idoso.

Superior Tribunal de Justiça

CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RESOLUÇÃO Nº 77, DE 14 DE SETEMBRO DE 2004

Sumário. 1 Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado... 1 Lei nº 8.069, de 13 de julho de

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Baixa no Sistema Informatizado e Arquivamento

Sumário APRESENTAÇÃO RAIO-X DAS QUESTÕES... 13

Direito Constitucional. TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais art. 1º ao 4º

Funções Essenciais à Justiça Arts. 127 a 135, CF/88

A- SUBPROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA JURÍDICA Ato Normativo nº 978/2016-PGJ, de 05 de setembro de 2016 (Protocolado nº 122.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

EDITAL DE LEILÃO N. 15, de 30 de agosto de 2018 (INTIMAÇÃO E CIENTIFICAÇÃO)

PROVIMENTO Nº 22, DE 28 DE SETEMBRO DE 2015.

Pós Penal e Processo Penal. Legale

INSTRUÇÃO PROMOTOR NATURAL: O

TJRJ Comissário da Infância, Juventude e do Idoso

QUESTÕES. 13 É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença

Direito Constitucional

Direito Constitucional

Participação Social Gestão Democrática

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL QUESTÕES COMENTADAS

Questões de Concursos Aula 01 INSS DIREITO CONSTITUCIONAL. Prof. Cristiano Lopes

Professor Marcos Girão O DECRETO ESTADUAL nº /98

FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA - LODPU, 4º

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Supremo Tribunal Federal (Instância Extraordinária) Conselho Nacional de Justiça (administrativo: não exerce jurisdição) Justiça Comum

Política de Ouvidoria. Código Data da Emissão Área Responsável Versão POL-OUV-001 Jul/15 Ouvidoria 0.5

PROVIMENTO Nº 32 / 2016

ACAMPAMENTO BACURI SOFRE ATAQUE DA PM DE ARIQUEMES SOB O MANTO DA PROTEÇÃO JUDICIÁRIA

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Estado de Santa Catarina PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO MIGUEL DO OESTE LEI Nº

SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Apresentação PNDH 3

Vem Pra Potere!

EXCELENTISSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO, CORREGEDOR DA VARA DE EXECUÇOES PENAIS DE LONDRINA, PARANÁ, DOUTOR KATSUJO NAKADOMARI

Pós Penal e Processo Penal. Legale

Prof. Dr. Vander Ferreira de Andrade

DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL 2014

(TRT-RJ / TÉCNICO JUDICIÁRIO ÁREA ADMINISTRATIVA / CESPE / 2008) DIREITO CONSTITUCIONAL

LEI DE 16 DE MARÇO DE 2019

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Questões Prova - Escrivão PC PR

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº, DE 20143

POLITICAS DE PREVENÇÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS FUNDIÁRIOS CONCIDADES 2011

Noções de Estado. Organização da Federação e Poderes do Estado

PROJETO DE LEI. O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Superior Tribunal de Justiça

DOU nº 10, Seção 1, de 15 de janeiro de 2015 AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR DIRETORIA COLEGIADA

COMUNICADO DA COORDENAÇÃO DA OCUPAÇÃO VILA SOMA

PODER JUDICIÁRIO PROVIMENTO Nº T2-PVC-2010/00089 DE 17 DE DEZEMBRO DE 2010.

DECRETO N , DE 7 DE MARÇO DE 2003

PORTARIA N.15, DE 8 DE MARÇO DE 2017

Transcrição:

MANUAL DE DIRETRIZES NACIONAIS PARA EXECUÇÃ O DE MANDADOS JUDICIAIS DE MANUTENÇÃ O E REINTEGRAÇÃ DE POSSE COLETIVA.

MANUAL DE DIRETRIZES NACIONAIS PARA EXECUÇÃ O DE MANDADOS JUDICIAIS DE MANUTENÇÃ O E REINTEGRAÇÃ O DE POSSE COLETIVA. Uma das causas de violência no campo são os meios empregados no cumprimento dos mandados de manutenção e reintegração envolvendo ações coletivas pela posse de terra rural, bem como mandados de busca e apreensão, em razão da falta de obediência dos cuidados mínimos no que se refere aos direitos humanos e sociais das partes envolvidas. Para evitar os embates fundiários decorrentes do cumprimento de ordens judiciais e para auxiliar as autoridades públicas encarregadas da aplicação da lei nas ações coletivas decididas pelo Poder Judiciário, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, através da Ouvidoria Agrária Nacional, resolve editar o presente manual fixando diretrizes para execução de mandados judiciais de manutenção e reintegração de posse coletiva de terras rurais, estabelecendo os passos que os responsáveis pelo cumprimento das determinações devem obedecer durante a execução de ordens judiciais, assegurando a garantia e o respeito às normas constitucionais, essencialmente àquelas decorrentes dos artigos 1º, 3º e 4º da Constituição Federal, que contemplam como fundamentos da República Federativa do Brasil: a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais, a prevalência dos direitos humanos e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, nos seguintes termos:

1 - DA AUTORIDADE COMPETENTE PARA EXECUÇÃ O DAS MEDIDAS Havendo necessidade do uso da força pública para o cumprimento das ordens judiciais decorrentes de conflitos coletivos sobre a posse de terras rurais, em razão da sua função institucional e do treinamento específico, os atos deverão ser executados com apoio da Polícia Militar e/ou Polícia Federal, observada a respectiva esfera de competência. 2 - DAS PROVIDÊNCIAS INICIAIS Ao receber a ordem de desocupação o representante da unidade policial articulará com os demais órgãos da União, Estado e Município (Ministério Público, Incra, Ouvidoria Agrária Regional do Incra, Ouvidoria Agrária Estadual, Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública, Comissões de Direitos Humanos, Prefeitura Municipal, Câmara Municipal, Ordem dos Advogados do Brasil, Delegacia de Polícia Agrária, Defensoria Pública, Conselho Tutelar e demais entidades envolvidas com a questão agrária/fundiária), para que se façam presentes durante as negociações e eventual operação de desocupação.

3 - DOS LIMITES DA ORDEM JUDICIAL O cumprimento da ordem judicial ficará limitado objetiva e subjetivamente ao que constar do respectivo mandado, não cabendo à força pública, responsável pela execução da ordem, ações como a destruição ou remoção de eventuais benfeitorias erigidas no local da desocupação. A força pública limitar-se-á a dar segurança às autoridades e demais envolvidos na operação. Se o oficial de justiça pretender realizar ação que não esteja expressamente prevista no mandado, o comandante suspenderá a operação, reportando-se imediatamente ao juízo competente. Trata-se de ato administrativo vinculado. O comandante da operação tem direito de ter acesso ao mandado judicial que determinou a manutenção, reintegração ou busca e apreensão para conhecer os limites da ordem judicial. 4 - DA DOCUMENTAÇÃ O DOS ATOS DE DESOCUPAÇÃ As operações deverão ser documentadas por filmagens, o que deve ser permitido pela polícia a qualquer das entidades presentes ao ato.

5 - DO PLANEJAMENTO E DA INSPEÇÃ A corporação responsável pelo cumprimento dos mandados judiciais de manutenção, reintegração e busca e apreensão, promoverá o planejamento prévio à execução da medida, inspecionando o local e colhendo subsídios sobre a quantidade de pessoas que serão atingidas pela medida, como a presença de crianças, adolescentes, mulheres grávidas, idosos e enfermos. Considera-se iniciada a execução da ordem judicial a partir do momento que forem levantados os dados para o planejamento. As informações serão repassadas aos demais órgãos envolvidos com o cumprimento da medida, reportando-se ao magistrado responsável pela expedição da ordem sempre que surgirem fatores adversos. O responsável pelo fornecimento de apoio policial, com o intuito de melhor cumprir a ordem judicial, adotará as seguintes providências, com a participação dos demais envolvidos na solução do conflito: I - contactar os representantes dos ocupantes, para fins de esclarecimentos e prevenção de conflito; II comunicar à Ouvidoria Agrária Regional do Incra para tentar viabilizar área provisória para a qual os acampados possam ser removidos e prédios para eventual guarda de bens, bem como os meios necessários para a desocupação; III encontrando-se no local pessoas estranhas aos identificados no mandado, o oficial responsável pela operação comunicará o fato ao juiz requerendo orientação sobre os limites do mandado.

6 - DA EFETIVAÇÃ O DA MEDIDA As ordens judiciais serão cumpridas nos dias úteis das 6 às 18 horas, podendo este horário ser ultrapassado para a conclusão da operação. A autoridade policial responsável comunicará o cumprimento da medida judicial aos trabalhadores, ao requerente e aos demais envolvidos com antecedência mínima de 48 horas. A comunicação deverá conter: I a comarca, o juízo e a identificação do processo em que foi determinada a medida; II o número de famílias instaladas na área a ser desocupada; III a data e a hora em que deverá ser realizada a desocupação; IV a identificação das unidades policiais que atuarão no auxílio ao cumprimento da ordem judicial. 7 - DO USO DE MÃO M O DE OBRA PRIVADA PARA A REMOÇÃ A polícia não permitirá, nem mesmo com utilização de mão de obra privada, desfazimento de benfeitorias existentes no local ou a desmontagem de acampamento durante o cumprimento da ordem judicial, salvo pedido de retirada voluntária de pertences pelos desocupados da área objeto da lide.

8 - DO USO DE MEIOS COERCITIVOS PARA A DESOCUPAÇÃ A tropa responsável pela desocupação restringirá o uso de cães, cavalos ou armas de fogo, especificamente ao efetivo encarregado pela segurança da operação, controle e isolamento da área objeto da ação, devendo todo armamento utilizado na operação ser previamente identificado e acautelado individualmente. Os policiais que participarem da operação devem estar devida e claramente identificados, de maneira que se torne possível a sua individualização. O uso de tropa dependerá de prévia disponibilização de apoio logístico, tais como assistência social, serviços médicos e transporte adequado, que deverá ser solicitado, por ofício, à autoridade judicial competente. A tropa deverá ser orientada quanto aos limites do poder de polícia, com base no interesse social e na preservação dos direitos fundamentais dos indivíduos, nos termos do artigo 5º e seus respectivos incisos da Constituição Federal, observando-se que o direito de propriedade somente estará assegurado quando estiver cumprindo a função social (CF, art. 5º XXII e XXIII).

9 - DA TRANSPARÊNCIA NCIA DAS INFORMAÇÕ ÇÕES Toda informação sobre a execução de mandados judiciais de manutenção e reintegração de posse coletiva deve ser fornecida de forma clara, objetiva e concisa. As perguntas que forem feitas aos policiais deverão ser respondidas adequadamente. 10 - DA CONOTAÇÃ O SOCIAL DA AÇÃA O efetivo policial a ser lançado no terreno deve ser esclarecido sobre a ação a ser desenvolvida, com observação de que, apesar de ser de natureza judicial, possui conotação social, política e econômica, necessitando, em decorrência, de bom senso do policial para que sejam respeitados os direitos humanos e sociais dos ocupantes. Os policiais devem, ainda, ser orientados sobre os limites do poder de polícia, com base no interesse social e na preservação dos direitos fundamentais dos indivíduos, nos termos do artigo 5º e seus respectivos incisos da Constituição Federal.

11- DO RELATÓRIO RIO FINAL Cumprido o mandado de manutenção, reintegração de posse ou busca e apreensão, o comandante da operação encaminhará ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e a Ouvidoria Agrária Regional do Incra relatório circunstanciado sobre a execução da respectiva ordem. Brasília, 11 de abril de 2008. Desembargador Gercino José da Silva Filho Ouvidor Agrário rio Nacional e Presidente da Comissão o Nacional de Combate à Violência no Campo