BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Documentos relacionados
01 Q Direito Constitucional Organização dos Poderes. 02 Q Direito Constitucional Organização dos Poderes.

Noções de Estado. Organização da Federação e Poderes do Estado

Objetivos: Dar ao aluno noções gerais sobre o Estado e a ordem social e oferecer-lhe o pleno conhecimento da organização constitucional brasileira.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Direito Administrativo

Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios publica:

AULA 03: PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Professor Thiago Gomes

DIREITO PROCESSUAL PENAL Da competência

ANEXO II Concurso Público - Edital Nº. 001/2008 CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

DIREITO ADMINISTRATIVO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA AMANDA FERREIRA SILVA

Administração Pública

PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Paula Freire 2012

DIREITO ADMINISTRATIVO TJ - PE. Prof. Luiz Lima

Processo mnemônico: SO CI DI VAL PLU

Conteúdos/ Matéria. Categorias/ Questões. Textos, filmes e outros materiais. Habilidades e Competências. Tipo de aula. Semana

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: ÓRGÃOS

PROGRAMA ESPECÍFICO TJ/CE PONTO 1. Direito Civil e Processual Civil

DIREITO ADMINISTRATIVO

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

DIREITO ADMINISTRATIVO

PODERES ADMINISTRATIVOS

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Direito Administrativo

Direito Constitucional

Direito Administrativo. Lista de Exercícios. Poderes Administrativos

SUMÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Policia Rodoviária Federal - PRF DIREITO ADMINISTRATIVO

Unidade I. Instituições de Direito Público e Privado. Profª. Joseane Cauduro

DPE-AM SUMÁRIO. Língua Portuguesa. Domínio da ortografia oficial Emprego da acentuação gráfica Emprego dos sinais de pontuação...

Direito Constitucional

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 11/360

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 95/360

Número:

Abreviaturas Apresentação PARTE 1 DOUTRINA E LEGISLAÇÃO CAPÍTULO I PODER JUDICIÁRIO

Conteúdos/ Matéria. Textos, filmes e outros materiais. Categorias/ Questões. Habilidades e Competências. Semana. Tipo de aula

LISTA DE ABREVIATURAS UTILIZADAS INTRODUÇÃO Capítulo 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO PROCESSO LEGISLATIVO... 25

SUMÁRIO. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Publicado no Diário Oficial da União nº 191-A de 5 de outubro de 1988


Profª Tatiana Marcello

Aula 01 TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

Professor: GILCIMAR Matéria: Legislação Aplicada ao MPU

Direito Civil Internacional:

CURSO DE FORMAÇÃO DE GUARDAS 2014/2015

PROCON-MA Fiscal de Defesa do Consumidor. CONHECIMENTOS GERAIS (30 questões - Peso 1)

Direito Administrativo

BIBLIOGRAFIA. BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas. 5ª ed., Rio de Janeiro: Renovar, p.

Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas

Tripartição dos Poderes do Estado (Separação das funções Estatais)

QUAL IMPORTÂNCIA DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL?

PLANO DE ENSINO. Disciplina: Instituições de Direito Público e Privado. Carga horária: 72 horas Período letivo: Termo: 1º

PROCESSO CONSTITUCIONAL PROF. RENATO BERNARDI

Luís Bernardo Delgado Bieber DIASQ/ANVISA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

MONTESQUIEU. Separação de poderes. Origens da teoria e sua aplicação na atualidade. Prof. Elson Junior

DIREITO CONSTITUCIONAL

300 Questões Comentadas do Processo Legislativo

ARTIGO: O controle incidental e o controle abstrato de normas

DIREITO ADMINISTRATIVO. Ricardo Alexandre

PROF. JEFERSON PEDRO DA COSTA CURSO: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Indisponibilidade de bens, segredo de justiça e a publicidade notarial e registral. Tânia Mara Ahualli

Sumário. A importância da Lei na sociedade contemporânea... 21

SUMÁRIO. Capítulo I Teoria da Constituição...1

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

FRANCION SANTOS DIREITO CONSTITUCIONAL

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Direito Administrativo Começando do Zero Rodrigo Motta

TOTAL DA CARGA HORÁRIA 435

CONTROLE ABSTRATO. Jurisdição Constitucional Profª Marianne Rios Martins

Direito Administrativo

Arts. 92 ao 126 da CF

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se. eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no

LISTA DE ABREVIATURAS UTILIZADAS INTRODUÇÃO Capítulo 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO PROCESSO LEGISLATIVO... 25

Cronograma de Trabalho

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 113/360

Prova de direitos humanos

SUMÁRIO CURRICULA DOS AUTORES... 9 AGRADECIMENTOS 6.ª EDIÇÃO AGRADECIMENTOS 5.ª EDIÇÃO AGRADECIMENTOS 4.ª EDIÇÃO... 15

1. A Evolução do MS no Sistema Constitucional Direito Líquido e Certo a Evolução Conceitual... 24

DIREITO SUBSTANCIAL E PROCESSUAL

Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

I RELATÓRIO. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pelo Procurador-Geral da República,

JULGAMENTO COLEGIADO DE CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

EIXO FUNDAMENTAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO TCC LINHAS DE PESQUISA

SUMÁRIO. Agradecimentos... Nota do autor...

CONCEITO, FONTES, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES

20/11/2014. Direito Constitucional Professor Rodrigo Menezes AULÃO DA PREMONIÇÃO TJ-RJ

PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA. Maurino Burini Advogado e Assessor Jurídico

DIREITO CONSTITUCIONAL

Catálogo. 1º semestre Direito. Integrando soluções, tecnologia e conteúdo. História do Direito Interesses Difusos e Coletivos

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA - PED

Direito Constitucional

Legislação Previdenciária

Teoria do Direito. Fontes do Direito Espécies Normativas Atos Administrativos

ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO DA INTERVENÇÃO

Transcrição:

BuscaLegis.ccj.ufsc.br A Teoria dos Freios e Contrapesos no Direito Civil Marcelo Augusto Paiva Pereira Como citar este comentário: PEREIRA, Marcelo Augusto Paiva. A Teoria dos Freios e Contrapesos no Direito Civil. Disponível em http://www.iuspedia.com.br 07 abtil. 2008. A Teoria dos Freios e Contrapesos ("Checks and Balances"), oriunda dos Estados Unidos da América, justifica a independência e harmonia entre os três órgãos do Poder de Soberania do Estado, sendo estes o Legislativo, o Executivo e o Judiciário (CF, art. 2º) [1], cada qual com atribuições próprias e impróprias. Ao Poder Legislativo, legislar é atribuição própria, enquanto administrar a si mesmo e julgar o Presidente da República nos crimes de responsabilidade (Lei nº 1079/50) são atribuições impróprias. Ao Poder Executivo, administrar a coisa pública mediante atos normativos é atribuição própria, enquanto legislar (mediante leis delegadas e medidas provisórias) e julgar infrações (em processo administrativo) são atribuições impróprias. Ao Poder Judiciário, é atribuição própria julgar as lides e controvérsias judiciais em curso processual (ou procedimental), enquanto administrar a si mesmo e aos seus serventuários subordinados é atribuição imprópria.

O Poder Legislativo exerce atividade primária, em face do Estado Democrático de Direito, em que todos se submetem ao império da lei inclusive o próprio Estado, não podendo dela se afastar. Os Poderes Executivo e Judiciário exercem atividade secundária, devido à obrigatoriedade da lei, conforme dispõe a CF, art. 5º, II, e a LICC, art. 3º. O primeiro a aplica aos casos concretos, porém genéricos, atingindo a todos os administrados; enquanto o segundo também a aplica aos casos concretos, porém específicos, atingindo as partes que componham a relação jurídica controvertida instaurada em juízo. Este é o espectro da aludida Teoria, quanto às atribuições de cada órgão do Poder, impedindo que um invada as atribuições de outro, no exercício de cada. Ao contrário, coexistem sem que o ato praticado por um prejudique o ato praticado por outro[2]. Tais atividades, entretanto, atingem outras hipóteses de aplicação, com efeitos no mundo fenomênico: a) em relação ao Controle da Constitucionalidade, o Legislativo examina a constitucionalidade do projeto-de-lei através da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ); o Executivo o faz através do veto jurídico; e o Judiciário o manifesta nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade e Declaratórias de Constitucionalidade, mediante sentença; b) em relação ao Direito Penal, poderá o Legislativo anistiar os réus mediante lei; o Executivo poderá indultá-los mediante decreto; e o Judiciário poderá condená-los ou absolvê-los em fase de sentença mediante o devido processo legal. Em relação ao Direito Civil, este admite, com suporte no Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.01.2002), três espécies de permissão: a) capacidade: é a permissão dada pela lei, para a prática de todos os atos;

b) legitimação: é a permissão, dada pela lei, para a prática de certos atos; c) autorização: é a permissão, dada pela pessoa, para outra praticar certos atos. As duas primeiras são normas cogentes, porque emanam de normas de ordem pública, indisponíveis. A última é norma de ordem privada, dispositiva, porque a pessoa pode dela dispor. A capacidade divide-se em de direito e de fato: a primeira, todos a têm desde o nascimento com vida e constitui a personalidade jurídica da pessoa; a segunda, nem todos a têm, limitando a capacidade civil. A limitação da capacidade civil é suprida pelos institutos da representação e assistência[3], previstas por norma editada pelo Poder Legislativo, sendo essa o art. 1634, V, do Código Civil. A Tutela[4] (CC, arts. 1728 a 1766) e a Curatela[5] (CC, arts. 1767 a 1783), também foram instituídos por normas emanadas do Poder Legislativo. A legitimação, conferida pela lei à pessoa para praticar certos atos depende, em alguns casos, de norma emanada pelo Poder Executivo sempre que a lei oferecer algum grau de discricionariedade ao administrador público[6]. O Poder Executivo regula o exercício do poder de polícia [7] em relação ao particular e de matérias que a lei lhe confere o dever de executá-las [8]. Como exemplos, a expedição de Alvará para o interessado construir o imóvel pretendido e o Decreto 3048/99 (Regulamento da Previdência Social). A autorização dada por uma pessoa a outra para praticar certos atos pode ser objeto de suprimento judicial quando for injusta sua negação. Como exemplo, a negação de autorização pelos pais ao filho, maior de 16 e menor de 18 anos, para casar. Nesta hipótese, é o Poder Judiciário quem a supre (CC, art. 1519).

Nas três espécies de permissão expostas acima, foi necessária a atuação dos Poderes Legislativo (capacidade), Executivo (legitimação) e Judiciário (autorização) para o Direito Civil se operar sem lacunas que impeçam o pleno o exercício desses direitos. Conclusivamente, a aludida Teoria aplica-se na órbita do Direito Civil tanto na fase abstrata (legislativa) quanto na concreta (executiva e judicial). E, ainda, os três órgãos do Poder não extrapolam os limites de suas atribuições nem um se imiscui nas dos outros, porque estão atuando para o pleno exercício da força imperativa e coercitiva da lei sobre as pessoas numa clara e evidente obediência ao Estado Democrático de Direito. Nada a mais. 1. Afirma Rodrigo César Rebello Pinho: "O sistema de separação de poderes é a divisão funcional do poder político do Estado com a atribuição de cada função governamental básica a um órgão independente e especializado. Três são as funções governamentais básicas: legislativa, executiva e judiciária.". REBELLO PINHO. Rodrigo César. Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais. Sinopses Jurídicas, vol. 17. São Paulo: Editora Saraiva, 2000, pág. 57. 2. Diz José Afonso da Silva: "Tudo isso demonstra que os trabalhos do Legislativo e do Executivo, especialmente, mas também do Judiciário, só se desenvolverão a bom termo, se esses órgãos se subordinarem ao princípio da harmonia, que não significa nem o domínio de um pelo outro nem a usurpação de atribuições, mas a verificação de que, entre eles, há de haver consciente colaboração e controle recíproco (que, aliás, integra o mecanismo), para evitar distorções e desmandos.". SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 16ª ed.. São Paulo: Malheiros Editores, 1999, pág. 115. 3. Afirma Regina Beatriz Tavares da Silva: "A representação pelos pais até os dezesseis anos e a assistência, após essa idade, nos atos da vida civil em que forem partes é uma proteção legal conferida aos menores a fim de impedir que a inexperiência os conduza à

prática de atos prejudiciais.". FIUZA, Ricardo (coordenação). Novo Código Civil Comentado. São Paulo: Editora Saraiva, 2003, pág. 1446. 4. Carlos Roberto Gonçalves diz: "Tutela é o encargo conferido por lei a uma pessoa capaz, para cuidar da pessoa do menor e administrar seus bens. Destina-se a suprir a falta do poder familiar e tem nítido caráter assistencial.". GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família. Sinopses Jurídicas, vol. 2. São Paulo: Editora Saraiva, 2002, pág. 160. 5. Ainda Carlos Roberto Gonçalves: "Curatela é o encargo conferido por lei a alguém capaz para reger a pessoa e administrar os bens de quem não pode fazê-lo por si mesmo. Assemelha-se à tutela por seu caráter assistencial, destinando-se, igualmente, à proteção de incapazes.". Ob. cit., pág. 167. 6. Diz Hely Lopes Meirelles: "Atos administrativos normativos são aqueles que contém um comando geral do Executivo, visando à correta aplicação da lei. O objetivo imediato de tais atos é explicitar a norma legal a ser observada pela Administração e pelos administrados. Esses atos expressam em minúcia o mandamento abstrato da lei, e o fazem com a mesma normatividade da regra legislativa, embora sejam manifestações meramente administrativas.". MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 24ª ed., São Paulo: Malheiros Editores, 1999, pág. 161. 7. Ainda Hely Lopes Meirelles: "Em linguagem menos técnica, podemos dizer que o poder de polícia é o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter os abusos de direito individual.". Ob. cit., pág. 115. 8. Hely Lopes Meirelles: "Como ato inferior à lei, o regulamento não pode contrariá-la ou ir além do que ela permite. No que o regulamento infringir ou extravasar da lei, é írrito e nulo, por caracterizar situação de ilegalidade. Quando o regulamento visa a explicar a lei (regulamento de execução), terá que se cingir ao que a lei contém;...". Ob. cit., pág. 163.

Disponível em: http://www.wiki-iuspedia.com.br/article.php?story=2008040716030774. Acesso em: 25 maio. 2008.