DIREITO PENAL ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO Prof. CARLOS MOLLICA

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Transcrição:

ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO 2017 Prof. CARLOS MOLLICA

Olá pessoal, tudo bem? Aqui é o Carlos Mollica, e a partir de agora vamos iniciar a aula de DIREITO PENAL Para o concurso de ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO - TJ SP Em primeiro lugar vamos dar uma olhada no edital da VUNESP, mais precisamente no conteúdo programático, lembrando que no bloco II: Conhecimentos em Direito estão previstas 40 questões divididas em seis matérias diferentes. Vamos ao conteúdo exigido para a nossa matéria: EDITAL DIREITO PENAL Código Penal com as alterações vigentes até a publicação do Edital Artigos: 293 a 305; 307; 308; 311-A; 312 a 317; 319 a 333; 335 a 337; 339 a 347; 350; 357 e 359.

Já temos o que estudar, e aqui cabem algumas dicas, óbvias, mas muito importantes: Estude o que está definido no EDITAL, não perdendo tempo com o que não vai ser pedido A VUNESP pede em suas provas letra da lei, ou seja, o que está escrito no Código, não exigindo entendimentos de doutrinadores ou jurisprudências Mollica, quer dizer que é só eu decorar a lei e tô dentro? Teoricamente seria, porém já imaginou decorar todos os artigos relativos à Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Processual Penal, Direito Administrativo, Direito Processual Civil? Seria o caminho mais curto para ficar maluco, certo? Por isso vamos tentar fazer uma aula bem explicativa para que você entenda o que está estudando, e quando ler a questão possa, mesmo sem decorar a lei, responder com certeza aquilo que o examinador está pedindo! Então, chega de enrolar, pois temos bastante coisa para ver!

Antes de nos debruçarmos especificamente sobre a matéria específica do edital veremos alguns conceitos que nos ajudarão quando começarmos a ler os artigos 1. Conceito de Direito Penal Como tudo em Direito vários são os conceitos que tentam explicar tal matéria, porém utilizaremos aqui o conceito formal de Direito Penal: Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas (LEIS) que estabelecem as infrações penais (divididas em CRIMES - mais graves e CONTRAVENÇÕES - menos graves), fixam sanções (PENAS) e regulam as relações daí derivadas. A função do Direito Penal, em termos mais simples, é determinar aquilo considerado como uma infração penal, ou seja, o que você não poderia fazer contra uma pessoa e que se fizesse seria considerado um crime e te sujeitaria a um castigo. Exemplo: Se porventura você subtrair alguma coisa de outra pessoa, estará prejudicando o interesse dela e deverá, por isso, ser castigado. Transformando o exemplo acima em termos jurídicos teríamos: Você cometeu um crime previsto no Código Penal, no Título II - Dos Crimes contra o Patrimônio, Capítulo I, do Furto, artigo 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, e estará sujeito a uma pena de Reclusão, que pode variar entre um a quatro anos e ainda pagar uma multa. 2. Conduta, Resultado, Tipicidade CONDUTA é toda ação ou omissão praticada por alguém, e que no nosso caso poderá ser considerada como crime. O que o indivíduo faz ou deixa de fazer e que pode causar um prejuízo a um bem jurídico protegido pela lei. Utilizando nosso exemplo, quando eu disse que você SUBTRAIU alguma coisa de alguém, estava dizendo sobre a sua conduta (subtrair), ou o que você fez e que prejudicou o bem jurídico patrimônio dela.

Mas poderia dar outro exemplo: DIREITO PENAL Uma pessoa está se afogando na piscina do clube em que você é o salva-vidas, mas você não se mexe para ajudá-la para não molhar sua sunga nova, o que provoca a morte dela. Nesse caso você não FEZ nada (não a empurrou na piscina, não a afogou, não a puxou para baixo), na verdade DEIXOU DE FAZER alguma coisa, quando poderia ter feito, o que prejudicou o bem jurídico vida dessa pessoa. Tudo bem até aqui? Mas como o Direito Penal chama essa conduta de FAZER (ação) alguma coisa? O Direito chama de Conduta Comissiva, enquanto a conduta de DEIXAR DE FAZER (omissão) é chamada de Conduta Omissiva. Também poderemos classificar essa Conduta de acordo com o que você estava pretendendo quando a realizou. Estamos falando em CONDUTA DOLOSA ou CONDUTA CULPOSA. CONDUTA DOLOSA é quando o indivíduo tem consciência de que aquilo que está fazendo, ou deixando de fazer, pode se transformar em um prejuízo a outra pessoa. Em termos mais populares dizemos que ele teve INTENÇÃO de fazer, QUIS fazer. Em nossos exemplos você teve a INTENÇÃO de subtrair alguma coisa de outra pessoa, ou ainda teve a intenção de não socorrer aquele que estava se afogando. Podemos dizer que sua conduta foi DOLOSA. Por outro lado, a sua conduta pode ser CULPOSA, pois você não tem a INTENÇÃO de fazer nada, porém não foi cuidadoso o suficiente para perceber que seu ato poderia trazer um risco, que era previsível, e que se deu em virtude de seu DESCUIDO. Voltando aos nossos exemplos, imaginemos que você subtraiu o bem de outra pessoa, pois pensou que aquele objeto era seu (eram muito parecidos, tinham as mesmas características). Você teve a INTENÇÃO de provocar o dano

ou foi DESCUIDADO? Foi DESCUIDADO, pois não olhou com atenção e levou o primeiro que viu. Ou ainda, você é o salva-vidas e deixou seu posto na piscina para tomar café na lanchonete do clube, e bem nesse momento a pessoa se afoga. INTENÇÃO ou DESCUIDO? Em ambos os casos você foi descuidado, e não percebeu que sua conduta poderia provocar um prejuízo a alguém. Chamaremos então sua conduta de CULPOSA. Lembrando sempre que a conduta culposa sempre será revestida de um ou mais dos três elementos da culpa: Lembrando que um dos princípios legais existentes diz que você não poderá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, e que em complemento você só será acusado de cometer um crime se o seu ato estiver elencado na relação de crimes previstos na lei. a) IMPRUDÊNCIA Quando você faz alguma coisa que pode causar um prejuízo (um indivíduo que dirige seu carro acima do limite de velocidade daquela via e causa, com isso, um acidente). b) NEGLIGÊNCIA Quando você deixa de fazer alguma coisa que pode causar um prejuízo (quando o indivíduo não faz a manutenção do veículo e por um falha mecânica provoca um acidente) c) IMPERÍCIA Quando você não demonstra aptidão ou conhecimento técnico no desempenho de arte, ofício ou ainda profissão (quando um motorista não domina as técnicas de direção e mesmo assim sai conduzindo seu automóvel e provoca um acidente em virtude de sua falta de aptidão). RESULTADO é tudo aquilo que é provocado pela CONDUTA, ou seja, se você teve uma ação ou omissão isso vai terminar em um RESULTADO. Algumas correntes doutrinárias (entendimentos da lei resultantes de estudos de pessoas que se debruçam sobre elas e traçam teorias) conceituam o

RESULTADO como a modificação ocorrida no mundo exterior provocada pela conduta. Vamos aos nossos exemplos: No primeiro deles quando você subtraiu alguma coisa de outra pessoa (conduta) provocou a diminuição do patrimônio dessa pessoa (resultado). No segundo exemplo quando você não socorreu a pessoa que se afogava (conduta), ela, em virtude disso, morreu (resultado). TIPICIDADE é a adequação da conduta e/ou do resultado à lei! Para que você cometa um crime é necessário que seu ato esteja previsto em lei como crime. Chama-se princípio da Legalidade. Você nunca poderá ser acusado de um crime se aquilo que você fez ou o resultado daquilo que você fez não esteja escrito na lei como crime. De novo os nossos exemplos: Você subtraiu alguma coisa móvel, ou seja, que podia carregar, de outra pessoa, e fez isso para ficar com a coisa ou dar a outra pessoa, certo? O que a lei fala? De acordo com o Decreto Lei 2848/1940, em seu artigo 155, subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel Viu como seu ato se encaixou na lei? Como amoldou perfeitamente o que você fez ao que estava escrito? Nesse caso dizemos que existe a TIPICIDADE, ou em outros termos teremos aí um FATO TÍPICO, ou ainda estará, o seu ato, TIPIFICADO na lei. Então para que você cometa um crime é necessário que o seu ato (conduta e/ou resultado) esteja tipificado na lei, pois se não houver esse encaixe essa perfeita moldagem não será considerado como crime.

Voltemos aos nossos exemplos: No caso da subtração, imagine que você subtraiu alguma coisa que já era sua? Consigo tipificar seu ato? Não, pois a lei é clara, o objeto móvel subtraído tem que ser alheio! Ficou claro? Já no segundo exemplo a tipificação, em tese, se daria no crime de Homicídio, previsto no artigo 121 do mesmo Código Penal, e que diz: matar alguém. Imagine que sua conduta comissiva (você a afogou deliberadamente), ou omissiva (viu que se afogava e não fez nada, podendo fazer), causou a morte da pessoa. Podemos tipificar sua atitude como homicídio? Claro que podemos, pois sua atitude se amolda, ou se encaixa, perfeitamente no que está descrito na lei. Agora imagine, no mesmo exemplo, que a pessoa que você empurrou ou não socorreu não morreu. Podemos tipificar como homicídio? Claro que não, pois o artigo é claro matar alguém, logo se a pessoa está viva... E como chamamos quando não conseguimos encaixar seu ato no tipo penal (artigo)? Trata-se de uma FATO ATÍPICO, ou seja, não é um crime, ou não é aquele crime, podendo ser FATO TÍPICO em outro tipo penal. Aproveitando esse tópico vamos voltar ao assunto do DOLO e da CULPA. Todos os crimes previstos no Código Penal são DOLOSOS, ou seja, todos são punidos de acordo com a intenção do agente. Já os crimes CULPOSOS estarão previstos no artigo em estudo. Se não estiver definida a modalidade culposa, toda vez que alguém cometer um ato que esteja tipificado como crime, mas sem a definição da modalidade culposa estaremos diante de um fato atípico. Exemplo: Os artigos 124 a 128 do Código Penal tratam do crime de Aborto, porém nenhum deles prevê a modalidade culposa. Então, se a mulher sofre um aborto espontâneo, sem que tivesse a intenção de provocá-lo, ela não comete crime, pois seu ato foi culposo e não existe a previsão de aborto culposo. Já no crime de Peculato, previsto no artigo 312 do mesmo Código Penal, está prevista a modalidade culposa do crime. Então, se o agente comete o crime por Imprudência, Negligência ou Imperícia ele será responsabilizado pelo fato, pois estaremos diante de um fato típico.

3. Classificação dos Crimes Classificação de crimes é a análise do crime levando em conta sua características essenciais, de acordo com o comportamento do agente quando do seu cometimento. São as mais diversas classificações, mas nos prenderemos àquelas que serão importantes em nosso estudo. a) CRIMES PRÓPRIOS São aqueles que precisam de uma característica particular e especial do agente que o comete, não sendo possível seu cometimento por pessoas que não possuam essa característica. Um dos crimes que estudaremos mais pra frente, chama-se CORRUPÇÃO PASSIVA, e está previsto no artigo 317 do Código Penal, e que somente pode ser cometido por um Funcionário Público. Se porventura uma pessoa que não possua essa característica cometer tal infração ela não responderá por CORRUPÇÃO PASSIVA, pois se trata de um crime próprio de funcionário público. Podemos usar como exemplo também o Infanticídio, previsto no artigo 123 do Código Penal, que só pode ser cometido pela mãe do recém-nascido, nunca por outra pessoa. Trata-se de crime próprio de mãe. b) CRIMES COMUNS São os crimes que não exigem característica particular do agente, podendo ser cometidos por qualquer pessoa. Qualquer pessoa pode furtar, roubar, cometer homicídio, pois não se exige nada particular do agente. c) CRIMES MATERIAIS São crimes em que a definição do tipo penal exige o Resultado para ocorrer, deixando subentendida a Conduta. Exemplo: No crime de Homicídio, exige-se somente que a vítima morra não importando qual a conduta (tiro, corte, esganadura) Já no crime de Lesão Corporal, previsto no artigo 129 do Código Penal, existe a necessidade da ofensa à integridade corporal ou a saúde de

outrem, deixando de ter importância como isso se daria (se através de um soco, um tapa, uma queimadura) d) CRIMES FORMAIS São aqueles em que o Resultado não é necessário para configurar o crime, sendo importante somente a Conduta. Exemplo: No crime de Corrupção Passiva, previsto no artigo 317 do Código Penal, é necessário somente que o agente solicite ou aceite promessa de vantagem indevida. Quando ele faz isso já está cometendo o crime, não sendo necessário o recebimento da tal vantagem indevida. Quando solicitou ou aceitou promessa já cometeu o crime e estará sujeito às sanções. No crime de Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio, previsto no artigo 122 do Código Penal, não se faz necessário que a vítima se suicide, bastando somente a ela atender ao induzimento, à instigação ou ainda ao auxílio prestado pelo agente. 4. Crime Consumado e Crime Tentado a) CRIME CONSUMADO É o crime que foi levado até o final, completado, buscado o objetivo final. Quando o agente realiza todos os passos previstos no tipo penal. b) CRIME TENTADO Quando o agente não consegue consumar o crime, pois durante a execução algo alheio à sua vontade impediu que fosse até o fim em seu intento..

CÓDIGO PENAL BRASILEIRO PARTE ESPECIAL TÍTULO X DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA CAPÍTULO II DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS O Código Penal Brasileiro (Decreto Lei 2.848 de 07/12/1940) é dividido em Títulos, e estes em Capítulos, de acordo com o interesse protegido (a partir de agora chamaremos estes interesses de BENS JURÍDICOS) IMPORTANTE O primeiro Título de nossa aula trata dos crimes contra a Fé Pública (é muito importante gravar em que Título do Código Penal estão elencados os artigos em estudo, pois em mais de uma prova a VUNESP pediu para identificar o Título de determinado crime). Quando ouvimos falar de Fé lembramos sempre de crença, de acreditar, de ter confiança. Então quando estudamos os Crimes Contra a Fé Pública estudaremos os crimes que violam a nossa confiança, que nos enganam. E o que nos engana? A FALSIDADE.

Quando falamos de um documento, ou de um título, ou ainda de uma atitude queremos sempre acreditar naquilo que ele nos informa, que nos traz, que representa em nossa vida. Se ele, de alguma maneira, traz uma informação falsa, mente para nós, viola nossa confiança naquele fato. Por isso quando falamos de Crimes contra a Fé Pública nos referimos aos crimes que de alguma maneira nos trazem uma informação falsa, mentirosa, seja em um documento ou em um papel, ou ainda em uma atitude. Quando falamos em falsidade documental é necessário que fique bem claro o tipo de falsificação inserida naquele documento, se foi em seu aspecto físico ou se foi na ideia que buscava transmitir. FALSIDADE MATERIAL- Quando a falsidade está no documento, em sua forma, em seu aspecto físico (inseriu uma foto sua em documento de outra pessoa, fabricou uma nota de R$ 100,00 usando com base uma nota de R$ 2,00). Costuma-se dizer que na falsidade material existe uma falsidade externa, que pode ser comprovado por um perito, que ao analisar o documento perceberá algo que o adulterou (uma rasura, uma tinta diferente, uma figura que deveria, ou não, estar ali). FALSIDADE IDEOLÓGICA Quando a falsidade está na ideia, na informação colocada no documento. Em geral o parte material do documento é boa, o que não reflete a verdade são os dados ali inseridos, ou retirados (retirou da CNH a informação do uso obrigatório de lentes corretivas, ou inseriu uma categoria que não deveria estar ali). A falsidade é interna, intrínseca, impossível de ser descoberta pelo perito, a não ser que ele tenha em mãos as informações verdadeiras.

Outra coisa muito importante em termos de falsidade documental é que a falsificação tem que ser crível, ou seja, tem que ter capacidade para enganar uma pessoa. Se a falsificação for grosseira, fácil de ser identificada não irá configurar o crime, conforme o artigo 17 do CPB, que trata do crime impossível. É o indivíduo que ao trocar a fotografia de uma Cédula de Identidade coloca a foto de um personagem de história em quadrinhos, ou ainda apaga alguma informação utilizando corretivo, que deixará o documento manchado de branco. Falsificação de papéis públicos Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo; (Redação dada pela Lei nº 11.035, de 2004) II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; III - vale postal; IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público; V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável; VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou por Município: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

O artigo 293 do Código Penal Brasileiro tem como Bem Jurídico protegido (objetividade jurídica) a Fé Pública. Qualquer pessoa pode cometer esse crime, portanto é um crime comum. E trata-se de crime material, pois a consumação do crime se dá na falsificação, tanto na fabricação como na alteração, comportando assim a forma tentada (tentativa de falsificação) Trata da falsificação de PAPÉIS PÚBLICOS que tem, na verdade a função arrecadadora. Cuidado, papéis públicos é um termo diferente de documento público. Vocês podem perceber que todos os papéis elencados nos incisos do Caput do artigo 293 (preceito primário) são utilizados para arrecadação de impostos ou de arrecadação de valores para poupança, ou ainda para cobrança de tarifa de transporte público. É o selo que vem colado no maço de cigarros, nas garrafas de bebidas, os GAREs, Bilhetes de Metrô ou de ônibus. O agente que falsifica um desses papéis terá seu crime tipificado no artigo 293 do CPB. IMPORTANTE Agora, muito importante é o que traz o Caput do Artigo 293. Ele diz as formas de falsificação, quais sejam FABRICANDO (criando um novo) ou ALTERANDO (modificando um já existente). Isso é muito importante, pois diversas questões da Vunesp perguntaram quais as formas de falsificação previstas no ARTIGO 293. A pena prevista para esse crime está destacada logo abaixo dos incisos (preceito secundário), ou seja, previsão de pena de reclusão (para crimes graves) e que vai variar entre dois e oito anos, além do pagamento da multa (valor em dinheiro).

1 o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 11.035, de 2004) I usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo;(incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) II importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo falsificado destinado a controle tributário; (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) III importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria: (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado; (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua aplicação. (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) O 1º. do artigo 293 trata das formas assemelhadas de crime previstas nos incisos do Caput. Você pode perceber que tais incisos e alíneas foram incluídas em 2004, muito depois do texto original do artigo, por isso estão apartados e trazem consigo o termo incorre na mesma pena quem. Sendo assim, estará sujeito à pena de reclusão de dois a oito nos, além do pagamento da multa, tanto aquele que falsificar (fabricando ou alterando) os papéis públicos elencados no caput, como aquele que tem sua ação prevista no 1º. Do mesmo artigo.

2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo anterior. Os 2º. e 3º. do artigo 293 pune não quem falsifica o papel publico, mas sim aquele que de alguma maneira suprime (elimina) o sinal de inutilização colocado no papel público cancelado ou já utilizado. Pode ser um carimbo, uma chancela, um aviso escrito que torna aquele papel sem efeito. Prevê que alguém poderia fazer essa modificação com o intuito de reutilizar o papel em questão sem que se recolhesse o imposto ou valor devido. Também pune aquele que se beneficia da modificação do sinal inutilizador e usa novamente o papel. Atenção na pena, que muda nesses dois parágrafos, sendo de reclusão entre um a quatro anos, mais a multa. 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem este artigo e o seu 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Já o 4º. do artigo 293 trata da forma privilegiada, ou seja, menos grave, do crime previsto no artigo. Está destinado às pessoas que recebem o papel falsificado e depois de se certificarem da sua condição, ao invés de procurar alguma autoridade, ou mesmo inutilizá-lo, o restituem à circulação, passando o problema para outra pessoa, porém preste atenção no texto do artigo que ao prevê modalidade culposa

para o fato, então, se o agente receber o papel, de boa fé, e sem saber de sua condição de falso restituí-lo à circulação, não estará cometendo infração alguma. 5 o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do 1 o, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públicos e em residências. (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) O último parágrafo desse artigo vem de forma explicativa apenas, não apontando um crime ou ainda uma pena. Diz só o que é considerada a atividade comercial destacada no inciso III do parágrafo 1º. Do artigo 293. Seu objetivo é evitar que alguém possa alegar que seu estabelecimento não se enquadra nas formas oficiais de comércio, buscando assim se livrar do crime. Petrechos de falsificação Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. IMPORTANTE O artigo 294 do CPB é muito pedido em provas, pois apesar de estar no título das FALSIFICAÇÕES, ele não busca punir quem falsificou o papel, e sim aquele que comete qualquer uma das ações descritas no texto, mas com relação às ferramentas, máquinas, gabaritos ou objetos utilizados para a falsificação.

Então, não se leva em consideração a falsificação nesse caso, mesmo porque se ela ocorrer, como se trata de crime mais grave, absorve o previsto no artigo em estudo. Como exemplo, podemos citar o indivíduo que tem em sua casa uma máquina copiadora e nela são encontrados sinais de falsificação de papéis públicos, ou ainda o agente que fabrica ferramentas que serão utilizadas nesse tipo de falsificação. Também é um crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa, além de ser crime formal, ou seja, não necessita que o petrecho seja utilizado, basta fabricá-lo, adquiri-lo, fornecê-lo, possuí-lo, ou ainda guardá-lo. Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. O artigo 295 fala sobre um efeito no Direito Penal chamado Causa de Aumento de Pena, ou seja, a pena já está prevista nos artigos anteriores. O que vai acontecer, se o crime for cometido por um funcionário público é somar a essa pena mais 1/6. Exemplo: Um funcionário público, do Metrô de São Paulo, com acesso ao desenvolvimento tecnológico do cartão de embarque, ALTERA um cartão original dando a ele um crédito ilimitado. Esse funcionário público estará sujeito à seguinte pena: RECLUSÃO ENTRE DOIS E OITO ANOS + 1/6 = PENA TOTAL A SER CUMPRIDA IMPORTANTE Mas não esqueça, o funcionário público que cometer qualquer um dos crimes elencados neste capítulo tem que estar se prevalecendo do cargo para ter somada a sua pena o aumento de 1/6. Se for funcionário público e não estiver levando

vantagem alguma com relação a seu cargo não haverá aumento de pena de 1/6, ficando sujeito às penas previstas no crime cometido, sem nenhum acréscimo. Agora, respira um pouco, descansa. Depois releia, faça suas anotações. Vamos à próxima aula! Abraços Carlos Mollica