PRIORIDADES DA UNIÃO EUROPEIA PARA A 60.ª SESSÃO DA ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS Introdução 1. A União Europeia está profundamente empenhada nas Nações Unidas, na defesa e desenvolvimento do direito internacional, assim como no multilateralismo efectivo, elemento central da sua acção externa. Este empenhamento foi reafirmado com vigor pelo Conselho Europeu nas suas conclusões de 16/17 de Junho. Durante a 60.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a União Europeia dará a maior prioridade, ao lado dos seus parceiros das Nações Unidas, à aplicação dos acordos alcançados na Cimeira de revisão do Milénio, a realizar em Setembro. Com esses parceiros, empenhar-se-á igualmente noutras questões essenciais, tais como a cooperação na gestão de crises, os refugiados/deslocados, as negociações do próximo orçamento das Nações Unidas e o plano de equipamento. Plenário de alto nível de 2005 2. A 60.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas reveste-se este ano de especial significado, atendendo ao encontro dos Chefes de Estado e de Governo, em 14-16 de Setembro de 2005, na reunião plenária de alto nível da Assembleia Geral em Nova Iorque. Cinco anos após a Cimeira do Milénio de 2000, da ONU, a Cimeira de 2005 avaliará a implementação da Declaração do Milénio, as Metas de Desenvolvimento do Milénio e o resultado das grandes cimeiras e conferências da ONU nos domínios económico, social e afins. A Cimeira constituirá igualmente a oportunidade de a ONU se adaptar às novas realidades e de definir tarefas específicas neste contexto.
3. A União Europeia salienta que o relatório do Secretário-Geral intitulado "Uma liberdade mais ampla" é uma boa base para a negociação de um documento final tendo em vista a Cimeira de Setembro e considera fundamental chegar a um acordo sobre um pacote de reformas em matéria de desenvolvimento, de direitos humanos, de segurança e de reformas institucionais da ONU. O resultado deveria ser uma Organização das Nações Unidas fortalecida e mais eficaz, mais bem preparada para fazer face às ameaças e desafios interligados e multidimensionais com que se defrontam a paz, a segurança e o desenvolvimento internacionais. A UE intensificará os seus esforços para tentar, em conjunto com os outros parceiros, obter resultados ambiciosos e equilibrados na Cimeira e está empenhada em trabalhar construtivamente com os parceiros da ONU durante a 60.ª Assembleia Geral, assim como noutros fóruns, para implementar os acordos alcançados na Cimeira. 4. A UE salienta a extrema importância das questões relativas ao desenvolvimento na 60.ª Assembleia Geral da ONU. O recente compromisso da UE de assegurar novos níveis de APD, nomeadamente de alcançar um valor colectivo de 0,56% de APD/RNB até 2010 e de 0,7% até 2015, que resultará num montante anual adicional de 20 mil milhões de euros de APD até 2010, põe em evidência a prioridade que a UE atribui ao financiamento do desenvolvimento. A UE empenhar-se-á num programa de acção ambicioso e concreto, que deverá traduzir-se num maior e melhor financiamento do desenvolvimento, nomeadamente através de mecanismos inovadores; em compromissos e medidas, adoptadas a nível nacional pelos países em desenvolvimento, para criar e reforçar as estruturas de governação e o ambiente necessários ao crescimento económico, e bem assim na adopção de estratégias e políticas nacionais de desenvolvimento ambiciosas e na especial atenção a prestar às necessidades específicas de África. Neste contexto, a UE recorda o seu compromisso colectivo de consagrar à África pelo menos 50% do aumento acordado dos recursos afectados à APD. A 60.ª Assembleia Geral da ONU deverá assinalar claramente a necessidade de reformas a mais longo prazo e mais radicais da arquitectura da ONU na área do desenvolvimento. 5. A UE salienta a importância de se ter em conta a dimensão social da mundialização nas diferentes políticas e na cooperação internacional. A UE promoverá o emprego e um trabalho digno para todos.
6. No que se refere à questão da paz e da segurança, a União Europeia considera que as suas prioridades, ao preparar a Cimeira, são a criação da Comissão de Consolidação da Paz, a prevenção de conflitos, a luta contra o terrorismo, a adopção de princípios gerais para o uso da força, o desarmamento, a não proliferação de armas de destruição maciça e respectivos vectores e o reforço das capacidades das Nações Unidas em matéria de manutenção da paz. 7. A UE saúda e apoia energicamente o estabelecimento de uma Comissão para a Consolidação da Paz, que deverá ajudar os países a fazer a transição entre o fim de um conflito armado e o reatamento das actividades de desenvolvimento sustentável, bem como a melhor coordenar a acção de todos os intervenientes a nível bilateral e multilateral. A UE trabalhará em prol de uma Comissão para a Consolidação da Paz eficaz, com capacidade para prevenir conflitos recorrentes. 8. No que diz respeito à luta contra o terrorismo, a UE congratula-se com a proposta de uma declaração que deixe bem claro de que a violência dirigida contra civis e não combatentes é sempre injustificada seja em que circunstâncias for. Exorta todos os Estados a unirem-se para apoiar a clara declaração política sobre esta matéria proposta pelo Secretário-Geral. A UE apoia igualmente a estratégia global da ONU proposta pelo Secretário-Geral em Madrid, incluindo a elaboração de uma definição universal de terrorismo. A UE apela a um acordo na 60.ª AG relativamente ao texto da Convenção Geral sobre o Terrorismo Internacional, proposto pelo Coordenador, e à assinatura e ratificação de todas as 13 Convenções da ONU contra o terrorismo.
9. A UE congratula-se igualmente com o lugar de destaque atribuído nas propostas de reforma aos direitos humanos, ao Estado de direito e à democracia. Neste contexto, a UE reafirma a importância do conceito da "responsabilidade de conferir protecção" e apoia as propostas do Secretário-Geral no sentido de reforçar o papel e os recursos do Alto Comissário para os Direitos Humanos e de criar um Conselho dos Direitos Humanos, com um mandato forte, para conferir um estatuto claramente mais elevado à Comissão dos Direitos Humanos. A UE seria favorável à criação do Conselho dos Direitos Humanos como um dos principais órgãos estatutários autónomos da ONU, ligado à Assembleia Geral, que se reuniria durante o ano e que seria o reflexo, a nível institucional, da universalidade dos direitos humanos e da sua posição central no sistema da ONU, bem como da preocupação de colocar os direitos humanos em pé de igualdade com as questões relacionadas com o desenvolvimento, a paz e a segurança. Enquanto se aguarda a decisão que a Assembleia Geral poderá tomar sobre a criação de um órgão dessa natureza, o Conselho dos Direitos Humanos deverá ser instituído como órgão subsidiário da Assembleia Geral, estabelecendo assim uma ligação com um órgão universal. A UE apoia o reforço da igualdade entre os sexos em todas as actividades da ONU. 10. A UE apoia o desenvolvimento da cooperação entre as Nações Unidas e as organizações regionais como uma forma efectiva de maximizar a eficácia na abordagem dos numerosos desafios com que a comunidade internacional é confrontada. 11. A UE reconhece que a reforma da gestão e a modernização do Secretariado da ONU serão decisivas para a concretização dos resultados da Cimeira e para permitir à ONU cumprir melhor o seu mandato. Em especial, a UE apela a uma maior responsabilidade, transparência, profissionalismo e eficiência no Secretariado da ONU, bem como a uma maior autoridade do Secretário-Geral da ONU na atribuição e reafectação dos recursos dentro de um orçamento global e de um limite máximo de lugares.
12. A UE apoia igualmente o prosseguimento das reformas estruturais dos sistemas e das políticas da ONU no domínio do desenvolvimento, da ajuda humanitária e do ambiente, a fim de melhorar a coerência e a eficácia de todo o sistema e de promover o desenvolvimento sustentável, e aguarda com expectativa a oportunidade de trabalhar com todas as partes sobre propostas específicas a apresentar na 60.ª Assembleia Geral da ONU no sentido de reforçar a governação ambiental. A este respeito, a UE apoia o lançamento de um processo destinado a estabelecer uma agência da ONU para o ambiente, baseada no PNUA, dotada de um mandato revisto e reforçado, apoiada por contribuições financeiras estáveis, adequadas e previsíveis e que funcione em pé de igualdade com outras agências especializadas da ONU. 13. No domínio das reformas institucionais, a UE reconhece a necessidade de reformar os principais órgãos da ONU, entre os quais a Assembleia Geral, o ECOSOC e o Conselho de Segurança, tendo em vista reforçar a representatividade, a transparência e a eficiência do sistema. 14. A UE apoia o prosseguimento da reforma e da revitalização da Assembleia Geral como elemento essencial do programa global de reformas da ONU. Assim, é nossa intenção apoiar uma maior racionalização do trabalho dos Comités da Assembleia Geral na sequência da Cimeira, e empenhar-nos-emos plenamente nos domínios que constituem prioridades claras do programa da ONU, incluindo aqueles em que são necessárias acções de seguimento após a Cimeira. Mas, no que diz respeito às prioridades menos urgentes, ou a questões sobre as quais os dirigentes já tenham adoptado decisões de fundo na Cimeira, a UE está determinada a que, no rescaldo da Cimeira, a Assembleia Geral não volte simplesmente a ocupar-se das suas tarefas rotineiras. 15. A UE apoia a reforma do modus operandi do ECOSOC e dos seus órgãos subsidiários com vista a garantir que o ECOSOC cumpra o seu mandato de forma mais eficaz. O ECOSOC deverá estar em melhores condições para promover, a nível mundial, o diálogo e a parceria nos domínios económico, social, ambiental e da ajuda humanitária. Deve igualmente promover mais eficazmente abordagens coerentes e coordenadas do sistema da ONU e tem um papel importante a desempenhar nas situações pós-conflito.
Assistência humanitária 16. A UE apoiará a melhoria dos compromissos de resposta humanitária no que se refere à previsibilidade do financiamento e dos meios, assim como dos acordos de confirmação, e também do acesso seguro e sem entraves às populações vulneráveis. A UE salientará a necessidade de observar os princípios humanitários e o direito internacional humanitário. Orçamento ordinário da ONU para 2006-2007 17. A UE procurará adoptar um orçamento que permita à ONU executar melhor as propostas da Declaração do Milénio e os acordos alcançados na Cimeira de 2005. A UE está empenhada em garantir a disponibilidade de recursos para a ONU, embora mantenha o seu apego ao princípio da disciplina orçamental, que é nosso objectivo de longa data, a fim de assegurar uma gestão eficaz dos recursos. Plano de Equipamento 18. Dada a urgência e a necessidade de renovação da sede da ONU em Nova Iorque, a UE atribui grande importância a que se chegue a acordo sobre um plano de equipamento global e coerente. A UE considera que é urgente tomar decisões a este respeito.