27 a 30 de Agosto de 2014. O SABER MATEMÁTICO NA VIDA COTIDIANA: USO CONSCIENTE DE ÁGUA PINTO, Wanderson de Paula Faculdade da Região Serrana - FARESE wandersondpp@gmail.com RIVAROLA, Helena Patrícia Hoffmann Faculdade da Região Serrana - FARESE helenaphoffmann@hotmail.com OLIVEIRA, Lalesca Paula de Faculdade da Região Serrana - FARESE lalesca-oliveira@hotmail.com Resumo: A matemática é uma das maiores responsáveis quanto ao insucesso escolar dos alunos. Sendo, portanto de fundamental importância o empenho na formação acadêmica do professor quanto à exploração referente à utilização de metodologias diferenciadas que facilitem o processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos. Com este intuito o presente trabalho relata a utilização da modelagem como ferramenta de ensino a partir do tema: o uso consciente de água. Foram realizadas cinco intervenções com alunos de onze a quatorze anos do município de Itarana-ES. Á partir das aplicações foi possível observar que este método possibilitou uma maior dinamização da aula, estimulando o interesse e curiosidade dos alunos. Eles puderam compreender, por meio de modelos matemáticos, o conteúdo de suas faturas mensais de água, além disso, por se tratar de eventos de seus cotidianos, refletir sobre as formas racionais de consumo e até mesmo relacioná-las à economia no orçamento doméstico. Palavras-chave: ensino; modelagem matemática; água. 1. Introdução A matemática está em constante evolução e presente em diversas áreas do conhecimento, sendo assim, torna-se intrínseca para a melhor compreensão da realidade. Nas instituições escolares, a matemática é uma das maiores responsáveis pelas repetências e evasão por parte dos alunos. Muitos possuem um passado marcado de insucessos na matemática, vítimas de crendices que caracterizam a disciplina como destinada a poucos,
onde somente os habilidosos são capazes de compreendê-la. Estes conceitos mal formados, uma vez construídos, se perpetuam por toda a vida acadêmica do aluno (LORENZATO, 2006, p. 1-2). Outro fator determinante para o sucesso no processo de assimilação do conhecimento matemático é a atitude do professor e a metodologia por ele empregada. A carência de significação prática atribuída às teorias e fórmulas que são apresentadas em sala de aula podem também levar, muitas vezes, à falta de compreensão de conteúdos e até mesmo provocar no aluno certa repugnância à disciplina (GRANDO, 2000, p. 12). Ao enfatizar o papel do professor, um elemento primordial para garantir o sucesso da aprendizagem, os Parâmetros Curriculares Nacionais mostram que os mesmos devem [...] sempre que possível, possibilitar a aplicação dos conhecimentos à realidade local, para que o aluno se sinta potente, com uma contribuição a dar, por pequena que seja, para que possa exercer sua cidadania desde cedo. E, a partir daí, perceber como mesmo os pequenos gestos podem ultrapassar limites temporais e espaciais; como, às vezes, um simples comportamento ou um fato local pode se multiplicar ou se estender até atingir dimensões universais. Ou, ainda, como situações muito distantes podem afetar seu cotidiano (BRASIL, 1997, p. 55). Aprender ou ensinar matemática não é uma tarefa fácil e requer formação contínua do professor, quer seja para o desenvolvimento de competências adquiridas em sua formação inicial, ou ainda para a construção de competências inteiramente novas (PERRENOUD, 2000, p. 158). É necessário o estudo a partir de inovações no ensino, com metodologias diferenciadas, que proporcionem maior significado e aplicabilidade dos conteúdos. Considerando estas dificuldades, este trabalho propõe a exploração de um tema transversal a partir do consumo consciente de água, almejando um ensino prático de matemática, bem como permitindo, pelos cálculos, a discussão e conscientização de quais mudanças adotadas na rotina diária seriam mais eficazes no racionamento de água potável, um bem esgotável e de suma importância para manutenção da vida em todo planeta. 2. Metodologia Para o desenvolvimento do trabalho foi realizada, uma revisão bibliográfica acerca dos assuntos relacionados ao ensino da matemática e a água, cujos principais autores foram MIGUEL e MIORIM (2008), MAGRINI (2013), GIRALDO (2013) e pesquisa junto à Cesan (Companhia Espírito Santense de Saneamento), para entendimento do teor das faturas mensais de consumo e levantamento das principais formas de economia de água residencial. A partir deste estudo, foi possível delinear um plano de aplicação aos alunos,
desenvolvido em cinco intervenções de cinquenta minutos cada, nas dependências da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Aleyde Cosme, localizada no município de Itarana/ES, a alunos na faixa etária de 11 a 14 anos. As aulas foram ministradas por cinco regentes, estudantes do curso de licenciatura em matemática do Instituto de Ensino Superior da Região Serrana FARESE (Santa Maria de Jetibá/ES). Na primeira intervenção, foi proposto aos alunos um debate sobre a matemática no cotidiano, com a perspectiva de que os mesmos compreendessem a inserção da disciplina em diversas áreas do conhecimento. Posteriormente, foram direcionados a analisar faturas mensais de água e relacionar a importância da matemática para o entendimento das mesmas. Da segunda à quarta intervenção, os alunos foram orientados a levar para a aula a fatura de água de suas residências e por meio das informações fornecidas pela Cesan, foi realizado um estudo de modelagem matemática para determinação do padrão (equação) para cálculo do valor a ser pago conforme a quantidade em metros cúbicos de água consumida por mês. Para a formação do modelo matemático, diversas concepções foram trabalhadas como valores de leituras, histórico de gasto de metros cúbicos de água, dias de utilização, faixas e categorias de consumo e taxa de esgotamento sanitário. No processo da modelagem dos dados, foi proposta aos alunos a utilização do programa Microsoft Excel, a fim de proporcionar um meio de inclusão tecnológica, e demonstrar as ferramentas facilitadoras para a execução e exposição dos cálculos, como a utilização de gráficos e tabelas. Na última intervenção, foram apresentados aos alunos os principais responsáveis pelo dispêndio de água em uma residência. Foi então proposto aos discentes a realização de cálculos comparativos capazes de expor o diferencial entre o consumo sem e com racionalização. 3. Resultados da Experiência A modelagem permite estabelecer explicações matemáticas aos eventos cotidianos, e na sequencia do desenvolvimento deste projeto, verificou-se a eficácia deste instrumento quanto metodologia de ensino da matemática, devendo ser alvo de maior exploração nos cursos formadores de profissionais de licenciatura.
A forma idealizada de aplicação da modelagem matemática proporcionou aos alunos o estudo contextualizado, possibilitando a exploração de diversos conteúdos como funções, porcentagens e regra de três. Foi perceptível o empenho e concentração dos alunos no desenvolvimento dos cálculos. Conforme exposto pelos próprios estudantes, eles não se sentiram forçados a estar na sala de aula, pelo contrário, tiveram sua curiosidade estimulada e se mostraram dispostos a refletir sobre a existência de novas propostas e testálas. Uma das alunas realizava cálculos na tentativa de descobrir qual seria o custo de água gasto em seus banhos diários. Figura 1: Produção dos alunos durante a aplicação das atividades. Os alunos mostraram-se estimulados durante as intervenções, contribuindo com a aula por meio de realização de perguntas envolvendo o consumo de água realizado em suas atividades rotineiras. Demonstrando que a aprendizagem da matemática é facilitada quanto associada a um ensino que favoreça conexões entre o conteúdo e as atividades cotidianas dos alunos. O estabelecimento de relações é fundamental para que o aluno compreenda efetivamente os conteúdos matemáticos, pois, abordados de forma isolada, eles não se tornam uma ferramenta eficaz para resolver problemas e para a aprendizagem/construção de novos conceitos (BRASIL, 1998, p. 37). Quando questionados sobre suas percepções quanto à utilização de softwares, como o que ocorreu na quarta intervenção desta pesquisa, os alunos relataram alto interesse nas
tecnologias, inclusive cogitaram a possibilidade de todas as aulas de matemática fazerem uso da mesma. É preciso, portanto refletir, nas salas de aula, o uso consciente das tecnologias, pois as mesmas podem favorecer uma educação com melhor qualidade, além de proporcionar a inserção do ensino matemático à realidade tecnológica da sociedade contemporânea. Com a modelagem matemática, os alunos passaram a diminuir a distância entre os conceitos e fórmulas ensinados em sala e sua aplicabilidade, estabelecendo uma relação de ensino e aprendizagem além da reprodução mecânica. Eles foram capazes de realizar suas próprias conclusões, entendendo a necessidade de um uso racional de água, evitando desta forma sua escassez futura e compreendendo também que esta atitude pode refletir em mudanças no orçamento familiar. 4. Considerações finais Os ambientes escolares atuais sofrem influências das modificações sociais envolvendo as evoluções tecnológicas. Os alunos, mesmo nos ensino infantil e fundamental já são adeptos a utilização de aparelhos e softwares que os permitem o acesso a informações diversificadas e em tempo real. O ensino da matemática, porém, por muitas vezes ainda é encontrado enraizado em metodologias tradicionais, mecanizadas e maçantes para os alunos. Desta forma, percebe-se a necessidade de estruturação na formação acadêmica dos professores, principalmente no que diz respeito à exploração de metodologias de ensino diferenciadas, capazes de suprir as expectativas dos discentes por meio da interação entre os conteúdos matemáticos e atividades que os permitam explorar e desenvolver suas potencialidades. Para alcançar estes objetivos, o ensino matemático por meio de situações realistas pode significar uma alternativa metodológica capaz de ampliar as possibilidades de aprendizagem através de um ambiente dinamizado, contribuindo assim para a formação de cidadãos críticos e transformadores. A modelagem como ferramenta facilitadora no processo de ensino e aprendizagem da matemática permite minimizarmos o vão, muitas vezes existente na educação, entre a exploração dos conteúdos e sua aplicabilidade, além de auxiliar na desmistificação da disciplina enquanto a sua dificuldade de aprendizagem e proporcionar um estreitamento no
relacionamento entre aluno versus professor devido ao caráter colaborativo desta metodologia. 5. Referências Bibliográficas BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente, saúde/secretaria de Educação Fundamental. Brasília: 128p. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro091.pdf>. Acesso em: 23/04/2013. GIRALDO, Victor. Computador na sala de Aula. Revista do professor de matemática, São Paulo, nº 80, p.28-30, janeiro/2013. GRANDO, Regina Célia. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula. 2000. 224 f. Dissertação (Doutorado em Educação) Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP). LORENZATO, Sergio. Para aprender matemática. São Paulo: Autores Associados, 2006. 141p. (Coleção Formação de Professores). MAGRINI, Luciano Aparecido. Economizando Água. Revista do professor de matemática, São Paulo, nº 80, p.28-30, janeiro/2013. MIGUEL, Antonio; MIORIM, Maria Ângela. História na educação matemática: propostas e desafios. 1ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 191p. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Tradução Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 192p.