MINORIAS SOCIAIS NA COBERTURA JORNALÍSTICA DO PORTAL COMUNITÁRIO: UM OLHAR SOBRE A REPRESENTATIVIDADE DE GRUPOS E MOVIMENTOS

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Transcrição:

ISSN 2238-9113 ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções) ( X ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE ( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA MINORIAS SOCIAIS NA COBERTURA JORNALÍSTICA DO PORTAL COMUNITÁRIO: UM OLHAR SOBRE A REPRESENTATIVIDADE DE GRUPOS E MOVIMENTOS Bruna Aparecida Camargo (brunacamargo.jorn@gmail.com) Karina Janz Woitowicz (karinajw@gmail.com) Cintia Maria Xavier (cintia_xavierpg@yahoo.com.br) RESUMO: O presente artigo, que tem como tema a representatividade das minorias sociais na cobertura jornalística do Portal Comunitário, busca refletir sobre a contribuição da ação extensionista na inclusão de determinados temas e demandas sociais na esfera pública. O Portal Comunitário (www.portalcomunitario.jor.br) é um projeto criado em 2008 no Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa que visa, pelos princípios da comunicação comunitária, atuar junto a mais de sessenta entidades da sociedade civil de Ponta Grossa (associações de moradores, sindicatos, ONGs e movimentos), consolidando-se como um jornal laboratório on-line. Por meio da coleta de todas as notícias publicadas no Portal Comunitário em 2014, sobre grupos minoritários, o trabalho evidencia o intuito do projeto, que consiste em não apenas publicar conteúdos sobre os grupos sociais, mas também produzir notícias que sejam condizentes com a realidade, afastando-se dos estereótipos relativos aos negros, mulheres, pessoas com deficiência e demais minorias tradicionalmente presentes na mídia. A partir do diagnóstico da cobertura realizada pelo projeto, fundamentado nos conceitos de minorias sociais e jornalismo comunitário, são analisadas as práticas do Portal Comunitário na inclusão de determinadas lutas sociais na pauta jornalística. PALAVRAS-CHAVE: Portal Comunitário; minorias sociais; jornalismo comunitário; produção jornalística; extensão universitária. Introdução O presente artigo tem com o objetivo analisar a representação das minorias sociais no Portal Comunitário, de modo a refletir sobre os limites e contribuições do projeto extensionista na inclusão de determinados temas e na própria perspectiva a respeito dos grupos sociais parceiros do projeto. O Portal Comunitário, além de jornal-laboratório online, é um projeto de extensão da do Departamento de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), atuante desde 2008 através da plataforma web www.portalcomunitario.jor.br. O projeto atua em parceria com mais de 60 grupos envolvidos, entre eles: ONGs, movimentos sociais, bairros, sindicatos e grupos da sociedade civil. O Portal Comunitário é um veículo comunicacional no

qual os estudantes, em parceria com a comunidade, são responsáveis pelas produções e publicações dos conteúdos. O projeto também oferece a prestação de serviços, como por exemplo, divulgação de vagas de emprego, espaço jurídico e agenda de eventos. Com a orientação dos professores que integram a equipe, o projeto tem como proposta a interação entre a comunidade e a universidade, por meio de uma ação pedagógica voltada ao envolvimento com as entidades locais, desde a elaboração da pauta até a publicação do conteúdo e sua repercussão. Através de uma coleta das matérias que foram veiculadas no Portal Comunitário durante o ano de 2014, realizada junto à base de dados do projeto, é possível mostrar a preocupação e responsabilidade no tratamento de notícias que envolvam as minorias sociais, atuando no sentido de abrir espaço e dar visibilidade para as demandas dos grupos sociais, sem reproduzir estereótipos e atuando na tentativa de redução de preconceitos. Ao longo do texto, são apresentados os conceitos básicos que orientam o trabalho, referentes a minorias sociais e princípios da comunicação comunitária, bem como mapeados os conteúdos publicados no Portal Comunitário que remetem à inclusão das minorias na pauta jornalística. Desse modo, a partir da identificação das minorias, entidades respectivas e temas trabalhados, busca-se refletir sobre o papel do jornalismo comunitário na visibilidade das lutas pela cidadania protagonizadas por diferentes grupos sociais. Objetivos O trabalho apresenta como propósito principal observar a representatividade das minorias sociais na cobertura jornalística realizada pelo projeto Portal Comunitário. Para tanto, propõe um percurso teórico baseado nos fundamentos da comunicação comunitária e um mapeamento de produções jornalísticas realizadas no ano de 2014. Como objetivos secundários, o artigo visa contribuir para a análise das práticas realizadas no âmbito do projeto, de modo a aprimorar a relação com os grupos sociais, bem como identificar possíveis temas que ainda podem resultar em desdobramentos na cobertura jornalística, contribuindo assim para fomentar futuras produções pela equipe do projeto. Referencial teórico-metodológico O referencial teórico que embasa este trabalho volta-se às bases conceituais referentes às minorias sociais e à comunicação comunitária, popular e alternativa, tendo como parâmetro

as noções apresentadas pelos principais autores da área. Este percurso torna-se necessário, no contexto da pesquisa, para fundamentar a análise realizada a seguir. O conceito de minoria pode ser definido, como todo grupo social que tem suas perspectivas e vozes marginalizadas pelas estruturas de poder e pelos sistemas de significação dominantes numa sociedade ou cultura (Edgar & Sedgwick 2003: 213-214 apud FILHO). Muniz Sodré também discorre sobre o conceito de minoria: Ora, a noção contemporânea de minoria - isto que aqui se constitui em questão - refere-se à possibilidade de terem voz ativa ou intervirem nas instâncias decisórias do Poder aqueles setores sociais ou frações de classe comprometidas com as diversas modalidades de luta assumidas pela questão social. Por isso, são considerados minorias os negros, os homossexuais, as mulheres, os povos indígenas, os ambientalistas, os antineoliberalistas, etc. (SODRÉ, 2009, p.11). Segundo Muniz Sodré, a minoria tem como ponto de partida um sentido de inferioridade quantitativa, é o contrário da maioria (SODRÉ, 2009, p.11). Dessa forma, os conteúdos em especial jornalísticos que tragam a problematização das minorias, abordando suas questões e fazendo uma cobertura ética e democrática são escassos e insuficientes para atingir a demanda. Por conta disso mulheres, pessoas com deficiência e negros, por exemplo, são apresentados pela chamada mídia hegemônica em coberturas que seguem um estereótipo, generalizando a imagem desses grupos. João Freire Filho alerta que esses estereótipos atuam como forma de impor um sentido de organização ao mundo social (FILHO, 2004, p.47). O Portal Comunitário tem como proposta não apenas dar espaço aos grupos sociais, mas fazer com que eles sejam vistos de outra forma. Raquel Paiva destaca que grupos minoritários agindo em sintonia com o ambiente midiático produzem formas de atuação em que o objetivo é muito frequentemente o aparecimento na mídia (PAIVA, 2009, p.17). A busca pela criação de espaços de comunicação como forma de expressão das demandas dos grupos sociais possui uma trajetória de lutas e conquistas que tem como marco a organização popular em curso no período da ditadura militar no Brasil. Segundo Peruzzo, a comunicação popular diz respeito a uma forma alternativa de comunicação, tendo origem nos movimentos populares de 1970 e 80, não apenas no Brasil, mas também na América Latina. Ela não se caracteriza como um tipo qualquer de mídia, mas como um processo de comunicação que emerge da ação dos grupos populares. Essa ação tem caráter mobilizador coletivo na figura dos movimentos e organizações populares, que perpassa e é perpassada por canais próprios de comunicação. (PERUZZO, 2011 p.10).

A autora ainda acrescenta que trata-se de uma forma de expressão de segmentos excluídos da população, mas em processo de mobilização visando atingir seus interesses e suprir necessidades de sobrevivência e de participação política (PERUZZO, 2011, p.10). De acordo com Peruzzo, desde o final do século XX, o termo comunicação comunitária passou a ser utilizado para tratar desse tipo de comunicação e também de outras formas semelhantes. Outra definição é a de Gilberto Gimenez: implica a quebra da lógica da dominação e não se dá a partir de cima, mas a partir do povo, compartilhando dentro do possível seus próprios códigos (GIMENEZ, 1979, p.60 apud PERUZZO). Tanto a comunicação popular como a comunitária são compreendidas de inúmeras formas, porém, Cicilia Peruzzo destaca que sempre possuem a presença do povo como protagonista principal e destinatário, desde a literatura de cordel até a comunicação comunitária (PERUZZO, 2011, p.21). Em outras palavras, a comunicação comunitária, como explica a autora, se baseia em conceitos públicos, pretendendo a participação direta da comunidade, sem finalidades lucrativas, com objetivo de divulgar conteúdos que propaguem cultura, educação e aumentem a prática cidadã. Outra característica da comunicação comunitária seria a de um canal de expressão de uma comunidade (independente do seu nível socioeconômico e território), por meio do qual os próprios indivíduos possam manifestar seus interesses comuns e suas necessidades mais urgentes (DELIBERADOR e VIEIRA, apud PERUZZO, 2011, p. 21). Com base nestas referências, que dialogam e se complementam para embasar as práticas realizadas no âmbito do projeto extensionista, é possível considerar o trabalho realizado pelo Portal Comunitário como uma prática de comunicação comunitária, que visa integrar os grupos e comunidades na produção de conteúdos. Neste sentido, ao se fundamentar nos conceitos apresentados, o artigo propõe a realização de procedimentos metodológicos capazes de sistematizar o conteúdo produzido pelo projeto Portal Comunitário, a partir da base de dados que compreende como objeto empírico as matérias e reportagens publicadas no ano de 2014. 1 A análise consiste na identificação dos conteúdos, considerando o cruzamento de três categorias: a) minorias sociais; b) entidades respectivas; c) temas. Com estes dados, é possível apresentar um levantamento das demandas que tiveram maior presença na cobertura 1 Foram excluídas da coleta as notas publicadas no site, por se tratarem de conteúdos factuais que não caracterizam aprofundamento nas temáticas tratadas, estando mais voltadas à divulgação de ações das entidades. Foram coletadas todas as matérias no ano de 2014 (janeiro a dezembro) que tratavam sobre grupos minoritários, nas categorias ONGs e Grupos, Movimentos, Sindicatos e Bairros do site Portal Comunitário.

jornalística do site, apontando para o papel do Portal Comunitário no debate em torno dos direitos das minorias na esfera pública. 2 Resultados A tabela abaixo, resultado de um levantamento junto à base de dados do Portal Comunitário, traz o detalhamento das entidades que tiveram espaço na cobertura jornalística, as respectivas minorias sociais representadas e os temas trabalhados. No total, foram localizadas 35 reportagens publicadas no ano de 2014 que tratam de minorias sociais, sendo a maioria (18) referente a entidades que envolvem pessoas com deficiência, seguida de seis ocorrências do movimento negro, quatro do movimento LGBT, três de mulheres, três de grupos culturais de capoeira e uma de trabalhadores sem terra, conforme segue. Tabela 1: Levantamento da cobertura jornalística do Portal Comunitário 2014 Minoria Entidade Tema Deficientes Físicos APEDEF Casa de acolhimento da APEDEF Deficientes Físicos UNIDEV Perfil Presidente da UNIDEV Deficientes Físicos APADEVI Projeto da APADEVI Deficientes Físicos ADFPG Acessibilidade Deficientes Físicos ADFPG Curso de qualificação Deficientes Físicos UNIDEV Festival de Teatro Deficientes Físicos APADEVI Esporte Deficientes Físicos APADEVI Evento Deficientes Físicos APEDEF Casa do acolhimento Deficientes Físicos ADFPG 28 anos da entidade Deficientes Físicos APADEVI Professores e falta de acessibilidade Deficientes Físicos APADEVI Transporte Público Deficientes Físicos UNIDEV Esporte Negros Sociedade Cacique Pena Branca Dia da Consciência Negra Negros Instituto Sorriso Negro Atividades Semana da Consciência Negra Negros Sociedade Cacique Pena Branca Candomblé Negros Sociedade Cacique Pena Branca Negação de verbas do Conselho Municipal de Assistência Social Negros Cacique Pena Branca Discussão Racismo Negros Sociedade Cacique Pena Branca Trabalho mantido pelas doações LGBT e Portador de HIV REVIVER E RENASCER Comemoração dia internacional da mulher 2 Cabe ressaltar que a maior ou menor presença de determinada entidade deve-se a diferentes fatores, que precisam ser contextualizados: a) nível de organização da entidade; b) nível de envolvimento das equipes com as entidades parceiras; c) existência de diferentes entidades que atuam em uma mesma esfera de direitos.

LGBT RENASCER 1ª Mudança nome de batismo LGBT Estudantes Grupo de Diversidade Sexual LGBT Renascer Curso de capacitação Mulheres Vigilantes Vigilantes mulheres sendo minoria Mulheres Organização de bairro Preparação para gestantes Mulheres Organização de bairro Palestras e cursos de artesanato Capoeira Ilê Bamba História do grupo Ilê Bamba Capoeira Muzenza História do Grupo Capoeira Movidos pela capoeira Cerimônia Trabalhadores Sem-Terra MST Regularização área Zapata Fonte: Base de dados do Portal Comunitário, 2015 No que se refere aos temas, percebe-se a preocupação do Portal Comunitário em divulgar as ações das entidades e, ao mesmo tempo, pautar as lutas e bandeiras dos movimentos, a exemplo de reportagens sobre acessibilidade, preconceito, políticas públicas, entre outras que ganharam espaço no período. Percebe-se ainda que, embora as reportagens sejam mais recorrentes nas categorias ONGs e Grupos e Movimentos, as demandas das minorias sociais também se fazem presentes em conteúdos sobre sindicatos e bairros. Considerações finais A coleta possibilitou identificar as minorias com maior representatividade no site, além de perceber os temas mais abordados, como por exemplo, esporte, políticas afirmativas e dificuldades dos grupos. A importância em abordar esses temas também é visível, uma vez que muitas das notícias divulgadas pelo site sequer foram pautadas pelos veículos locais ou receberam um tratamento livre de estereótipos em torno das minorias sociais. Com base na comunicação comunitária, o projeto de extensão visa tornar perceptíveis as problemáticas, mas também outro aspecto das minorias, como as conquistas em âmbitos diversos, evitando o padrão de que há apenas fatos negativos acerca desses grupos. Outro fator importante nas notícias divulgadas pelo Portal Comunitário é a sua proposta em se debater e, acima de tudo, reivindicar os direitos das minorias. Em outras palavras, o projeto estimula, de fato, uma comunicação do povo e para o povo, sem qualquer distinção, contribuindo para o desenvolvimento das práticas de cidadania. APOIO: Fundação Araucária Referências

FILHO, João Freire. Mídia, estereótipos e representação das minorias. In: Revista ECO-PÓS, vol. 7, n. 2, agosto-dezembro 2004, p. 45-71. PAIVA, Raquel. Mídia e Política das Minorias In: PAIVA, Raquel; BARBALHO, Alexandre (Org.). Comunicação e cultura das minorias. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2009. PERUZZO, Cicília. Conceitos de comunicação popular, alternativa e comunitária revisitados e as reelaborações no setor. In: BARBALHO, A.; FUSER, B.; COGO, D. (Orgs.). Comunicação e cidadania. Questões contemporâneas. Fortaleza: EDR, 2011 SODRÉ, Muniz. Por um conceito de minoria. In: PAIVA, Raquel; BARBALHO, Alexandre (Org.). Comunicação e cultura das minorias. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2009.