RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS EM ÁREA DE CERRADO FRAGMENTADA NO MUNICÍPIO DE CUIABÁ

Documentos relacionados
TÍTULO: RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS ANUROS EM UMA ÁREA DE CERRADO FRAGMENTADO, CUIABÁ - MATO GROSSO

PARTILHA DE NICHO ENTRE DUAS ESPÉCIES DO GÊNERO

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA ANUROFAUNA EM UMA ÁREA DE CERRADO ENTRE DIAMANTINA E AUGUSTO DE LIMA, MINAS GERAIS, BRASIL.

Relatório Parcial FCTY-RTP-HPT Referência: Diagnóstico da Herpetofauna. Fevereiro/2014. At.: Gerência de Sustentabilidade FCTY

RELAÇÃO ENTRE MORFOLOGIA E UTILIZAÇÃO DO MICROAMBIENTE.

ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS

COMPARAÇÃO DA DIVERSIDADE DE ANUROS ENTRE AMBIENTES DE AGRICULTURA TECNIFICADA E PRESERVADO NA PLANÍCIE DO RIO ARAGUAIA, TOCANTINS.

COLABORADOR(ES): LEONARDO HENRIQUE DA SILVA, VINICIUS JOSÉ ALVES PEREIRA

Graduação em Ciências Biológicas, DBI - UFMS. Centro de Ciências Biológicas, DBI - UFMS

LEVANTAMENTO DE ANFÍBIOS NO BOSQUE MUNICIPAL DE OURO PRETO DO OESTE, RONDÔNIA, BRASIL.

RIQUEZA E DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DE ANUROS EM ÁREA REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO.

INVENTÁRIO PRELIMINAR DA ANUROFAUNA NA SERRA DAS TORRES, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

ASPECTOS REPRODUTIVOS E RIQUEZA DE ESPÉCIES DA ANUROFAUNA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR

Distribuição espacial e temporal de uma comunidade de anuros do município de Morrinhos, Goiás, Brasil (Amphibia: Anura)

MEGADIVERSIDADE. # Termo utilizado para designar os países mais ricos em biodiversidade do mundo. 1. Número de plantas endêmicas

É importante que você conheça os principais biomas brasileiros e compreenda as características.

ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS

BIODIVERSIDADE DE ANFÍBIOS EM AMBIENTES DE MATA ATLÂNTICA E ANTRÓPICOS NA REGIÃO DO SUL DE MINAS GERAIS

Estrutura da comunidade de anfíbios da região de Bauru, SP.

Fonte:

Biomas do Brasil. Ciências Humanas e suas Tecnologias. Professor Alexson Costa Geografia

Dieta, Dimorfismo e Polimorfismo de Pseudopaludicola sp. em Área de Campo Alagada

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS - FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS. Degradação de Biomas. Prof. Me. Cássio Resende de Morais

INVENTÁRIO DE ANUROS OCORRENTES NO SUDOESTE DO PARANÁ

Distribuição espacial e temporal da anurofauna em diferentes ambientes no município de Hidrolândia, GO, Brasil Central

COMUNIDADE DE ANUROS, NA FAZENDA VALE DO IPÊ, NO MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS DE GOIÁS, BRASIL

Biomas / Ecossistemas brasileiros

uros (Amphibia) Robson Waldemar Ávila 1 & Vanda Lúcia Ferreira 2

Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente 1(1):65-83, mai-out, 2010

Lista dos anuros da Estação Ecológica Nhumirim e das serras de entorno do Pantanal Sul

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira.

Impacto do desmatamento e formação de pastagens sobre a anurofauna de serapilheira em Rondônia

TÍTULO: ESTUDO SOBRE IGUANA IGUANA LINEU, 1758 (IGUANIDAE) EM UM FRAGMENTO DE ÁREA ÚMIDA DE CERRADO NO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VÁRZEA GRANDE, MT

Universidade Federal do Amazonas Instituto de Ciências Biológicas Diversidade, distribuição e reprodução de Anfíbios

Composição e riqueza de anfíbios anuros em remanescentes de Cerrado do Brasil Central

Anuran amphibians diversity in a northwestern area of the Brazilian Pantanal

BIOMAS. Professora Débora Lia Ciências/Biologia

TÍTULO: A INFLUÊNCIA DA FRAGMENTAÇÃO DE HABITATS E PERDA DA BIODIVERSIDADE: ESTUDO DE CASO DA MATA DOS MACACOS EM SANTA FÉ DO SUL - SP.

Ocorrência e Representatividade de Anuros em Unidades de Conservação do Estado de Goiás e do Distrito Federal.

Revista Nordestina de Zoologia

AVALIAÇÃO DE ÁREAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO NAS FAZENDAS BARRA LONGA E CANHAMBOLA

Conservação da vegetação

Anfíbios de dois fragmentos de Mata Atlântica no município de Rio Novo, Minas Gerais

Anurofauna de uma área do domínio da Mata Atlântica no Sul do Brasil, Morro do Coco, Viamão, RS

Mata Atlântica Floresta Pluvial Tropical. Ecossistemas Brasileiros

Componentes e pesquisadores envolvidos

Biota Neotropica ISSN: Instituto Virtual da Biodiversidade Brasil

Candiota: Carvão e anfíbios

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS CIAMB

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS CIAMB

EFEITO DO DESMATAMENTO NA DIVERSIDADE DE RÉPTEIS NUMA ÁREA DE CAATINGA NO MUNICÍPIO DE LAJES, RN, BRASIL

Universidade Estadual do Ceará UECE Centro de Ciências da Saúde CCS Curso de Ciências Biológicas Disciplina de Ecologia.

Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO CERRADO UNICERP Graduação em Ciências Biológicas

Anurofauna do noroeste paulista: lista de espécies e chave de identificação para adultos

Taxocenose de anfíbios anuros no Cerrado do Alto Tocantins, Niquelândia, Estado de Goiás: diversidade, distribuição local e sazonalidade

Localização sítios de Coletas. A Chapada dos Guimarães

Registro de Phrynops williamsi no rio do Chapecó, Oeste de Santa Catarina, Brasil

REB Volume 8 (3): , 2015 ISSN

Biota Neotropica ISSN: Instituto Virtual da Biodiversidade Brasil

ESPÉCIES ARBÓREAS DA BACIA DO RIO MAUÉS-MIRI, MAUÉS AMAZONAS

BIOMAS. Os biomas brasileiros caracterizam-se, no geral, por uma grande diversidade de animais e vegetais (biodiversidade).

RIQUEZA DE ESPÉCIES DE ANFÍBIOS ANUROS EM UM FRAGMENTO FLORESTAL NA ÁREA URBANA DE MANAUS, AMAZONAS, BRASIL

Levantamento Preliminar da Herpetofauna em um Fragmento de Mata Atlântica no Observatório Picos dos Dias, Brasópolis, Minas Gerais

Aula Bioma e Vegetação. Prof. Diogo

Ecossistemas BI63B Profa. Patrícia Lobo Faria

Diversidade e distribuição espaço-temporal de anuros em região com pronunciada estação seca no sudeste do Brasil 1

MONITORAMENTO DE ANFÍBIOS ATROPELADOS NO EIXO DA RODOVIA DO PARQUE BR-448 ATRAVÉS DO CAMINHAMENTO

ANÁLISE DE MÉTODOS DE AMOSTRAGEM PARA A HERPETOFAUNA EM UM FRAGMENTO FLORESTAL, ACRE

VALOR AMBIENTAL DA BIODIVERSIDADE

ISSN Dezembro, Listagem dos Anuros da Estação Ecológica Nhumirim e Arredores, Pantanal Sul

Anfíbios anuros associados a corpos d água do sudoeste do estado de Goiás, Brasil


Curso Engenharia Ambiental e de Produção Disciplina: Ciências do Ambiente Profa Salete R. Vicentini Bióloga Educadora e Gestora Ambiental

LEVANTAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DA AVEFAUNA DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA FAP

Campanha da Fraternidade Tema Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida. Lema Cultivar e guardar a Criação

LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS

Anuros do cerrado da Estação Ecológica e da Floresta Estadual de Assis, sudeste do Brasil

BIOLOGIA» UNIDADE 10» CAPÍTULO 1. Biomas

Riqueza da anurofauna no Campus Experimental Cauamé, Roraima.

UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Taciano Moreira Gonçalves ANFÍBIOS ANUROS NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO BANHADO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP

PROGRAMAS DE RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE MATAS CILIARES E DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Marcos Silveira & Thaline Brito Universidade Federal do Acre

Atividade reprodutiva de Rhinella gr. margaritifera (Anura; Bufonidae) em poça temporária no município de Serra do Navio, Amapá.

Vegetação do Brasil e suas características

ANFÍBIOS ANUROS DE UMA ÁREA DA SERRA DO SUDESTE, RIO GRANDE DO SUL (CAÇAPAVA DO SUL)

com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente;

OS BIOMAS. A Geografia Levada a Sério

ESTUDO DE CONECTIVIDADE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA MESTRADO EM BIOLOGIA ANIMAL

Figura 1 Corredor de Biodiversidade Miranda Serra da Bodoquena e suas unidades de conservação

ISSN Novembro, Anuros das Serras de Entorno do Pantanal Sul

Diversidade e uso de hábitat da anurofauna em um fragmento de um brejo de altitude

Professora Leonilda Brandão da Silva

TIPOS DE VEGETAÇÃO E OS BIOMAS BRASILEIROS. Profº Gustavo Silva de Souza

ANUROFAUNA EM ÁREA ANTROPIZADA NO CAMPUS ULBRA, CANOAS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

O CLIMA E A VEGETAÇÃO DO BRASIL

LISTA DE EXERCÍCIOS 2º ANO

Transcrição:

RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS EM ÁREA DE CERRADO FRAGMENTADA NO MUNICÍPIO DE CUIABÁ Luiz Antônio Solino-Carvalho 1 Edson Viana Massoli Junior 2 Neidevon Realino de Jesus 3 Kelly Araujo da Silva 4 Jessica Rhaiza Mudrek 5 RESUMO O presente estudo teve como objetivo inventariar a fauna de anfíbios em uma área de Cerrado fragmentada. Realizamos nove campanhas de campo, entre o período de setembro de 2012 e março de 2013. As amostragens dos anuros foram realizadas no período noturno, utilizando o método de procura limitada por tempo (PLT). Foram registrados 510 indivíduos pertencentes a 27 espécies, distribuídas em seis famílias. As famílias mais representativas foram Hylidae, seguida de Leptodactylidae. De outra parte, as famílias com menor número de indivíduos foram Microhylidae e Strabomantidae. Palavras-chave: Herpetologia, Inventário e Fazenda DISA ABSTRACT This study aimed to survey the amphibian fauna in an area of Cerrado fragmented. We conducted nine field campaigns in the period between September 2012 and March 2013. Samples of frogs were held at night, using the method of constrained search time (CST). We recorded 510 individuals belonging to 27 species, distributed in six families. The most representative families were Hylidae, Leptodactylidae followed, families with fewer individuals were Microhylidae and Strabomantidae. Keywords: Herpetology, Inventory and Farm DISA 15 1 - Docente mestre do GPA de Ciências Agrárias, Biológicas e Engenharias do Centro Universitário de Várzea Grande-UNIVAG 2 - Docente mestre do GPA de Ciências Agrárias, Biológicas e Engenharias do Centro Universitário de Várzea Grande-UNIVAG 3 - Discente do curso de Graduação em Ciências Biológicas do Centro Universitário de Várzea Grande-UNIVAG 4 - Discente do curso de Graduação em Ciências Biológicas do Centro Universitário de Várzea Grande-UNIVAG 5 - Discente do curso de Graduação em Ciências Biológicas do Centro Universitário de Várzea Grande-UNIVAG

INTRODUÇÃO 16 Atualmente, a perda e a fragmentação de habitats são consideradas as maiores ameaças à biodiversidade do planeta (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Esta ocorre à medida que uma grande extensão de floresta é subdividida e diminui de tamanho (TABARELLI; GASCON, 2005). A fragmentação do hábitat também provoca a diminuição do fluxo gênico e o aumento da deriva genética em populações isoladas, reduzindo a capacidade para adaptação e especiação (SILVANO et al., 2003). Além disso, as populações residentes em fragmentos florestais pequenos, ou muito degradados, apresentam grande probabilidade de extinção local. O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, superado em área apenas pela Amazônia. Ocupa 21% do território nacional e é considerado a última fronteira agrícola do planeta (BORLAUG, 2002), fato que tem elevado as taxas de perda de biodiversidade, em especial de anfíbios (KLINK; MOREIRA, 2002). A maioria dos dados sobre declínio populacional de anfíbios é da América do Sul (Equador e Brasil), mas, nos trópicos, as espécies de anfíbios são monitoradas insuficientemente (STUART et al., 2004). Esses fatos combinados tornam o grupo carente por ações rápidas para estratégias de conservação. Na região neotropical, em especial no Brasil, é encontrada uma das mais ricas herpetofaunas do planeta, (DUELMAN, 1994; BERNARDE, 2000; RODRIGUES, 2005). O Brasil ocupa o primeiro lugar na relação de países com maior riqueza

de espécies de anfíbios, seguido por Colômbia e Equador (RODRIGUEZ; DUELLMAN, 1994). Os anfíbios são elementos importantíssimos no fluxo de energia convertendo cerca de 90% do que consomem e apresentando taxas de crescimento muito elevadas, servindo para equilibrar o ecossistema, como controladores de insetos e outros invertebrados, além de ser cardápio na cadeia alimentar para répteis, aves e mamíferos (BASTOS et al., 2003; WOEHL, 2007). Se não fossem os anfíbios, o mundo teria tantos insetos que a espécie humana já teria deixado de existir há muito tempo, pois não seria possível controlar doenças como dengue, febre amarela e malária, que são transmitidas por picadas de insetos. Além de serem indicadores de qualidade ambiental, os anfíbios são utilizados na produção de medicamentos, sendo, assim, essencial para a medicina (STTEBINS; COHEN, 1995). De acordo com Silvano et al. (2003), o fato de os anfíbios apresentarem ampla distribuição geográfica, baixa mobilidade, especificidade de hábitat, e facilidade de estudos, tornam a eles modelos ideais para estudos sobre efeito de fragmentação. Em função desses atributos biológicos, os anfíbios são considerados bons indicadores de equilíbrio ecológico (SILVA, 2004). Levado isso em conta, trabalhos sobre levantamento e distribuição de espécies de anuros do Cerrado se tornam cada vez mais importantes, pois permitem a identificação de espécies que estão ameaçadas de extinção, somado ao fato de ampliar o conhecimento sobre a riqueza e distribuição da herpetofauna da região (HADDAD, 1991). A luz do exposto, o intento deste trabalho foi inventariar 17

a comunidade de anfíbios em uma região localizada em uma região de Cerrado, com paisagem intensamente fragmentada pela atividade agropecuária. Adicionalmente, comparamos a composição da comunidade de anfíbios nos diferentes substratos (tipos de hábitat) encontrados na área de estudo. MATERIAL E MÉTODOS ÁREA DE ESTUDO 18 O estudo foi realizado em uma área de Cerrado localizada na Rodovia Manoel Pinheiro, km 13, na Fazenda DISA, município de Cuiabá, MT (Figura 1). O clima na região é tropical semiúmido, com estações bem-definidas, alternando períodos secos e chuvosos. As temperaturas oscilam entre 15 C e 42 C, conforme a época do ano, com média de 28 C, a precipitação média anual é de, aproximadamente, 1330 mm. INVENTÁRIO DE ANFÍBIOS Realizamos nove campanhas de campo, entre setembro de 2012 e março de 2013. As amostragens foram direcionadas para três ambientes muitos comuns na região: 1 área antropisada pela construção de sede das propriedades; 2 Tanque de piscicultura, com cerca de 200 m de comprimento, 10 metros em sua parte mais estreita e 60 metros em sua parte mais larga; a profundidade máxima é de cerca de 5 metros. 3 Mata de galeria que apresenta vegetação arbórea e fino extrato herbáceo que invade o corpo d água. O leito do rio, nesse período do ano,

é composto apenas por pequenas poças que funcionam como refúgio para os anfíbios. Apesar do pequeno fluxo de água no período seco do ano, há uma constante e discreta entrada de água proveniente de uma nascente. As amostragens dos anuros foram realizadas no período noturno (18h ás 1h), utilizando o método de procura limitada por tempo (PLT), em cada um dos ambientes considerados. Para a visualização dos anfíbios, recorremos à lanterna de luz branca e termômetro para determinar a temperatura umidade do ar, ao iniciar e ao finalizar cada coleta. Os anfíbios capturados foram acondicionados em sacos plásticos, levados à sede para ser fotografados e, posteriormente, identificados. Depois de fotografados, os anfíbios foram soltos no mesmo local de captura. Para a identificação, utilizamos as últimas listas de anfíbios pertencentes ao Cerrado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registrados 510 indivíduos pertencentes a 27 espécies, distribuídas em seis famílias. As famílias mais representativas foram Hylidae, com 11 espécies, seguida de Leptodactylidae, com sete espécies. As famílias com menor número de indivíduos foram Microhylidae e Strabomantidae, uma e outra com um representante cada. As espécies com maior número de indivíduos (comuns) foram Rhinella paraguayensis e Hypsiboas geographicus. Estas foram as com menor número de indivíduos (raras): Hypsiboas cf. lundii, Scinax fuscomarginatus e Leptodactylus cf. mystaceus (Tabela I). A 19

20 grande representatividade da família Hylidae já era esperada, uma vez que se tratado grupo de anfíbios com maior número de espécies do Brasil (DUELLMAN, 1978). Neste trabalho, o número de espécies foi representativo quando consideramos o número de coletas e também quando comparamos com outros trabalhos semelhantes, a exemplo de Mendes-Pinto e Miranda (2011), que encontraram 16 anuros em Alto Araguaia, no Cerrado de Mato Grosso. Uetanabaro et al, (2007) depararam com 38 espécies de anfíbios no Parque Nacional da Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul. O número maior de espécies observado nessa área pode ser atribuído ao fato do estudo ter sido realizado em uma unidade de conservação, associado ao maior esforço. Nogueira e Rodrigues et al, (2011) localizaram 38 espécies na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, região do Jalapão, Estados do Tocantins e Bahia, outra unidade de conservação. Apesar de a área de estudo ser rural com modificações em sua paisagem, cuida-se de área que passa por um longo tempo de regeneração. Esse fato propicia a existência de hábitats para procriação, contribuindo para a manutenção da biodiversidade. Os substratos mais representativos para as espécies de anfíbios foram folha seca (que estava sobre o solo) e solo arenoso (Tabela II). Esse resultado é atribuído ao fato de a maioria das espécies encontradas apresentarem hábitos terrestres. A área possui grande número de material vegetal morto (folhas). Por sinal, essa é uma característica comum em fitofisionomias do Cerrado, onde algumas espécies de vegetais perdem as folhas para evitar a perda de água excessiva na estação seca. O substrato

água foi o menos representativo dentre os considerados nesse estudo. Os anuros utilizam a água para a reprodução, para regular a temperatura ou até mesmo para a fuga (DUELMAN; TRUEB, 1994). Os anfíbios têm uma ótima capacidade de adaptação e colonização próximos a ambientes aquáticos. Por esse motivo, conseguem utilizar vários substratos, facilitando também a coexistência entre as espécies (FREITAS et al., 2008). CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo oferece uma contribuição ao conhecimento da fauna de anfíbios da região. Os resultados patenteiam que, apesar de ser a área de estudo um tanto ou quanto fragmentada e degradada, contém uma representativa amostra da diversidade de anfíbios do Cerrado. Essa diversidade pode ser atribuída à manutenção dos hábitats específicos necessários à sobrevivência das populações, bem como à capacidade de adaptação de algumas espécies às alterações humanas. Ressaltamos a necessidade da realização de estudos mais abrangentes que contemplem diferentes estações do ano, bem como outras fitofisionomias do Cerrado. 21

22 Figura 1 Localização de Cuiabá-MT, evidenciando a área de estudo.

Família Espécie Abundância Bufonidae Rhinella cf. granulosa (Spix, 1824) 3 Rhinella cf. margaritifera (Laurenti, 1768 ) 10 Rhinella paraguayensis Ávila, Pansonato & Strüssmann, 2010 70 Rhinella schneideri (Werner, 1894) 3 Hylidae Dendropsophus melanargyreus (Cope, 1887) 24 Dendropsophus minutus (Peters, 1872) 13 Dendropsophus nanus (Boulenger, 1889) 10 Hypsiboas geographicus (Spix, 1824) 114 Hypsiboas cf. lundii (Burmeister, 1856) 1 Hypsiboas raniceps Cope, 1862 30 Phyllomedusa azurea Cope, 1862 8 Pseudis limellum (Cope, 1862) 40 Trachycephalus typhonius (Linnaeus, 1758) 22 Scinax fuscomarginatus (A. Lutz, 1925) 1 Scinax fuscovarius (A. Lutz, 1925) 17 Leiuperidae Eupemphix nattereri Steindachner, 1863 18 Physalaemus albonotatus (Steindachner, 1864) 38 Pseudopaludicola cf. mystacalis (Cope, 1887) 3 Leptodactylidae Leptodactylus chaquensis Cei, 1950 13 Leptodactylus cf. diptyx Boettger, 1885 7 Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) 9 Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) 4 Leptodactylus cf. mystaceus (Spix, 1824) 2 Leptodactylus sp. (=Adenomera) 7 Leptodactylus podicipinus (Cope, 1862) 25 Microhylidae Elachistocleis cf. matogrosso Caramaschi, 2010 12 Strabomantidae Pristimantis dundeei (Heyer & Muñoz, 1999) 6 Total 510 Tabela I - Lista das espécies de anfíbios registradas na área de estudo (município de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso), com base em registros de campo feitos no dia 18 de setembro de 2012, por método de Procura Visual. 23

24 Substrato Registro Total AG FL MA RC SA TR EO VS AC N (%) Família Espécie Bufonidae Rhinella gr. granulosa (Spix, 1824) x x x x 3 2.9 Rhinella paraguayensis Ávila, Pansonato & Strüssmann, 2010 x x x x 20 19.4 x Rhinella schneideri (Werner, 1894) x x 2 1.9 Hylidae Dendropsophus minutus (Peters, 1872) x x x 5 4.9 Dendropsophus nanus (Boulenger, 1889) x x 1 1.0 Hypsiboas cf. lundii (Burmeister, 1856) x x 1 1.0 Hypsiboas raniceps Cope, 1862 x x x x 6 5.8 Hypsiboas geographicus (Spix, 1824) x X x x x 8 7.8 Pseudis limellum (Cope, 1862) x x 1 1.0 Scinax fuscovarius (A. Lutz, 1925) x x x 2 1.9 Scinax sp. x x x 2 1.9 Trachycephalus typhonius (Linnaeus, 1758) x x 1 1.0 Leiuperidae Eupemphix nattereri Steindachner, 1863 x x 1 1.0 Physalaemus albonotatus (Steindachner, 1864) x x x x 18 17.5 Pseudopaludicola ameghini Sensu Cope, 1887 X x 4 3.9 3.9 Leptodactylidae Leptodactylusfuscus (Schneider, 1799) x x x 4 Leptodactylus mystaceus (Spix, 1824) x x x 2 1.9 Leptodactylus chaquensis Cei, 1950 X x 1 1.0 Leptodactylus cf. diptyx Boettger, 1885 x x x x 7 6.8 Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) x 1 1.0 Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) x x 1 1.0 Leptodactylus gr. podicipinus (Cope, 1862) X x 4 3.9 Microhylidae Elachistocleis cf. matogrosso Caramaschi, 2010 x x x 2 1.9 Strabomantidae Pristimantis dundeei (Heyer & Muñoz, 1999) x x x 6 5.8 Número de espécies total registrados 28 Número de indivíduos total registrados 103 Tabela II - Anfíbios anuros encontrados na área de estudo, município de Cuiabá, Mato Grosso. Substrato: Ag: Água; FL: Folhas; MA: Margem de poças; RC: Rochas; SA: Solo arenoso; TR: Tronco, galhos e raízes; EO: Encontro oportuno. Registro: VS: Visual ou AC: Acústico Total: N número total de espécies registradas; % - abundância relativa total das espécies. A nomenclatura das espécies adotada segue a lista divulgada pela Sociedade Brasileira de Herpetologia, atualizada em agosto de 2012. (http://www.sbherpetologia.org.br)

25 Figura 1 - Representantes da família Bufonidae (A - F) e da família Strabomantidae (G e H). A - D indivíduos de Rhinella paraguayensis mostrando polimorfismo entre indivíduos da mesma espécie. E- R. gr. granulosa em detalhe no círculo vermelho ectoparasito (Carapato). F vista ventral de R. gr. Granulosa, detalhe da região gular amarelada. G e H Pristimantis dundeei.

26 Figura 2 - A) Rhinella cf. margaritifera. B) Rhinella margaratifera. C) Elachistoclies cf. matogrosso. D) Elachistocleis matogrosso. E) Leptodactylus cf. mystaceus. F) Leptodactylus mystaceus. G) Scinax cf. fuscovarius. H) Scinax fuscovarius. Anfíbios: A, C, E e G, registros fotográficos de campo; B, D, F e H, fotos dos espécimes em outros trabalhos.

27 Figura 3 Representantes da família Hylidae. A Dendropsophus minutus. B D.nanus. C Scinax sp. D Hypsiboas geographicus. E Trachycephalus typhonius. F H. raniceps. G S. fuscovaruys. H Pseudis limellum.

28 Caderno de Publicações 7 Figura 4 Representantes da família Leptodactylidae. A Leptodactylus chaquensis. B L. mystaceus. C L. fuscus. D Vista ventral de macho de L. fuscus evidenciado pela região gular preta. E L.gr. podicipinus. F Vista ventral de L.gr. podicipinus evidenciado pela ventre repleto de pintas pretas. G L. cf. diptyx. H Vista Wventral de L. cf. diptyx detalhe das coxas com presença de ácaros.

29 Figura 5 - Representantes da família Leiuperidae (A - D). Representante da família Microhylidae (E e F). A Physalaemus albonotatus. B Pseudopaludicola ameghini Sensu Cope 1887. C Eupemphix nattereri. D Glândulas expostas de E. nattereri. E Elachistocleis cf. matogrosso. F Vista ventral de E. cf. matogrosso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30 BERNARDE, P. S.; Machado, R. A. Riqueza de espécies, ambientes de reprodução e temporada de vocalização da anurofauna em Três Barras do Paraná, Brasil (Amphibia: Anura). Cuadernos de Herpetologia. Paraná, v.14 n. 2, p. 93-104, 2001(2000). DUELLMAN, W.E. 1978. The biology of an equatorial herpetofauna in Amazonian Equador. Univ. Kansas Mus. Nat. Hist. Misc. Publ. 65: 1-352 DUELLMAN, W. E.; Trueb, L. Biology of amphibians. New York: McGraw-Hill, 670 p. 1994. FROST, D. R. Amphibian species of the world: an online reference: New York. American Museum of Natural History, 2010. Disponível em: <http:// research.amnh.org/vzherpetology/ amphibian>. Acesso em: 3 de abr. de 2012. HADDAD, C. F. B. Ecologia reprodutiva de uma comunidade de anfíbios anuros na Serra do Japi, Sudeste do Brasil. Campinas: Unicamp, 1991. 154 p. Tese (Doutorado em Ecologia) - Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas. PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: ed. Planta, 328 p. 2001. RODRIGUEZ, L.O; Duellman, W. E. Guide to the frogs of the Iquitos Region, Amazonian Peru. Natural History Museum, the of Kansas, Lawrence, p. 79-80, 1994. SILVANO, D. L. et al. Anfíbios e répteis. In: Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Fragmentação de ecossistema: causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de práticas públicas. Brasília: MMA / SBF, 2003. Cap. 7, p. 184 200 (Biodiversidade 6). STTEBINS, R. C. & Cohen, N. W. 1995. A natural history of amphibians. Princeton University Press, 316 p. TABARELLI, M; Gascon, C. Lições da pesquisa sobre fragmentação: aperfeiçoamento de políticas e diretrizes de manejo para a conservação da biodiversidade. Recife, v.1, n. 1, p.182-183, 2005. COLLI, G. R. (org.) Herpetofauna do cerrado e pantanal diversidade e conservação. Biodiversidade do cerrado e cantanal: áreas e ações prioritárias para conservação. Ministério do Meio Ambiente. Brasília: MMA, 2007 KLINK, Carlos A.; Machado, Ricardo B. A conservação do cerrado brasileiro. Megadiversidade, v. 1, n. 1. Brasília, 2005. PACÍFICO, E. S. Anuros do cerrado em um mundo em mudança: fatores de vulnerabilidade. Dissertação de Mestrado da Universidade Federal de Goiás. UFG, Goiás, 2011.

31 RIBEIRO, J. R; Dias, T. Diversidade e conservação da vegetação e da flora. Biodiversidade do cerrado e pantanal: áreas e ações prioritárias para conservação. Ministério do Meio Ambiente. Brasília: MMA, 2007.