Neve nas serras gaúcha e catarinense no dia 26/06/2011

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Transcrição:

Neve nas serras gaúcha e catarinense no dia 26/06/2011 Entre a tarde e a noite de domingo do dia 26 junho houve a primeira queda de neve de 2011 em território brasileiro. De acordo com a Climaterra, os primeiros flocos de neve começaram a caíram por volta das 15h30min em São Joaquim (1360m), no planalto sul-catarinense. À noite (em torno de 23h15min) a neve também atingiu o município de Gramado (830m) na serra gaúcha, quando a temperatura era de apenas 0,8C de acordo com a estação meteorológica da RBS. Em Gramado a neve persistiu por quase meia hora, mas não foi reportado acúmulo de neve em nenhuma localidade. Este fenômeno ocorreu devido à combinação das temperaturas baixas com a umidade disponível no ar. A queda de neve nestas áreas foi sucedida por uma intensa massa de ar frio nos dias seguintes, que derrubou as temperaturas no centro-sul do país, quebrando recordes de frio e provocando temperaturas negativas no RS, SC, PR, MS, SP e MG. A primeira forte onda de frio de 2011 também atingiu parte dos estados do MT, RO e sul do AC, fenômeno conhecido como friagem. Houve impactos no setor econômico e social, que determinaram em perdas humanas e materiais, esta última principalmente no setor agrícola. Nesta análise, apesar dos efeitos significativos mencionados, limitaremos a avaliar apenas os fatores que levaram a ocorrência da neve, investigando o comportamento da atmosfera do dia 26 de junho sob o ponto de vista sinótico. Imagem de sincelos formados pelo congelamento da água em Urupema-SC

A imagem do satélite GOES-12 no canal visível das 18Z (período em que ocorreu o primeiro registro de neve) mostra muita nebulosidade sobre as serras gaúcha e catarinense. No canal infravermelho as nuvens aparecem na tonalidade cinza claro, indicando o predomínio da nebulosidade baixa. Esta característica esta associada com a estabilidade atmosférica provocada pela entrada da massa de ar frio. A seguir será analisado o perfil vertical da atmosfera dàs 00Z do dia 27/06 (21 horas local do dia 26). Começando com a metade superior, em 250 hpa os ventos eram bastante intensos, se estendendo do Pacífico Leste ao Atlântico Sudoeste. A atuação do ramo norte do Jato Polar entre a Argentina, RS e SC (seta laranja) indica a existência de uma área mais baroclínica, ou seja, com maiores constrastes térmicos. As correntes de sudoeste transportavam ar refrigerado para o território brasileiro, e logo abaixo em 500 hpa, o Vórtice Ciclônico se aprofundava ainda mais, contribuindo para confinamento de ar bastante frio entre o Uruguai e o RS. Sondagens de Porto Alegre e Uruguaiana registraram temperaturas de -22C e -25C, respectivamente. Descendo para a camada mais baixa, em 850 hpa havia uma pista com ventos bastante intensos do quandrante sul da Província de Buenos Aires, Uruguai e estendendo-se até latitudes baixas do continente sul-americano. A isoterma de -2C (linha tracejada preta) sobre o norte do RS e SC indica ar suficientemente frio para provocar a formação de neve. Finalmente a carta de superfície revela um amplo anticiclone pós-frontal sobre o interior do continente, com centro de 1030 hpa sobre o norte da Argentina. A sudeste deste havia um ciclone extratropical no Atlântico, que atuava trazendo ar frio e úmido para a faixa leste do Sul do Brasil. Veja que nas imagem de satélite é possível notar muitas nuvens entre a faixa leste do Uruguai e sul do RS, associada a circulação do ciclone.

250 hpa 500 hpa 850 hpa Superfície A previsão de neve nas serras gaúcha e catarinense havia sido prevista pelo GPT com mais de dois dias de antecedência. Isso foi possível devido, por exemplo, a experiência do meteorologista previsor, que permitiu reconhecer com antecipação condições favoráveis para a ocorrência do fenômeno. Claro que o uso de ferramentas objetivas também ajudou a previsão, permitindo determinar a área e o período com maiores chances de neve. Estas ferramentas são baseadas em critérios objetivos (veja os parâmetros e limiares usados a seguir) e obtidas a partir da saída de modelos numéricos. Neste caso, utilizou-se o modelo regional ETA, que roda operacionalmente no CPTEC com resolução horizontal de 20 km. As figuras abaixo mostram a previsão do modelo ETA20 de 24h, 48h, 72h, 96h e 120h para às 00Z do dia 27/06. As linhas em vermelho indicam a espessura 1000/500 hpa e a cor azul a temperatura em 850 hpa. Os critérios usados foram estes: temperatura em 500 hpa < -15C, temperatura em 700 hpa < 0C, temperatura em 850 < 3C e umidade específica superior a 0,004 g/kg. Toda vez que estes critérios foram satisfeitos o modelo apontou como condição favorável a ocorrência de neve, indicado pelo sombreado colorido nas cartas. Nota-se que em todas as rodadas o modelo ETA indicou este parâmetro. O campo de espessura também foi satisfatoriamente previsto pelo modelo, representando bem a presença do vórtice ciclônico. Pesquisas mostram que o valor de 5400 metros para a espessura 1000/500 hpa tem sido

utilizado com sucesso como limiar de precipitação de neve nas regiões serranas do Sul do Brasil. 24h 48h 72h 96h 120h

Apesar da neve não causar impactos significativos no Brasil, ela é um fenômeno importante uma vez que traz consigo temperaturas baixas, que esta sim todos os anos tem gerado alguns transtornos para a sociedade. Em resumo, pode-se dizer que a queda de neve no Sul do Brasil ocorreu por dois elementos: a entrada da massa intensa de ar frio, de com características polares; e o aporte de umidade mantido pelo giro do ciclone extratropical, que atuou próximo a costa sul brasileira. Tudo isso foi impulsionado pela ação do vórtice ciclônico em nível médio, que contribuiu para o confinamento do ar frio em toda a coluna, representando assim um modelo clássico de ocorrência de neve sobre o Sul do país. Esse fator aliado à experiência do previsor e ao uso da ferramenta objetiva permitiu prever com uma boa antecedência a condição para neve, alertando assim a população (através da rede internet-televisão e defesa civil) sobre a possibilidade da ocorrência do fenômeno. Elaborado pelo meteorologista Henri Rossi Pinheiro