O Agronegócio Familiar no Brasil e nos seus Estados: A Contribuição a Agricultura Familiar para a Riqueza Nacional

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Transcrição:

O Agronegócio Familiar no Brasil e nos seus Estados: A Contribuição a Agricultura Familiar para a Riqueza Nacional Joaquim J. M. Guilhoto Professor do Departamento de Economia, FEA-USP Carlos R. Azzoni Professor do Departamento de Economia, FEA-USP Fernando Gaiger Silveira Pesquisador do IPEA Silvio M. Ichihara Pesquisador da FIPE Bernardo P. Campolina Diniz Pesquisador da FIPE Guilherme R. C. Moreira Pesquisador da FIPE

2 Índice Geral 1. A importância da agricultura familiar no Brasil... 5 2. Metodologia simplificada... 7 3. PIB do Agronegócio Familiar... 9 3.1 Desempenho do PIB do agronegócio do Brasil... 9 3.2 O Desempenho do agronegócio familiar e patronal do Brasil... 11 3.3 Os componentes do complexo agrícola familiar e patronal do Brasil... 14 3.4 Os componentes do complexo pecuário familiar e patronal do Brasil... 15 3.5 A análise dos componentes agrícolas: setor e indústria... 16 3.6 A análise dos componentes pecuários: setor e indústria... 19 4. O agronegócio familiar nas regiões e nos estados... 23 4.1 Panorama do agronegócio nas macrorregiões brasileiras... 23 4.2 Desempenho recente do agronegócio nas macrorregiões... 30 4.3 O Agronegócio nos estados... 31 4.4 As indústrias das lavouras e da pecuária... 37 4.5 Agricultura familiar na economia dos estados... 39 4.6 O setor industrial do agronegócio familiar... 44 5. Considerações Finais... 47 6. Bibliografia... 48 Apêndice A - Metodologia... 49 A.1. Estimativa da produção familiar agricultura e pecuária... 49 A.2. Estimativa do PIB do agronegócio familiar... 54 A.2.1. Estimação do PIB do agronegócio familiar pelo Modelo de Insumo-Produto55 Apêndice B - Valores do PIB do Agronegócio Familiar, Patronal e Total, do Brasil e das Unidades da Federação, no período de 2002 a 2005 (valores em Reais de 2005)... 60

Tabelas Tabela 1. Participação das macrorregiões nos PIBs Total, do Agronegócio Familiar, do Agronegócio Patronal e dos Outros Setores 2004... 25 Tabela 2. Taxas de crescimento do PIB do agronegócio total e familiar, por macrorregiões 2003/2002 e 2004/2003... 31 Gráficos Gráfico 1. Evolução acumulada do PIB do agronegócio e sua participação no PIB total da economia brasileira... 10 Gráfico 2. Participação do PIB do agronegócio familiar e patronal no PIB do Brasil... 11 Gráfico 3. Participações dos complexos agropecuários familiar e patronal no PIB do agronegócio brasileiro... 12 Gráfico 4. Variações anuais acumuladas do PIB do agronegócio referentes aos complexos agropecuários familiar e patronal (ano base: 1995)... 12 Gráfico 5. Participações de segmentos selecionados no PIB do agronegócio... 13 Gráfico 6. Participação dos quatro componentes que formam o agronegócio agrícola familiar e patronal do Brasil... 14 Gráfico 7. Participação dos quatro componentes que formam o agronegócio da pecuária familiar e patronal do Brasil... 16 Gráfico 8. Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995)... 16 Gráfico 9. Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995) 17 Gráfico 10. Participação das indústrias vinculadas à agricultura familiar do Brasil... 18 Gráfico 11. Participação das criações que formam o setor da pecuária familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995)... 19 Gráfico 12. Participação das criações que formam o setor da pecuária patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995)... 20 Gráfico 13. Participação das indústrias que formam o setor da pecuária familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995)... 21 Gráfico 14. Participação das indústrias que formam o setor da Pecuária Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995)... 22 Gráfico 15. Participações das macrorregiões no PIB total, no PIB do agronegócio e no PIB do agronegócio familiar 2004... 24 Gráfico 16. Participação do PIB do agronegócio das macrorregiões brasileiras no PIB total do País em 2004... 24 Gráfico 17. Importância do agronegócio na economia e composição do PIB do agronegócio, segundo complexos produtivos e segmentos macrorregiões e Brasil, 200426 Gráfico 18. Evolução da participação do PIB do agronegócio para as grandes regiões, segundo a característica da propriedade, 2002-2004... 41

Figuras Figura 1. Fluxo do processo de análise de acordo com a seqüência metodológica... 8 Figura 2. Distribuição regional do PIB dos produtos da lavoura... 27 Figura 3. Distribuição regional do PIB dos produtos da lavoura do segmento familiar.. 28 Figura 4. Distribuição regional do PIB do agronegócio para os produtos da pecuária... 29 Figura 5. Distribuição regional do PIB do agronegócio familiar para os produtos da pecuária... 30 Figura 6. Distribuição do PIB da produção agrícola e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 36 Figura 7. Distribuição do PIB da produção pecuária e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 37 Figura 8. Distribuição do PIB da indústria agrícola total e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 38 Figura 9. Distribuição do PIB da indústria pecuária total e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 39 Figura 10. PIB total, patronal e familiar do agronegócio, e participação do agronegócio patronal e familiar segundo os estados da federação, 2004... 41 Figura 11. Distribuição do PIB da produção agrícola familiar e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 43 Figura 12. Distribuição do PIB da produção pecuária familiar e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 44 Figura 13. Distribuição do PIB da indústria agrícola familiar e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 45 Figura 14. Distribuição do PIB da indústria pecuária familiar e localização dos 5 principais estados produtores, 2004... 46

1. A importância da agricultura familiar no Brasil O setor agropecuário familiar é sempre lembrado por sua importância na absorção de emprego e na produção de alimentos, voltada especialmente para o auto-consumo. Dada, ademais, sua menor produtividade do trabalho e incorporação tecnológica, tem-se que o setor focaliza-se mais nas funções de caráter social do que nas econômicas,. O presente trabalho vem mostrar que o segmento familiar da agricultura brasileira, ainda que muito heterogêneo, responde por importante parcela da produção agropecuária, apresentando, em importantes atividades, inter-relações estreitas com os segmentos industrial e de serviços, o que implica uma importante participação no produto gerado pelo agronegócio. Pretende-se, assim, agregar a esses papéis de freio do êxodo rural e de fonte de renda para as famílias rurais sua contribuição na geração de riqueza. Pretende-se, pois, evidenciar o quão fundamentais são as políticas voltadas para o segmento familiar de crédito, de assistência técnica, de pesquisa e de comercialização, as quais buscam incrementar a produtividade do trabalho e, por conseguinte, a sustentabilidade econômica desses agricultores. Há que se considerar, também, o fato de as forças de mercado serem, sabidamente, concentradoras e centralizadoras do capital, realizando-se as necessárias ações públicas que assegurem ao segmento familiar um ambiente propício ao seu desenvolvimento econômico. Esta é a necessidade mais premente, uma vez que esse setor produtivo se mostra significativamente desorganizado para promover seus próprios interesses de modo eficaz. Embora muitos setores produtivos sejam capazes de reunir suas empresas a fim de defender interesses comuns, no caso do setor agropecuário a consolidação de grupos que almejam ideais semelhantes é uma tarefa intrincada e às vezes inviável. O grande número de unidades de produção rural diverge em termos de tamanho, capital e tecnologia, o que torna diferentes as prioridades individuais. No caso das propriedades de menor porte, o problema é acentuado, dada a diversidade de sistemas e estratégias produtivas que determinam objetivos difusos e, por conseqüência, a diluição da força do setor em grupamentos locais. Associações e cooperativas possibilitam a permanência do sistema familiar em algumas regiões, mas são totalmente inexistentes em outras. No entanto, não cabe somente ao governo a promoção de medidas capazes de alterar os rumos da produção familiar. Devido à sua importância estratégica no que se diz respeito ao bem-estar geral da sociedade, também todas as forças da sociedade civil devem engajar-se em tal tarefa. A fim de melhorar o direcionamento de políticas públicas, com ênfase no setor agropecuário familiar, é primordialmente necessário traçar o perfil deste segmento. A delimitação do espaço ocupado por este setor dentro do amplo contexto da economia brasileira pode auxiliar na criação de alternativas que visem à manutenção, ou mesmo à melhoria, da feição familiar, buscando a tão almejada sustentabilidade desse tipo de ocupação.

Para avaliar com precisão a importância e a complexidade do segmento familiar devem-se considerar, além da agropecuária propriamente dita, as atividades a montante (antes da fazenda) e a jusante (depois da fazenda). as quais tendem a ser extremamente interdependentes do ponto de vista econômico, social e tecnológico. As políticas econômicas e setoriais, de um lado, e as estratégias das entidades representativas dos setores envolvidos, de outro, tenderão a ser mais eficazes sempre que levarem em conta tais interdependências. No cerne desta questão, este trabalho teve o objetivo de mensurar a importância não apenas da produção agropecuária familiar, mas também de todo o complexo envolvido o agronegócio familiar. Mensurou-se a participação do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio familiar no contexto geral da economia brasileira, delineando sua evolução na última década (1995 a 2005). Além disso, o trabalho avança apresentando dados para as regiões e para os estados em período recente, de 2002 a 2005. Este recorte territorial permite analisar como características regionais e estaduais estrutura fundiária, mercado de trabalho e de consumo, estrutura industrial, entre outras refletem-se na importância e no perfil do agronegócio e de seus segmentos em cada uma das regiões e estados. O presente livro encontra-se divido em cinco capítulos além de dois apêndices. O primeiro capítulo apresenta sucintamente o objetivo do trabalho descrevendo de forma objetiva a importância da agricultura familiar para a economia brasileira. O segundo capítulo apresenta a metodologia que está detalhada no apêndice metodológico (Apêndice A). O capítulo 3 apresenta os resultados do PIB do agronegócio familiar e patronal para o Brasil entre 1995 e 2005. O capítulo 4 analisa o desempenho do PIB do agronegócio familiar e patronal nos estados entre 2002 e 2004, buscando lançar mão sobre as diferenças regionais e a importância a agricultura familiar entre os estados brasileiros. Por último são apresentadas algumas considerações finais. No Apêndice B encontram-se as tabelas com os resultados do PIB para cada um dos estados entre 2002 e 2004.

2. Metodologia simplificada Conforme as bases teóricas empregadas neste trabalho, o agronegócio foi definido e mensurado para dois grandes complexos: agricultura e pecuária. Cada complexo, então, pôde ser dividido em quatro componentes principais: a) insumos; b) o próprio setor (agricultura e pecuária); c) processamento; e d) distribuição e serviços. Além da possibilidade de avaliar-se cada um dos quatro componentes dentro de cada um dos dois complexos, outra subdivisão relacionada com o objetivo principal da pesquisa a distinção entre o Agronegócio Familiar ou Patronal - torna possível multiplicar ainda mais as formas de desagregação das análises. A Figura 1 apresenta a seqüência lógica de desagregação da interpretação analítica dos resultados. O detalhamento metodológico é apresentado no Apêndice A, onde primeiramente é descrito o método empregado na obtenção das estimativas do valor bruto da produção (VPB), referente às propriedades familiares, dentro do horizonte temporal da análise. Posteriormente, são descritos: a) a construção das matrizes de insumo-produto; e b) o modelo usado para mensurar o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio familiar.

Fonte: A própria pesquisa. Figura 1. Fluxo do processo de análise de acordo com a seqüência metodológica 3. PIB do Agronegócio Familiar Este capítulo faz um delineamento da importância do Agronegócio Familiar na economia brasileira, para tanto o mesmo se divide em seis seções. A primeira analisa o

desempenho do PIB do agronegócio brasileiro entre 1995 e 2005, comparando-o com o PIB total do país. A segunda tem como ponto central o desempenho do agronegócio segundo os dois tipos, familiar e patronal. A terceira analisa os componentes e o desempenho dos componentes do complexo agrícola familiar e patronal do país. A quarta seção apresenta o comportamento dos componentes do complexo pecuário familiar e patronal. A quinta seção busca interpretar o comportamento da agricultura naquilo que diz respeito a produção e a indústria ligada à agricultura. A sexta e última seção analisa o desempenho dos componentes ligados a pecuária: produção e indústria. 3.1 Desempenho do PIB do agronegócio do Brasil No período de análise (1995 a 2005), o PIB do Brasil teve um crescimento acumulado de quase 25%, chegando a R$ 1.938 milhões de reais em 2005. Por sua vez, a evolução do agronegócio foi bem inferior, ainda que no triênio 2002-2004 tenha sido observado um desempenho bastante positivo, decorrente do contexto internacional, das boas condições climáticas e do bom patamar da taxa de câmbio (Gráfico 1). No período, o aumento em valores reais do PIB agronegócio acumulou pouco mais de 15%, o que implicou uma queda na sua participação no PIB total de 30,1% em 1995, para 27,9% em 2005. Chama a atenção que, embora em 2004 os crescimentos acumulados desde 1995 do PIB global e o do agronegócio tenham sido muito próximos, ocorreu, em 2005, um descolamento entre seus desempenhos. Efetivamente, em tal ano, enquanto a economia brasileira teve um crescimento de 2,3%, o agronegócio apresentou uma diminuição de seu PIB de 4,6%. 4 35% 3 25% 2 15% 1 5% -5% 30.1% 28.8% 27.6% 27.8% 28.1% 26.9% 27.1% 28.9% 30.6% 29.9% 27.9% Participação do Agronegócio no PIB - Brasil Variação acumulada do PIB do Agronegócio - Brasil Variação acumulada do PIB Nacional Ano Fonte: dados da pesquisa Gráfico 1. Evolução acumulada do PIB do agronegócio e sua participação no PIB total da economia brasileira.

É de se esperar que em 2006 se observe mais um desempenho de crescimento do PIB do Agronegócio abaixo do PIB nacional, quadro que decorre de alguns fatores presentes desde meados de 2004 na economia e na agricultura nacionais. O câmbio apreciado, que implica queda nos preços agrícolas no mercado interno, a estabilidade da área cultivada, a crise da aftosa e os problemas climáticos no Sul especialmente no Rio Grande do Sul nas últimas safras são os fatores que determinaram uma diminuição da participação do PIB do agronegócio no período. Como se pode observar, no biênio 1996-97 as taxas de crescimento do PIB foram negativas para o agronegócio nacional, sendo que nos três anos seguintes assistiu-se a um desempenho pífio, com o crescimento no ano 2000 retornando aos patamares de 1995. Em termos de setor, observam-se comportamentos diferentes, com o complexo agrícola apresentando-se, grosso modo, estagnado, salvo em 2000, em que a taxa de crescimento foi 2% negativa. O complexo pecuário, por outro lado, apresentou oscilações expressivas, com taxas negativas ao redor de 4%, no biênio 1996-97, e positivas de 4%, 6% e 5%, nos três anos seguintes. O crescimento do PIB do agronegócio no quadriênio 2001-2004, com destaque para os anos de 2002 e 2003, deveu-se, em grande medida, ao comportamento do complexo agrícola. É bem verdade, porém, que o segmento pecuário e suas cadeias produtivas tiveram, desde 1998, desempenhos positivos, à exceção do ano de 2005. Assim, o PIB do agronegócio só foi superar o valor de 1995 em 2001, tendo no triênio 2002-2004 um comportamento extremamente positivo, decorrente da recuperação do complexo agrícola (lavouras), em 2002, e o bom desempenho recorrente do segmento da pecuária. Já 2005, como antes afirmado, ocorreu uma queda de quase 5% no PIB do agronegócio, implicando em um retorno aos patamares do biênio 2001-2002. 3.2 O Desempenho do agronegócio familiar e patronal do Brasil O segmento familiar da agropecuária brasileira e as cadeias produtivas a ela interligadas responderam, em 2005, por 9, do PIB brasileiro, o que representa uma queda em relação a 2003, quando sua participação constituiu mais de 1 do PIB nacional (Gráfico 2). Tendo em vista que o conjunto do agronegócio nacional foi responsável, em 2005, por 27,9% do PIB, é patente o peso da agricultura familiar na geração de riqueza do país. Ao longo do período analisado, aproximadamente um terço do agronegócio brasileiro esteve condicionado à produção agropecuária familiar.

10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 69.9% 71.2% 72.4% 72.2% 71.9% 73.1% 72.9% 71.1% 69.4% 70.1% 72.1% 20.4% 19.5% 18.6% 18.7% 18.6% 18. 18.2% 19.6% 20.5% 20.3% 18.9% 9.7% 9.3% 9. 9.1% 9.4% 9. 8.8% 9.3% 10.1% 9.6% 9. Participação do PIB dos outros setores Participação do PIB do Agronegócio Patronal Participação do PIB do Agronegócio Familiar Gráfico 2. Participação do PIB do agronegócio familiar e patronal no PIB do Brasil Para o período de 1995 a 2005, no que diz respeito ao agronegócio brasileiro, em seus quatro complexos patronal pecuário, patronal agrícola, familiar pecuário e familiar agrícola, observa-se que, apesar de algumas oscilações, as proporções das participações não sofrem modificações muito drásticas (Gráfico 3). 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 19% 18% 18% 18% 19% 19% 19% 19% 18% 18% 18% 49% 49% 5 5 48% 47% 48% 49% 49% 5 5 11% 11% 11% 12% 12% 13% 13% 13% 12% 12% 13% 21% 21% 22% 21% 21% 2 2 2 21% 2 19% Participacão do PIB do Complexo Patronal Pecuário Participacão do PIB do Complexo Patronal Agricola Participacão do PIB do Complexo Familiar Pecuário Participacão do PIB do Complexo Familiar Agricola Gráfico 3. Participações dos complexos agropecuários familiar e patronal no PIB do agronegócio brasileiro Entre os complexos analisados, os agrícolas são aqueles que têm maior expressão, sendo que a produção patronal agrícola é a mais importante na composição do agronegócio brasileiro. No período em análise, o único setor a aumentar a sua participação foi o segmento familiar pecuário, elevando a sua participação de 11, em 1995 para 12,9% em 2005. Isto se

deve, basicamente, ao recorrente crescimento da produção animal advindo dos sistemas produtivos familiares no período 1997-2003, conforme o Gráfico 4. 4 35% 3 25% 2 15% 1 5% -5% -1-15% Variação Acumulada do PIB do Complexo Familiar Agrícola Variação Acumulada do PIB do Complexo Familiar Pecuário Variação Acumulada do PIB do Complexo Patronal Agrícola Variação Acumulada do PIB do Complexo Patronal Pecuário Fonte: dados da pesquisa Gráfico 4. Variações anuais acumuladas do PIB do agronegócio referentes aos complexos agropecuários familiar e patronal (ano base: 1995) A análise mais detalhada da composição do agronegócio nacional patronal e familiar mostra alterações importantes. No que se refere ao segmento familiar, há um crescimento nas participações do setor industrial de insumos e das cadeias ligadas à pecuária, contrabalançadas por perdas nas cadeias agrícolas setor e indústria de transformação. Por outro lado, a componente da distribuição não apresenta alterações expressivas, representando pouco mais de 1/3 do agronegócio no período, seja no segmento familiar seja no patronal. Já as alterações nas participações do segmento patronal são de menor envergadura, observandose, grosso modo, somente um incremento na parcela do setor de insumos não agropecuários (Gráfico 5). 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 35% 36% 35% 36% 36% 37% 37% 36% 35% 35% 36% 6% 6% 6% 6% 6% 6% 6% 6% 6% 6% 6% 22% 21% 21% 19% 19% 19% 18% 18% 17% 18% 18% 13% 12% 12% 13% 13% 14% 14% 14% 14% 14% 15% 21% 21% 21% 21% 2 18% 19% 2 21% 2 18% 4% 4% 5% 5% 5% 6% 6% 7% 7% 7% 7% Distribuição Pecuária Indústria Lavouras Indústria Pecuária Setor Lavouras Setor Insumos não Agropecuários

Gráfico 5. Participações de segmentos selecionados no PIB do agronegócio Cabe sublinhar que, por outro lado, enquanto no segmento familiar a pecuária e suas indústrias a jusante responderam por cerca de 1/5 do PIB, no caso patronal essa participação é inferior a 15% para o complexo agrícola setor e indústrias de transformação. Tal quadro é inverso no caso do setor agrícola e suas indústrias de transformação no segmento patronal esse conjunto responde por quase metade do PIB, sendo, no segmento familiar, responsável por pouco mais de 1/3. Tal diferença se deve principalmente às diferenças de participação das indústrias de transformação ligadas ao setor agrícola, dado que a participação das lavouras stricto sensu chega a ser, inclusive, superior à delas no segmento familiar.

3.3 Os componentes do complexo agrícola familiar e patronal do Brasil No Brasil, as participações percentuais referentes a cada um dos quatro componentes do agronegócio agrícola são substancialmente diferentes no segmento familiar ante o patronal. Por outro lado, as alterações ocorridas no período 1995-2005 foram similares entre os dois segmentos, com o ano 2005 não apresentando alterações expressivas nas parcelas de cada um dos componentes, em relação ao início do período. O Gráfico 6 ilustra este fato, mostrando a ascendência da indústria de processamento no segmento patronal, responsável por cerca de 4 do PIB do agronegócio agrícola. Já no agronegócio agrícola familiar, os setores agrícola stricto sensu, indústria a jusante e distribuição respondem, grosso modo, por parcelas semelhantes entre si. Vale ainda notar que ocorreu, tanto no segmento familiar como no patronal, um aumento da participação dos insumos, contrabalançado pela queda na parcela relativa à indústria de transformação. 10 Participacões dos componentes no PIB da Agricultura Familiar Participacões dos componentes no PIB da Agricultura Patronal 3.4% 3.6% 3.6% 3.8% 4.4% 4.5% 4.6% 4.8% 5. 5. 4.7% 3. 3.2% 3.1% 3.3% 3.7% 4. 4.1% 4.2% 4.6% 4.6% 4.1% 8 31.2% 31.3% 31.2% 32.5% 30.7% 29.2% 30.7% 32.5% 34.2% 32.3% 30. 20.7% 21. 20.9% 22.5% 21.2% 20.2% 21.8% 23.4% 25.4% 24.5% 21.7% 6 32.4% 33.8% 33.3% 33.4% 32.9% 32.5% 32.3% 32. 30.8% 31.2% 32. 32.2% 33.8% 33.3% 33.7% 34.2% 34.6% 34.3% 33.7% 33.5% 33.9% 34.6% 4 2 33.2% 31.4% 31.9% 29.9% 30.7% 31.7% 30.3% 29. 27.3% 28.8% 30.7% 43.9% 42. 42.6% 40.8% 42.2% 43.3% 41.9% 40.4% 39.3% 39.8% 42.3% Insumos não Agrícolas Setor: Agricultura Distribuição dos produtos Agrícolas Indústria de processamento dos produtos Agrícolas Gráfico 6. Participação dos quatro componentes que formam o agronegócio agrícola familiar e patronal do Brasil Como apontado, a indústria tem um peso muito maior no agronegócio da agricultura patronal (42,3% em 2005) do que no agronegócio da agricultura familiar (30,7% em 2005), o que é indicativo do menor grau de transformação por que passa a produção familiar agrícola. Com isso, as possibilidades de agregação de valor dentro da cadeia produtiva do universo familiar são reduzidas.

3.4 Os componentes do complexo pecuário familiar e patronal do Brasil Diferentemente do que ocorre no caso do complexo agrícola, as participações percentuais relacionadas a cada um dos componentes do agronegócio familiar pecuário são bem próximas daquelas relativas ao agronegócio patronal, como pode ser observado no Gráfico 7. Verifica-se também que o comportamento das séries ao longo do período é também semelhante. O setor de distribuição deteve a maior participação no complexo pecuário, com aproximadamente 39% e 4 do agronegócio da pecuária familiar e patronal, respectivamente. O inverso ocorreu com o setor de insumos, que teve participação próxima aos 1 nos agronegócios patronal e familiar. Apesar disso, o PIB do setor de insumos pecuários foi o que apresentou o maior crescimento no período: para o caso familiar, o aumento é da ordem de 115%, com a participação deste componente crescendo de 6, em 1995 para 9,5% em 2005. Ainda que em menor escala, o mesmo foi observado para o setor de insumos da pecuária patronal no caso, um crescimento de cerca de 8. Em contrapartida, o setor industrial não acompanhou os demais, perdendo importância no contexto geral, sendo que o PIB da indústria relacionada com a pecuária patronal apresentou variação negativa acumulada em 13%. 10 6. Participacões dos componentes no PIB da Pecuária Familiar 6.3% 6.4% 6.5% 7.5% 8. 8.1% 9.2% 9.6% 9.7% 9.5% Participacões dos componentes no PIB da Pecuária Patronal 7.1% 7.1% 7. 7.3% 8.6% 9.2% 9.2% 10.5% 11.1% 11.3% 11.5% 8 37.8% 36.5% 36.3% 36.4% 36.3% 36.6% 36. 36.3% 37.6% 37. 36.6% 32.4% 30.8% 31.1% 32.6% 33.2% 34.2% 33.9% 33.6% 34. 33.7% 34.1% 6 4 39.1% 39.3% 39.4% 40.1% 40.1% 39.9% 40. 39.1% 37.9% 38.1% 38.9% 41.7% 42.6% 42.7% 42.8% 41.6% 40.7% 40.9% 40.4% 40.2% 40.3% 39.5% 2 17.1% 17.9% 17.9% 17. 16.1% 15.5% 15.9% 15.4% 14.9% 15.2% 14.9% 18.8% 19.6% 19.2% 17.3% 16.6% 16. 16. 15.5% 14.7% 14.8% 14.9% Insumos não Pecuários Setor: Pecuária Distribuição dos produtos Pecuários Indústria de processamento dos produtos Pecuários Gráfico 7. Participação dos quatro componentes que formam o agronegócio da pecuária familiar e patronal do Brasil 3.5 A análise dos componentes agrícolas: setor e indústria O Gráfico 8 detalha o PIB do componente setor agrícola relativo à agricultura familiar. As barras exibem a participação das culturas de soja, milho, fumo e restantes, ao longo dos

anos, no total do PIB da agricultura familiar e cadeias produtivas. Já as linhas mostram as variações acumuladas, entre 1995 e 2005, para as culturas de soja, milho, fumo e demais culturas. Nesses gráficos, a interpretação das variações deve ser feita pelo eixo da direita. Enquanto a cultura do milho apresentou um decréscimo acumulado de quase 1/3 de seu valor em relação a 1995, as outras culturas encontraram-se no mesmo patamar daquele ano. excetuando-se a soja e fumo, os quais, nos anos seguintes, estiveram sempre em níveis superiores aos de 1995. Assim, a cultura do fumo, após oscilações no período de 1995 a 2002, teve um desempenho positivo em 2003-2004, particularmente nesse último ano, estabilizandose em 2005, quando acumulou um crescimento de quase 10 desde 1995. Já a soja apresentou desempenhos muito favoráveis no triênio 2001-2003, chegando a quase o triplo do valor produzido em 1995. Porém, nos dois últimos anos do período 2004-2005 ocorreram perdas expressivas de safras na agricultura familiar, o que implicou um ganho acumulado, nos últimos onze anos, ao redor de 6. 100. 80. 3.8% 4.4% 5.2% 4.2% 4.9% 4.7% 4.3% 4.4% 4. 6.3% 7.3% 5.7% 5.5% 4.7% 4.3% 5. 5.5% 5.1% 5.1% 5.9% 4.7% 4. 5.4% 6.5% 7.5% 6.9% 6.8% 7.1% 9.7% 10.6% 11.7% 9.8% 8.5% 85.1% 83.6% 84.6% 82.6% 83.3% 82.8% 80.9% 80. 78.4% 79.1% 80.1% 200. 150. Total Fumo Milho 60. 100. Soja Outras Culturas 40. 50. Lavoura: Outras Culturas 20. 0. Lavoura: Fumo Lavoura: Milho 0. -50. Lavoura: Soja Gráfico 8. Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995) Como se pode verificar no Gráfico 8, o setor de lavouras perdeu espaço no PIB do agronegócio familiar, sendo que apenas a cultura do fumo teve ampliada sua participação. Já o milho diminuiu sua participação de 1,2% para, tão-somente, 0,7%. As mesmas análises, quando geradas para o contexto patronal, mostram desempenhos um pouco mais positivos, com queda acumulada menor na cultura do milho e ganhos mais expressivos na soja e nas outras culturas. Observa-se importante diferença em relação à cultura da soja, cuja queda em termos de valor veio a ocorrer somente em 2005. Isto se deveu ao fato de que, enquanto a agricultura familiar produtora de soja, concentrada na região Sul, atravessou graves problemas climáticos na safra 2003-2004, a produção patronal,

com grande presença no Centro-Oeste e no Cerrado Nordestino, enfrentou dificuldades na safra do último ano do período, decorrentes, em grande medida, da apreciação cambial. Em termos de importância relativa das culturas, o que chama a atenção é que a cultura do fumo, praticamente inexistente no ambiente patronal, é relativamente expressiva nas propriedades familiares, devido principalmente à fumicultura no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, atividade desenvolvida em pequenas propriedades familiares. 100. 3.7% 4. 3.5% 2.9% 3.7% 3.8% 3.3% 3.5% 4. 3.1% 2.8% 5.9% 6.8% 8.5% 7.7% 8.7% 9.6% 10.6% 12.9% 13.5% 13.5% 11.3% 250. Total 80. 90.3% 89.1% 87.9% 89.3% 87.5% 86.5% 86. 83.5% 82.5% 83.3% 85.7% Fumo Milho 150. 60. Soja Outras Culturas 40. 50. Lavoura: Outras Culturas 20. Lavoura: Fumo Lavoura: Milho 0. -50. Lavoura: Soja Gráfico 9. Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995) As mudanças na indústria de processamento da produção agrícola familiar, ocorridas nos anos de 1995 a 2005, podem ser avaliadas pelo Gráfico 10, sendo evidente a perda de importância desse setor no PIB do agronegócio familiar. Efetivamente, em 1995, a indústria de transformação de produtos agrícolas respondia por 21,7% do PIB familiar, passando, em 2005, a representar 17,7%. Sobressaem, no segmento familiar, as indústrias de fumo, beneficiamento de produtos vegetais e o agregado outros produtos alimentares. Na verdade, a indústria fumageira foi uma das responsáveis pela diminuição da participação do setor de transformação agrícola no PIB do segmento familiar do agronegócio, apesar do crescimento ocorrido na produção primária. Por outro lado, a importância e o crescimento do agregado indústria de outros produtos alimentares são indicativos da maior diversificação produtiva dos agricultores familiares ocorrida no período.

10 8 6 4 2 27.4% 35.4% 34.6% 35. 33.9% 38.7% 38.7% 6.5% 41.4% 6.8% 7.3% 7.3% 16.6% 5.2% 16.8% 17.5% 6.4% 7.6% 6.2% 2. 5. 1.4% 6.5% 1.9% 2. 18.1% 1.5% 1.8% 7.8% 21.6% 2.1% 16. 14.9% 16.7% 18.2% 19.9% 19.8% 24.4% 27.8% 18.3% 3.8% 24.5% 18.2% 14.7% 8.1% 3.7% 14. 15.8% 15.3% 16.2% 12.2% 6.6% 3.6% 5.6% 11.9% 4.6% 5. 5.7% 4.7% 3.6% 4.1% 4.6% 2.2% 0.6% 0.6% 2.1% 3.5% 2.3% 2.3% 4. 1.8% 1.8% 9.1% 3.3% 1.9% 2.2% 2.5% 3.3% 3.8% 6.4% 3.2% 1.9% 1.6% 4.2% 2. 3. 1.4% 5.1% 1.7% 1.7% 6.8% 6.7% 7.2% 7.2% 7.3% 4. 5.1% 3.7% 3.5% 5.3% 5.1% 4.2% 4. 3.6% 4.5% 5.2% 5.2% 5.1% 3.4% 4.8% 4.7% Outros Produtos Alimentares Fabricação de Óleos Vegetais Fabricação de Açúcar Benef. Produtos Vegetais Ind do Fumo Indústria do Café Artigos do Vestuário Indústria Têxtil Álcool Celulose, Papel e Gráfica. Madeira & Mobiliário Gráfico 10. Participação das indústrias vinculadas à agricultura familiar do Brasil Nos setores industriais relacionados à produção vegetal, destacam-se, no segmento patronal, as indústrias ligadas ao reflorestamento (madeira e celulose), à cana-de-açúcar, (álcool e açúcar) e à soja (óleos vegetais). Em termos de desempenho total, assistiu-se, entre 1995 e 2005, a um crescimento da ordem de 15%, contrastante com a queda ocorrida no segmento familiar. Tiveram desempenhos bastante expressivos: a agroindústria sucroalcooleira, de beneficiamento do café e de beneficiamento de produtos vegetais. 3.6 A análise dos componentes pecuários: setor e indústria Os Gráficos 11 e 12 apresentam a participação do PIB das criações que formam o setor pecuário, relativamente ao agronegócio familiar e patronal, nessa ordem. Pelos dois gráficos, observa-se que tanto o setor pecuário tem importância distinta em cada um dos segmentos do agronegócio como a composição do setor é diferente. Enquanto a pecuária contribui, no segmento familiar, com cerca de 15% do PIB total, no patronal essa participação é inferior a 1, atingindo, último ano do período analisado(2005), 9%.

10 9 8 13. 13.6% 10. 12.5% 12.4% 12.7% 12.8% 12.4% 11.8% 11.8% 12.1% 10.9% 9.9% 9.8% 10.2% 10.1% 9.6% 10.1% 8.6% 8.5% 10. 10.1% 12 10 Outros Pecuária Suínos 8 Leite 7 6 32.1% 32.1% 30.4% 27.2% 24.9% 25.6% 23.8% 23.2% 24.2% 24.1% 24.8% 6 Bovinos 5 4 3 2 22.9% 23.1% 24.2% 24.8% 25.5% 23.7% 21.7% 28.5% 25.8% 26.9% 27.3% 27.8% 21.2% 22.7% 24.9% 22.6% 23.4% 22.5% 30.9% 32.9% 30.6% 30.5% 4 2 Aves Var. Acumulada do PIB: Outros Pecuária Var. Acumulada do PIB: Suínos Var. Acumulada do PIB: Leite 1-2 Var. Acumulada do PIB: Bovinos -4 Var. Acumulada do PIB: Aves Gráfico 11. Participação das criações que formam o setor da pecuária familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995) No segmento familiar, sobressaem a criação de aves e a produção leiteira, tendo-se observado, entre 1995 e 2005, um constante crescimento na participação da primeira e uma perda de importância da atividade leiteira. Destaca-se, também, a pecuária de corte, cuja contribuição para o setor pecuário foi da ordem de 2, no período. No agronegócio patronal (Gráfico 12), a bovinocultura de corte foi o setor predominante, tendo, inclusive, em alguns anos, ampliado sua participação. Juntamente com ela, também ganhou espaço a avicultura, em detrimento da bovinocultura de leite.

10 9 11.5% 12.1% 4.6% 4.5% 8.4% 4.8% 10.9% 10.8% 11.1% 11.2% 10.8% 10.2% 10.2% 9.6% 4.4% 4.3% 4.3% 4.7% 4.3% 4.5% 5.1% 5.4% 5 4 Outros Pecuária Suínos 8 7 6 5 19.6% 19.6% 17.1% 15.9% 15.2% 13.9% 13.8% 14.4% 14.3% 15.4% 43.8% 43.1% 47.4% 47.8% 48.6% 50.4% 51.4% 49.9% 47.1% 45.3% 43.8% 3 2 1 Leite Bovinos Aves 4 Var. Acumulada do PIB: Outros Pecuária 3-1 Var. Acumulada do PIB: Suínos 2 1 20.5% 19.9% 19.9% 19.7% 20.3% 21.2% 23.8% 25.1% 25.8% 19. 18.8% -2-3 Var. Acumulada do PIB: Leite Var. Acumulada do PIB: Bovinos -4 Var. Acumulada do PIB: Aves Gráfico 12. Participação das criações que formam o setor da pecuária patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995) Comparando-se os dois gráficos, nota-se que a importância do setor leiteiro, de aves e suínos é bem menor no segmento patronal do que no familiar. No que concerne ao crescimento acumulado, no período 1995-2005, a avicultura apresentou desempenho expressivo, tanto no segmento familiar como patronal a maior variação acumulada do PIB do setor pecuário em ambos os segmentos (agronegócio familiar e patronal) corresponde ao desenvolvimento da produção de aves. A suinocultura e a bovinocultura de corte apresentaram crescimento em ambos os segmentos, sendo que no familiar os ganhos foram superiores ou, no mínimo, próximos aos observados no segmento patronal. Efetivamente, enquanto no segmento familiar a criação de aves, a suinocultura e bovinocultura de corte tiveram aumentos acumulados de, respectivamente, 89%, 34% e 25% entre 1995-2005, no segmento patronal essas variações acumuladas foram de 46%, 36% e 16%. Os desempenhos da atividade leiteira e das outras criações foram bem mais modestos em ambos os segmentos, tendo mesmo ocorrido, no caso patronal, a diminuição dos valores produzidos. Em relação à indústria pecuária, representada pelos Gráficos 13 e 14, no segmento patronal ela é constituída principalmente pelas atividades industriais ligadas à bovinocultura de corte, ou seja, ao abate de bovinos e à fabricação de calçados. O abate de aves, a indústria de lacticínios e o abate de suínos têm uma participação expressiva na composição da indústria pecuária ligada ao segmento familiar, de modo que há predomínio desse segmento no conjunto dessas indústrias.

100. 9 Indústria de laticínios Abate de Suínos e Outros 80. 42.4% 45. 43.1% 43.1% 38.3% 40.6% 39.3% 37.3% 36.4% 34.3% 36.4% 6 Abate de Bovinos Abate de Aves 60. 3 Fabricação de calçados 40. 25.6% 25.4% 24.7% 24.1% 8.6% 9.9% 8.6% 9.1% 25.1% 11.3% 26.9% 24.7% 30. 29.2% 24.6% 25.9% 10.4% 10.3% 10.6% 11.5% 10.8% 10.6% Indústria: Indústria de laticínios Indústria: Abate de Suínos e Outros Indústria: Abate de Bovinos 20. 0. 15.7% 16. 17.2% 20.2% 20.4% 20.5% 23. 24.4% 21.2% 20.6% 18.6% 6.4% 6.3% 5.7% 4.5% 4.2% 4. 3.7% 3.5% 3.2% 3.1% 3.1% -3-6 Indústria: Abate de Aves Indústria: Fabricação de calçados Gráfico 13. Participação das indústrias que formam o setor da pecuária familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995) Em termos de crescimento acumulado no período, vale citar o desempenho positivo das indústrias ligadas ao abate de aves, de suínos e de bovinos, com destaque para a primeira no segmento familiar. Por outro lado, a fabricação de calçados e a indústria de laticínios refluíram bastante no caso do segmento patronal, chegando, no acumulado do período, a diminuir o valor produzido em mais de 45%, no caso dos calçados, e 1, nos lácteos. No segmento familiar, assistiu-se à estagnação da indústria de laticínios e a uma queda vertiginosa na indústria de calçados, cuja importância no segmento não é expressiva.

100. 15.1% 16.6% 16.5% 17.6% 16.3% 16.1% 15.9% 15. 14.5% 14. 15.5% 36% Indústria de laticínios Abate de Suínos e Outros 80. 10.7% 9.7% 8.9% 9.3% 11.8% 15. 9.9% 10.6% 12.9% 15.4% 11.9% 24% Abate de Bovinos 17.9% 16.6% 17.8% 12% Abate de Aves 60. 12. 11.1% 10.8% 20.7% 23.4% 23.9% 25.2% 26.6% 26.1% 26. 24.2% Fabricação de calçados 40. 12.3% 13.1% 13.2% 13.4% 14.9% 16.7% 16.8% 16.7% -12% Indústria: Indústria de laticínios Indústria: Abate de Suínos e Outros 20. 45.3% 46.8% 45.5% 39.4% 36.5% 36.1% 33.7% 31.7% 29.8% 28.2% 28.2% -24% -36% Indústria: Abate de Bovinos Indústria: Abate de Aves 0. -48% Indústria: Fabricação de calçados Gráfico 14. Participação das indústrias que formam o setor da Pecuária Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB (em relação ao ano base: 1995)