A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR NO BRASIL

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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR NO BRASIL Joaquim J.M. Guilhoto FEA - USP Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 São Paulo SP 05508-900 E-mail guilhoto@usp.br Fernando G. Silveira IPEA Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 São Paulo SP 05508-900 E-mail gaiger@ipea.gov.br Carlos R. Azzoni FEA-USP Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 São Paulo SP 05508-900 E-mail cazzoni@usp.br Silvio Massaru Ichihara ESALQ-USP Rua Schilling, 538, apto 193 Vila Hamburguesa São Paulo - SP 05302-001 E-mail smasichi@esalq.usp.br Agricultura Familiar Apresentação com presidente da sessão e presença de um debatedor 1

A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR NO BRASIL 1 Resumo Este trabalho teve por objetivo avaliar o nível de atividade do agronegócio da agricultura familiar no Brasil, para o período de 1995 a 2003. Através dos Modelos de Insumo- Produto foi possível estimar a importância do Produto Interno Bruto do agronegócio familiar no contexto nacional. Concretamente, os resultados demonstram que cerca de 1/3 do agronegócio brasileiro advém da produção agropecuária realizada pelos agricultores familiares, cabendo observar, também, que o desempenho recente da agropecuária familiar e de todo o complexo a ela articulada vem sendo bastante positivo, superando, inclusive, as taxas de crescimento relativas ao segmento patronal. PALAVRAS-CHAVE: Agronegócio Familiar, Produto Interno Bruto, Insumo- Produto 1 Este trabalho é baseado em pesquisa conduzida pela FIPE com o auxílio do NEAD/MDA - Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural e do IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. 2

A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR NO BRASIL 1- INTRODUÇÃO O papel das atividades agrícolas e do agronegócio em geral na economia brasileira sempre foi muito destacado, desde as origens, quando apenas esse tipo de atividade era desenvolvido no país, mesmo após a industrialização e, posteriormente, concomitante a terceirização acentuada da economia. A partir das aptidões naturais do clima e do solo, às quais se somam políticas econômicas de diversas dimensões, desde o financiamento até o desenvolvimento da pesquisa básica e aplicada, o agronegócio brasileiro é certamente um caso de sucesso, notadamente nos últimos anos. Esse sucesso, todavia, não é acompanhado pelo desenvolvimento de um conjunto de indicadores que possam exibir com precisão e detalhe a importância e a complexidade do setor, inclusive revelando aspectos, setores e dimensões que demandem intervenções adicionais por parte do poder público. O reconhecimento da abrangência com que se deve tratar o setor está presente desde os trabalhos pioneiros de Davis & Goldberg (1957), na década de 50, tendo-se procurado dar um tratamento amplo para as atividades voltadas para a produção de bens e serviços de origem agropecuária, através do conceito de complexo agroindustrial envolvendo, além da agropecuária propriamente dita, as atividades a montante (antes da fazenda) e a jusante (depois da fazenda). Essas atividades tendem a ser extremamente interdependentes do ponto de vista econômico, social e tecnológico. Portanto, as políticas econômicas e setoriais, de um lado, e as estratégias das entidades representativas dos setores envolvidos, de outro, tenderão a ser mais eficazes sempre que levarem em conta tais interdependências. O complexo agroindustrial é referido comumente também como o setor de agribusiness ou o agronegócio, termo que parece ter recebido aceitação agora generalizada. O acompanhamento das evoluções conjunturais e das tendências de longo prazo do agronegócio é fundamental para os setores público e privado. Na economia globalizada de hoje, a sobrevivência na agricultura e no agronegócio como um todo depende da informação de boa qualidade, atualizada e ágil, e que seja produzida com metodologia cientificamente comprovada. Medidas de correção de rumo podem ser sugeridas e tomadas em tempo oportuno de modo a prevenir desvios indesejáveis na produção, no emprego, e no desempenho comercial. Além disso, é necessário contar com boa informação para o país como um todo, assim como para suas principais regiões, de forma a se possuir uma abrangente avaliação do setor em escala nacional, que garanta o desejado equilíbrio regional e setorial no processo de desenvolvimento do agronegócio brasileiro. No caso brasileiro, a agricultura familiar é um segmento importante do complexo maior da economia do agronegócio. Sabe-se de sua importância social, seja pela geração de emprego e ocupação, seja pelo perfil dos produtos, basicamente destinados ao consumo alimentar nacional. É fundamental que também se tenha uma idéia de sua importância quantitativa no agronegócio e na economia brasileira como um todo. 3

Para tanto, este trabalho tem por objetivo avaliar o nível de atividade do agronegócio da agricultura familiar no Brasil. Além de estimar e analisar a evolução deste setor no período de 1995 a 2003. Nos dois tópicos a seguir são apresentados os materiais e métodos utilizados no estudo. Posteriormente, demonstra-se como o desempenho da agropecuária foi estimado no período de análise e no que serviu de base para balizar as estimativas do PIB do agronegócio familiar. Os últimos tópicos apresentam os resultados para o Brasil e as conclusões finais. 2- MATERIAL Este tópico apresenta resumidamente as bases de dados utilizadas nesta pesquisa. 2.1. A pesquisa Fao_Incra 2000 A parcela do PIB do Agronegócio que é tributária das cadeias produtivas articuladas aos agricultores familiares foi determinada, primeiramente, com base nos dados da pesquisa Novo Retrato da Agricultura Familiar: o Brasil redescoberto 2, na qual se identificou, dimensionou e caracterizou o segmento familiar da agricultura brasileira a partir dos dados do Censo Agropecuário de 1995/96. Essa pesquisa disponibiliza informações, desagregadas em nível municipal, acerca das principais atividades desenvolvidas cultivos e criações 3, do grau de integração aos mercados e do nível tecnológico dos agricultores familiares. Pode-se, portanto, avaliar a participação desse segmento na produção agropecuária stricto sensu, bem como de suas inter-relações com segmentos industriais a montante e a jusante da atividade primária. Esse conjunto de dados serve, portanto, de base para as estimativas do PIB da agricultura familiar. As informações acerca da importância do segmento familiar nas atividades agropecuárias, nas despesas e receitas, no valor dos insumos vegetais e animais e no investimento identificam o grau de interdependências com os setores industriais e comerciais. Além disso, a pesquisa fornece as caracterizações (tipologias) dos agricultores familiares, segundo níveis de renda, de utilização de trabalho assalariado, de especialização produtiva e de integração aos mercados. Efetivamente os agricultores familiares são discriminados em quatro grupos de renda, tendo por base o valor da remuneração da mão-de-obra, informação disponibilizada pela FGV/BR. Essa estratificação, assim como a relativa a tipologia segundo o uso de mãode-obra contratada, mostram-se pouco importantes para os cálculos do PIB da agricultura 2 O estudo foi realizado no âmbito do Convênio Fao-Incra, tendo sido publicado em fevereiro de 2000, sendo que a base de dados em meio digital encontra-se disponível no site do MDA. A partir de agora denominaremos esse estudo por pesquisa Fao-Incra. 3 A pesquisa avaliou 22 cultivos agrícolas, 4 produções animais e 3 conjuntos de atividades, este universo responde por 94,3% e 92,5% do VBP total e familiar, respectivamente. Os cultivos agrícolas avaliados são: algodão, arroz, banana, cacau, café, cana, cebola, coco, feijão, fumo, laranja, maça, mamão, mandioca, manga, maracujá, milho, soja, tangerina, tomate, trigo e uva; as produções animais: aves, pecuária leiteira e de corte e suinocultura; os conjuntos de atividades: extrativismo vegetal, silvicultura e produção de hortaliças. 4

familiar, sendo que outras duas caracterizações especialização produtiva e integração aos mercados, serão de grande valia para as estimativas. O grau de especialização é fundamental na seleção daqueles produtos, cuja evolução da produção (área, quantidade e valor) no período 1995/2003 deve ser analisada detalhadamente. Seu cálculo advém da relação percentual entre o valor da produção do produto principal e o valor bruto total da produção (VBP) do estabelecimento. O Grau de Integração estima os encadeamentos produtivos a jusante da atividade agropecuária familiar ao Mercado e é obtido pela relação percentual entre o valor da produção vendida e o valor total da produção (VBP) do estabelecimento. 2.2. Bases de dados periódicas Como a pesquisa Fao-Incra, embora bastante detalhada, relaciona-se apenas com o censo de 1995/96, fez-se necessário o uso de outras bases de dados para estimar a evolução do PIB da agricultura familiar no período 1995 a 2003. Os dados envolvidos nas estimativas e análises provêm das bases do IBGE, mais especificamente: a Produção Agrícola Municipal (PAM), a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), a Produção da Extração Vegetal e Silvicultura, a Pesquisa Trimestral de Abate de Animais e a Pesquisa Trimestral do Leite. As três primeiras têm periodicidade anual e contam com informações em nível municipal, as duas últimas tem abrangência estadual, com dados trimestrais. Com base nesses levantamentos e no mapeamento dos segmentos familiares, ou seja, da seleção de microrregiões e produtos caracteristicamente familiares (obtida com o uso dos resultados da pesquisa Fao-Incra), objetiva-se avaliar o desempenho da agricultura familiar e, portanto, do elo fundamental à estimativa do PIB do agronegócio de caráter familiar. 3. MÉTODOS Este trabalho é composto por duas análises que visam caracterizar o agronegócio familiar, através de uma análise descritiva do setor e da estimação de sua importância relativa frente ao Produto Interno Bruto do Brasil, no período de 1995 a 2003. 3.1. A análise descritiva As pesquisas anuais e trimestrais de acompanhamento das atividades agropecuárias, realizadas pelo IBGE, trazem dados municipais de quantidades produzidas, áreas plantadas/colhidas e valores brutos da produção dos principais cultivos e criações. Entretanto, não discriminam o comportamento das atividades agropecuárias segundo grupos de estabelecimentos, contando-se somente com os dados globais para cada município. Decidiu-se, assim, realizar um esquadrinhamento do segmento familiar, em nível de microrregiões e produtos, o que permitiu a discriminação do desempenho do segmento familiar, associando-o àquelas microrregiões e produtos em que sua presença é mais significativa e/ou selecionando, dentre o universo de microrregiões e produtos, os subconjuntos que apresentam contribuições expressivas à atividade agropecuária de caráter familiar. 5

Alguns resultados encontrados na análise descritiva foram, também, incorporados nas tabelas que alimentam o Modelo de Insumo-Produto desenvolvido para estimar o PIB do agronegócio familiar, descrito a seguir. 3.2. Estimação do PIB do agronegócio familiar pelo Modelo de Insumo-Produto A metodologia para o cálculo do PIB do agronegócio familiar baseia-se na mesma técnica empregada no cálculo do agronegócio em geral, conforme Furtuoso e Guilhoto (2003), fundamentando-se na intensidade da interligação para trás e para frente da agropecuária propriamente dita. Sendo, portanto, semelhante à estimativa do PIB do agronegócio total, o PIB do agronegócio familiar resulta da soma de quatro agregados principais: insumos, agropecuária, indústria e distribuição. O método envolve a idéia de se considerar, além da agropecuária propriamente dita, as atividades que alimentam e são alimentadas pela produção rural, considerando a interdependência existente entre as atividades de produção. No cálculo do PIB do Agregado I (Insumos para a Agricultura e Pecuária Familiares) são utilizadas as informações referentes aos valores dos insumos adquiridos pela Agricultura e Pecuária e que estão disponíveis nas tabelas de insumo-produto, estimadas de acordo com a metodologia apresentada em Guilhoto e Sesso Filho (2005). As colunas com os valores dos insumos são multiplicadas pelos respectivos coeficientes de valor adicionado (CVA i ). Para obter-se os Coeficientes do Valor Adicionado por setor (CVA i ) divide-se o Valor Adicionado a Preços de Mercado 4 (VA PM i ) pela Produção do Setor (Xi), ou seja, VAPMi CVAi = (1) Xi Desta forma, o problema de dupla contagem, comumente apresentado em estimativas do PIB do Agronegócio, quando se levam em consideração os valores dos insumos e não o valor adicionado efetivamente gerado na produção destes, foi eliminado. Tem-se então: PIBI k n = z i=1 ik CVA k = 1, 2 setor agricultura e pecuária familiares i = 1, 2,..., 43 setores restantes i (2) 4 O Valor Adicionado a preços de mercado é obtido pela soma do valor adicionado a preços básicos aos impostos indiretos líquidos de subsídios sobre produtos e subtração da dummy financeira, resultando na seguinte expressão: VAPM = VAPB + IIL DuF Sendo: VAPM = Valor Adicionado a Preços de Mercado VAPB = Valor Adicionado a Preços Básicos IIL = Impostos Indiretos Líquidos DuF = Dummy Financeira 6

onde: PIB Ik = PIB do agregado I (insumos) para agricultura (k=1) e pecuária (k=2) familiares z ik = valor total do insumo do setor i para a agricultura ou pecuária familiares CVA i = coeficiente de valor adicionado do setor i Para o Agregado I total tem-se: PIB = PIB + PIB I I 1 I 2 (3) onde: PIB I = PIB do agregado I e as outras variáveis são como definidas anteriormente. Para o Agregado II (propriamente, o Setor da Agricultura e Pecuária Familiares) consideram-se no cálculo os valores adicionados gerados pelos respectivos setores e subtraem-se dos valores adicionados destes setores os valores que foram utilizados como insumos, eliminando-se o problema de dupla contagem presente em estimativas anteriores do PIB do Agronegócio. Tem-se então que: n PIBII = VA z CVA k PM k ik i i= 1 (4) k = 1, 2 onde: PIB IIk = PIB do agregado II para agricultura familiar k = 1, pecuária familiar k = 2 e as outras variáveis são como as definidas anteriormente. Para o Agregado II total tem-se: onde: PIB = PIB + PIB II II1 II2 (5) PIB II = PIB do agregado II e as outras variáveis são como definidas anteriormente. Para a definição da composição do Agregado III, as Indústrias de Base Agrícola, foram adotados vários indicadores, como por exemplo: a) os principais setores demandantes de produtos agrícolas, obtidos através da estimação da matriz de insumoproduto; b) as participações dos insumos agrícolas no consumo intermediário dos setores agroindustriais; e c) as atividades econômicas que efetuam a primeira, segunda e terceira transformações das matérias-primas agrícolas. Os Agregados II e III, portanto, expressam a renda ou o valor adicionado gerado por esses segmentos. No caso da estimação do Agregado III (Indústrias de Base Agrícola), adota-se o somatório dos valores adicionados pelos setores agroindustriais subtraídos dos valores adicionados destes setores que foram utilizados como insumos do Agregado II. 7

Como mencionado, anteriormente, esta subtração visa eliminar a dupla contagem presente em estimativas anteriores do PIB do Agronegócio, ou seja: onde: PIB k III k = 1, 2 = q k ( VA z CVA ) PM PIB IIIk = PIB do agregado III para agricultura (k = 1) e pecuária (k = 2) familiares e as outras variáveis são como definidas anteriormente. Para o Agregado III total tem-se: q qk q (6) onde: PIB = PIB + PIB III III1 III2 (7) PIB III = PIB do agregado III e as outras variáveis são como as definidas anteriormente. No caso do Agregado IV, referente à Distribuição Final, considera-se para fins de cálculo o valor agregado dos setores relativos ao Transporte, Comércio e segmentos de Serviços. Do valor total obtido, destina-se ao Agronegócio Familiar apenas a parcela que corresponde à participação dos produtos agropecuários e agroindustriais na demanda final de produtos. A sistemática adotada no cálculo do valor da distribuição final do agronegócio industrial pode ser representada por: onde: DFG IIL PI = DFD (8) DF DF VATPM + VACPM + VASPM = MC (9) PIB IV k = 12, k = MC * DF k + q k DFD DFG = demanda final global IIL DF = impostos indiretos líquidos pagos pela demanda final PI DF = produtos importados pela demanda final DFD = demanda final doméstica VAT PM = valor adicionado do setor transporte a preços de mercado VAC PM = valor adicionado do setor comércio a preços de mercado VAS PM = valor adicionado do setor serviços a preços de mercado MC = margem de comercialização DF k = demanda final da agricultura (k=1) e pecuária (k=2) DF q = demanda final dos setores agroindustriais PIB IVk = PIB do agregado IV para agricultura (k=1) e pecuária (k=2) DF q (10) 8

Para o Agregado IV total tem-se: PIB = PIB + PIB IV IV1 IV2 (11) onde: PIB IV = PIB do agregado IV O PIB total do Agronegócio Familiar é dado pela soma dos seus agregados, ou seja: PIB = PIB + PIB + PIB + PIB k = 1, 2 AgrFamiliar I II III IV k k k k k (12) onde: PIB AgrFamiliar k = PIB do agronegócio familiar para agricultura (k=1) e pecuária (k=2) Para o Agronegócio familiar total tem-se: onde: PIB AgrFamiliar PIB = PIB + PIB (13) AgrFamiliar AgrFamiliar AgrFamiliar = PIB do agronegócio familiar 1 2 4. RESULTADOS 4.1. Resultados da análise descritiva Segundo os dados da pesquisa Fao-Incra, o segmento familiar apresenta participações similares nos valores brutos da produção total, animal e vegetal, sendo, por outra parte, responsável por parcelas menores nas receitas e, principalmente, nas despesas agrícolas. No que se refere às despesas nota-se que na aquisição de insumos vegetais o segmento familiar sua participação é inferior às observadas para as despesas totais e nos gastos com insumos animais. É menor, também, sua parcela nos investimentos quando comparada a sua importância na produção agropecuária, nas receitas e nos dispêndios. A agricultura familiar respondeu por 38% do VBP da agricultura brasileira, em 1995, destacando-se, particularmente, na fumicultura, nos cultivos da mandioca, do feijão, da tangerina e da cebola, na horticultura e no extrativismo vegetal, nos quais é responsável por mais de 6 do valor bruto da produção. O segmento familiar apresenta, ainda, expressiva contribuição na suinocultura, na bovinocultura leiteira, nos cultivos de trigo e de milho e, mais uma vez, em produtos da fruticultura banana, uva, maracujá, coco e manga e da horticultura tomate, cuja participação no VBP situa-se entre 4 e 6. Pequenas participações são observadas em algumas atividades, cabendo, destacar, a silvicultura, a pecuária de corte e os cultivos da cana-de-açúcar e do café, que juntos respondem por 1/3 do VBP da agropecuária nacional. 9

Observa-se, ademais, que dentre as dez principais atividades agropecuárias, somente a cana de açúcar e a rizicultura não se encontram presentes na mesma situação no segmento familiar. Nesse, por outro lado, encontram-se a fumicultura e o cultivo do feijão. É verdade, ainda, que quando se considera a estrutura produtiva do segmento não familiar patronal as discrepâncias não se mostram tão grandes, destacando-se, dentre as atividades patronais, tão somente a silvicultura e, em menor grau, o cultivo da laranja. As diferenças encontram-se na maior diversidade produtiva do segmento familiar, pois, enquanto, no subconjunto patronal, cinco produtos são responsáveis por 2/3 do VBP, no familiar é, para tanto, necessário agregar as dez principais atividades. Para avaliar o comportamento da produção agropecuária de forma mais detalhada. Realizou-se a seleção das microrregiões mais importantes associando-se três critérios de seleção, a saber: a) participação do segmento familiar no VBP do produto superior à média nacional; b) contribuição do VBP do produto no VBP total da microrregião superior ao observado nacionalmente; c) participação da região no VBP familiar do produto é superior a sua contribuição para o VBP familiar global. Fica patente que dois dos critérios têm por parâmetros a relação com a média nacional (participação do segmento familiar e contribuição do produto no VBP familiar) e o outro o cotejamento entre a importância da microrregião no VBP do produto vis-á-vis sua participação no VBP familiar global. Evidentemente essas relações podem e serão mais bem definidas, no sentido de reforçar a importância seja do segmento familiar seja da importância da atividade na microrregião. De todo modo, os dados indicam que essa tipologia permite discriminar microrregiões que devem, para cada um dos produtos, serem analisadas de maneira mais detalhada. Concretamente, relativamente poucas microrregiões, para cada uma das atividades, são responsáveis por parcelas expressivas do VBP familiar com o produto. Assim, considerando os dez principais produtos da agropecuária familiar, com no máximo 26% das microrregiões produtoras têm-se no mínimo 53% do VBP familiar com o produto, desconsiderando-se as pecuária de corte e leiteira. Nessas atividades, a cobertura das regiões selecionadas é menor, especialmente, no caso da produção leiteira. Concretamente, 25% e 38% das principais microrregiões familiares dedicadas a produção leiteira e a pecuária de corte respondem por menos da metade do VBP familiar nessas atividades. Nota-se, ademais, que o segmento familiar é muito disseminado no território nacional, pois ficariam de fora 46% do VBP familiar se considerássemos para avaliação somente as microrregiões discriminadas por essa metodologia. 4.2. Resultados da avaliação do PIB do Agronegócio Familiar, 1995 a 2003 Conforme as bases teóricas empregadas neste trabalho, as análises vinculadas ao Produto Interno Bruto (PIB) podem ser desenvolvidas em diversos níveis de desagregação. Isso, porque, o Agronegócio no Brasil foi definido e mensurado para dois grandes complexos: Agricultura e Pecuária, sendo que cada complexo pode ser dividido em quatro 10

componentes principais: a) insumos; b) o próprio setor; c) processamento; e d) distribuição e serviços. Além da possibilidade de se avaliar cada um dos quatro componentes dentro de cada um dos dois complexos, outra subdivisão relacionada com o objetivo principal da pesquisa - a distinção entre o Agronegócio Familiar ou Patronal - torna possível multiplicar ainda mais as formas de desagregação das análises. 4.2.1. Desempenho do PIB do Brasil No período de análise, de 1995 a 2003, conforme pode ser visto no gráfico 4.1, o PIB do Brasil teve um crescimento acumulado de quase 16%, chegando a R$ 1.556 milhões de reais em 2003. Por sua vez o agronegócio, apesar de apresentar taxas de crescimento anuais baixas, ou mesmo negativas até 2001, tem uma boa recuperação em 2002 e 2003 por conta de um ambiente internacional e nacional favoráveis ao seu crescimento, chegando desta forma a um crescimento acumulado de quase 18% ao final da série. Desta forma, Gráfico 4.2, o agronegócio recupera e supera a sua participação no PIB do Brasil, observada no início da série, ou seja, de uma participação de 30,1% no PIB do Brasil de 1995, passa para uma de 30,6% em 2003. O complexo das lavouras no agronegócio até 2001 apresentou uma tendência de participação declinante no agronegócio, passando de 71,5% em 1997 para 67,7% em 2001 (gráfico 4.3). Entre 2001 e 2003 devido ao excelente desempenho no crescimento das lavouras, que por sua vez puxou o crescimento do agronegócio como todo, esta participação aumento para 69% em 2002 e 69,7% em 2003, porém não conseguindo ainda recuperar a participação observada em no começo da série (70,2% em 1995). PIB Nacional (Milhões R$). 1600000 1500000 1400000 1300000 1200000 1100000 1000000 2 15% 1 5% -5% PIB Nacional em milhões Var. acumulada PIB-Brasil Variação acumulada do PIB do Agronegócio - Brasil Gráfico 4.1. Evolução do PIB Total e do Agronegócio do Brasil 11

55% 45% 35% Participação do Agronegócio no PIB - Brasil 25% 15% 5% 30.1% 28.8% 27.6% 27.8% 28.1% 26.9% 27.1% 28.9% 30.6% Variação acumulada do PIB do Agronegócio - Brasil Variação acumulada do PIB Nacional -5% Ano Gráfico 4.2. Evolução do PIB do agronegócio do Brasil e Participação do agronegócio no Brasil 10 8 6 4 2 29.8% 29.3% 28.5% 29.6% 30.8% 32.3% 32.2% 31. 30.3% 70.2% 70.7% 71.5% 70.4% 69.2% 67.7% 67.8% 69. 69.7% 25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0-5.0-10.0 Participação do complexo pecuário no PIB do agronegócio Participação do complexo agrícola no PIB do agronegócio Var. Acumulada do PIB do complexo agrícola Var. Acumulada do PIB do complexo pecuário Gráfico 4.3. Evolução do PIB do complexo agrícola e pecuário e Participação do PIB do agronegócio agrícola dentro do Agronegócio do Brasil 4.2.2. O Desempenho do Agronegócio Familiar e Patronal do Brasil O segmento familiar da agropecuária brasileira e as cadeias produtivas a ela interligadas responderam, em 2003, por 10,1% do PIB brasileiro (gráfico 4.4), o que equivale a R$ 157 bilhões em valores daquele ano. Tendo em vista que o conjunto do agronegócio nacional foi responsável, nesse ano, por 30,6% do PIB, fica evidente o peso da agricultura familiar na geração de riqueza do país. Concretamente, cerca de 1/3 do agronegócio brasileiro é tributário da produção agropecuária realizada pelos agricultores familiares, cabendo observar, ademais, que o desempenho recente da agropecuária familiar e do agronegócio a ela articulada vem sendo bastante positivo, superando, inclusive, as taxas de crescimento relativas ao segmento patronal. 12

10 9 8 7 6 5 4 3 2 7 71% 72% 72% 72% 73% 73% 71% 69% 2 19% 19% 19% 19% 18% 18% 2 21% Participação do PIB dos outros setores Participação do PIB do Agronegócio Patronal Participação do PIB do Agronegócio Familiar 1 1 9% 9% 9% 9% 9% 9% 9% 1 Gráfico 4.4. Participação do PIB do Agronegócio Familiar e Patronal no PIB do Brasil No período de 1995 a 2003, quando se abre o agronegócio brasileiro nos quatro complexos que o compõem, patronal pecuário e agrícola, e familiar pecuário e agrícola, observa-se que apesar das oscilações, as proporções das participações de dois destes caem, um se matem relativamente constante, e a exceção com crescimento na participação, é o complexo familiar pecuário (gráfico 4.5 e 4.6). O complexo familiar agrícola diminui a sua participação de 21,2% em 1995 para 20,6% em 2003, o complexo patronal agrícola fica ao redor dos 49,, e o complexo patronal pecuário aumenta a sua participação de 11, em 1995 para 12,3% em 2003. 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 19% 18% 18% 18% 19% 19% 19% 19% 18% 49% 49% 5 5 48% 47% 48% 49% 49% 11% 11% 11% 12% 12% 13% 13% 13% 12% 21% 21% 22% 21% 21% 2 2 2 21% Participacão do PIB do Complexo Patronal Pecuário Participacão do PIB do Complexo Patronal Agricola Participacão do PIB do Complexo Familiar Pecuário Participacão do PIB do Complexo Familiar Agricola Gráfico 4.5. Participações do PIB dos Complexos Agropecuários Familiar e Patronal no PIB do Brasil 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 Variação Acumulada do PIB do Complexo Familiar Agrícola Variação Acumulada do PIB do Complexo Familiar Pecuário Variação Acumulada do PIB do Complexo Patronal Agrícola Variação Acumulada do PIB do Complexo Patronal Pecuário -5.0-10.0 Gráfico 4.6.Variações anuais acumuladas do PIB dos Complexos Agropecuários Familiar e Patronal do Brasil 13

4.2.3. Os Complexos do Agronegócio Familiar e Patronal do Brasil O PIB do agronegócio resulta da agregação do PIB do Complexo Agrícola com o PIB do Complexo Pecuário, sendo que cada um é formado por quatro componentes principais - insumo, setor, indústria e distribuição. Nos tópicos a seguir é apresentada a evolução da participação de cada componente dentro do PIB de cada complexo, com ênfase na separação entre o que é de origem familiar e patronal, para o Brasil como um todo. 4.2.3.1. Os Componentes do Complexo Agrícola Familiar e Patronal do Brasil No Brasil, as quantias percentuais relacionadas com cada um dos quatro componentes do agronegócio familiar agrícola são diferentes àquelas referentes ao agronegócio patronal. Além disso, no decorrer dos anos, percebem-se mudanças na composição do agronegócio da agricultura familiar e patronal. O Gráfico 4.7 ilustra este fato. Em geral, para os segmentos familiar e patronal observa-se um aumento da participação dos insumos e do setor agricultura, uma queda na participação da indústria de transformação, e um aumento na participação do setor de distribuição no caso da agricultura familiar e uma queda na patronal. 3.4% Participacões dos componentes no PIB no PIB - FAMILIAR - BR Participacões dos componentes no PIB no PIB - PATRONAL - BR 3.6% 3.6% 3.8% 4.4% 4.5% 4.6% 4.8% 5. 3. 3.2% 3.1% 3.3% 3.7% 4. 4.1% 4.2% 4.6% 9 75% 31.2% 31.3% 31.2% 32.5% 30.7% 29.2% 30.7% 32.5% 34.2% 20.7% 21. 20.9% 22.5% 21.2% 20.2% 21.8% 23.4% 25.4% 6 32.4% 33.8% 33.3% 33.4% 32.9% 32.5% 32.3% 32. 30.8% 45% 32.2% 33.8% 33.3% 33.7% 34.2% 34.6% 34.3% 33.7% 33.5% 3 15% 33.2% 31.4% 31.9% 29.9% 30.7% 31.7% 30.3% 29. 27.3% 43.9% 42. 42.6% 40.8% 42.2% 43.3% 41.9% 40.4% 39.3% Insumos não Agrícolas Setor: Agricultura Distribuição dos produtos Agrícolas Indústria de processamento dos produtos Agrícolas Gráfico 4.7.Participação dos 4 componentes que formam o agronegócio da agricultura familiar e patronal do Brasil Na sua composição, a indústria tem um peso muito maior no agronegócio da agricultura patronal (39,3% em 2003) do que no agronegócio da agricultura familiar (27,3% em 2003), sendo este fato uma indicação que boa parte da produção familiar não passa por um processo de transformação, reduzindo desta forma a possibilidade de 14

agregação de valor dentro da cadeia produtiva. Isto é confirmado pelo participação do setor agrícola no agronegócio, que foi de 34,2% em 2003, para o agronegócio da agricultura familiar, e de 25,4% para o agronegócio da agricultura patronal. 4.2.3.2. Os Componentes do Complexo Pecuário Familiar e Patronal do Brasil Diferente do complexo agrícola, as quantias percentuais, relacionadas com cada um dos quatro componentes do agronegócio familiar pecuário, são bem próximas daquelas referentes ao agronegócio patronal como pode ser observado no gráfico 4.8. A maior participação no complexo pecuário fica por conta do setor de distribuição, com aproximadamente 38% do agronegócio da pecuária familiar e 4 do agronegócio da pecuária patronal. Nota-se a baixa participação do setor de transformação, com participação ao redor de 15% tanto no complexo patronal como familiar. No caso de insumos, tem-se uma participação maior no caso patronal (11,1% em 2003) que no familiar (9,6% em 2003). No caso do setor primário da pecuária, a participação no complexo familiar é um pouco maior (37.6% em 2003) do que no patronal (34% em 2003). 4.2.4. O Setor e a Indústria Agrícola do Brasil Os dois gráficos seguintes (Gráfico 4.9 e Gráfico 4.10) detalham o PIB do componente Setor Agrícola, demonstrando a participação das culturas de soja, milho, fumo e das culturas restantes. Pelos dois gráficos pode-se se constatar que os percentuais do PIB gerado pela soja são maiores na agricultura patronal (13,5% em 2003) que na familiar (11.7% em 2003). No caso do item outras culturas, referente à agricultura patronal, os valores estão entre 4 e 5 pontos percentuais maiores, devido à diferença ocasionada pela menor produção percentual de milho (cerca de 2 pontos percentuais em 2003) e irrelevância, também, percentual da fumicultura nas propriedades patronais. Participacões dos componentes no PIB no PIB - FAMILIAR - BR Participacões dos componentes no PIB no PIB - PATRONAL - BR 6. 6.3% 6.4% 6.5% 7.5% 8. 8.1% 9.2% 9.6% 7.1% 7.1% 7. 7.3% 8.6% 9.2% 9.2% 10.5% 11.1% 9 75% 37.8% 36.5% 36.3% 36.4% 36.3% 36.6% 36. 36.3% 37.6% 32.4% 30.8% 31.1% 32.6% 33.2% 34.2% 33.9% 33.6% 34. 6 45% 3 39.1% 39.3% 39.4% 40.1% 40.1% 39.9% 40. 39.1% 37.9% 41.7% 42.6% 42.7% 42.8% 41.6% 40.7% 40.9% 40.4% 40.2% 15% 17.1% 17.9% 17.9% 17. 16.1% 15.5% 15.9% 15.4% 14.9% 18.8% 19.6% 19.2% 17.3% 16.6% 16. 16. 15.5% 14.7% Insumos não Pecuários Setor: Pecuária Distribuição dos produtos Pecuários Indústria de processamento dos produtos Pecuários Gráfico 4.8. Participação dos 4 componentes que formam o agronegócio da pecuária familiar e patronal do Brasil 15

A produção de fumo corresponde a 4% do PIB médio do setor agrícola familiar e 1,5% quando considerado o PIB total do complexo agrícola. Através das linhas, nos gráficos 4.9 e 4.10, são expostas as variações acumuladas do PIB das culturas de soja, milho, fumo e outras culturas. Nesses gráficos a interpretação das variações deve ser realizada pelo eixo da direita. 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 3.8% 4.4% 5.2% 4.2% 4.9% 4.7% 4.3% 4.4% 4. 5.7% 5.5% 4.7% 4.3% 5. 5.5% 5.1% 5.1% 5.9% 5.4% 6.5% 7.5% 6.9% 6.8% 7.1% 9.7% 10.6% 11.7% 85.1% 83.6% 82.6% 84.6% 83.3% 82.8% 80.9% 80. 78.4% 200. 150. 100. 50. 0. -50. Outras Culturas Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Soja Soja Fumo Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Fumo Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Outras Culturas Gráfico 4.9. Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura Familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 3.7% 4. 3.5% 2.9% 3.7% 3.8% 3.3% 3.5% 4. 5.9% 6.8% 8.5% 7.7% 8.7% 9.6% 10.6% 12.9% 13.5% 90.3% 89.1% 87.9% 89.3% 87.5% 86.5% 86. 83.5% 82.5% 250. 200. 150. 100. 50. 0. -50. Outras Culturas Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Soja Soja Fumo Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Fumo Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Outras Culturas Gráfico 4.10. Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB Comparando os dois tipos de agricultura (familiar e patronal) nota-se que as variações do PIB das culturas, com exceção do fumo são parecidas. A cultura da soja é a 16

que apresenta o maior crescimento nos período de análise, tanto para a agricultura familiar (172%) quanto para a patronal (231%). As mudanças ocorridas na indústria de processamento da produção agrícola familiar, decorrentes no ano de 1995 a 2003, podem ser avaliadas pelo gráfico 4.11. 9 75% 6 45% 3 15% 18.5% 21.9% 22.1% 27.4% 35.4% 34.6% 38.7% 38.7% 6.5% 41.4% 6.8% 7.3% 7.3% 16.6% 16.8% 17.5% 6.4% 7.6% 5. 6.5% 18.1% 7.8% 21.6% 16. 14.9% 16.7% 18.2% 24.4% 27.8% 18.3% 3.8% 24.5% 18.2% 14.7% 8.1% 3.7% 14. 15.8% 12.2% 6.6% 3.6% 5.6% 11.9% 4.6% 5. 5.7% 4.7% 3.6% 2.2% 3.5% 9.1% 3.3% 2.1% 2.3% 2.3% 4. 6.4% 3.2% 1.9% 2.2% 2.5% 1.9% 1.6% 4.2% 2. 5.1% 1.4% 3. 1.7% 1.7% 6.8% 6.7% 7.2% 4. 3.7% 5.1% 3.5% 5.3% 5.1% 4.2% 4. 3.6% 4.5% 5.2% 5.2% 5.1% 3.4% Outros Produtos Alimentares Fabricação de Óleos Vegetais Fabricação de Açúcar Benef. Produtos Vegetais Ind do Fumo Indústria do Café Artigos do Vestuário Indústria Têxtil Álcool Celulose, Papel e Gráfica. Madeira & Mobiliário Gráfico 4.11. Participação das indústrias vinculadas à agricultura familiar do Brasil Nos setores industriais ligados à produção vegetal, sobressaem-se, no segmento patronal, as ligadas ao reflorestamento, à cana-de-açúcar, e à soja. Por outro lado, no agronegócio ligado aos agricultores familiares o grande grupo dos outros produtos alimentares abrangeu, em 2003, mais de 4 de todo o PIB da Indústria das Lavouras do segmento familiar. Ora, isso parece ser indicativo da maior diversificação produtiva dos agricultores familiares. Há, contudo, que sublinhar a importância das indústrias do fumo e, em menor grau, de fabricação de óleos vegetais e de beneficiamento de produtos vegetais, no caso do segmento familiar. No patronal, destacam-se, também, a produção de álcool, a fabricação de açúcar e a cadeia têxtil-vestuário. 4.2.5. O Setor e a Indústria Pecuária do Brasil Os Gráficos 4.12 e 4.13 apresentam a participação do PIB das criações no Setor Pecuário, relativas ao Agronegócio Familiar e Patronal. Pelos dois gráficos observa-se que as parcelas percentuais determinadas para cada tipo de criação são diferentes. A criação de aves é responsável pela maior parcela do PIB do agronegócio pecuário familiar (33% em 2003), seguida por leite (24,2% em 2003), e bovinos (22,6% em 2003). No agronegócio patronal, a bovinocultura de corte assume a maior parcela de representatividade, 47,1% em 2003. A importância do setor leiteiro, de aves e suínos é bem menor quando comparada a do universo familiar. A maior variação acumulada do PIB do 17

setor pecuário tanto para o agronegócio familiar como patronal corresponde ao desenvolvimento da produção de aves. 10 120. Outros Pecuária 9 8 7 13. 13.6% 9.9% 9.8% 32.1% 32.1% 10. 10.9% 30.4% 12.5% 12.4% 12.7% 12.8% 12.4% 11.8% 10.2% 10.1% 9.6% 10.1% 8.6% 8.5% 27.2% 24.9% 25.6% 23.8% 23.2% 24.2% 100. 80. Suínos Leite Bovinos 6 60. Aves 5 4 3 2 1 24.9% 22.6% 24.2% 24.8% 25.5% 22.9% 23.1% 23.7% 21.7% 30.9% 32.9% 25.8% 26.9% 28.5% 27.3% 27.8% 21.2% 22.7% 40. 20. 0. -20. -40. Var. Acumulada do PIB: Outros Pecuária Var. Acumulada do PIB: Suínos Var. Acumulada do PIB: Leite Var. Acumulada do PIB: Bovinos Var. Acumulada do PIB: Aves Gráfico 4.12. Participação das criações que formam o setor da Pecuária Familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 10 9 8 11.5% 12.1% 8.4% 10.9% 10.8% 11.1% 11.2% 10.8% 10.2% 4.8% 4.6% 4.5% 4.4% 4.3% 4.3% 4.7% 4.3% 4.5% 19.6% 19.6% 20.5% 17.1% 15.9% 15.2% 13.9% 13.8% 14.4% 50. 40. 30. Outros Pecuária Suínos Leite 7 6 43.8% 43.1% 47.4% 47.8% 48.6% 50.4% 51.4% 49.9% 47.1% 20. 10. Bovinos Aves 5 4 3 2 1 20.5% 19.9% 19.9% 19.7% 20.3% 19. 18.8% 21.2% 23.8% 0. -10. -20. -30. -40. Var. Acumulada do PIB: Outros Pecuária Var. Acumulada do PIB: Suínos Var. Acumulada do PIB: Leite Var. Acumulada do PIB: Bovinos -50. Var. Acumulada do PIB: Aves Gráfico 4.13 Participação das criações que formam o setor da Pecuária Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB Na indústria pecuária, gráficos 4.14 e 4.15, no segmento patronal dominam as relacionadas à pecuária, ou seja, o abate de bovinos e a fabricação de calçados. O abate de aves, a indústria de lacticínios, o abate de suínos são os ramos industriais que exibem uma participação expressiva na composição da indústria pecuária ligada ao segmento familiar e que, ademais, se reflete em um predomínio desse segmento no conjunto dessas indústrias. 18

10 100. Indústria de laticínios 9 80. Abate de Suínos e Outros 8 42.4% 45. 43.1% 43.1% 38.3% 40.6% 39.3% 37.3% 36.4% 60. Abate de Bovinos 7 6 25.6% 24.1% 25.4% 24.7% 26.9% 24.6% 25.9% 24.7% 25.1% 40. Abate de Aves Fabricação de calçados 5 4 3 2 1 10.4% 10.3% 10.6% 9.9% 8.6% 8.6% 9.1% 15.7% 16. 17.2% 18.6% 20.2% 20.4% 20.5% 11.5% 10.8% 23. 24.4% 20. 0. -20. -40. Var. Acumulada do PIB da Indústria: Indústria de laticínios Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Suínos e Outros Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Bovinos Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Aves 6.4% 6.3% 5.7% 4.5% 4.2% 4. 3.7% 3.5% 3.2% -60. Var. Acumulada do PIB da Indústria: Fabricação de calçados Gráfico 4.14. Participação das indústrias que formam o setor da Pecuária Familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 10 40. Indústria de laticínios 9 15.1% 16.6% 16.5% 17.6% 16.3% 16.1% 15.9% 15. 14.5% 30. Abate de Suínos e Outros 8 9.7% 8.9% 9.3% 9.9% 10.7% 10.6% 11.9% 11.8% 12.9% 20. Abate de Bovinos 7 17.9% 16.6% 17.8% 20.7% 23.4% 23.9% 25.2% 26.6% 26.1% 10. Abate de Aves 6 5 4 3 2 1 12. 11.1% 10.8% 45.3% 46.8% 12.3% 45.5% 13.1% 13.2% 13.4% 14.9% 16.7% 39.4% 36.5% 36.1% 33.7% 31.7% 29.8% 0. -10. -20. -30. -40. Fabricação de calçados Var. Acumulada do PIB da Indústria: Indústria de laticínios Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Suínos e Outros Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Bovinos Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Aves -50. Var. Acumulada do PIB da Indústria: Fabricação de calçados Gráfico 4.15. Participação das indústrias que formam o setor da Pecuária Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 5. CONCLUSÕES O segmento familiar da agropecuária brasileira e as cadeias produtivas a ela interligadas responderam, em 2003, por 10,1% do PIB brasileiro, o que equivale a R$ 157 bilhões em valores daquele ano. Tendo em vista que o conjunto do agronegócio nacional foi responsável, nesse ano, por 30,6% do PIB, fica evidente o peso da agricultura familiar na geração de riqueza do país. 19

As estimativas do PIB do agronegócio familiar e sua evolução nos últimos oito anos (1995 a 2003) mostram, claramente, que os pequenos agricultores ou os agricultores familiares respondem por parcela expressiva da riqueza nacional, ainda mais tendo em vista a insuficiência de terras, as dificuldades creditícias, o menor aporte tecnológico, a fragilidade da assistência técnica e a subutilização da mão-de-obra. Essa relativa punjança decorre, de uma lado, da existência de parcelas importantes do segmento familiar que se encontram integradas aos setores agroindustriais e da distribuição e, de outro, à utilização plena de suas terras. Cabe destacar o quão importante são esses agricultores nas atividades da pecuária de pequeno porte altamente articulada com os setores industriais, na fumicultura e no beneficiamento de produtos alimentares. A estrutura de composição do PIB do agronegócio familiar e patronal e sua evolução recente, discriminadas pelos cultivos e sub-setores industriais, chama a atenção o crescimento vertiginoso da soja tanto no segmento familiar como no patronal. Em termos de pecuária, nota-se uma concentração na bovinocultura de corte nos patronais e uma maior diversificação nos familiares, onde se destaca a avicultura e produção leiteira. Concretamente, cerca de 1/3 do agronegócio brasileiro é tributário da produção agropecuária realizada pelos agricultores familiares, cabendo observar, ademais, que o desempenho recente da agropecuária familiar e do agronegócio a ela articulada vem sendo bastante positivo, superando, inclusive, as taxas de crescimento relativas ao segmento patronal. 6. BIBLIOBRAFIA Davis, J., e R. Goldberg (1957). A Concept of Agribusiness, Harvard University, Boston. Furtuoso, M.C.O. e J.J.M. Guilhoto (2003). Estimativa e Mensuração do Produto Interno Bruto do Agronegócio da Economia Brasileira, 1994 a 2000. Revista Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Vol 41, N. 4, Nov./Dez., pp. 803-827. Guilhoto, J.J.M. e U.A. Sesso Filho (2005). Estimação da Matriz Insumo-Produto à partir de Dados Preliminares das Contas Nacionais. Economia Aplicada. A sair. 20