DEFINIÇÃO DE BORDA A PARTIR DA COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES DA FLORESTA OMBRÓFILA NA RESERVA BIOLÓGICA DAS ARAUCÁRIAS, PARANÁ, BRASIL

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Transcrição:

DEFINIÇÃO DE BORDA A PARTIR DA COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES DA FLORESTA OMBRÓFILA NA RESERVA BIOLÓGICA DAS ARAUCÁRIAS, PARANÁ, BRASIL ROSEMERI SEGECIN MORO 1 ELISANA MILAN 2 RODRIGO FERNANDO MORO 3 BEATRIZ CARNEIRO DO CARMO 4 ANA PAOLLA PROTACHEWICZ 5 Resumo: Empregou-se análise geoecológica em quatro fragmentos de Floresta Ombrófila Mista para estabelecimento de limites de borda. Comparou-se a flora arbórea nos setores borda' e interior, através de quadrantes em 12 transeções de 100 m com DAP 10 cm. Paralelamente mensurou-se luminosidade, umidade relativa e temperatura do ar. Foram amostrados 528 indivíduos de 66 espécies, pertencentes a 32 famílias. Os parâmetros microclimáticos não apontaram variações significativas ao longo dos transectos, no entanto a distribuição de espécies refletiu variações na organização da comunidade entre os dois setores (p=0,022). Houve substituição de espécies ao redor dos 50-70 m da borda. Concluiu-se que esta pode ser inferida com mais segurança através da heterogeneidade florística do que através da parametrização microclimática. Palavras-chave: fragmentação; floresta com araucária; espécies arbóreas. Abstract: We compared the floristic organization on edge and core of a tree species community in four Araucaria Forest fragment, by means a vegetacional survey conducted in 12 100m-transection using dbh 10 cm. We also sampled light intensity, relative moisture and air temperature. It were determined 528 individuals belonging to 66 species and 32 families. Microclimate parameters didn t vary significantly along transects, however there was a turnover in species around 50-70 m which reflected the variation of tree community organization between sectors (p=0.022). We conclude that edges settlement could be inferred better by the floristic heterogeneity than by the microclimate parameters. Keywords: fragmentation; araucaria forest; tree species. 1 - Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail de contato: rsmoro@uepg.br 2 - Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E- mail de contato: elisana.milan@gmail.com 3 - Técnico de Nível Superior da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. E-mail de contato: rodrigofmoro@yahoo.com.br 4 - Bolsista IC/CNPq do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail de contato: biaccarmo@hotmail.com 5 - Bolsista IC/Fundação Araucária do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail de contato: paolla.vicz@gmail.com 6425

1 Introdução A ocorrência de fragmentos na cobertura vegetal está atrelada ao surgimento de bordas, ou seja, porção de um fragmento no entorno interno de seu perímetro, dentro da qual as condições ambientais podem diferir de seu interior. (TURNER; GARDNER; O NEILL, 2001). Nessa faixa de transição da área externa para a área nuclear dos fragmentos, as taxas de luminosidade, de umidade e a temperatura sofrem alterações que podem se refletir na distribuição de espécies. Essas mudanças são denominadas efeito de borda. Para Murcia (1995) o efeito de borda é resultado da interação de dois ecossistemas adjacentes separados por uma transição abrupta. Bordas são áreas de habitat mais expostas às perturbações externas e sua largura para cada fragmento é variável. Envolvem diferentes aspectos e mecanismos biológicos, principalmente iluminação, mas também compreendem a orientação da borda de fragmentos de floresta, a umidade, a densidade e composição de indivíduos (RODRIGUES, 1998). Informações sobre a extensão de borda são importantes para determinar sua área de influência. Apesar disso, poucos autores se debruçaram sobre a parametrização de borda na Floresta com Araucária: no Rio Grande do Sul, Baldissera e Ganade (2005) e Fontoura, Ganade e Laroca (2006) apontaram uma distância de 50 metros onde a vegetação começa a mostrar variações em função do efeito de borda. Pscheidt (2014) confirmou estatisticamente esta distância para o planalto catarinense, enquanto Malchow, Koehler e Pellico Netto (2006), para o Paraná, evidenciaram mudanças na comunidade a parir dos 30 m. Este trabalho levanta a composição de espécies em fragmentos da floresta com araucária na Reserva Biológica das Araucárias ao longo da borda em direção ao interior dos fragmentos. Buscou-se testar a hipótese de que a borda pode ser detectada através da heterogeneidade florística em uma comunidade de espécies arbóreas e espera-se contribuir com dados empíricos ao estabelecimento de parâmetros de borda na Floresta Ombrófila Mista. 6426

2- Métodos A REBIO das Araucárias foi criada em 2006, com uma superfície de 16.078 hectares, distribuída em parte dos municípios paranaenses de Ipiranga, Imbituva e Teixeira Soares. Localiza-se entre as latitudes X 50,162 e longitude Y 25,095, com altitude média próxima de 800 m sobre o nível do mar (Fig. 1), sob clima mesotérmico (subtropical a temperado), sempre úmido (sem estação seca definida) e com verões amenos (mês mais quente com temperatura média inferior a 22 C), enquadrado como Cfb segundo a classificação de Köppen (MAACK, 2012). Figura 1: Delimitação da REBIO das Araucárias nos municípios de Imbituva, Teixeira Soares e Ipiranga, PR. Fonte: http://www.mma.gov.br/estruturas/202/_arquivos/folder_consulta12.pdf As áreas de floresta nativa secundária foram amostradas pelo Método de Quadrantes (COTTAM; CURTIS, 1956), selecionado em função da presença de uma cobertura arbórea homogênea com indivíduos adultos, formando ao menos dois estratos arbóreos. Foi utilizada a abordagem discreta, com dados qualitativos, referente a resposta hipotética de duas-fases de Murcia (1995), borda e interior. 6427

Apesar dos resultados de quadrantes não poderem ser expressos em termos de área, há vantagens nesse método, como a minimização do erro induzido pela forma das parcelas dispostas em campo; maior facilidade em localizar pontos de amostragem no campo, pois estes seguem linhas de picada; além de responder à necessidade de distribuir pontos amostrais em uma grande área. Entre os meses de maio de 2014 e abril de 2015 foram amostrados 12 transectos de 100 metros, perpendiculares a borda da floresta. Os quadrantes foram demarcados em campo através de um aparelho de geoposicionamento (GPS) Etrex Garmin, com erro médio de 8 m. Foram incluídos na amostra todos os indivíduos arbóreos com DAP (diâmetro à altura do peito) maiores ou igual a 10 cm, medidos com régua dendrométrica. Os indivíduos amostrados receberam uma numeração seqüencial, com altura estimada por comparação com um podão de 2,5 m. As amostras botânicas foram coletadas de acordo com a metodologia de Fidalgo e Bononi (1989), e herborizadas, identificadas e acervadas no herbário HUPG da Universidade Estadual de Ponta Grossa. As espécies foram classificadas de acordo com o sistema APG III (2009), tendo a grafia dos táxons e autores conferidos no site <www.theplantlist.org>. A análise de temperatura e umidade do ar foi realizada através de um termohigrômetro digital de campo e a luminosidade foi registrada através de um luxímetro digital portátil. 3 - Resultados e Discussão Foram amostrados 528 indivíduos determinados em 66 espécies, pertencentes a 32 famílias botânicas (Tab. 1). Hovenia dulcis Thunb. foi a única espécie exótica encontrada distribuída pelos transectos de maneira regular porém com pequena abundância. 6428

Familia Espécie Nome vulgar Anacardiaceae Lithraea molleoides (Vell.) Engler Bugreiro Annonacae Annona rugulosa (Schltdl.) H.Rainer ariticum Aquifoliaceae Ilex paraguariensis A.St.-Hil. Erva-mate Ilex theezans Mart. ex Reissek caúna Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze Araucária Arecaceae Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Palmeira Jerivá Asteraceae Dasyphyllum tomentoum (Spreng.) Cabrera sucará Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera Cambará Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme Vassourão branco Vernonanthura discolor (Spreng.) H.Rob. Vassourão-preto Bignoniaceae Jacaranda puberula Cham Caroba Cannabaceae Trema micranta (L.) Blume crindiúva Cannelaceae Cinnamodendron dinisii Schwacke pimenteira Celastraceae Maytenus evonymoides Reissek Tamanqueiro Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Espinheira-santa Clethraceae Clethra scabra Pers. guaperê Elaeocarpaceae Sloanea monosperma Vell. sapopema Erythroxylaceae Erythroxylum deciduum A.St.-Hil. cocão Euphorbiaceae Actinostemon concolor (Spreng.) Müll.Arg. Laranjeira-do-mato Sebastiania brasiliensis Spreng. Leiteirinho Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B.Sm. Branquinho & Downs Lauraceae Cinnamomum glaziovii (Mez) Kosterm. canela Cinnamomum sellowianum (Nees & Mart.) Canela-raposa Kosterm Nectandra grandiflora Nees & Mart. Canela-fedida Nectandra lanceolata Nees & Mart. Canela-amarela Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Canela-preta Ocotea porosa (Nees & Mart.) Barroso imbuia Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez Canela-lageana Melastomataceae Miconia cinerascens Miq. Pixirica Miconia ligustroides (DC.) Naud. Pixirica Meliaceae Cedrela fissilis Vel. Cedro-rosa Trichilia claussenii C.DC. catiguá Trichilia elegans A.Juss. catiguá Monimiaceae Mollinedia clavigera Tul. capixim Moraceae Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. figueira Myrtaceae Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg Cambuí Myrtaceae Calyptranthes concinna DC. Guamirim Campomanesia xanthocarpa O. Berg. guabirobeira Eugenia ramboi D. Legr. Eugenia uniflora L. Pitangueira Myrcia floribunda Miq. Murta Myrcia multiflora (Lam.) DC. Cambuí Myrcia splendens (Sw.) DC Guamirim-chorão Primulaceae Myrsine acuminata Royle Capororoquinha Myrsine umbellata Mart. Capororocão Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunb. Uva-do-Japão Rosaceae Prunus brasiliensis (Cham. & Schltdl.) Pessegueiro-bravo D.Dietr. Rubiaceae Faramea marginata Cham Café do-mato Psychotria hancorniifolia Benth. Grandiúva Psychotria vellosiana Benth. Grandiúva Rudgea jasminoides (Cham.) Müll.Arg. Grinaldeira Rutaceae Zanthoxylum rhoifolia Lam. Mamica-de-porca 6429

Salicaceae Casearia decandra Jacq. Guaçatunga Casearia obliqua Spr. Guaçatunga Casearia sylvestris Sw Café-de-bugre Casearia lasiophylla Eichler Cambroé Prockia crucis P. Browne ex L. sucará Xylosma pseudosalzmanii Sleumer sucará Sapindaceae Allophylus edulis (A.St.-Hil.) A.Juss. &Radlk. Vacum Cupania vernalis Cambess. Cuvantã Matayba elaeagnoides Radlk. Miguel-pintado Sapotaceae Chrysophyllum marginatum (Hook. & vassourinha Arn.) Radlk. Styracaceae Styrax leprosus Hook. & Arn. Carne-de-vaca Symplocaceae Symplocos laxiflora Benth. Maria-mole Symplocos tenuifolia Brand Maria-mole Winteraceae Drymis brasiliensis Miers cataia Tabela 1 Espécies amostradas no setor borda e interior de fragmentos de Floresta Ombrófila Mista na REBIO das Araucárias, Paraná. A ocorrência e distribuição das 29 espécies com maior frequência foram plotadas ao longo de um transecto de 0-100 m a partir do limite dos fragmentos para identificar possíveis gradientes de distribuição (Fig. 2). As seguintes treze espécies ocorreram ao longo de todo o transecto, podendo serem consideradas, nas condições da REBIO, como espécies indiferentes à intensidade luminosa e sombreamento: Araucaria angustifolia, Cinnanodendron dinisii, Ilex paraguariensis, Casearia sylvestris, Clethra scabra, Eugenia ramboi, Eugenia uniflora, Lithraea molleoides, Matayba elaeagnoides, Myrcia floribunda, Myrsine acuminata, Nectandra grandiflora e Nectandra lanceolata. Até os 30 metros em relação à borda, na região de transição entre o ambiente heliófilo e o umbrófilo, constatou-se a presença, além das já mencionadas espécies constantes em todo o transecto, de espécies pioneiras e secundárias iniciais, como Vernonanthura discolor, Piptocarpha angustifolia, Symplocos tenuifolia e Gochnatia polymorpha, além de arvoretas heliófitas do sub-bosque como Calyptranthes concinna, Miconia cinerascens e Miconia ligustroides. Dos 30 aos 50 metros, verificou-se a ocupação por espécies como Matayba elaeagnoides, Allophylus edulis, Trichilia claussenii e Trichilia elegans, com subbosque formado por Mollinedia clavigera, Rudgea jasminoides, Psychotria vellosiana, Eugenia uniflora e Eugenia ramboi. A taxa de ocupação de espécies pioneiras foi reduzida drasticamente, sendo substituídas por espécies ombrófilas 6430

como Ilex theezans, Myrcia splendens, Casearia obliqua e Cupania vernalis. O grupo de espécies clímax tolerantes à sombra apresentou tendência de maior frequência a partir de 60 a 70 m de borda, constituído, na REBIO, por Xylosma pseudosalzmanii, Prockia crucis e Actinostemon concolor. Figura 2: Distribuição das principais espécies arbóreas ao longo de 100 m a partir do limite de fragmentos florestais na REBIO das Araucárias, PR. No período analisado, outono, a temperatura do ar variou de 18,5 o C em média, fora do capão, até 21 a 25 o C no interior da floresta. Apesar da tendência da temperatura ser mais elevada no interior da floresta, não pode-se observar um claro 6431

divisor entre borda e interior. A umidade relativa média do ar foi de 74% fora do capão, e caiu para cerca 65-70% já a partir dos 10 metros, não se alterando mais de maneira significativa. Da mesma maneira, com relação a luminosidade, naturalmente o limite do capão é o local mais iluminado, com cerca de 1.200 lux, mas dentro da floresta a luminosidade variou pouco e de maneira aleatória ao longo dos transectos, entre 73 e 119 lux. 4 - Conclusões Os parâmetros microclimáticos não apontaram variações significativas ao longo dos transectos, no entanto a distribuição de espécies refletiu variações na organização da comunidade entre os dois setores. Houve substituição de espécies ao redor dos 50-70 m da borda. Concluiu-se que esta pode ser inferida com mais segurança através da heterogeneidade florística do que através da parametrização microclimática. Houve a confirmação dos conceitos de outros pesquisadores, de que o efeito de borda na Floresta Ombrófila Mista é percebido mais fortemente até os primeiros 50 metros a partir do limite externo do fragmento. 5 - Agradecimentos À Fundação O Boticário de Proteção à Natureza pelo apoio financeiro ao projeto A2013007 - Mapeamento do estado de conservação de unidades de paisagem na REBIO das Araucárias: base para monitoramento ambiental e elaboração de plano de manejo. Ao escritório regional do ICMBio de Ponta Grossa e a gerência da REBIO das Araucárias pelo apoio em campo. 6432

6 - Referências Revistas científicas APG - Angiosperm Phylogeny Group. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society, v. 161, n. 2, p. 105-121, 2009. BALDISSERA, R.; GANADE, G. Predação de sementes ao longo de uma borda de Floresta Ombrófila Mista e pastagem. Acta Botanica Brasilica, v. 19, n. 1, p. 161-165, 2005. COTTAM, G.; CURTIS, J.T. The use of distance measures in phytossociological sampling. Ecology, v. 37, p. 451-460, 1956. FONTOURA, S.B.; GANADE, G.; LAROCCA, J. Changes in plant community diversity and composition across an edge between Araucaria forest and pasture in South Brazil. Revista Brasileira de Botânica, v. 29, n. 1, p. 79-91, 2006. MALCHOW, E.; KOEHLER, A. B.; PÉLLICO NETTO, S. Efeito de borda em um trecho da Floresta Ombrófila Mista, em Fazenda Rio Grande, PR. Revista Acadêmica, v. 4, n. 2, p. 85-94, 2006. MURCIA, C. Edge effects in fragmented forest: implications for conservation. Trends in Ecology & Evolution, v. 10, n. 2, p. 58-62, 1995. RODRIGUES, E. Efeito de borda em fragmentos de floresta. Cadernos da Biodiversidade, v. 1, n. 2, p. 1-6, 1998. Livros FIDALGO, O.; BONONI, V.L.R. (Coord.). Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. São Paulo: Instituto de Botânica, 1989. MAACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. 4.ed. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2012. 6433

TURNER, M.G.; GARDNER, R.H.; O NEILL, R.V. Landscape Ecology: in theory and practice. New York: Springer-Verlag, 2001. Dissertações PSCHEIDT, F. Efeito de borda em comunidades de espécies arbóreas de fragmentos da Floresta Ombrófila Mista no Planalto Sul Catarinense. Lages, 2014. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) UDESC. 6434