Formação dos Estados Nacionais



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Transcrição:

Formação dos Estados Nacionais Comentário Sabe-se que durante a Idade Média os países europeus caracterizaram-se pela fragmentação política devido ter prevalecido uma organização denominada de feudalismo, em que os reis desempenhavam apenas um papel figurativo, cabendo o verdadeiro desempenho da autoridade aos senhores feudais, ou seja, aos grandes proprietários de terra, que eram legítimos reis dentro de seus feudos. A figura dos reis só tinha sentido por ocasião das guerras, quando eles passavam a simbolizar a unidade nacional. A partir do século V d.c observou-se a consolidação desse modelo de organização econômica, social, política e religiosa (feudalismo) que vigorou até o século X, constituindo o que a História convencionou chamar de Alta Idade Média. Entre os séculos XI e XV a organização feudal entrou em declínio, em função de numerosos fatores, o que permitiu a eventual transição do sistema para uma nova ordem. A essa fase denominou Baixa Idade Média : A transição da economia feudal de subsistência e autossuficiente para uma economia monetária e de mercado, de uma sociedade rural e de estamentos para uma sociedade urbana e de classes, do estado feudal fragmentado para os Estados Nacionais centralizados, assinalou na ordem econômica, social e política a passagem da Idade Média para a Idade Moderna. (ITAUASSU, Leonel. História Moderna e Contemporânea. São Paulo. Scipione. 2004.) Os Estados Nacionais, também conhecidos como modernos e/ou absolutistas, surgiram em função das circunstâncias econômicas e sociais que a Europa Ocidental começou a experimentar entre os séculos XI a XV. (A) Inicialmente, devido um período de paz permitido pela diminuição das guerras contra invasores externos (magiares, muçulmanos e vikings) que proporcionou um relativo crescimento demográfico, que por sua vez, pressionou o crescimento da produção agrária (revolução agrícola) possibilitando, durante algum tempo, a existência de um excedente de produção, jogado no mercado, o que permitiu um tímido florescimento do comércio ; (B) Em seguida os europeus viveram a época das Cruzadas, que abriram o Mediterrâneo à navegação e ao comércio com os mercados do Oriente Média. O fluxo de produtos orientais nos mercados europeus levou ao advento da Revolução Comercial, que, por sua vez, promoveu o surgimento da burguesia, uma classe social que viria contribuir para a transição aludida acima. A burguesia que se originou no seio das camadas populares da sociedade feudal, especificamente no meio dos servos e vilões, adquiriu patrimônio móvel (dinheiro), mas, pelas suas origens, não conseguiu adquirir certos privilégios que até então, eram usufruídos somente pela nobreza e pelo clero, principalmente prestígio social e direitos políticos. Em nome dessa carência (social e política) a burguesia procurou contribuir ao máximo para o fortalecimento dos poderes dos reis, no sentido de enfraquecer a nobreza e o clero, esperando que nesse novo sistema sobrasse um espaço para que ela (a burguesia) chegasse aos mesmos direitos dos chamados Primeiro e Segundos Estados. Muitos historiadores falaram, por muito tempo, numa certa aliança entre rei e burguesia para o surgimento dos Estados Nacionais de poder centralizado. Teóricos do absolutismo A organização dos estados nacionais de poder centralizado foi consubstanciada pelas doutrinas defendidas por renomados filósofos e/ou pensadores, a exemplo de Nicolau Maquiavel (italiano), Thomas Hobbes (inglês) e Jacques Bossuet (francês) que, com suas obras, influenciaram e/ou inspiraram reis e ministros dos principais países no sentido de concentrar poderes em suas mãos e adotar o autoritarismo como recurso para administrar os súditos e transformar seus países em grandes potências mundiais. O primeiro desses pensadores foi Nicolau Maquiavel que além de cientista político, foi historiador e teatrólogo. Sua obra mais importante foi O Príncipe, escrito no século XVI, sob inspiração de uma Itália toda fragmentada politicamente. Maquiavel, sonhando com a unificação política do seu país, sugeriu que os reis e/ou príncipes fossem racionais no uso da máquina pública, podendo mentir, dissimular e usar a força para alcançar os seus mais caros objetivos, pois os fins justificam os meios. Depois, temos o filósofo Thomas Hobbes, autor da obra O Leviatã (O Monstro), na qual defendeu o supremo fortalecimento do Estado, baseando-se na hipótese de que os homens possuem uma natureza originalmente má, através da qual vive em busca da destruição de seus semelhantes, uma vez que o homem é o lobo do próprio homem. Hobbes conclui, pois, que a única salvação da humanidade é a inter- 1

venção do Estado que, através de sua autoridade, pode evitar a colocação, na prática, do instinto destruidor dos próprios homens. Finalmente, destaca-se a teoria do sacerdote francês, Jacques Bossuet, confessor do poderoso rei francês Luis XIV, que através de sua obra Política, defendeu a Teoria do Direito Divino de Governar, segundo a qual os reis recebem o poder de governar os seus súditos diretamente de Deus. Segundo Bossuet o poder do rei emana de Deus e só a Deus ele deve prestar conta dos seus a- tos. Outro escritor francês, chamado Jean Bodin que, em sua obra República, seguiu a mesma linha de Bossuet, defendendo o direito divino de governar dos reis. Primeiro Estado Nacional Portugal Apesar de não ter sido um país que se destacasse tanto na Baixa Idade Média, Portugal veio a se constituir no primeiro a se organizar em Estado Nacional de poder centralizado. O fator mais importante foi a dificuldade de seus concorrentes (outros países) em vencer a resistência interna dos senhores feudais e do clero devido ao enraizamento do sistema feudal. A França, por exemplo, que se tornaria séculos mais tarde o protótipo de Estado absolutista da Europa, foi, também, aquele que teve o sistema feudal mais consistente. Por seu lado, Portugal, um pequeno país que se organizou na luta pela expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica, conseguiu muito cedo, mais do que os outros, constituir uma burguesia comercial que se interessou pela navegação marítima e lançou-se à conquista dos oceanos, numa verdadeira epopéia que ficou conhecida como Grandes Descobrimentos Marítimos. O passo definitivo foi dado com a vitória de uma revolução burguesa que levou Dom João I, o Mestre de Avis, ao trono lusitano, em oposição, entre outros, aos monarcas espanhóis que planejavam tomar o poder e manter o país fragmentado em feudos. Dom João I (primeiro da dinastia de Avis) venceu seus concorrentes na Batalha de Aljubarrota, apropriou-se do trono lusitano e instalou no sul de Portugal, um centro de navegação, onde reuniu navegadores, cartógrafos, astrônomos e construtores navais, para empreender um grande projeto de navegação marítima que consistiria na conquista gradual do litoral africano, a fim de abrir um caminho marítimo para as Índias. Esse centro de navegação ficou conhecido na História como Escola de Sagres, celebrizando o nome de seu primeiro chefe, o filho do próprio rei Dom João I, o Infante Dom Henrique, apelidado O navegador. Dom João I, de Avis, orientou seu reinado no sentido de manter boas relações com todos os setores da sociedade com o objetivo de contar com o apoio da burguesia, do clero e da nobreza para empreender sue projeto de expansão marítima e comercial. Assim, orientou as conquistas com objetivos mercantis, para atender aos anseios da burguesia, territoriais, para atender aos interesses da nobreza, e religiosos, para contar com o apoio do clero. Assim, o Estado nacional lusitano, se fortaleceria com a conquista de novas rotas comerciais e com a parceria das camadas mais influentes da sociedade. A primeira conquista portuguesa, além dos limites da Europa, foi a dominação da cidade de Ceuta, tomada aos muros (muçulmanos); uma conquista territorial que tomou o caráter de "cruzadista", exatamente por contar com o apoio da Igreja e por estabelecer um confronto direto com os considerados "infiéis" (os muçulmanos). A partir da conquista de Ceuta, os navegadores portugueses empreenderam um laborioso processo de conquista do litoral africano em direção do Sul, com o objetivo de abrir o caminho direto em direção das Índias. O fato da precoce centralização do poder real em Portugal foi decisivo para o sucesso do empreendimento. Na Espanha, a centralização do poder e a conseqüente formação do Estado nacional enfrentaram dificuldades em função do país se manter em guerra contra os muçulmanos que se encontravam dentro da península Ibérica desde o século VIII (ano 711). No final do século XV, através de ampla negociação, a rainha Izabel, de Castela, casou-se com o rei Fernando, de Aragão, unindo os dois reinos mais fortes da Espanha, o que se tornou o passo mais importante para a formação do Estado nacional entre os espanhóis. Logo depois do casamento, os reis católicos (como eram conhecidos Izabel e Fernando) concederam a Cristóvão Colombo uma pequena frota (três caravelas) para empreender a primeira viagem à América. Os estados nacionais ibéricos foram os pioneiros no processo de expansão marítima e, por conseguinte, os primeiros a organizarem uma ampla máquina de administração colonial, principalmente, na América, onde os espanhóis, em função do Tratado de Tordesilhas, ficaram de posse da maior parte do território. A empresa de colonização espanhola foi a mais ampla, caracterizando-se pela estruturação a partir 2

das diretrizes fincadas pela política do Mercantilismo e em função do capital comercial. Daí a preocupação constante da Espanha em manter o domínio sobre os territórios que possuíssem metais preciosos, os quais funcionavam como verdadeiros "pólos de crescimento". A demanda de outros produtos como alimentos, tecidos e animais de tração, levou a organização de economias satélites dentro do império colonial espanhol, baseadas na agricultura e na pecuária. Responda: 1. Qual a principal diferença entre os "estados" medievais e os modernos? 2. Como podemos explicar a máxima atribuída a Maquiavel "Os fins Justificam os meios"? 3. Onde Hobbes encontra a justificativa para o máximo poder do Estado absolutista? 4. Como Portugal conseguiu organizar seu Estado Nacional de poder centralizado precocemente? 5. Por que o casamento de Izabel e Fernando possibilitou o surgimento do Estado Nacional espanhol? O caso da Inglaterra Os ingleses tiveram um sistema feudal bastante original porque os seus reis não perderam totalmente o espaço para os senhores feudais, em razão do apoio recebido pela monarquia do clero e do gentry (uma espécie de pequena nobreza), além de que os monarcas mantinham-se como grandes proprietários, o que lhe permitia manter certa supremacia em relação aos demais proprietários. Porém em 1215 os barões ingleses impuseram ao rei João Sem Terra, a Magna Carta, um documento que limitava o poder da monarquia diante dos seus súditos. Os ingleses "endeusaram" a Magna Carta, que consideraram como uma "carta de liberdade", proclamando-a como o documento que precedeu as modernas constituições. Por volta de 1227, no reinado de Henrique III, surgiu o Parlamento inglês, composto pela Câmara dos Comuns e pela Câmara dos Lordes, que limitou ainda mais os poderes dos reis e permitiu uma certa convivência pacífica da monarquia inglesa com as camadas privilegiadas. Em 1337 os ingleses envolveram-se numa guerra secular com os franceses, a Guerra dos 100 Anos, perdida pela Inglaterra. A Guerra dos 100 Anos enfraqueceu as camadas nobres dos dois países e abriu perspectivas para adoção de um regime centralizante. Na Inglaterra, particularmente, a Guerra dos 100 Anos teve uma repercussão ainda maior, pois a dinastia Lancaster, que governava o país durante o conflito, foi responsabilizada pela derrota, o que levou a Casa de York a reivindicar o trono. O resultado do confronto entre a Casa de Lancaster e a Casa de York foi desastroso, pois os dois lados envolveram-se numa guerra que demorou 15 anos, chamada de Guerra das Duas Rosas (a rosa vermelha e a rosa branca eram os símbolos duas famílias). Destruídas pela Guerra, as duas Casas (Lancaster e York) abriram caminho para a ascensão de uma nova família, a Casa de Tudor, pelas mãos de Henrique VII. Começava, com ele, a dinastia Tudor. Henrique VII governou com habilidade, procurando manter uma relação pacífica com o Parlamento, sem abrir mãos do poder de decisão da monarquia. O seu sucessor Henrique VIII teria mais sorte, porque no seu reinado a Reforma Protestante chegou à Inglaterra, o que permitiria, pelo desenrolar dos acontecimentos, que a monarquia inglesa viesse depositar nas mãos de seus reis um poder ainda maior. Henrique VIII havia casado com a princesa espanhola Catarina, de Aragão, envolvendo os interesses dos dois países: a Inglaterra, com o casamento, mantinha-se livre do imperialismo dos Habsburgos (dinastia que governava a Espanha) e a Inglaterra teria que se manter distante das colônias inglesas na América. Tudo correu bem até que Henrique VIII reconheceu, devido o crescimento econômico da Inglaterra, que poderia romper seu pacto nupcial com a Espanha: alegando que Catarina não lhe dava o filho homem que desejava, pediu a anulação de seu matrimônio, para casar com Ana Bolena. Como o Papa não aquiesceu ao divórcio, Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica e, pelo Ato de Supremacia, proclamou-se chefe da Igreja Inglesa. Estava fundada a Igreja Anglicana. Com o poder religioso nas mãos, Henrique VIII tomou-se o primeiro rei, realmente, absoluto da Inglaterra. Com Ana Bolena, Henrique VII, apelidado de Barba Azul teve uma filha Izabel o que levou a um novo divórcio, repetindo-se outras separações, até que Jane de Seymour lhe desse o sonhado herdeiro Eduardo VI que governaria pouco anos devido sua morte precoce. Substituiu-o a filha de Ana Bolena, Izabel, que adotou o pseudônimo de Elizabeth l, com quem o absolutismo inglês atingiria a sua plenitude. No reinado de Elizabeth l, a armada (marinha) espanhola, a mais poderosa do mundo, conhecida com "Invencível Armada", foi destruída por uma tempes- 3

tade no mar do Norte. Elizabeth investiu na construção naval e assumiu a hegemonia da navegação e do comércio mundial, contando, inclusive, com a participação de piratas. Morreu sem deixar herdeiros, encerrando a dinastia Tudor. Jaime I, rei da Escócia, filho de Maria Stwart, que Elizabeth mandara decapitar, assumiu o trono inglês e iniciou uma nova dinastia (dinastia Stwart), sucedido pelo filho Carlos I. Durante os reinados de Jaime I e Carlos I a monarquia enfrentou sérios conflitos com o Parlamento Britânico o que levou à imposição da Petição de Direitos, um documento que limitava os poderes do rei, além dos limites impostos pela Magna Carta. No reinado de Carlos l, explodiu a Revolução Puritana, comandada por Oliver Cromwell, líder o grupo parlamentar dos Cabeças Redondas, que representava os interesses da burguesia. Cromwell tomou o poder com o titulo de "Lorde Protetor da República" e incrementou uma série de reformas que promoveu o avanço do capitalismo inglês. Cromwell incentivou a política de "Cercamento dos Campos" (estimulando a apropriação sobre as terras comunais) e criou o "Ato de Navegação de 1651" (proibindo que os portos ingleses, pelo mundo, comercializassem com navios estrangeiros). Quando Cromwell morreu, a Inglaterra já tinha se tornado a grande potência dos mares. Como o filho de Cromwell não conseguiu levar a República em frente, a nobreza inglesa resgatou a monarquia e corou Carlos l, sucedido por Jaime II. No reinado de Jaime II a monarquia tentou resgatar o Catolicismo como religião oficial o que levou o Parlamento a comandar uma, chamada de Revolução Gloriosa (1688/89) que obrigou o rei a abdicar (terminando a dinastia Stwart). Guilherme III (rei da Holanda), casado com a filha de Jaime II (deposto) assumiu o trono inglês sob condições: Juraria a Declaração de Direitos (Bilt of Rigth) pela qual se comprometia a governar sob o controle do Parlamento Britânico. Era o caminho para o Parlamentarismo. A Revolução Gloriosa foi o fator remoto mais importante da Revolução Francesa. O caso da França A Franca permaneceu fragmentada em feudos até o século XII, quando subiu ao trono o primeiro rei da dinastia Capetíngia (Hugo Capeto), quando se iniciou urna política monárquica para submeter os senhores feudais ao poder central. Para isso o rei aliouse à burguesia nascente e ao clero e, gradativamente, conseguiu submeter os senhores de terra ao controle do Estado. Quando o primeiro rei da dinastia Valois (Felipe Augusto) subiu ao trono, a monarquia francesa já havia obtido nobreza francesa ao controle do Estado. A Guerra dos Cem Anos prejudicou o processo, mas, por outro lado, serviu para separar definitivamente os dois reios (França e Inglaterra) e para consolidar o nacionalismo francês, este um fator decisivo para a estruturação definitiva do Estado Nacional e a centralização absoluta do poder. Entretanto, no século XVI, a Franca envolveu-se em violentos conflitos religiosos devido à expansão dos ideais protestantes, sobressaindo-se a luta entre católicos e calvinistas, onde se destaca a "Noite de São Bartolomeu" em que foram assinados milhares de "huguenotes" (nome francês dos calvinistas). Entretanto, por volta do ano de 1590 à subida de Henrique IV ao poder, graças a sua habilidade de conviver com católicos e calvinistas, o reino francês voltou a experimentar um de paz que levaria à consolidação definitiva de seu absolutismo. "Foi Henrique IV, o primeiro da dinastia Bourbon, quem decretou o Edito de Nantes, concedendo liberdade de culto aos calvinistas, o que permitiria o surgimento de uma espécie de Estado protestante (calvinista) dentro do Estado Católico". Entretanto, o Estado Nacional francês e o seu poder absoluto consolidaram-se em definitivo a partir do reinado de Luis XIII, assessorado pelo seu ministro Cardeal Richilieu, que, na verdade, tornou-se o próprio absolutista, pois, devido à fraqueza do rei, concentro a autoridade do reino toda em suas mãos. A relação entre o rei Luis XIII e seu ministro Richilieu inspirou o escritor Alexandre Duma Filho a escrever a famosa obra Os Três Mosqueteiros. O Cardeal Richilieu, ao desenvolver uma política imperialista, no sentido de tornar a França a maior potência da Europa, levou o pais à Guerra dos 30 anos, frente ao Sacro Império Romano Germânico (Império dos Habsburgos), cujos primeiros resultados foram amplamente favoráveis aos franceses. As primeiras vitórias da França na Guerra dos 30 Anos permitiram que Luis XIII deixasse a França em excelentes condições para seu sucessor, Luis XIV. Foi no reinado de Luis XIV, o rei sol, que o absolutismo francês atingiu a sua plenitude, em função das obras faraônicas que realizou, a exemplo do monumental Palácio de Versalhes, no interior do qual imperava a gastança. O fausto, a ostentação, pelas mãos de 4

uma nobreza palaciana e de um alto clero ociosos, inúteis e principais responsáveis pelo desequilíbrio das contas públicas que levaria o poderoso Estado Nacional francês à bancarrota, no final do século XVIII. Luis XIV foi um rei pernóstico, egocêntrico, orgulhoso, a ponto de confundir, definitivamente, a figura do Estado com a sua própria pessoa, como se constata pela sua mais famosa frase: "O Estado sou eu". Depois de Luis XIV a França foi governada por Luis XV que administrou e aprofundou a crise, especialmente, por levado à Franca um confronto armado com a Inglaterra, conhecida como a Guerra dos Sete anos, quando a perdeu para seu principal inimigo inúmeras de suas colônias, encolhendo seus mercados fornecedores de matérias primas e consumidores de suas manufaturas. Quando Luis XV, o Bem amado, morreu, subiu o último rei absolutista francês, o incompetente e infeliz Luis XVI, aquele que enfrentaria a mais famosa revolução da história, a Revolução Francesa de 1789, uma injeção letal no regime absolutista, que nunca mais seria o mesmo. Responda: 1. Por que a feudalismo inglês apresentou "uma certa originalidade"? 2. O que significa na formação da cidadania a Magna Carta de 1215? 3. Por que a Reforma Protestante contribuiu para o fortalecimento do poder real na Inglaterra? 4. Como correu o progresso do capitalismo na Inglaterra no período de Oliver Cromwell? 5. De que maneira a Inglaterra tornou-se a maior potência dos mares? 5