Pesquisa de Conjuntura Econômica do Setor de Alimentação Fora do Lar Introdução A crise no setor de alimentação, que teve início no primeiro trimestre de 2015 e se agravou muito no segundo semestre do ano passado, parece ter atingido o seu momento mais dramático no primeiro trimestre de 2016. Um impressionante número de empresas afirma estar operando com prejuízo: 34% - ou seja, uma em cada três, um número que não parou de crescer nas seis edições da pesquisa. Começou com 5% no último trimestre de 2014, foi a 15% no primeiro trimestre de 2015, rondou os 25% do segundo ao quarto trimestre de 2015 e agora chega aos 34%. O agravamento da crise traz ao menos uma boa notícia para o consumidor: os preços praticados pelo setor que, durante uma década subiram bem acima da inflação média do país, se alinharam com esta em 2015 e caíram à metade (1,33%) da inflação medida pelo IPCA no primeiro trimestre de 2016 (2,62%). O quadro acima e o ambiente de enormes incertezas políticas têm derrubado as expectativas dos empresários com relação ao faturamento em 2016, mesmo com a clara desaceleração da queda das vendas dessazonalizadas (-0,85%) no primeiro trimestre, o que parece indicar que chegamos ao fundo do poço. A Abrasel continua mantendo a sua previsão de que o ano de 2016 apresentará um crescimento real nulo e um crescimento nominal da ordem de 7,5%, alinhado com a nossa expectativa para inflação geral do país. Este cenário considera que as perdas dos dois primeiros trimestres serão decrescentes e que o setor retomará de forma lenta o crescimento a partir do terceiro trimestre e encerrará o ano com um faturamento de 160 bilhões de reais. Os duros reflexos da crise levarão muitas empresas a fechar suas portas ainda este ano e o setor deverá fechar algo em torno de 250 mil postos de trabalho. De todo o orçamento que o brasileiro destina à alimentação, em média, um terço é gasto com alimentação fora do lar, um setor que emprega mais de 6 milhões de pessoas e que representa 2,7% do PIB do país. Faturamento: Os novos hábitos de consumo do brasileiro, que incorporou de maneira definitiva ao seu estilo de vida o hábito de comer fora de casa, seja por conta de uma renda que cresceu na década passada, seja pela maior presença da mulher no mercado de trabalho ou pelo aumento do custo de contratar empregadas domésticas, garantiu a presença do consumidor nos bares e restaurantes.
Se não resta dúvida de que o consumidor não abandonou os bares e restaurantes, também é claro que este reduziu os seus gastos e promoveu uma intensa migração de faixa de gasto mais alto para as faixas de gasto mais baixas. Enquanto os estabelecimentos com tíquete por cliente na faixa de R$25 a R$70 apresentam queda de faturamento de até 30%, os com tíquetes abaixo de R$15 chegam a faturar até 15% a mais. Comportamento das vendas por faixa de tíquete médio por cliente: Valor (R$) Variação (%) Tíquete > 70 Estável 25 a 70 Queda de até 30% 15 a 25 Estável < 15 Crescendo de 5 a 15% Encontramos queda generalizada de faturamento no 1º trimestre de 2016. Importante observar que a maior parte desta queda deve-se a uma sazonalidade histórica, na qual o primeiro trimestre do ano apresenta uma redução média de 6% em relação ao último trimestre do ano anterior. Dessa forma, a queda em termos reais dessazonalizados é de -0,85%.
Quadro de pessoal A busca incessante do consumidor por gastar menos tem pressionado o setor a se reinventar, numa luta frenética por produzir mais com menos. A redução no quadro de pessoal, que já supera os 10% nos últimos dois anos, veio acompanhada de investimentos em automação e qualificação de mão de obra, além de melhorias de processos. A redução no quadro de pessoal anunciada por 64% das empresas indica que o setor continuará demitindo e deverá terminar o ano com algo em torno de 250 mil empregos a menos. No recorte, as empresas com prejuízo acima de 5% - as mais vulneráveis e com perspectiva de fechar nos próximos 12 meses - preveem, como era de se esperar, a intenção de demitir quase três vezes mais do que as demais empresas, indicando que um importante conjunto de empresas (77%) parece estar finalizando um ciclo de redução de quadro de funcionários.
Rentabilidade A grande maioria das empresas (79%) informa que seus custos operacionais continuam subindo acima da inflação geral do país. Para os outros 13%, o aumento de custos acompanha a inflação. A pressão dos consumidores por preços mais acessíveis não tem permitido que o setor repasse os aumentos de custos na totalidade, o que pressiona o resultado das empresas, fazendo com que uma em cada três esteja operando com prejuízo. Chama especial atenção o crescimento expressivo da parcela das empresas que estão realizando prejuízos superiores a 5% - elas já somam 23% do total. Prejuízos dessa ordem não são suportáveis por períodos longos e neste grupo estão as empresas e empregos mais ameaçados.
Se o consumidor poderá se prejudicar com o fechamento de um estabelecimento que frequenta, para ele a boa notícia é que toda esta pressão feita por gastar menos fez com que o setor reajustasse os seus preços no primeiro trimestre de 2016 bem abaixo da inflação no período. Depois de passar uma década reajustando seus preços acima da inflação média do país, o setor acompanhou a inflação em 2015 e, no primeiro trimestre de 2016, corrigiu seus preços pela metade da inflação no período: 1,33% contra 2,62% do IPCA geral. Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) Brasil AFL 1ºtrim/2016 2,62 1,33 2015 10,65 10,38 2014 6,41 9,79 2013 5,91 10,07 2012 5,84 9,51 2011 6 10,49 2010 5,91 9,82 2009 4,31 7,75 2008 5,9 11,99 2007 4,46 7,67 2006 3,14 5,9 2005 5,69 6,89 Fonte:IBGE
Concorrência Como poderíamos imaginar, o ambiente econômico adverso e um consumidor buscando gastar menos provocou um acirramento da concorrência de maneira que uma em cada duas empresas percebem uma concorrência crescente. Quando fazemos a análise de concorrência com o recorte de localização na rua ou em shopping center fica evidente a maior pressão da concorrência em shopping centers, com 58% enxergando aumento, enquanto nas empresas de porta pra rua, a percepção de aumento fica em 44%.
Continuidade do negócio Questionados sob as perspectivas de manutenção do negócio nos próximos 12 meses, o número de empresários que prevê se desfazer do seu negócio salta dos altíssimos 16% da pesquisa do quarto trimestre de 2015 para um impressionante número de 19%, ou seja, um em cada cinco entrevistados sinaliza não ter condições de manter o seu negócio. Reclamações trabalhistas Quatro em cada dez entrevistados tiveram pelo menos uma reclamação trabalhista nos últimos 12 meses, número que permaneceu estável. Porém, ao observarmos o valor pago ao trabalhador vimos que o percentual de ações com valor superior a R$ 15 mil, que era de 4% na pesquisa realizada no 4º trimestre de 2014, subiu para 8% no 4º trimestre de 2015 e atinge 12% no primeiro trimestre deste ano. Este aumento constante sugere que as posições de chefia - que representam a mão de obra mais qualificada e que as empresas se empenharam em preservar nos primeiros momentos de dificuldades - passaram a engrossar as estatísticas de desemprego no setor.
Previsões Quadro de Pessoal A maior parte do ajuste no quadro de pessoal parece ter acontecido em 2015, conforme mostrado na pesquisa anterior. Mas ainda há ajustes sendo feitos: no primeiro trimestre deste ano, metade das empresas disseram prever redução no quadro de pessoal, com uma queda média nacional de 4,08%, indicando que 250 mil postos de trabalho deverão ser extintos.
Custos operacionais A grande maioria dos empresários acredita que seus custos operacionais crescerão acima da inflação em 2016 mantendo a visão de pressão sobre a rentabilidade que foi observada na pesquisa anterior. Ambiente de Negócios O agravamento da crise no segundo semestre de 2015 e suas consequências sobre o faturamento, emprego e a rentabilidade das empresas fizeram com que a grande maioria dos empresários (66%) passassem a prever um 2016 pior, sendo que, dentre eles, 28% preveem um ano muito pior. Por outro lado, se antes apenas 10% previam um ano melhor, desta vez 16% responderam que acreditam que o ambiente de negócios vai melhorar em 2016. Ou seja, há mais gente vendo luz no fim da crise. O fechamento de um conjunto expressivo de empresas acabará por favorecer as que sobreviverem e, acreditamos, boa parte das empresas que preveem um 2016 um pouco pior (38%) poderá aparecer nos próximos trimestres entre as que preveem melhoras.
Visão do próprio negócio O pessimismo geral com o setor agora aparece em uma intensidade parecida quando se questiona o desempenho individual dos negócios. Mais da metade dos empresários (55%) acredita que o faturamento do seu negócio este ano será pior que em 2015 o pessimismo é sentido em todas as regiões em intensidade similar.