Simpósio de TCC e Seminário de IC, 2016 / 1º 55

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Transcrição:

BIOMEDICINA INCIDÊNCIA DE SUICÍDIOS DE IDOSOS NO DISTRITO FEDERAL 2011 A 2015 ELDERLY SUICIDE INCIDENCE AT DISTRITO FEDERAL, BRAZIL FROM 2011 TO 2015 HELAYNE ALVES DE OLIVEIRA DAMASIO ALEXANDRE SOARES Resumo Introdução: O suicídio é um fenômeno presente em todas as culturas e resulta da interação de vários fatores: psicológicos, culturais e socioambientais. As taxas de suicídio aumentaram nos últimos anos, no Brasil e no mundo, sendo que o suicídio entre pessoas idosas é uma vertente dessa realidade, associado com um processo depressivo decorrente de isolamento social, sentimento de perda, inadequação e desamparo. Objetivo: Analisar e discutir o suicídio de idosos no Distrito Federal no período de 2011 a 2015. Materiais e Métodos: Foi realizada uma análise de dados históricos relativos às características dos suicídios entre pessoas idosas corridas no DF entre 2011 a 2015, associada a uma pesquisa de artigos bibliográficos publicados entre 2000 a 2015. Resultado: No Distrito Federal o índice de suicídio de idosos é significantemente menor que a média nacional pesquisada, e aponta que as mulheres idosas comentem mais suicídio que os homens e que o meio mais comumente empregado é o enforcamento. Palavras-Chave: autoextermínio, suicídio de idosos, meios mais empregados de suicídio, isolamento social, depressão, envelhecimento. Abstract Introduction: Suicide is a phenomenon found in all cultures and results from the interaction of several factors: psychological, cultural and environmental. Suicide rates have increased in recent years, in Brazil and in the world, and suicide among older people is a part of that reality, being associated with a depressive process resulting from social isolation, feelings of loss, helplessness and inadequacy. Objective: Analyze and discuss the elderly s suicide at Distrito Federal, Brazil, in the period from 2011 to 2015. Materials and Methods: An analysis of statistical data was carried out based on the characteristics of suicides among elderly people occurred at Distrito Federal, Brazil, from 2011 to 2015, associated with a bibliographic research in articles published between 2000-2015. Results: At Distrito Federal the elderly suicide rate is significantly lower than the national average researched, that old women commit suicide more than old men, and whereas the method most commonly used is hanging. Keywords: self-extermination, suicide older, more employees means of suicide, social isolation, depression, aging. INTRODUÇÃO O Brasil está entre os 10 países com maior incidência de suicídio no ranking mundial, com cerca de oito mil casos por ano. Acrescentese a isso que muitas mortes não são registradas como suicídio, sem contar as tentativas infrutíferas de autoextermínio, que são em torno de 10 vezes superior aos casos consumados. Em uma pesquisa sobre suicídio que abrangeu dados estatísticos obtidos junto do DATASUS do Ministério da Saúde entre 1980 e o ano 2000, foi observado, que as maiores taxas de suicídio entre os idosos distribuídas de acordo com a idade, correspondia aos indivíduos acima de 65 anos do sexo masculino, com uma taxa aproximada de 7 casos para cada 100.000 habitantes. 12,17,23 Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram ainda que nos últimos 45 anos a mortalidade por suicídio aumentou cerca de 60% sendo que a maioria dos suicídios correspondem às faixas etárias mais jovens da população. Em torno de um milhão de pessoas cometeram suicídio no ano de 2000, uma morte a cada quarenta segundos e uma tentativa a cada três segundos. O suicídio pode então ser considerado um caso de saúde pública, não só por causa dos seus altos índices, mas também devido a seu custo para a saúde pública, uma vez que os gastos com a assistência a este tipo de situação é, por exemplo, o dobro do que é gasto 23, 24, 26 com o diabetes. A palavra suicídio tem sua origem no latim e significa ação de matar a si mesmo na qual sui = si mesmo e caedes = ação de matar. O suicídio é uma atitude autolesiva na qual a pessoa leva às últimas consequências a intenção de dar fim à sua própria existência. Desta forma, a pessoa que se suicida tem um objetivo em mente que muitas vezes é planejado com antecedência, e que pode ser precedido por diversas tentativas de autoextermínio. Geralmente para cada pessoa que se suicida existem outras cinco que realizaram a tentativa de suicídio. Há, porém, dados da OMS que indicam um índice geral de 10 tentativas para cada suicídio consumado. 24,26 O suicídio é uma das mais trágicas formas de morte e principalmente pelo fato de ser praticado por vontade própria do indivíduo. O suicídio impacta diretamente e indiretamente centenas de pessoas, familiares ou não, além da equipe médica que atende o suicida. São estimados, para a população brasileira em geral, cerca de vinte tentativas de suicídio para cada ato consumado, já na faixa etária dos idosos este fenômeno é extremamente grave pois, para cada duas tentativas de suicídio uma é 2,8,16,18, 24 consumada. O autoextermínio não se limita a uma só razão - ele envolve várias questões. Para ambos os sexos, os principais fatores de risco são a depressão e transtornos mentais. Algumas razões sociais também são apontadas, como morte de pessoa querida, isolamento social, Simpósio de TCC e Seminário de IC, 2016 / 1º 55

depressão, situações de dependência física ou mental, stress, restrições financeiras, dentre outras. 1,3,5,15 A aposentadoria para o homem torna-se uma ruptura para com a vida como um todo, uma vez que a casa, o cuidado do lar, dos filhos e netos nunca foram a fonte principal de prazer da sua vida. Outras fontes sugerem ainda que os dados sobre suicídio no Brasil possam estar subestimados, ou seja, podem ser ainda maiores, porque muitos óbitos (aproximadamente 13%) não são notificados, dificultando a inclusão da 1,4, 25 causa da morte. De modo geral as mulheres possuem uma taxa de suicídio menor porque se engajam mais facilmente que os homens em atividades comunitárias e domésticas, criando assim uma rede social mais forte que as faz sentir mais úteis e lhes confere um sentido de participação na sociedade até o final da vida. As tentativas de suicídio não consumados devem ser encaradas com seriedade, pois revelam um verdadeiro sinal de alerta para que os indivíduos sejam tratados antes que possam, de fato, consumar o seu desejo suicida. 7,16 No Brasil, a pessoa é considerada idosa quando possui idade igual ou superior a 60 anos, o que inclusive está expresso na lei conhecida como Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741, de 1.º de outubro de 2003). Porém, em outros países como na Europa, a pessoa é considerada idosa quando ultrapassa a idade de 65 anos. 28 A expectativa de vida do brasileiro do sexo masculino passou de 70,6 anos em 2011 para 71 anos em 2012, enquanto que, considerando o mesmo período, para as mulheres, aumentou de 77,7 para 78,3 anos o que mostra uma tendência de aumento da população idosa no nosso país. 11,12 O processo de envelhecimento por si só traz muitas dúvidas e questionamentos, estas situações podem levar os idosos a sentimentos de desesperança e ainda evoluir para um quadro de depressão que, em diferentes graus, pode levar o indivíduo a cometer o suicídio. A depressão ocorrendo neste grupo etário constitui um significativo risco de suicídio, pois o idoso, que se vê com seus laços sociais rompidos, acaba por se tornar deprimido, principalmente aqueles idosos que possuem personalidade ansiosa, rígida ou obsessiva. 29 Diversas perdas que os idosos atravessam durante sua vida (perda de entes queridos; filhos que deixam o lar para constituir família; perda das habilidades e capacidade física) contribuem de maneira significativa para o estabelecimento de um quadro de tristeza que para o idoso se apresenta de maneira insuportável, levando à geração de uma ideação suicida. De maneira global, o método mais utilizado no suicídio é o enforcamento. No gênero masculino, os suicídios consumados estão relacionados aos métodos utilizados como: armas de fogo, enforcamento ou saltos de lugares altos. Já as mulheres, de forma geral costumam se suicidar com ingestão de superdose de substâncias psicoativas ou veneno 9, 27 (intoxicação exógena) ou enforcamento. O objetivo deste trabalho foi discutir o índice de suicídio de idosos no Distrito Federal entre os anos de 2011 a 2015. Pois no meio científico existem vários trabalhos em diferentes áreas sobre o suicídio, em seus mais diversos aspectos; psicológicos, médicos, psiquiátricos, sociológicos, porém os idosos ficam à margem, em segundo plano, pois pouco se produz sobre a ocorrência de suicídios nesta faixa etária. 19,20 Materiais e Métodos Neste artigo foram utilizados dados estatísticos inéditos e fidedignos obtidos na base de dados oficial da Divisão de Apoio Técnico e Estratégico da Polícia Civil do Distrito Federal (DATE/PC/DF) que incluem informações relevantes como: idade da vítima, gênero, meio mais utilizado, quantidade de suicídio no período pesquisado. Para este trabalho foi utilizada a faixa etária de idosos de 60 a 95 anos. Utilizou-se também uma revisão narrativa e compreensiva relativa a estudos e pesquisas sobre o fenômeno do suicídio em pessoas idosas. Para tanto pesquisou-se nas bases SciELO, e Medline, tendo como critério de inclusão os seguintes descritores: suicídio, suicídios de idosos, autoextermínio de idosos, depressão em idosos e causas dos suicídios de idosos. Selecionou-se 50 artigos dos quais 29 foram analisados e utilizados como referencial bibliográfico. Os índices de suicídio de idosos foram discutidos, assim como os principais meios empregados, o gênero que mais comete autoextermínio do Distrito Federal e as possíveis explicações para as motivações que levaram os idosos a perpetrar tal ato. Resultados e discussão O suicídio está relacionado com perturbações depressivas e estas são patologias psiquiátricas passíveis de serem tratadas, o que por si só já caracteriza a situação que pode ser evitada, se algumas ações foram tomadas em tempo hábil. Alguns dos transtornos psiquiátricos relacionados ao suicídio são: depressão, transtorno do humor bipolar, etilismo crônico e uso de drogas. Transtornos esquizofrênicos também são considerados como importantes fatores de risco. A situação de risco é agravada quando estas condições ocorrem em conjunto Simpósio de TCC e Seminário de IC, 2016 / 1º 56

atingindo uma pessoa. No país, a população idosa está aumentando nos últimos anos. O aumento da expectativa de vida, o maior acesso desta população a tratamentos contra doenças crônicas próprias desta faixa etária e o próprio reconhecimento por grande parte da sociedade da importância dos idosos (reconhecendo os direitos dos idosos em diversas áreas) tem colaborado para que a população idosa esteja cada vez mais presente. 3,10,14,19,20 A perda de identidade do idoso, muitas vezes ocasionada pela aposentadoria, a privação do seu espaço social (as vezes dentro de sua própria casa) e brigas na família podem ser fatores que colaborem para o desenvolvimento de um processo depressivo. Para tentar definir os motivos que levaram o idoso a cometer esse ato se faz necessário uma análise envolvendo entrevistas realizadas com familiares e pessoas próximas, em um processo denominado autópsia psicológica. Em diversos casos durante as entrevistas referentes a suicidas desta faixa etária, foram identificados sentimentos de desesperança, depressão e isolamento social já listados como fatores contribuintes para este tipo de atitude. 19,21 O gráfico 1 mostra a quantidade de suicídios ocorridos entre idosos no Distrito Federal entre os anos de 2011 a 2015 em números absolutos. 6 Nestes dados observamos que houve um aumento do número absoluto de casos em 2013, onde notamos um crescimento de 10 casos em 2011 para 16 casos em 2013, sendo que nos anos de 2014 e 2015 houveram 12 casos em cada ano, totalizando 63 casos de suicídio de idosos no período pesquisado. Muito embora aparentemente mostre uma tendência de aumento no valor absoluto em relação ao ano de 2011 (de 12 casos em 2015 contra apenas 10 em 2011), a taxa de crescimento não levou em conta o aumento populacional no período. 6 Gráfico adaptado Para que se possa comparar os dados demonstrados no gráfico 1 com a variação populacional no período, obteve-se também junto ao DATE os dados de suicídio de idosos proporcionais à população (incidências para cada 100 mil habitantes). Cumpre observar que os dados relativos à população do DF estão repetidos nos anos de 2011/2012 e 2013/2014 na fonte de pesquisa utilizada. Desta forma, a análise das taxas de crescimento proporcional a cada ano ficou prejudicada. Por esse motivo concentramos nossa análise na variação dos índices no período total analisado tomando como base a variação entre a população existente em 2011 contra o total apurado em 2015. Ao analisarmos a taxa de suicídio de idosos para cada 100.000 habitantes no DF faz-se necessário avaliar a variação do índice total proporcionalmente ao aumento populacional (Tabela 1.) Ao mesmo tempo em que a população demonstrou crescimento de 14,27% a variação do índice de suicídios a cada 100.000 habitantes passou de 0,39 para 0,41, um crescimento de 5%. DISTRITO FEDERAL: 2011 A 2015 Suicídio de idosos Ano 2011 2012 2013 2014 2015 Suicídio /100mil hab. 0,39 0,51 0,57 0,43 0,41 População 2.556.149 2.556.149 2.786.686 2.786.686 2.920.949 Cresc. Acum. da população 0% 0% 9% 9% 14,27% Tabela 1 Número de incidências para cada 100mil habitantes no DF de 2011 a 2015. Tabela adaptada. Um fato que chamou a atenção foi que a média de suicídio entre idosos no DF, durante o período analisado, ficou aproximadamente em 0,5 casos para cada 100.000 habitantes, muito abaixo da média mundial calculada pela OMS, que é de 4,5 a 4 casos para cada 100.000 habitantes, se considerada a população em geral e de 7 casos para cada 100.000 habitantes entre pessoas com mais de 65 anos. 24 Gráfico 1 Número absoluto de suicídios de idosos no DF por período. Outro aspecto importante a ser considerado e que pode contribuir para explicar o baixo índice de suicídio de idosos no Distrito Federal em relação à média nacional, diz respeito Simpósio de TCC e Seminário de IC, 2016 / 1º 57

à condição sócio econômica da população do DF. Dados do IBGE indicam o Distrito Federal como a cidade de maior renda per capta do país, aproximadamente R$ 2.252,00 mensais. Adicionalmente à renda, a grande maioria da população do DF (Brasília) é de funcionários públicos, cujas condições de assistência à saúde e aposentadoria favorecem a qualidade de vida dos idosos. 11 que as mulheres possuem uma expectativa de vida maior que os homens. Segundo o IBGE a expectativa de vida das mulheres é de 78,8 anos, enquanto a dos homens é de 71,6. Como a depressão é um fator agravante em relação ao suicídio, muitas mulheres que ficam viúvas podem ter aumentado seu sentimento de solidão e isolamento, favorecendo a maior ocorrência deste ato. Comparando com os dados obtidos nesta pesquisa, observamos que no Distrito Federal (na capital federal) a taxa de suicídios de idosos é muito inferior à média nacional. Porém, mesmo sendo uma taxa inferior à média, o fato dela estar em uma trajetória ascendente (crescimento de 5%) é um fator preocupante a ser considerado. Entre os fatores importantes para este estudo está também a análise dos métodos mais comumente empregados pelas vítimas. Corroborando com o que alguns autores constataram, pode-se observar (Gráfico 2), que o método mais utilizado por estes idosos foi o enforcamento. Este tipo de suicídio é comum porque não utiliza meios complexos para sua realização, e o resultado esperado ocorre em um tempo relativamente curto. Gráfico 3 Perfil de suicídio de idosos no DF, por idade e gênero. Gráfico adaptado. Gráfico 2 Principais meios empregados no suicídio de idosos no DF. Gráfico adaptado. Em relação ao gênero, observamos que, contrariando a estatística nacional, o número de suicídios em idosos do sexo feminino é superior ao número de idosos do sexo masculino (Gráfico 3). A faixa etária na qual ocorreu o maior número de suicídio foi entre 60 e 73 anos de idade, totalizando 48 mortes. Do total de suicídios nesta faixa etária, 35 foram do sexo feminino e 13 do sexo masculino, ou seja, uma diferença significante. Uma possível explicação para este fato é Além do mais as taxas gerais de suicídios são maiores em pacientes com depressão, doenças mentais, câncer, doenças neurológicas como esclerose múltipla ou degenerativas em geral, doenças reumatológicas como o lúpus eritematosos sistêmicos e doenças cardiovasculares como infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico e muitas dessas 1,13, 22 doenças acometem mais o gênero feminino. Considerações Finais Concluiu-se que no Distrito Federal, no período pesquisado, o índice de suicídio de idosos é significantemente menor que a média nacional pesquisada, que as mulheres idosas cometem mais suicídio que os homens e que o meio mais comumente empregado é o enforcamento. Na literatura pesquisada há quase que um consenso em relação aos fatores que influenciam na ocorrência de suicídio entre os idosos. Em grande parte, a sensação de perda causada pelas Simpósio de TCC e Seminário de IC, 2016 / 1º 58

limitações características da idade, as doenças crônicas e mentais, a diminuição de renda, a depressão, e o isolamento social estão entre as principais causas de suicídio nesta faixa etária. De modo geral, há de se olhar de forma mais atenta e humanizada à situação do idoso no país, uma vez que os fatores de risco para o suicídio entre idosos são notórios e facilmente identificáveis, percebe-se que ações sistêmicas do Estado voltadas para o bem-estar dos idosos, aliadas à conscientização das famílias de forma a Referências 1. ABP- Associação Brasileira de Psiquiatria/ Suicídio: informando para prevenir, Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio. Brasília: CFM/ABP, 2014. 2. BERTOLOTE, J.M. et. al. Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica. Revista Brasileira de Psiquiatria vol. 32 Supl. II, out/2010. 3. CARVALHO,A. (org.) Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013/2017. Programa Nacional para a saúde mental. Direção Geral da Saúde, Portugal, 2012. 4. CAVALCANTE. F.G. et al. Autópsia psicológica e psicossocial sobre suicídio de idosos: abordagem metodológica. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2012, vol.17, n.8, pp. 2039-2052. ISSN 1413-8123. 5. CAVALCANTE, F.G; MINAYO, M.C.S. Estudo qualitativo sobre tentativas e ideações suicidas com 60 pessoas idosas brasileiras. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2015, vol.20, n.6, pp. 1655-1666. ISSN 1678-4561. 6. DATE- Divisão de Apoio Técnico e Estratégico- Polícia Civil do Distrito Federal. Estatística de suicídio de idosos entre 2011-2015. N.114/2016 protocolo 1377850/2015- DGDOC. 7. FIGUEIREDO, A.E.B. et al. Impacto do suicídio da pessoa idosa em suas famílias. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2012, vol.17, n.8, pp. 1993-2002. ISSN 1413-8123. 8. GOMES, J.O. et. al. Suicídio e Internet: análise de resultados em ferramentas de buscas. Psicologia e Sociedade26(1), 63-73, 2014. 9. GUTIERREZ,D.M.D; SOUSA, A.B.L ; GRUBITS, S. Vivências subjetivas de idosos com ideação e tentativa de suicídio. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2015, vol.20, n.6, pp. 1731-1740. reduzir as situações de isolamento e depressão teriam impacto significativo e direto na redução da mortalidade de idosos motivadas pelo autoextermínio. Agradecimentos À Polícia Civil do Distrito Federal, nas pessoas do Diretor da Academia de Polícia Civil e a todos os agentes do DATE/PC/DF, sem vocês este trabalho não existiria. 10. HESLER,L.Z. Suicídio em municípios do sul do Brasil. Programa de pós graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. 11. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2015 - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. 12. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- Tábua Completa de Mortalidade para o Brasil 2012 Projeção de População para o período de 2000-2060. 13. INCA- Instituto Nacional do Câncer José Alencar-Ministério da Saúde. Estimativa 2016- Incidência de Câncer no Brasil. Ministério da Saúde, 2015. 14. LOVISI, G.M et al. Análise epidemiológica do suicídio no Brasil entre 1980 e 2006. Revista Brasileira de Psiquiatria,2009;31(Supl. II):S86-93. Rio de Janeiro-RJ. 15. MACHADO,D.B. Impacto da desigualdade de renda e de outros determinantes sociais na mortalidade por suicídio no Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa de pós graduação em saúde coletiva, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014. 16. MELEIRO,A.M.A.S. Suicídio: identificar, tratar e prevenir. Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo,2012. 17. MELLO-SANTOS, C. et al. Epidemiologia do suicídio no Brasil (1980-2000): caracterização das taxas de suicídio por idade e gênero. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2005;27(2):131-4. 18. MENEGHEL, Stela Nazareth; MOURA, Rosylaine; HESLER, Lilian Zielke and GUTIERREZ, Denise Machado Simpósio de TCC e Seminário de IC, 2016 / 1º 59

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