MAPEAMENTO GEOLÓGICO PRELIMINAR DA FOLHA VELHA BOIPEBA (SD-24-X-C-IV), BAHIA, COM USO DO PROGRAMA SPRING Lila Costa Queiroz Ádila Fernandes Costa Gisele Mara Hadlich Universidade Federal da Bahia Instituto de Geociências - IGEO/UFBA E-mail: lilaix@hotmail.com, adiferosta@gmail.com, gisele@ufba.br Resumo O avanço das geotecnologias tem sido fundamental para a elaboração de mapas temáticos cada vez mais completos, facilitando a compreensão dos diversos ambientes que constituem determinada região. O presente trabalho tem o objetivo de identificar aspectos geológicos e geomorfológicos da área correspondente à carta topográfica Velha Boipeba (1:100000) utilizando imagens Landsat 7 e SRTM e processamento de imagens no programa SPRING (INPE). A atual configuração da linha de costa da área em estudo está relacionada às variações climáticas, às variações do nível do mar e à atuação tectônica durante sucessivos períodos geológicos. A partir do Fanerozóico, com a separação continental entre Brasil e África, foram formadas inúmeras bacias sedimentares que proporcionaram a formação de coberturas terciário-quaternárias. Em função das transgressões e regressões marinhas foram geradas planícies costeiras que se apresentam com diferentes fisionomias e incluem terraços marinhos, planícies fluviomarinhas e lacustres; deltas e estuários; praias e manguezais. Todos estes ambientes podem ser identificados na área de estudo. As rochas sedimentares da Bacia de Camamu são representadas pelos Grupos Brotas e Camamu, do Jurássico e Cretáceo respectivamente. O trecho da costa em estudo se diferencia das demais zonas costeiras do Estado da Bahia pela ausência do Grupo Barreiras e pela presença de rochas sedimentares mesozóicas bordejando a linha de costa e formando falésias. Os recifes de coral e algas que se fixaram nos sedimentos mesozóicos da Bacia de Camamu são particularmente notáveis sendo encontrados em diversos locais da costa. Os resultados deste trabalho ratificam a importância do uso de geotecnologias para o reconhecimento de áreas e a grande diversidade fisiológica presente em toda a Costa do Dendê e, desta forma, ressalta a importância da manutenção desses ecossistemas. Abstract The recent advancement of geothecnologies has been fundamental to the preparation of thematic maps, facilitating the understanding of the various environments that constitute a region. This study aims to identify geomorphological and geological features of the area corresponding to the topographic map of Velha Boipeba (1:100000) using Landsat 7 and SRTM images and digital processing of images in the SPRING software (INPE). The current configuration of the shoreline of the area is related to climatic change, to the sea level variations and to the tectonic activity during successive geological periods. From Fanerozoic, with continental separation between Brazil and Africa, many sedimentary basins were formed which provided the formation of Tertiary-Quaternary coverage. Due to the marine transgressions and regressions, coastal plains were generated that are presented with different physiognomies and include marine terraces, river-marine plains and lakes, deltas and estuaries, beaches and mangroves. All these environments can be identified in the studied area. The sedimentary rocks of the Camamu are represented by Brotas and Camamu groups of Jurassic and Cretaceous respectively. The stretch of studied coast is different from other coastal areas of Bahia State due to the absence of the Barreiras group and to the presence of Mesozoic sedimentary rocks near the coast forming cliffs. The coral reefs and algae which have settled in sediments of the Mesozoic Basin of Camamu are particularly notable being found in various places of the coast. The results of this study confirm the importance of the use of geotechnologies for the recognition of areas and physiological diversity present throughout the Dendê Coast and thus emphasize the importance of maintaining these ecosystems. Palavras-chave: imagem SRTM, litoral da Bahia, Bacia de Camamu, SRTM image, Bahia coast, Camamu basin.
1. Introdução O avanço das geotecnologias tem sido fundamental para a elaboração de mapas temáticos cada vez mais completos, facilitando a compreensão dos diversos ambientes que constituem determinada região. O Sistema de Informação Geográfica (SIG) permite a geração de arquivos temáticos georreferenciados e a vinculação a estes de atributos constituídos de dados alfanuméricos armazenados num banco de dados. A configuração de um litoral representa o resultado da longa interação entre processos tectônicos, geomorfológicos, climáticos e oceanográficos (MUEHE, 1998). As variações do nível relativo do mar e do clima ocorridas durante o quaternário favoreceram os processos de erosão e deposição, modelando as feições presentes no relevo costeiro brasileiro. Em função das transgressões e regressões marinhas (MMA, 1996) foram geradas planícies costeiras que se apresentam com diferentes fisionomias e incluem terraços marinhos, planícies fluvio-marinhas e lacustres; deltas e estuários; praias e manguezais. Na região de Boipeba observa-se a ocorrência de todos esses ambientes. Nas ilhas de Tinharé e Boipeba, em que recifes de coral bordejam boa parte da costa, percebe-se a presença de praias intercaladas com falésias de arenitos e carbonatos da Bacia de Camamu, além de um manguezal instalado em cima do recife. Este trabalho tem por objetivo utilizar o geoprocessamento para identificar aspectos geológicos e geomorfológicos da área. 2. Caracterização da área de estudo O estudo foi realizado em um trecho da costa baiana conhecida como Costa do Dendê, que inclui a carta topográfica velha Boipeba (SD-24-X-C-IV) e tem seu limite norte na altura do município de Cairu (38 30 W e 13 30 S) e limite sul na lagoa do Cassange (39 W e 14 S). A área de estudo abrange as praias de Cassange, Taipus de Fora, Barra Grande, Cova da Onça, Bainema, Moreré, Boipeba, Pratigi e Pontal (figura 1). Posicionada em zona de baixa latitude ao sul do Equador, a área de estudo caracterizase por apresentar clima representativo de floresta tropical quente e úmido, tipo Af (classificação de Köeppen), sem estação seca (MARTIN et al., 1980), com elevadas precipitações, influenciadas pela proximidade com o mar. O regime pluviométrico é regular e há ocorrência de chuvas durante todos os meses do ano, alcançando valores superiores a 2000 mm, sendo que, os maiores índices pluviométricos ocorrem entre os meses de abril e agosto.
PRAIA DO PONTAL (TINHARÉ) PONTA DOS CASTELIANOS PRAIA DE PRATIGI (ITUBERÁ) PONTA DO MUTÁ LAGOA DO CASSANGE Figura 1. Imagem de satélite relativa à carta Velha Boipeba (compatível com a escala 1:100000). Fonte: adaptado de Miranda e Coutinho, 2004. A geomorfologia da porção emersa da costa do Dendê é caracterizada por três províncias geomorfológicas distintas sustentadas por um arcabouço geológico: o Relevo Serrano, a Superfície Sedimentar Cretácea e a Planície Quaternária, sendo que apenas as duas últimas encontram-se presentes na área de estudo. A Superfície Sedimentar cretácea é apoiada nas rochas sedimentares da Bacia de Camamu e apresenta uma morfologia de colinas semitabulares de áreas arrasadas de relevo ondulado apresentando um padrão de drenagem dendrítico bastante denso. A Planície Quaternária constitui as áreas de menor altitude da Costa do Dendê, apresentando um conjunto de estuários e baías controlados diretamente pelo arcabouço de blocos falhados que afeta o pacote sedimentar que preenche a Bacia de Camamu e é predominante na área de estudo. A vegetação terrestre é composta pela mata atlântica, manguezal e restinga. A mata atlântica encontra-se em diversos estágios de regeneração e apresenta uma enorme diversidade de espécies animais e vegetais; a área de manguezal é composta por uma vegetação adaptada a solos saturados em água, anaeróbios e salinos; já a restinga é composta por campos ralos de gramíneas e matas fechadas que cobrem os terraços arenosos do Quaternário. 2.1 Evolução geológica da área A atual configuração da linha de costa apresenta características de uma origem relacionada, às variações climáticas, do nível do mar e da atuação tectônica durante sucessivos períodos geológicos. São encontrados depósitos quaternários bem desenvolvidos,
reentrâncias, ilhas, canais, recifes coralinos e uma grande baía, herdada da estrutura de blocos falhados da Bacia de Camamu (MARTIN et al., 1979). A partir da separação continental entre América do Sul e África, no Fanerozóico e no Recente (0,2 Ga), foram formadas inúmeras bacias sedimentares espalhadas ao longo da costa do Estado da Bahia, possibilitando a formação de coberturas terciário-quaternárias. A Bacia de Camamu apresenta uma orientação geral N0 -N10 e se estende desde a cidade de Itacaré até as proximidades da cidade de Valença (CORRÊA-GOMES et al., 2005). A porção mais continental da Costa do Dendê está encaixada no embasamento cristalino de idade pré-cambriana, segundo uma direção, controlada por falhas, NNE-SSW (MARTIN et al., 1980). As rochas sedimentares da Bacia de Camamu são representadas pelos Grupos Brotas e Camamu. O grupo Brotas, datado do Jurássico, abrange toda a área e é composto pelas Formações Aliança e Sergi. O Grupo Camamu, datado do Cretáceo, aflora no sul da Ilha de Boipeba e na Península de Maraú, e é composto pelas Formações Algodões e Taipus-Mirim (CPRM, 2003). O Quaternário foi um período marcado por grandes variações climáticas e do nível dos oceanos, o que proporcionou a formação de depósitos sedimentares ao longo da costa do estado diferenciados em: depósitos marinhos formados a partir de eventos transgressivos e depósitos continentais ligados a mudanças climáticas durante os períodos regressivos. Dois grandes episódios transgressivos condicionaram fundamentalmente a evolução da zona costeira. O primeiro, denominado por Bittencourt et al. (1979), de Penúltima Transgressão, alcançou um nível de 8 ± 2 m acima do nível atual, com idade de 120.000 anos A.P. (Pleistoceno) e o segundo, denominado Última Transgressão, holocênico, alcançou um máximo de cerca de 5 m acima do nível médio atual do mar, por volta de 5100 anos AP. A última transgressão marinha holocênica com amplitude de ~ 3m foi endêmica a bacias oceânicas equatoriais (MITROVICA e MILNE, 2002). A elevação no nível relativo do mar durante a Penúltima Transgressão promoveu a erosão das rochas sedimentares da Bacia de Camamu e na regressão subseqüente, a progradação da linha de costa foi favorecida pela disponibilidade de sedimentos expostos da plataforma continental formando-se assim os depósitos pleistocênicos (MARTIN et al., 1979). Durante a Última Transgressão o nível do mar inundou e erodiu parcialmente os depósitos pleistocênicos, formando sistemas de ilhas barreiras e lagunas. A regressão subseqüente favoreceu novamente a progradação da linha de costa e a deposição de novos
cordões litorâneos, desta vez holocênicos. Estes cordões indicam a posição de antigas linhas de costa e encontram-se na porção externa da planície costeira, com altitudes máximas de 4 a 6 m. Após a Última Transgressão as lagunas foram substituídas por terras úmidas (BITTENCOURT, 1996). Os depósitos quaternários são representados pelos terraços marinhos pleistocênicos, terraços marinhos holocênicos, pântanos e mangues atuais (MARTIN et al., 1980). Os terraços marinhos pleistocênicos se formaram na parte final da Penúltima Transgressão e durante a regressão que a sucedeu, e ocorrem sob a forma de terraços arenosos de coloração branca na superfície, passando de marrom a preta, em média dois metros abaixo. Ocupam a faixa mais interior dos depósitos litorâneos, em toda Costa do Dendê. O topo desses terraços se situa de 6 a 10 m acima do nível atual da preamar, e são bem desenvolvidos neste trecho da costa (BITTENCOURT, 1996). Na parte externa dos terraços marinhos pleistocênicos se localizam os terraços marinhos holocênicos, menos elevados (4 a 6 m acima do nível atual da preamar). Os sedimentos de praia coletados nas Ilhas de Tinharé e Boipeba, e na Península de Maraú (FREITAS, 2002) têm uma grande contribuição de biodetritos, compostos por fragmentos de algas calcárias, principalmente Halimeda, e também de ouriços e conchas de moluscos. Esta predominância de biodetritos nos sedimentos de praia alcança teores variando entre 80-100% (REBOUÇAS, 2006), apenas nas Ilhas de Boipeba e Tinharé, o que é atribuído a presença de recifes em franja que bordejam as praias destas ilhas. Porém a maioria das praias da Costa do Dendê apresenta natureza dos sedimentos predominantemente siliciclástica. Os terraços marinhos holocênicos diferenciam-se dos terraços pleistocênicos por serem notadamente bem desenvolvidos, e possuírem cristas de cordões litorâneos bem preservados, mais finos, próximos e paralelos entre si. Também relacionados às variações climáticas e do nível do mar, os depósitos de pântano e mangues atuais, encontrados nas margens protegidas dos rios e riachos, bem como das baías nas zonas de influência da maré, têm idade holocênica e são compostos de materiais argilo-siltosos ricos em matéria orgânica (MARTIN et al., 1980). O território brasileiro, por situar-se na parte interna da placa tectônica Sul Americana, torna-se menos vulnerável aos eventos sísmicos de grandes magnitudes e freqüências. Porém, este não se encontra isento de ser atingido por sismos, pois as causas, mesmo se processando distante e lentamente, possuem efeitos cumulativos no espaço e no tempo (TASSINARI, 2000). Desta forma o neotectonismo ao longo da Costa do Estado da Bahia deve ser um dos fatores relevantes para a compreensão da evolução geológica e geomorfológica da área.
3. Materiais e métodos Para confecção do mapa geológico preliminar da carta Velha Boipeba foi utilizado o programa computacional SPRING Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas, versão 4.3.2 (INPE, 2008) juntamente com a manipulação de imagens do satélite Landsat 7, disponíveis no site do INPE (http://www.inpe.br) e imagens SRTM disponíveis no site da Embrapa (http://www.embrapa.br). Também foi realizada uma visita de campo à área de estudo e levantamento bibliográfico de informações geológicas e geomorfológicas. 3.1. Procedimento de campo Entre os dias 10 e 20 de janeiro de 2009 foi realizada uma visita de campo à área de estudo. Esta visita foi bastante significativa visto que foi possível ter uma maior clareza em relação aos diversos ambientes que constituem a região, tais como manguezais e recifes de corais, bem como a composição sedimentológica das praias. 3.2. Levantamento bibliográfico Nesta etapa do trabalho foi feito um levanto bibliográfico de informações geológicas e geomorfológicas da área de estudo. As principais referências utilizadas para a confecção do trabalho foram Mapa Geológico do Quaternário Costeiro (MARTIN et al., 1980), carta topográfica Velha Boipeba (SD-24-X-C-IV) na escala 1:100.000 (BRASIL, 1971), a Tese de mestrado em geologia costeira e sedimentar de Renata Rebouças (2006) e o Projeto Costa do Dendê (DOMINGUEZ, 2006). 3.3. Geoprocessamento O mapeamento da área de estudo foi realizado com auxílio de geotecnologias de fácil acesso (aplicativo SPRING) utilizando imagens do satélite Landsat 7 adquiridas gratuitamente no banco de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE e imagem SRTM disponível no site da Embrapa. Inicialmente foi desenvolvida uma coleta de informações com dados referentes à geologia e geomorfologia do trecho da costa da Bahia em estudo, consultando as referências supra-citadas. Após o levantamento bibliográfico, passou-se à etapa seguinte que consiste no processamento de imagens. Para realização da correção geométrica da imagem Landsat, foi utilizada como base a carta topográfica Velha Boipeba em escala 1:100.000, em meio digital (ESTADO DA BAHIA, s.d.). Vários procedimentos de processamento digital de imagens foram realizados utilizando as diferentes bandas, como aumento de contraste e testes com composições coloridas. A composição escolhida para a continuidade do estudo foi R-G-B
aplicada nas bandas 3, 4 e 5 respectivamente. Estes procedimentos permitiram obter informações a respeito da área em estudo gerando PIs Planos de Informações que, através de interpretação visual, facilitaram a composição de mapas temáticos e a delimitação de unidades geomorfológicas. Foi utilizada também uma imagem SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) que permitiu gerar fatiamento hipsométrico e mapa de declividades. Para processar a imagem SRTM, foi utilizado o programa computacional SPRING (versão 4.3.2), pois representa uma excelente ferramenta no processamento de imagens, na análise espacial e modelagem numérica de terreno e na consulta de banco de dados, além de ser bastante acessível. Foi estabelecida relação com a geologia da área através da fotointerpretação, buscando identificar feições que caracterizassem os sucessivos períodos geológicos descritos neste trabalho. O cruzamento dos PIs temáticos gerados (hipsometria e declividade) e a análise dos mapas geológicos e geomorfológicos auxiliaram na elaboração do mapa geológico preliminar. Na extensão do Scarta foram elaborados os mapas com as coordenadas, escalas e legendas. 4. Resultados e Discussão A partir do cruzamento e análise dos mapas confeccionados (figuras 2 e 3), foram identificadas feições que traduzem uma origem relacionada às variações climáticas, do nível do mar e da atuação tectônica durante sucessivos períodos geológicos. O trecho da costa em estudo se diferencia das demais zonas costeiras do Estado da Bahia pela ausência do Grupo Barreiras e pela presença de rochas sedimentares mesozóicas bordejando a linha de costa e formando falésias. Margeando a linha de costa das ilhas de Tinharé e Boipeba, e no litoral retilíneo da Península de Maraú são encontrados recifes de coral e de algas calcárias. Sob um clima de ondas de maior energia, da Península de Maraú observa-se uma livre circulação de sedimentos no sentido S-N. O Rio de Contas, que deságua cerca de 50 km ao sul da Baía de Camamu, apresenta-se como um rio extremamente importante na região da Costa do Dendê especialmente em relação ao balanço de sedimentos siliciclásticos. Os recifes são outra notável fonte de sedimentos para as praias da região, principalmente em locais de déficit de sedimentos, além de constituírem uma proteção natural para as praias em sua retaguarda. Desta forma a manutenção destes ecossistemas torna-se fundamental para o equilíbrio ambiental, prevenindo contra a erosão costeira.
No mapa geológico preliminar da carta Velha Boipeba (figura 4) foram identificados os seguintes depósitos e afloramentos de origem sedimentar: Depósitos Argilo-orgânicos de Mangue Correspondem aos sedimentos que se acumularam em associação com os mangues atuais, sendo o substrato sobre o qual o mangue se encontra predominantemente constituído de materiais argilo-siltosos ricos em matéria orgânica bordejando os canais de maré e baías. Rochas Sedimentares Mesozóicas São as rochas que preenchem a bacia de Camamu, pertencentes aos Grupos Camamu (Cretáceo) composto pelas formações Taipus-Mirim e Algodões, e Brotas (Jurássico) composto pelas formações Aliança e Sergi. Não foi possível individualizar em mapa estas formações devido à dificuldade de separá-las através da fotointerpretação. Depósitos Argilo-orgânicos de 'Zonas Úmidas' Abrange os sedimentos que se acumularam em associação com as Terras Úmidas atuais, sendo o termo terra úmida referente a áreas que não são nem completamente terrestres, nem completamente aquáticas. Dão suporte a uma vegetação tipicamente adaptada à vida em condições saturadas, ocupando as áreas mais baixas das planícies quaternárias. Depósitos Fluviais Esses depósitos são constituídos por sedimentos de diques marginais, barras de meandros e de canais abandonados que ocorrem em associação com os principais rios que deságuam na região. Areias Regressivas Holocênicas (Terraço Marinho Holocênico) Constituem depósitos arenosos com altitudes que variam de 4,5 a 5 metros com uma superfície apresentando declividade em direção à atual praia, ocorrendo nas porções mais externas das planícies quaternárias. Na área do estudo estão as ocorrências mais expressivas destes depósitos ao longo da Costa do Dendê (Ponta do Mutá, praia de Pratigi e praia do Pontal). Areias Regressivas Pleistocênicas (Terraço Marinho Pleistocênico) Constituem terraços arenosos com 6 a 8 metros de altitude que ocorrem nas porções internas das planícies quaternárias, normalmente margeando os canais de maré. Estas areias são interpretadas como resultado de provável deposição associada a processos estuarinos, num período de nível do mar mais alto do que o atual durante o Pleistoceno. Recifes de coral e algas São estruturas rochosas rígidas, resistentes à ação das ondas e correntes marinhas provenientes da incrustação de corais e algas coralinas já mortos. Estes recifes
desenvolveram-se a partir de 7000 anos A.P., quando a plataforma continental encontrava-se completamente inundada e fixaram-se nos sedimentos mesozóicos da Bacia de Camamu. Figura 2. Mapa hipsométrico da folha Velha Boipeba. Figura 3. Mapa de declividade da folha Velha Boipeba.
Figura 4. Mapa geológico preliminar da folha Velha Boipeba 5. Conclusões O uso de técnicas de processamento digital de imagens, com imagens e programas de fácil acesso e gratuitos, mostrou-se de grande valia para a realização do mapa geológico preliminar da folha Velha Boipeba, pois auxiliou na compartimentação da área estudada. O mapeamento preliminar facilitou visita em campo e auxiliará em futuras visitas visando maior detalhamento a partir do qual poderão ser melhor descritas as características de cada unidade já observadas e a confecção do mapa geológico definitivo. A atual morfologia da área é resultado da interação entre processos tectônicos, geomorfológicos, climáticos e oceanográficos através do tempo. É imprescindível ressaltar a importância da manutenção dos ecossistemas aqui discutidos, como recifes de corais, que possibilitam o perfeito equilíbrio da área estudada. Agradecimentos Agradecemos ao monitor do curso Geoprocessamento e Geomorfologia: aplicações em Geografia e Geologia, Henrique Assunção, pela atenção e dedicação ao trabalho realizado.
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