PARECER COREN-SP 032/2012 CT PRCI n 100.074/2012 e Ticket 279.456 Ementa: Preenchimento de atestado médico por profissional de Enfermagem. 1. Do fato Questionamento de Enfermeiro sobre a possibilidade do preenchimento de atestado médico realizado pelo profissional de Enfermagem, ante a determinação do empregador. 2. Da fundamentação e análise Temos hoje em nosso país grande diversidade de profissões, sendo que todas elas são agrupadas e organizadas em categorias, e portanto, cada qual obedece as normas e regulamentos intrínsecos a sua categoria profissional. Conforme o caso em tela, o questionamento é justamente se há possibilidade do atestado médico ser preenchido por outro profissional que não seja o profissional médico. Para tanto, temos que observar as normas que regem as condutas da profissão envolvida, bem como seus deveres e responsabilidades. Neste sentido, cabe esclarecer quais são os atos que evolvem o exercício da profissão de medicina, uma vez que existem atribuições exclusivas à categoria. Para melhor elucidar, toma-se como forma de esclarecimento as Resoluções dos Conselhos Regionais de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (RESOLUÇÃO CREMERJ n 121/98) e de Santa Catarina (RESOLUÇÃO CREMESC n 042/98), as quais definem o Ato Médico, conforme abaixo transcrito: RESOLUÇÃO CREMERJ Nº 121/98 Define Ato Médico, enumera critérios e exigências para o exercício da profissão médica. RESOLVE: 1
Art. 1º ATO MÉDICO é a ação desenvolvida visando a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação das alterações que possam comprometer a saúde física e psíquica do ser humano (CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 1998). RESOLUÇÃO CREMESC Nº 042/98 DEFINE "ATO MÉDICO", ENUMERA CRITÉRIOS E EXIGÊNCIAS PARA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO MÉDICA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Art. 1º - Ato médico é ato profissional, exclusivo, realizado por quem está habilitado para exercer a medicina e procura estabelecer o(s) diagnóstico(s), prevenção e tratamento das doenças humanas. Art.2º - O ato médico é o cerne da profissão médica, sendo sua prática e seu ensino privativos de médico (CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 1998). Ante tais resoluções, observa-se, que os atos médicos são de exclusiva e total responsabilidade dos profissionais médicos, não cabendo a outros a sua realização. Dentro desta linha de raciocínio, e ainda no intuito de esclarecer, as mesmas resoluções determinam ser também ato do profissional de medicina o fornecimento de atestado, bem como proíbe que o profissional atribua tais funções a outro profissional não médico. Neste sentido (RESOLUÇÃO CREMERJ n 121/98): RESOLUÇÃO CREMERJ Nº 121/98 Art. 1 2 o Cabe, exclusivamente, ao médico a realização de consulta médica, a investigação diagnóstica e a terapêutica. 3 o Todos os documentos emitidos, decorrentes da ação desenvolvida pelo profissional médico, assim como os resultados de exames complementares para elucidação diagnóstica, o atestado de saúde, de doença e de óbito, são compreendidos como integrantes do ato médico. Art. 2 o É vedado ao médico atribuir ou delegar funções de sua exclusiva competência para profissionais não habilitados ao exercício da Medicina. (CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA ESTADO RIO DE JANEIRO, 1998). Corroborando com a mesma informação, é a Resolução do Conselho Federal de Medicina, a qual determina que o atestado médico é parte integrante do ato médico (RESOLUÇÃO CFM n 1658/2002): 2
RESOLUÇÃO CFM n.º 1.658/2002 Normatiza a emissão de atestados médicos e dá outras providências. (Parcialmente alterada pela Resolução CFM nº 1851, de 18.08.2008) RESOLVE: Art. 1º O atestado médico é parte integrante do ato médico, sendo seu fornecimento direito inalienável do paciente, não podendo importar em qualquer majoração de honorários. (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2002). Não bastasse tais informações, o Código de Ética Médica (RESOLUÇÃO CFM n 1931/2009) determina ser vedado ao médico deixar de fornecer o devido atestado dos atos por ele realizados, conforme abaixo exposto: Resolução CFM 1931/2009 (Publicada no D.O.U. de 24 de setembro de 2009, Seção I, p. 90) (Retificação publicada no D.O.U. de 13 de outubro de 2009, Seção I, p.173) Aprova o Código de Ética Médica É vedado ao médico: Art. 91. Deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente ou por seu representante legal. (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2009) Ante os apontamentos aqui realizados, cabe ainda ressaltar o fato de que o profissional de Enfermagem, no exercício de suas atividades e em obediência ao Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, aprovado pela Resolução COFEN n 311/2007, determina em seu artigo 10, que este, pode se recusar a realizar atividades que não sejam de sua competência: SEÇÃO I DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E COLETIVIDADE. DIREITOS Art. 10 - Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, família e coletividade (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007). A Enfermagem é uma profissão regulamentada pela Lei n 7.498/86 e pelo Decreto n 94.406/87, cuja atividade precípua é a assistência de enfermagem preventiva, curativa e de recuperação aos clientes/pacientes. Seus profissionais obedecem às normas e princípios de 3
conduta descritas pela Resolução COFEN n 311/2007, integrando a equipe interdisciplinar, porém, como uma profissão independente e autônoma (BRASIL, 1986; 1987; CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007). CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM PREÂMBULO A Enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e descentralização político-administrativa dos serviços de saúde. (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007) 3. Da Conclusão Sendo assim, ante o acima exposto e observando a legislação conclui-se que: 1. O atestado médico é parte integrante do ato médico. 2. O ato médico é de exclusiva responsabilidade do profissional médico e expressamente proibida a atribuição de tal ato a outro profissional não médico. 3. O profissional de Enfermagem no exercício de suas atividades, e ainda, em observância ao Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, não poderá realizar atribuições aquém de sua competência, dentre elas, o preenchimento de atestado médico, uma vez ser este de responsabilidade exclusiva de profissional médico. 4. Deverá o profissional de Enfermagem apresentar recusa à realização de tal atividade, vez que não é de sua competência técnica, científica, ética e legal, ainda que solicitado pelo empregador. É o parecer. 4
4. Referências BRASIL. Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7498.htm>. Acesso em: 26 out. 2012. BRASIL. Decreto nº 94.406, de 08 de junho de 1987. Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989 /D94406.htm>. Acesso em: 26 out. 2012. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN n 311, 08 de fevereiro de 2007. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Disponível em: <http://portalcofen.gov.br/sitenovo/sites/default/files /resolucao_311_anexo.pdf>. Acesso em: 21 set. 2012. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM n.º 1.658, de 20 de dezembro de 2002. Normatiza a emissão de atestados médicos e dá outras providências. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/resolucoes /CFM/2002/1658_2002.htm>. Acesso em: 21 set. 2012. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM n 1931, de 17 de setembro de 2009. Código de Ética Médica. Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id= 20665:código-deetica-medica-res-19312009-capitulo-x-documentos-medicos&catid=9:codigo-de-etica-medicaatual&Itemid=122>. Acesso em: 21 set. 2012. 5
CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Resolução CREMESC nº 042, de 22 de Outubro de 1998. Define "ato médico", enumera critérios e exigências para o exercício da profissão médica e dá outras providências. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/crmsc/resolucoes/1998/42_1998.htm>. Acesso em: 21 set. 2012. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Resolução CREMERJ nº 121, de 25 de março de 1998. Define "Ato Médico", enumera critérios e exigências para o exercício da profissão médica. Disponível em: <http://www.cremerj.org.br/skel.php?page=legislação /resultados.php>. Acesso em: 21 set. 2012. São Paulo, 10 de Outubro de 2012. Câmara Técnica de Legislação e Normas - CTLN Relator Alessandro Lopes Andrighetto Enfermeiro COREN-SP 73.104 Revisora Regiane Fernandes Enfermeira e Fiscal COREN-SP 68.316 Aprovado em 07 de Novembro de 2012 na 14ª Reunião da Câmara Técnica. Homologado pelo Plenário do COREN-SP na 814ª Reunião Ordinária. 6