EDERSON DE SOUZA IRASSOCHIO BANCO PANAMERICANO S/A A C Ó R D Ã O

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PETIÇÃO INICIAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Transcrição:

RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. AUSÊNCIA DE BAIXA DO GRAVAME APÓS ACORDO JUDICIAL. DANO MORAL: CABIMENTO. 1. A demora na liberação do gravame, depois de quitada a dívida e cumprido o acordo judicial, configura a hipótese de dano moral. A desídia da instituição financeira ré, ao se manter inerte quanto à sua obrigação de providenciar na liberação da restrição não pode operar a seu próprio benefício. Dano moral in re ipsa. Precedentes desta Corte. 2. Ausente sistema tarifado, a fixação do montante indenizatório ao dano extrapatrimonial está adstrita ao prudente arbítrio do juiz. Quantum estabelecido em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), de acordo com as particularidades do caso. DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. APELAÇÃO CÍVEL Nº 70063060537 (N CNJ: 0498616-47.2014.8.21.7000) EDERSON DE SOUZA IRASSOCHIO BANCO PANAMERICANO S/A DÉCIMA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE ESTÂNCIA VELHA APELANTE APELADO A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento à Apelação. Custas na forma da lei. 1

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES. TÚLIO DE OLIVEIRA MARTINS E DES. MARCELO CEZAR MÜLLER. Porto Alegre, 02 de abril de 2015. DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA, Relator. R E L A T Ó R I O DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA (RELATOR) A princípio, adoto o relatório da sentença às fls. 181 e verso: EDERSON DE SOUZA IRASSOCHIO, qualificado, interpôs Ação de Indenização, por descumprimento de decisão judicial, contra BANCO PANAMERICANO S.A., aduzindo que ajuizou uma ação revisional contra o demandado, na qual acabaram firmando acordo extrajudicial, liquidando o contrato objeto da ação. Referiu que no acordo entabulado restou estabelecida a baixa alienação fiduciária incidente sobre o bem no prazo de 30 dias após o levantamento do valor ajustado, sendo que, não obstante a quantia devida estar à disposição da instituição financeira, até o momento não cumpriu com a sua parte no ajuste. Postulou assim pela condenação do requerido no pagamento dos danos morais sofridos em virtude do descumprimento da ordem judicial. Pugnou pela concessão da AJG. Com a inicial juntou procuração e documentos de fls. 10/69. Deferida a AJG à fl. 78. Citado, o requerido apresentou contestação nas fls. 87/100, aduzindo a ausência de interesse de agir em razão do acordo somente ter sido homologado após o ingresso da presente ação. No mérito, aduziu a improcedência da demanda, tendo em vista que contrariamente ao noticiado na inicial houve o regular cumprimento da obrigação ajustada, já tendo o veículo inclusive sido alienado pelo autora à terceiro. Sustentou a inexistência de ato ilícito a amparar a pretensão indenizatória, pugnando pela improcedência da ação. Juntou procuração e documentos de fls. 106/109. Réplica nas fls. 102/114. 2

Na instrução probatória foi colhido o depoimento pessoal da parte autora (fl. 132), bem como ouvidas duas testemunhas (fls. 133 e 163/164). As partes apresentaram memoriais remissivos nas fls. 156/161 e 175/180. A Dra. Juíza de Direito decidiu: Isso posto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial oposto por EDERSON DE SOUZA IRASSOCHIO contra BANCO PANAMERICANO S.A., eis que não caracterizados os fatos descritos na inicial. Condeno a parte autora ao pagamento das custas judiciais e honorários advocatícios da parte contrária, que arbitro em R$ 1.000,00 (hum mil reais), tendo em vista a natureza da causa e a complexidade da demanda, na forma do art. 20, 3º e 4º, do CPC, restando suspenso o pagamento em virtude da concessão da gratuidade judiciária, forte no art. 12 da Lei 1060/50. A parte autora apela. Sustenta que a instituição financeira ré não cumpriu com a sua parte em acordo proveniente de Ação Revisional de Contrato, eis que não cancelou gravame em veículo no prazo ajustado. Defende a ocorrência de danos morais em razão da desídia do réu em dar baixa no registro de alienação fiduciária. Pugna pelo provimento do recurso. A instituição ré apresentou contrarrazões, rebatendo os argumentos do autor e postulando pela manutenção da sentença. Subiram os autos. Registro terem sido cumpridas as formalidades dos artigos 549, 551 e 552 do Código de Processo Civil, considerando a adoção do sistema informatizado. É o relatório. V O T O S 3

DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA (RELATOR) Colegas. O recurso merece ser provido. Segundo se extrai da cópia do acordo entabulado entre as partes em Ação Revisional de Contrato Bancário (fls. 23-4), o demandante quitava sua dívida junto à instituição financeira através da disponibilização de montante depositado judicialmente (item 2. da transação), obrigando-se esta a realizar a baixa do gravame existente na motocicleta do demandante no prazo de 30 (trinta) dias após o levantamento do alvará (item 7. da avença). Na espécie, o acordo foi homologado em 29.10.2010 (fl. 62), sendo as partes intimadas em 25.10.2010 (fl. 63), com a retirada do alvará pela instituição financeira em 14.06.2011 (fl. 68 verso), de modo que o demandante cumpriu o quanto lhe era dirigido na transação efetuada. Assim, a partir do levantamento do alvará, tinha a requerida 30 (trinta) dias para liberar o veículo o gravame, obrigação que não foi cumprida, na medida em que ainda na data de 18.11.2011 constava a alienação do bem junto ao DETRAN/RS documento à fl. 77 dos autos. Ao que consta, o agente financeiro procedeu na baixa da restrição apenas em 24.11.2011 (doc. fl. 103), quando já escoado o prazo da obrigação imposta no indigitado acordo, o que caracteriza desídia do réu. Deste modo, demonstrada a falha na prestação do serviço pela instituição financeira requerida, concernente à ausência de liberação da restrição (gravame) existente no automóvel do requerente, sendo decorrência lógica o reconhecimento da responsabilidade civil ao caso em comento. Relativo aos abalos extrapatrimoniais, manifesto opinião no sentido de a manutenção indevida de gravame em registro do automóvel 4

caracterizar o danum in re ipsa ao consumidor, conforme elementares regras da experiência comum, prescindindo de prova quanto à ocorrência de prejuízo concreto. No ensinamento de SÉRGIO CAVALIERI FILHO tem-se, igualmente, a compreensão da desnecessidade de prova, quando se trata de dano moral puro (in Programa de Responsabilidade Civil, 5ª ed., 2ª tiragem, 2004, p. 100):...por se tratar de algo imaterial ou ideal a prova do dano moral não pode ser feita através dos mesmos meios utilizados para a comprovação do dano material. Seria uma demasia, algo até impossível exigir que a vitima comprove a dor, a tristeza ou a humilhação através de depoimentos, documentos ou perícia; não teria ela como demonstrar o descrédito, o repúdio ou o desprestígio através dos meios probatórios tradicionais, o que acabaria por ensejar o retorno à fase da irreparabilidade do dano moral em razão de fatores instrumentais. Nesse ponto a razão se coloca ao lado daqueles que entendem que o dano moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. (...) Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti que decorre das regras de experiência comum. Nesse sentido, precedentes desta Câmara: Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. DESCUMPRIMENTO DE ACORDO. RESTRIÇÃO SOBRE VEÍCULO DE PROPRIEDADE DO AUTOR. DANO MORAL CONFIGURADO. A responsabilidade civil pode ter origem na prática de ato ilícito ou na falha de prestação de serviço. CC, art. 186, e CDC, art. 14. A inércia da parte ré para providenciar a liberação do gravame incidente sobre veículo financiado por ela, após quitada a dívida, configura a hipótese de dano moral. Desnecessidade de prova do prejuízo concreto. Precedentes jurisprudenciais. (...) Apelação provida. (Apelação Cível Nº 70061710109, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marcelo Cezar Muller, Julgado em 30/10/2014) grifos meus. 5

Ementa: APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DESCUMPRIMENTO DE ACORDO JUDICIAL. MANUTENÇÃO INDEVIDA DE GRAVAME. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. Evidenciada a ilicitude do ato praticado pelo réu que, descumprindo acordo judicial, manteve injustificadamente gravame de alienação fiduciária no registro do automóvel do autor, por longo período, caracterizado está o dano moral puro, exsurgindo, daí, o dever de indenizar. Desnecessidade de prova do prejuízo concreto. Precedentes jurisprudenciais. Sentença mantida. (...) APELAÇÕES PARCIALMENTE PROVIDAS. (Apelação Cível Nº 70061229365, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Roberto Lessa Franz, Julgado em 25/09/2014) grifos meus. De mais a mais, vale ressaltar que foram ouvidas duas testemunhas, advertidas e compromissadas, as quais mencionaram que tentaram adquirir a motocicleta do demandante, não se concretizando o negócio em vista da existência da restrição financeira sobre o bem. montante compensatório. Configurado o dano e o dever de reparar, resta fixar o Concernente ao arbitramento do dano moral, é do magistério de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR: Impõe-se a rigorosa observância dos padrões adotados pela doutrina e jurisprudência, inclusive dentro da experiência registrada no direito comparado para evitar-se que as ações de reparação de dano moral se transformem em expedientes de extorsão ou de espertezas maliciosas e injustificáveis. As duas posições, sociais e econômicas, da vítima e do ofensor, obrigatoriamente, estarão sob análise, de maneira que o juiz não se limitará a fundar a condenação isoladamente na fortuna eventual de um ou na possível pobreza do outro. (Dano Moral, Editora Juarez de Oliveira, 2ª edição, 1999. p. 43). Reiteradamente venho manifestando posição de que o arbitramento do dano deve obedecer aos critérios da prudência, da 6

moderação, das condições da ré em suportar o encargo e não aceitação do dano como fonte de riqueza. Na casuística, não se pode desconsiderar o fato de que, embora com atraso, a parte requerida procedeu na liberação do gravame, em 24.11.2011, ficando o demandante aproximadamente 4 (quatro) meses com a indevida restrição no veículo, já que o alvará foi levantado em 14.06.2011, data a partir da qual a instituição financeira tinha 30 (trinta) dias para dar cumprimento à sua parte na transação realizada. De outra, igualmente deve ser ponderado o fato de o autor não conseguir concretizar a venda do bem dada a existência da restrição financeira, conforme comprovado pela oitiva de testemunhas. da indenização. Todas essas questões devem ser sopesadas no arbitramento Da análise dessas circunstâncias, tenho que a importância de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) encontra-se adequada a compensar o autor no caso em comento. Sobre a quantia deverá incidir correção monetária pelo IGP-M a partir da presente data e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a contar da citação, de acordo com o disposto na Súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça e art. 219 do Código de Processo Civil, respectivamente. Isso posto, dou provimento à Apelação, para condenar o réu a pagar indenização por danos morais, julgando procedente o pedido inicial. Arcará o requerido com o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em favor do patrono da parte autora, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, observado o tempo de duração do processo, a natureza da demanda, o número de intervenções no feito, tudo conforme disposto no art. 20, 3º do Código de Processo Civil. É como voto. 7

DES. TÚLIO DE OLIVEIRA MARTINS (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. MARCELO CEZAR MÜLLER - De acordo com o(a) Relator(a). DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA - Presidente - Apelação Cível nº 70063060537, Comarca de Estância Velha: "DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: ROSALI TEREZINHA CHIAMENTI LIBARDI 8