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Transcrição:

Quando eu, senhora... Sá de Miranda Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho, e vejo o que não vi nunca, nem cri que houvesse cá, recolhe-se a alma em si e vou tresvariando, como em sonho. Isto passado, quando me disponho, e me quero afirmar se foi assi, pasmado e duvidoso do que vi, m espanto às vezes, outras m avergonho. Que, tornando ante vós, senhora, tal, quando m era mister tant outr ajuda de que me valerei se alma não val? Esperando por ela que me acuda, e não me acode, e está cuidando em al, afronta o coração, a língua é muda. Coimbra, Portugal, 1481 Quinta da Tapada Minho, Portugal, 1558 Livro dos sonetos 21

Alma minha gentil, que te partiste Luís de Camões Alma minha gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente, repousa lá no céu eternamente e viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te alguma coisa a dor que me ficou da mágoa, sem remédio, de perder-te, roga a Deus que teus anos encurtou, que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus olhos te levou. Lisboa, Portugal, 1524 Lisboa, Portugal, 1580 22 Livro dos sonetos

Sete anos de pastor Jacó servia Luís de Camões Sete anos de pastor Jacó servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, que a ela só por prêmio pretendia. Os dias na esperança de um só dia passava, contentando-se com vê-la; porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe deu a Lia. Vendo o triste pastor que com enganos assim lhe era negada a sua pastora, como se a não tivera merecida, começou a servir outros sete anos, dizendo: Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida. Lisboa, Portugal, 1524 Lisboa, Portugal, 1580 Livro dos sonetos 23

Amor é um fogo que arde sem se ver Luís de Camões Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence o vencedor; é ter, com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? Lisboa, Portugal, 1524 Lisboa, Portugal, 1580 24 Livro dos sonetos

Se erra minh'alma... Antônio Ferreira Se erra minh alma, em contemplar-vos tanto, e estes meus olhos tristes, em vos ver, se erra meu amor grande, em não querer crer que outra coisa há aí de mor espanto; se erra meu espírito, em levantar seu canto em vós, e em vosso nome só escrever, se erra minha vida, em assi viver por vós continuamente em dor, e pranto; se erra minha esperança, em se enganar já tantas vezes, e assi enganada tornar-se a seus enganos conhecidos; se erra meu bom desejo, em confiar que algu hora serão meus males cridos, vós em meus erros só sereis culpada. Lisboa, Portugal, 1528 Lisboa, Portugal, 1569 Livro dos sonetos 25

Horas breves de meu contentamento Diogo Bernardes* Horas breves de meu contentamento, nunca me pareceu, quando vos tinha, que vos visse tornadas tão asinha em tão compridos dias de tormento. Aquelas torres, que fundei ao vento, o vento as levou, já que as sustinha, do mal, que me ficou, a culpa é minha, que sobre coisas vãs fiz fundamento. Amor com rosto ledo, e vista branca promete quanto dele se deseja, tudo possível faz, tudo segura: mas dês que dentro n alma reina, e manda, como na minha fez, quer que se veja quão fugitivo é, quão pouco dura. Ponte da Barca Minho, Portugal, 1530 Ponte da Barca Minho, Portugal, 1605 * Soneto que também se atribui a Luís de Camões. 26 Livro dos sonetos

Armada de aspereza minha estrela Armada de aspereza minha estrela a nova dor me leva e me encaminha; mas se uma glória vi perder-se asinha, foi por quem a perdi, glória perdê-la. Sucede nova dor, nova querela à liberdade que gozado tinha: não sei remédio dar à mágoa minha; e quem lho pode dar não sabe dela. Que alívio logo em meu tormento espero, se a que mo censura na alma, não o sente? Senão se o vê nos olhos com que o vejo. Porém, ah, doce amor, eu antes quero passar convosco a vida descontente, que contente viver sem meu desejo. Fernão Álvares do Oriente Goa, Índia, 1540?, 1599 Livro dos sonetos 27