4.1 Primeiros registros de acidentes por animais peçonhentos no Brasil

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Transcrição:

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4.1 Primeiros registros de acidentes por animais peçonhentos no Brasil No Brasil, os acidentes por animais peçonhentos constituem um problema de saúde desde os tempos mais remotos. De acordo com Cardoso (2003, p. 456), descreve a célebre carta datada de 31 de maio de 1560, escrita em São Vicente pelo jesuíta espanhol Pe. Diego Laynes em Roma, relata acidentes causados pelos diversos gêneros de serpentes venenosas existentes no Brasil, como Jararaca, Cascavel, Coral, Aranhas peludas e até mesmo lagartas. Porém, o primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos foi realizado por Vital Brazil em 1901, quando levantou o número de óbitos por picadas de serpentes peçonhentas no Estado de São Paulo. Em 1901, Vital Brazil ao iniciar a produção de soro antiofídico no Brasil, introduziu o boletim para observação de accidente ophidico (sic), que era enviado juntamente com as ampolas de soro, para serem preenchidas com os dados do acidente, que fez uso desse antiveneno, e desenvolvidos ao laboratório produtor (BARROSO, 1944, p. 35). Este boletim representou a base dos atuais sistemas nacionais de informação sobre esse tipo de acidente, que com o tempo surgiram outros modelos de fichas para a notificação destes acidentes. Ainda com relação ao boletim visualizado por Vital Brazil, é importante salientar que este se tratava de um produto puramente nacional, não tendo sido inspirado em trabalhos de outros pesquisadores. Faz-se necessário ressaltar que a descoberta da soroterapia antipeçonhenta foi apresentada à Sociedade de Biologia da França no dia 10 de fevereiro de 1894, por dois grupos de pesquisadores de estabelecimentos de pesquisa parisienses, de um lado Césaire

Auguste Phisalix e Gabriel Bertrand do Museu Nacional de História Natural e do outro, Albert Calmette do Instituto Pasteur (ALOUF, 1984, p. 20). A discussão sobre a especificidade dos soros colocou o Brasil em evidência e em pé de igualdade com a França, pois Albert Calmette atribuía a seu soro uma eficácia não específica, afirmando que este protegia o indivíduo contra diversos tipos de veneno. Por outro lado, Vital Brazil apontava várias especificidades dos soros. Hoje em dia os acidentes por animais peçonhentos continuam a constituir um sério problema de saúde pública no Brasil, tanto pelo número de casos registrados, em média tem-se ao ano 20 mil casos de acidentes com serpentes, 5 mil com aranhas e 8 mil por escorpiões, quanto pela gravidade apresentada, podendo conduzir à morte ou a seqüelas capazes de gerar incapacidade temporária ou definitiva para o trabalho e para as atividades de lazer. Segundo o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), para o período de 1990 a 1995, teve-se uma média anual de 132 óbitos por serpentes, 6 por aranhas e 38 por escorpiões, sendo estes notificados estando ausentes os não registrados. Fica nítida a importância dessas informações quando observamos que após o Programa Nacional de Ofidismo em 1989, os óbitos por envenenamento ofídico reduziram os casos de notificações, porém o bom desempenho desse sistema se deu apenas até 1995. A partir de 1996 verificou-se uma quebra de continuidade do número de casos de acidentes por animais peçonhentos registrados pelo Ministério da Saúde, passando de 34.218 em 1995 para 19.624 em 1996, 5.744 em 1997 e 7.119 em 1998. A notificação a respeito do crescimento de acidentes com animais peçonhentos tem-se dado devido à pouca importância política sobre o fato. O abandono por parte do Ministério da Saúde do Programa de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos pode também ser observado pela divulgação fragilizada dos acidentes causados por esses animais. O Informe Epidemiológico do SUS divulgou dados

dessa natureza, apenas os casos de acidentes por animais peçonhentos (serpentes, aranhas e escorpiões) distribuídos por Estado até 1998, quando teve seu perfil modificado, deixando de divulgar dados para se dedicar à publicação de artigos técnicos. O Boletim eletrônico Epidemiológico, que veio para sanar essa lacuna no que se refere à divulgação de dados referentes às doenças de notificação compulsória, não contempla os acidentes por animais peçonhentos (BOECHNER, 2003, p. 8). No entanto, percebe-se que o desconhecimento leva a uma tendência de aumento no registro de casos ao longo dos anos, contribuindo para a subnotificação. 4.2 Questões ambientais, crescimento desordenado e fatores sócio-culturais que facilitam acidentes por animais peçonhentos A desorganizada ocupação urbana e a conseqüente modificação do habitat podem ampliar o contato entre humanos e animais peçonhentos, aumentando a sua importância como problema de saúde pública. Neste contexto caracterizando acidentes envolvendo escorpiões, aranhas e serpentes. Matthiesen (1988) faz referência sobre como os animais peçonhentos tornamse um problema social, e diz: Se torna uma ameaça para o homem quando é encontrado no campo e em focos urbanos, em locais com ocorrência de lixo, em situação de desequilíbrio ambiental e em ambientes novos de dispersão e procriação, esses problemas associados a falta de infra-estrutura básica e carência de informação e consciência da população a respeito do problema. A análise dos acidentes causados por animais peçonhentos contribui amplamente para a saúde ambiental, uma vez que a descoberta de novos focos facilita a intervenção epidemiológica, permitindo elaborar estratégias de controle, bem como programas de prevenção de acidentes. A vigilância epidemiológica e

ambiental necessita detectar as mudanças nos fatores condicionantes do meio ambiente, que interferem na saúde da população para, assim, possibilitar medidas de prevenção e controle. Nas últimas décadas os acidentes vêm sendo considerados um agravo em saúde pública no Brasil, tornando-se significativos em algumas regiões. De acordo com Soares, Azevedo e De Maria (2002), evidências apontam que os acidentes são mais freqüentes do que mostram as estatísticas oficiais, podendo assumir um perfil epidemiológico grave em determinadas áreas, que observam que o processo de urbanização vem ocorrendo nos últimos anos no Brasil, tem criado condições para que os animais peçonhentos se proliferem e seu habitat natural se modifique. O aumento desordenado de favelas, as quais, na sua maioria, estão localizadas em áreas irregulares e caracterizadas por péssimas condições de habitação, associadas ao aumento gradativo da população ocorrido em tais áreas, contribui para a falta de saneamento básico e precárias condições de moradia, ocasionando a proliferação e o ataque desses animais. Silva (1992) associou a escolaridade com o nível sócio-econômico e constatou que indivíduos pobres e com poucos anos de estudo, moradores sobretudo das periferias urbanas - locais estes onde os problemas de saneamento básico são maiores - são mais acometidos. A remoção da vegetação para a implantação de loteamentos novos também faz com que os animais peçonhentos mudassem seu habitat e se abrigassem nas novas residências, as quais muitas vezes não possuem estrutura física adequada, contribuindo, dessa forma, para novos focos de dispersão e procriação.

CONCLUSÃO Os enfoques relacionados neste estudo permitiram destacar aspectos importantes sobre acidentes com animais peçonhentos e os fatores responsáveis por tais. Os sistemas de vigilância epidemiológica devem acompanhar o desenvolvimento científico e tecnológico por meio de articulações com a sociedade científica. Isso possibilita a atualização dinâmica das suas práticas mediante a incorporação de novas metodologias de trabalho visando a prevenção imunobiológica e aprimoramento das estratégias operacionais de controle. A atual política de descentralização do sistema de saúde deve contribuir significativamente para tornar mais oportunas as intervenções neste campo da saúde pública. Os profissionais de saúde têm como desafio atual trabalhar para o desenvolvimento da consciência sanitária da população para priorizar as ações de saúde na perspectiva do desenvolvimento da vigilância da saúde, que tem como um dos seus pilares de atuação a vigilância epidemiológica de problemas de saúde prioritários, em cada espaço geográfico. Finalmente, é possível afirmar que é de extrema importância que profissionais da área da saúde detectem os focos dos acidentes e, com o auxílio de estudos como este, possam definir as populações de maior risco, contribuindo assim para o serviço de controle de incidências.

BIBLIOGRAFIA ALOUF, J. (1984). La sérothérapie: passé, présent, futur. Bulletin de l'institut Pasteur, 82, pp. 19-27. BARROSO, R. D., 1944. Ofidismo no Brasil. Boletim do Instituto Vital Brazil, 26: 35-47. BOCHNER, Rosany. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS: ASPECTOS HISTÓRICOS, EPIDEMIOLÓGICOS, AMBIENTAIS E SÓCIOECONÔMICOS. Tese apresentada a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca como requisito à obtenção do Título de Doutor em Saúde Pública Orientador: Claudio José Struchiner. Rio de Janeiro, outubro de 2003. 153 p. CARDOSO, J. L.C., 2003. José de Anchieta e as Cartas. In: Animais Peçonhentos no Brasil: Biologia, Clínica e Terapêutica dos Acidentes (J. L. Cardoso et al. Org.), pp. 456-457, São Paulo: Sarvier. MATTHIESEN, F. A. Os escorpiões e suas relações com o homem: uma revisão. Ciência e Cultura, v. 40, p. 1168-1172, 1988. SILVA, M. C. Escorpião e escorpionismo no contexto urbano: bairro Antônio Ribeiro de Abreu, Belo Horizonte, MG. Belo Horizonte, 1992. Monografia de Bacharelado - Universidade Federal de Minas Gerais. SOARES, M. R. M.; AZEVEDO, C.S.; DE MARIA, M. Escorpionismo em Belo Horizonte, MG: Um estudo retrospectivo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 35, n. 4, p. 359-363, 2002.