ESTUDO DA LOGÍSTICA REVERSA DE PNEUS, SOLUÇÃO ECONÔMICO-SUSTENTÁVEL A PARTIR DA PRODUÇÃO DE ASFALTO-BORRACHA

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Transcrição:

ESTUDO DA LOGÍSTICA REVERSA DE PNEUS, SOLUÇÃO ECONÔMICO-SUSTENTÁVEL A PARTIR DA PRODUÇÃO DE ASFALTO-BORRACHA Quincio Muniz Pinto Netto 1 Me. Ana Carolina da Cruz Reis 2 Esp. Bernardo Joaquim Batalha Neto 3 RESUMO: O estudo avalia a logística reversa de pneus inservíveis no cenário nacional quanto à incorporação de borracha moída na produção de misturas asfálticas, através da análise dos relatórios de pneumáticos publicados anualmente pelo IBAMA a partir do ano de 2010. O trabalho aborda ainda uma análise da viabilidade econômica e sustentável da logística reversa de pneus, como solução à problemática do passivo ambiental gerado pela disposição inadequada e na busca por pavimentos asfálticos de maior serventia, economia, conforto e segurança ao transporte de cargas e pessoas. PALAVRAS CHAVE: logistica reversa, pneumáticos, misturas asfálticas. INTRODUÇÃO A humanidade sempre esteve em constante evolução, pois sua existência depende essencialmente desse processo. Assim como as primeiras civilizações já desenvolviam sistemas de edificação e irrigação, para atender às necessidades básicas de segurança e sustento daquela época, a civilização moderna desenvolveu o automóvel, o pneu e as estradas pavimentadas, em atendimento às necessidades de vários setores, como a indústria, a logística, o turismo, bem como à segurança, conforto e qualidade do transporte. Essa relação entre o pneu e as estradas pavimentadas, que por muito tempo foi esquecida pelas questões ambientais, agora encontra problemas sustentáveis para existir, em função do passivo ambiental gerado 1 Engenheiro Civil, Graduado na UNDB (Unidade de Ensino Superior Dom Bosco). 2 Professora Me, orientadora UFMA (Universidade Federal do Maranhão). 3 Professor Esp, co-orientador UNDB (Unidade de Ensino Superior Dom Bosco).

pelos pneus inservíveis ao uso, e ainda pela busca por pavimentos cada vez mais eficientes. Nesse contexto, o descarte inadequado de pneus inservíveis produz um passivo irreparável ao meio ambiente, haja vista que o seu tempo de degradação ainda é indeterminado. Apesar de todos os esforços legais para redução desse passivo muito ainda falta para que o Brasil, de modo geral, atinja os quantitativos exigidos pelas entidades governamentais, devidamente estabelecidos em Lei. Esses quantitativos, por sua vez, denotam a realidade e expectativa da sociedade pela busca de um ambiente sempre propício à sua existência, livre desse passivo causador de graves problemas ambientais, como a contaminação do ar, do solo e do lençol freático, e de saúde pública, como a propagação de doenças oriundas da procriação de insetos. Partindo do princípio em que a coleta do pneu inservível não atinge as metas governamentais e a expectativa da população, o tratamento e a disposição pouco se afastam desse realidade nacional. Porém, ressalte-se que o material extraído do tratamento de pneus inservíveis consiste em um material nobre e com ampla possibilidade de utilização em diversos segmentos da engenharia civil, como a pavimentação asfáltica. Contudo, o Brasil possui uma matriz de transportes voltado ao modal rodoviário, com aproximadamente 95% das estradas revestidas com misturas asfálticas, atendendo ao transporte de cargas e passageiros, necessitando assim de constante manutenção e/ou ampliação, através de políticas públicas e legislações ambientais que invistam nesse setor. Diversos estudos já realizados como (ODA, 2000), (SPECHT, 2004) e (FONTES, 2009), apontam que o revestimento asfáltico usualmente empregado nas rodovias brasileiras, os concretos asfálticos usinados à quente, possuem viabilidade técnica para incorporar borracha moída proveniente da trituração de pneus inservíveis, em substituição a materiais granulares ou petroquímicos, ambos extraídos do meio natural esgotável. Tal processo de incorporação gera um novo produto denominado de asfalto-borracha que, dependendo da técnica utilizada, pode atingir índices significativos de resistência e transmissão dos esforços do tráfego, resistência à fadiga e à deformação permanente, bem como segurança e conforto viário.

Nesse contexto, o presente trabalho propõe unificar a legislação ambiental da logística reversa de pneus no cenário nacional com a viabilidade técnica de produção do asfalto-borracha, diagnosticando os benefícios dessa associação do ponto de vista econômico e sustentável. 1. LOGÍSTICA REVERSA DE PNEUS A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei n o 12.305, de 2 de agosto de 2010, em seu Art. 33 o., estabelece que os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de pneus devem implementar sistemas de logística reversa para possibilitar o retorno destes produtos, desde que inservível à sua aplicação e logo após o uso, a locais específicos para tratamento e disposição ambientalmente adequada (BRASIL, 2010). A destinação ambientalmente adequada de pneus inservíveis caracteriza-se pelo procedimento técnico onde os pneus são descaracterizados de sua forma inicial, e seus elementos constituintes são reaproveitados, reciclados, remanufaturados ou processados por outras técnicas admitidas pelos órgão reguladores e competentes, sempre observando a legislação vigente, normas e técnicas operacionais específicas, evitando danos ou riscos à saúde pública e à segurança, bem como a redução dos impactos ambientais adversos (CONAMA, 2009). 2. COMPOSIÇÃO DO PNEU A constituição da borracha usada na fabricação do pneus é muito variada, mas consiste principalmente de borracha natural, cuja composição é estireno-butadieno e negro de fumo. Um pneu de automóvel típico pesa aproximadamente 6kg, sendo constituído por 27% de borracha sintética, 19% de borracha natural, 23% de negro de fumo, 13% de produtos químicos, 10% de aço e 2% de poliéster e nylon, em relação ao peso total do pneu (BERTOLLO, 2002).

Borracha sintética 19% 23% 13% 27% 10% 6% 1% 1% Negro de fumo Borracha natural Produtos químicos Arame de aço Óleos Nylon Espumas Figura 1: Composição em percentual do pneu de automóvel comum Em seu estado natural, a borracha, constituída de polímeros termorrígidos, consiste de cadeias de poli-isopreno com elevado peso molecular. Também conhecidas como elastômetros, as borrachas são classificadas em dois grandes grupos: borracha natural, obtida pelo processo de coagulação do látex da árvore Hévea Brasiliensis e borrachas sintéticas, obtidas a partir do petróleo, também conhecido como hulha (CORDEIRO, 2006). A borracha moída de pneus utilizada na modificação de misturas asfalto-borracha provêm de automóveis e/ou de caminhões, sendo que, nos primeiros, a borracha natural constitui cerca de 16% a 20%, e a borracha sintética de 26% a 31%. Já os pneus de caminhões têm uma proporção maior de borracha natural, cerca de 31% a 33%, enquanto a proporção de borracha sintética é de aproximadamente 18%. 2.1. O VALOR ECONÔMICO-SUSTENTÁVEL DO PNEU INSERVÍVEL A reciclagem de pneus inservíveis abrange um ciclo que corresponde à coleta, transporte, trituração e separação dos seus componentes constituintes, transformando sucatas causadoras de grandes passivos ambientais em matérias-primas a serem direcionadas novamente aos respectivos mercados. O polímero de borracha obtido a partir da trituração de pneus deve ser considerado como um bem valioso, cuja utilização vem se expandindo em segmentos diversificados de mercado. Os resultados obtidos a partir da inclusão de polímero de borracha de pneus em misturas asfálticas não

compromete seu desempenho, ao contrário, possibilita melhorias em algumas propriedades mecânicas, tornando promissora sua utilização em misturas asfálticas. Entretanto, somente o mercado de misturas asfálticas e o energético possuem potencial significativo para utilizar pneus inservíveis em larga escala, reduzindo assim o passivo ambiental gerado. No ramo da pavimentação asfáltica, a borracha triturada de 2 a 6 pneus inservíveis pode ser adicionada em cada tonelada de mistura asfáltica (PILATI, 2008). Após analisar as especificação das misturas asfálticas alteradas por vários tipos de polímeros, (LEITE, 1999), destacou em sua tese de doutorado que a borracha de pneus inservíveis se constitui na matéria prima mais barata. 2.2. PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE BORRACHA MOÍDA O reaproveitamento da borracha de pneu ocorre através do processo de moagem, onde o primeiro passo é a retirada das fibras e do aço presentes nas carcaças inservíveis. A moagem pode ser realizada de duas formas: mecânica à temperatura ambiente ou criogênica com temperaturas negativas. O processo ambiente compreende a moagem por uma série de trituradores que reduzem o pneu a fragmentos, compostos por aspiradores que removem o nylon, tambores magnéticos que removem o aço, correias transportadoras e peneiras para caracterização granulométrica. Após a moagem pelo processo ambiente, a borracha apresenta característica de superfície extensa e esponjosa que, na produção de misturas asfalto-borracha, possibilita uma reação mais rápida. No processo criogênico ocorre o congelamento da borracha de pneus através da imersão em tanque com nitrogênio líquido, cujas temperaturas podem variar de -90 o C a -200 o C. Após o congelamento a borracha de pneu apresenta-se em forma quebradiça, permitindo assim a trituração em partículas menores através de um moinho de martelos. O material final triturado proveniente deste processo possui características planas, lisas e limpas, que pode resultar em resultados insatisfatórios na

produção do asfalto borracha, como o retardo no tempo de reação da borracha com o ligante asfáltico (BALAGUER, 2012). Entretanto, no processo de recauchutagem de pneus há um expurgo de material inutilizável por esse setor, também conhecido como raspa de pneu. O método de recauchutagem utilizado no Brasil, realizado em pneus de caminhão e veículos de passeio, pode ser feito em média 3 vezes, dependendo da situação da carcaça. O processo consiste na remoção da borracha da banda de rodagem do pneu, através de escovas metálicas rotativas, gerando assim a raspa de pneu. Este material, desde que observada a sua granulometria, pode ser utilizado na produção de misturas asfalto-borracha. A B C e recauchutagem (c) Figura 2: Borracha moída pelo processo ambiente (a), criogênico (b) 3. ANÁLISE DOS RELATÓRIOS DE PNEUMÁTICOS Os relatórios de pneumáticos publicados anualmnente pelo IBAMA a partir de sua obrigatoriedade com a Resolução CONAMA n o. 416/09 (CONAMA, 2009), apresentam o cenário da logística reversa de pneus no país a partir do ano de 2010, através das informações relativas às produções e importações, vendas e exportações, coleta, tratamento e disposição. toneladas Tabela 1 Evolução cronológica dos relatórios de pneumáticos em Ano Pneus Novos Pneus Novos Meta Destinação Meta Destinação Déficit (t) Acumulado (t) 2010 357.743 378.774 202.595 176.334-5.230-5.230 2011 280.119 285.139 265.692 177.319-83.353-88.584 2012 301.153 317.151 178.277 141.880-20.399-108.983 2013 352.757 377.213 182.511 114.440-43.615-152.598

Déficit em milhares (t) REVISTA DO CEDS (Revista Científica do Centro de Estudos em Desenvolvimento 180 150 120 90 60 30 0 2010 2011 2012 2013 Saldo Anual Acumulado não dispostos Figura 3: Análise gráfica da evolução cronológica do déficit de pneus Quando avaliados individualmente, os relatórios de pneumáticos apresentados pelo IBAMA mostram percentuais de disposição adequada, sempre próximos das metas necessárias para o ano avaliado. Entretanto, estes valores em percentuais representam milhares de toneladas de pneus inservíveis não dispostos adequadamente no ano de referência do relatório e, se acumulados cronologicamente, denotam o tamanho do passivo. Apesar dos fabricantes de pneus estarem ultrapassando a meta anual, há um déficit de milhares de toneladas proveniente da destinação de pneus importados, que na maioria das vezes possuem um preço comercial mais atrativo. Outro fator importante consiste na representatividade do cenário regional da disposição ambientalmente adequada de pneus, onde a concentração do tratamento está presente nas regiões sul e sudeste. Tabela 2 Representatividade média das regiões quanto à disposição adequada de pneus Ano Norte (%) Nordeste Centrooeste (%) (%) Sudeste Sul (%) (%) 2013 1,84 5,95 9,78 23,98 58,46 2012 2,07 6,74 8,03 22,48 60,69 2011 1,6 6,6 8,51 20,84 62,45 2010 1,26 4,2 7,9 23,79 62,86 Média 1,69 5,87 8,56 22,77 61,11

1,69 5,87 8,56 61,11 22,77 percentuais Figura 4: Análise gráfica da representatividade média em Ainda no cenário nacional, torna-se possível evoluir cronologicamente os tipos e percentuais de destinação ambientalmente adequadas realizadas no ano de exercício do relatório de pneumáticos. Tabela 3 Tipos e percentuais de destinação dos pneus inservíveis Observa-se uma representatividade considerável para a granulação do pneu inservível, com 32,17% da destinação, processo que corresponde à moagem do mesmo e que permite sua utilização em seguimentos como a pavimentação asfáltica, através da incorporação de borracha em misturas betuminosas. Norte Nordeste Centro-oeste Sul Sudeste Destinação 2010 2011 2012 2013 Total % Cooprocessamento 294.957 256.481 219.269 267.448 1.038.156 52,75 Granulação 160.768 138.313 168.499 165.575 633.155 32,17 Laminação 91.715 59.198 61.116 43.839 255.868 13,00 Industrialização do Xisto 7.550 8.334 9.810 14.700 40.394 2,05 Pirólise - - 336 73 409 0,02 Regeneração da Borracha 118 131-17 266 0,01 Totais 555.108 462.457 459.030 491.653 1.968.248 100,00 32,17 13,00 2,05 0,01 52,75 0,02 Coprocessamento Laminação Pirólise Granulação Industrialização do Xisto Regeneração da Borracha

médios Figura 5: Análise gráfica dos tipos de destinação em percentuais 4. ASFALTO-BORRACHA A modificação de misturas asfálticas por borracha granular pode ser feita por dois tipos: o processo úmido pelos métodos terminal blend ou continuous blend, e o processo seco. No processo úmido a borracha granular é adicionada ao ligante asfáltico, modificando as suas propriedades e dando origem a um novo ligante, antes de misturado aos agregados, enquanto no processo seco a borracha é incorporada diretamente aos agregados da mistura. No processo úmido, a borracha granular é incorporada ao ligante em determinados percentuais de peso. De acordo com a norma DNIT-ES 112 (DNIT, 2009), que regulamenta a produção de asfalto-borracha pelo método terminal blend, bem como outros trabalhos relativos ao método continuous blend, como (FONTES, 2009) e (BALAGUER, 2012), os percentuais de borracha devem variar de 15% a 20%, dependendo da aplicação da mistura asfáltica. 5. RESULTADOS DA SIMULAÇÃO Associando-se a logística reversa de pneus inservíveis com a produção de asfaltos-borracha pelo processo úmido, torna-se possível prever um cenário otimizado de utilização desse déficit anual e cumulativo. Somente no ano de 2013 houve um déficit de 43,61 mil toneladas de pneus. Se destinados ao percentual médio de granulação, de 32,17%, e descartando-se os produtos extraídos no processo ambiente de moagem do pneu, como o arame de aço, nylon e espuma, que representam 12% do peso, restariam 12,35 mil toneladas de material disponíveis somente no ano de 2013. O mesmo cálculo pode ser feito para o acumulado anual do déficit da logística reversa de pneus nos últimos 4 anos. Mantidos os percentuais médios dos tipos de disposição, 32,17% das 152 mil toneladas de pneus não dispostos adequadamente seriam destinados à granulação e, desprezadas as

perdas de 12% no processo, o quantitativo de borracha moída para utilização em misturas asfalto-borracha seria de aproximadamente 43 mil toneladas. Dessa forma, para cada 1 tonelada de ligante asfáltico modificado com um percentual de borracha igual a 20%, 200 kg de borracha moída seriam utilizadas. Em outras palavras, 40 mil toneladas de borracha moída seriam capazes de produzir 215 mil toneladas de ligante asfáltico modificado por borracha. Adotando-se as características de uma mistura asfalto-borracha com um teor de ligante de 6,00%, para cada tonelada de mistura asfalto-borracha produzida seriam consumidos 60 kg de ligante modificado, o que implica dizer que as 200 mil toneladas de ligante modificado produziriam 3,34 milhões de toneladas, ou aproximadamente 1,5 milhões de metros cúbicos de mistura asfalto-borracha com densidade de 2,4 t/m 3. Por fim, a uma espessura média de aplicação de 10 cm, esse cenário seria capaz de produzir 15 milhões de m 2 de revestimento asfáltico que, aplicado sobre uma largura usual de 6,00 m, corresponderia a 2,49 milhões de metros lineares. Ou seja, aproximadamente 2,49 mil km de asfaltoborracha poderiam estar em operação com o déficit da logística reversa de pneus inservíveis dos últimos 4 anos. Tabela 4 Simulação do consumo de borracha associada à produção de asfalto-borracha Ano Déficit Anual Destinados granulação (32,17%) Moagem (12% de perda) Ligantes Modificados com Borracha a 20% Asfalto- Borracha (p=2,4) com ligante a 6,00% Área do Asfalto- Borracha a espessura de 10cm K m do Asfalto- Borracha à largura de 6m Und. tonelada tonelada tonelada tonelada m 3 m 2 km (linear) 2013 43.615 14.031 12.347 61.736 428.721 4.287.212 715 2012 20.399 6.562 5.775 28.875 200.521 2.005.205 334 2011 83.353 26.815 23.597 117.985 819.342 8.193.416 1.366 2010 5.230 1.683 1.481 7.403 51.410 514.096 86 Totais 152.598 49.091 43.200 215.999 1.499.993 14.999.929 2.500 6. CONCLUSÕES Apesar dos relatório de pneumáticos apontarem dados favoráveis à disposição de pneumáticos no cenário nacional e propício ao cumprimento das

legislações vigentes, os valores acumulados e a representatividade das regiões são distintos da realidade, gerando assim um passivo ambiental crescente nas regiões com baixa representatividade. O emprego da borracha de pneus na mistura asfáltica é uma iniciativa de grande relevância por ser uma alternativa competitiva em termos econômicos e técnicos, contribui para que o país desenvolva uma política ambiental séria e eficiente ao reutilizar os pneus usados e inservíveis na pavimentação de ruas e estradas, ao mesmo tempo em que diminui o uso de recursos minerais empregados como componentes da pavimentação. A logística reversa pode ser o agente fomentador dessa aplicação, uma vez que há um déficit anual de coleta e tratamento de pneus inservíveis, passível de ser destinado aos pavimentos asfálticos pela produção de asfaltoborracha. Para isso faz-se necessário o incentivo através de políticas públicoprivadas de associação da produção de asfaltos-borracha com logística reversa de pneus inservíveis. BIBLIOGRAFIA BALAGUER, Marcos. Avaliação estrutural de um pavimento flexível executado em Asfalto- Borracha, elaborado pelo Processo de Produção Contínua em Usina. 2012. 193f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 2012. BERTOLLO, Sandra Aparecida Margarido. Avaliação Laboratorial de Misturas Asfálticas Densas Modificadas com borracha Reciclada de Pneus. 2002. 198f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia de Transportes, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, 2002.. Lei n 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a política nacional de resíduos sólidos, altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República/Casa Civil/Subchefia para assuntos jurídicos, 2010.

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