ANOMALIAS DE PRECIPITAÇÃO EM RORAIMA NO PERÍODO DE SETEMBRO/97 A ABRIL/98. Expedito Ronald Gomes Rebello Meteorologista Instituto Nacional de Meteorologia José de Fátima da Silva Meteorologista Instituto Nacional de Meteorologia Viviane Batista de Sousa Silva Meteorologista - INMET/IICA RESUMO O objetivo deste trabalho foi de mostrar as fortes anomalias de precipitação ocorrida em Roraima, no período de setembro de 1997 a abril de 1998, possivelmente correlacionada com o fenômeno El Niño. Os totais de precipitação de Boa Vista (RR) de setembro/97 até março/98 foi de 30,6 milímetros e o número de dias de chuva foi de 17 em 7 meses. O normal para chover nesse período de acordo com as médias climatológicas (1961/1990) é de 397,1 milímetros e choveu só 8% no período de setembro a março o que é uma quantidade de chuva insignificante. Os modelos climáticos de longo prazo já estavam prevendo essa situação (forte decréscimo nas chuvas), que embora sendo experimentais, em anos de El Niño se tornam mais confiáveis. DESENVOLVIMENTO O regime pluviométrico de Roraima, tanto em Boa Vista como Caracaraí, apresentam uma distribuição temporal bastante regular. No caso de Boa Vista, o período chuvoso vai de abril a setembro com pico máximo em maio, junho e julho com a precipitação ficando entre 250 e 300mm e decrescendo mês a mês ate o mínimo de 20 mm em fevereiro com o total anual de 1.506mm. Em Caracaraí, o regime é um pouco mais acentuado com um total anual de 2.058mm. e período chuvoso que vai de março a outubro, tendo o pico máximo em maio, junho e julho com precipitação mensal acima de 300mm e decrescendo até janeiro com 37mm. Estas condições climáticas estão determinadas pela média normal das precipitações de ambas localidades do período de 1960 a 1990, sendo portanto, uma série temporal que nos permitirá caracterizar o comportamento climático cíclico ou alguma sazonalidade especifica da região. Um fenômeno climático interanual que sempre tem afetado a região em suas manifestações é o fenômeno El Nino. Como podemos observar, a ocorrência do El Nino afeta climaticamente toda a região norte principalmente Roraima. Em 1983 o fenômeno El Niño causou uma redução muito significativa nas precipitações de Boa vista, reduzindo de 1506mm anual (média normal de 30 anos) para 1062mm total da precipitação ocorrida. Em 1997 a precipitação ocorrida no ano foi de 1.141mm, portanto, bem abaixo da normal que é de 1506mm. O período mais crítico começou em setembro/97 continuando até março/98 com o total de chuva ocorrida de 30.6mm enquanto a soma da normal para o mesmo período é de 397,1mm o que indica que a chuva ocorrida representou pouco mais de 8% da normal esperada para a região.
Em Caracaraí, as chuvas ocorridas de setembro/97 a março/98 foi de 182,1mm enquanto a normal esperada é de 708,7mm, ocasionando um desvio negativo de 527,0mm em relação a normal, o que causou uma situação de seca absoluta em função das altas taxas de evaporação ocorrida em torno de 200mm./dia O regime pluviométrico da região norte é configurado pelas condições sinóticas atuante na região equatorial em que há um sistema semi permanente de convergência dos alísios e com o aquecimento natural da região a realimentação de vapor d água na atmosfera provoca a formação de densa nebulosidade e chuvas abundante o ano todo. No ano de ocorrência do fenômeno El Niño, a circulação atmosférica nesta região, sofre alteração pelo deslocamento da célula Walker, cujo sistema convectivo desloca-se mais para o oeste, (litoral da Colombia e Venezuela) e a parte subsidente da célula passa a atuar no litoral do Pará ( Ilha do Marajó). A medida que o fenômeno vai se intensificando, o sistema de subsidência torna-se mais forte, e o ar descendente dos níveis superiores vai aquecendo a uma taxa de 10 o C/Km de descida e cada vez mais quente e seco, escoa por toda a região provocando altos índice de aridez aumentando as possibilidades de combustão em toda região. O agravamento desta situação em 1998 teve inicio a partir de Setembro/97 tanto para Boa Vista, como para Caracaraí, quando as precipitações começaram a ficar muito abaixo do normal e continuou agravando até a ocorrência do incêndio de proporções catastrófica de fevereiro a março/98. O acompanhamento das condições climáticas através de fotos de satélites nos permitiu detectar a formação de nebulosidade sobre a região e em seguida a precipitação que embora fraca foi suficiente para interromper o processo das queimadas. MATERIAL E MÉTODOS Os dados climatológicos utilizados neste trabalho foram extraídos do banco de dados do Instituto Nacional de Meteorologia-INMET, juntamente com as imagens de satélite NOAA-14, sendo que as imagens de satélite global são do CPTEC/INPE. O período de setembro/97 a março/98, foi estudado com base no desvio da precipitação ocorrida em relação a normal nos anos de maior agravamento de seca sobre o estado de Roraima, correspondendo a 1983, 1997 a março/98. Para esta região, já com características climáticas do hemisfério norte, o período que vai de setembro a abril representa um período de baixa precipitação, de acordo com as normais climatológicas de 30 anos, porém as chuvas ocorridas entre setembro/97 e março/98, apresentaram uma redução de quase 90%das normais. CONCLUSÃO A forte estiagem de 97/98 foi muito mais intensa do que a de 1982/83, como já estava sendo prevista pelos modelos climáticos a longo prazo (anexo), devido a célula descendente de Walker
nesse período que em média com os eventos El Niño`s fica em torno da Ilha de Marajó (Pará) se deslocou mais para oeste ocasionando forte subsidência e consequentemente a forte estiagem. Devido principalmente pela falta de precipitação, as queimadas provocadas pelos agricultores, se alastraram 200 quilômetros em linha reta (distância Brasília-Goiânia), como mostra a imagem de satélite NOAA-14 do estado de Roraima do dia 15/03/98 recebida no Instituto Nacional de Meteorologia. Bibliografia Medina, B.F.; Leite, J.A. Probabilidades de Chuva em Boa Vista-RR, Pesquisa Agropecuária Brasileira, Embrapa. 1984. Fig. 1
Fig. 2
Média da precipitação de Boa Vista no período de 1960/90 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL Média 24,1 19,9 58,5 110,7 276,2 315,9 230,5 175,2 110,1 79,5 69,5 35,5 1506 1983 6,8 34,8 11,1 287,6 163,4 230,8 31,4 123,8 35,8 59 45,6 31,8 1062 1997 86,7 83,7 5,2 89,8 206 206,1 231,5 211,5 0,4 0 9,4 10,7 1141 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Total Média 110,1 79,5 69,5 35,5 24,1 19,9 58,5 397,1 1997/98 0,4 0 9,4 10,7 0,1 10 0 30,6 Desvio da Normal -367 Porcentagem da Normal 7,7 Média da precipitação de Caracaraí no período de 1960/90 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total Média 36,9 91,1 123,1 146,5 328,9 358,6 300,4 214,6 186,4 120,2 90 61 2058 1982 49,8 99 63,2 242,7 496,5 226,1 210 69,2 45,5 44,2 44 38,9 1629 1983 22,3 35,4 78,6 279,9 215,5 170 99,9 207,3 89,7 14,2 36,8 42,1 1292 1997 62,3 148,9 90,8 128,3 242,6 185,2 303,5 132,8 47,2 7 50,4 33,3 1432 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Total Média 186,4 120,2 90 61 36,9 91,1 123,1 708,7 1997/98 47,2 7 50,4 33,3 3,2 16 25 182,1 Desvio da Normal -527 Porcentagem da Normal 25,7 CARACARAÍ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Média 36,9 91,1 123,1 146,5 328,9 358,6 300,4 214,6 186,4 120,2 90 61 1983 22,3 35,4 78,6 279,9 215,5 170 99,9 207,3 89,7 14,2 36,8 42,1 1997 62,3 148,9 90,8 128,3 242,6 185,2 303,5 132,8 47,2 7 50,4 33,3 1998 3,2 16 25 400 350 300 250 200 150 100 50 Média 1983 1997 1998 0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Gráfico demonstrativo do regime pluviométrico de Caracaraí - Comparação da normal com a ocorrida de 1983 e de setembro 1997 a março de 1998.