O Agronegócio do Leite: Análise e Perspectivas

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O Agronegócio do Leite: Análise e Perspectivas Rosangela Zoccal, Aloísio Teixeira Gomes 1, Limírio de A. Carvalho Resumo A produção mundial de leite foi estimada em 507,4 bilhões de litros, no ano de 2003, sendo 70% desse volume produzido na Europa e na América. Existe uma tendência de redução da produção de leite nos países desenvolvidos e de crescimento nos países em desenvolvimento. Nos últimos 25 anos, a produção brasileira de leite aumentou 121%, passando de 9,7 bilhões de litros em 1978 para 21,6 bilhões em 2002. Para o ano de 2003 a expectativa é de que se confirme uma produção de 22,4 bilhões de litros de leite. As áreas de maior concentração da produção de leite não são distribuídas de forma homogênea no País. No ano de 2002, cerca de 74% do volume produzido concentrou-se nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Se forem incluídos os dados dos Estados da Bahia, Rondônia, Pará, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio de Janeiro, a produção correspondeu a 91% do leite brasileiro. O significativo crescimento da produção de leite na região de cerrado, especialmente em Goiás e nas regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, é decorrente do menor custo de produção nessas regiões, em razão do menor preço de alguns insumos, e da prioridade ao pasto como alimento volumoso do rebanho, durante o verão. Além de menor custo, os sistemas de produção nestas regiões podem suportar um menor preço do leite para sua sobrevivência e são menos vulneráveis às crises do mercado de lácteos, em razão da maior flexibilidade para serem conduzidos, com forte predominância para o gado mestiço Europeu-Zebu e utilização de pasto como alimento principal. Palavras-chave: Produção de leite, mercado, conjuntura 1. PRODUÇÃO MUNDIAL DE LEITE Os dados discutidos neste item têm como fonte as estimativas da FAO (Tabelas 1 e 2). Vale ressaltar que tais estimativas, para alguns países, inclusive o Brasil, apresentam discrepâncias consideráveis em relação às estatísticas oficiais desses países. A produção mundial de leite foi estimada em 507,4 bilhões de litros, no ano de 2003, sendo 70% desse volume produzido na Europa e na América (Tabela 1). A produção de leite européia está reduzindo e apresentou uma queda de 6,1% no período de 1993 a 2003. A Figura 1 mostra a tendência de redução da produção de leite nos países desenvolvidos e de crescimento nos países em desenvolvimento. O Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo, ocupando o sexto lugar (Tabela 2). A produção nacional é 64% maior que a produção da Nova Zelândia e o triplo da produção Argentina, que são países considerados importantes na produção mundial, por serem exportadores de leite e derivados, principalmente para o Brasil. Em nove países se concentram 50% da produção mundial de leite, sendo os Estados Unidos o maior produtor, com 15,4% do total produzido no mundo. 1 Pesquisadores da Embrapa Gado Leite Rua Eugênio Nascimento, 610 Dom Bosco - Juiz de Fora/ MG e-mail: agomes@cnpgl.embrapa.br; rzoccal@cnpgl.embrapa.br;

2 Dos países que compõem o Mercosul, o Brasil responde por 67% do volume total de leite, seguido pela Argentina (22%), Chile (6%), Uruguai (4%) e Paraguai (1%). Tabela 1. Distribuição da Produção de Leite nos Cinco Continentes, 1993-2003. Produção de Leite (milhões de toneladas) Dif. % Continente 1993 1998 2003 (1) 2003/1993 Europa 224,6 212,7 210,7-6,1 América 124,9 135,2 146,3 17,1 Ásia 77,8 89,6 104,8 34,7 Oceânia 18,2 21,2 24,9 36,8 África 15,8 18,1 20,7 31,0 T O T A L 461,3 476,8 507,4 10,0 (1) Valores estimados Fonte: FAO 400 Milhões de toneladas 300 200 100 0 1978 1983 1988 1993 1998 2003 Anos Desenvolvido Em Desenvolvimento Figura 1 Produção de leite nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Fonte: FAO

3 Tabela 2. Classificação Mundial dos Principais Países Produtores de Leite, 2003. Produção de Leite (mil t) Percentual Países 2003 (1) Total Acumulado 1º Estados Unidos 78.155 15,4 15,4 2º Índia 36.500 7,2 22,6 3º Alemanha 28.012 5,5 28,1 4º França 24.800 4,9 33,0 5º Rússia 23.800 4,7 37,7 6º Brasil 23.315 4,6 42,3 7º Reino Unido 15.054 3,0 45,3 8º Nova Zelândia 14.200 2,8 48,1 9º Ucrânia 13.600 2,7 50,7 10º Polônia 11.845 2,3 53,1 11º Itália 11.000 2,2 55,2 12º Austrália 10.642 2,1 57,3 13º Holanda 10.450 2,1 59,4 14º México 9.871 1,9 61,3 15º Argentina 7.700 1,5 62,9 Outros Países 188.440 37,1 100,0 T O T A L 507.384 100 (1) Valores estimados Fonte: FAO 2. EVOLUÇÃO DO LEITE NO BRASIL 2.1 Produção de Leite Nos últimos 25 anos, a produção brasileira de leite aumentou 120%, passando de 9,8 bilhões de litros em 1978 para 21,6 bilhões em 2002. Para o ano de 2003 a expectativa é de que se confirme uma produção de 22,4 bilhões de litros de leite (Tabela 3). A taxa média de crescimento da produção entre 1978 e 2002 foi superior à taxa de crescimento da população, o que significa que houve aumento da produção per capita. No início dos anos 90 ocorreram as grandes transformações na produção de leite e em toda a cadeia de lácteos. As principais causas apontadas para essas transformações são a desregulamentação do mercado de leite a partir de 1991, a maior abertura da economia para o mercado internacional, em especial, a criação do Mercosul e a estabilização de preços da economia brasileira em decorrência do Plano Real.

4 Tabela 3. Evolução da pecuária de leite no Brasil, 1978/2002. Efetivo bovino Vacas ordenhadas Produção anual de leite Ano (1.000 cabeças) (1.000 cabeças) Total (1.000 l) Litros/vaca 1978 106.942 14.150 9.782.169 691 1979 109.177 14.889 10.187.228 684 1980 118.971 16.513 11.162.245 676 1981 121.785 16.492 11.323.967 687 1982 123.488 16.387 11.461.215 699 1983 124.186 16.276 11.463.017 704 1984 127.655 16.743 11.932.908 713 1985 128.423 16.890 12.078.389 715 1986 132.222 17.330 12.491.809 721 1987 135.726 17.774 12.996.497 731 1988 139.559 18.054 13.521.881 749 1989 144.559 18.673 14.094.857 755 1990 147.450 19.073 14.484.412 759 1991 152.135 19.964 15.079.174 755 1992 154.229 20.476 15.783.998 771 1993 155.134 20.023 15.590.870 779 1994 158.243 20.068 15.783.543 787 1995 161.228 20.579 16.474.353 801 1996 158.288 16.273 18.515.381 1.138 1997 161.416 17.048 18.665.996 1.095 1998 163.154 17.280 18.693.902 1.082 1999 164.621 17.396 19.070.035 1.096 2000 169.875 17.885 19.767.206 1.105 2001 176.388 18.193 20.509.953 1.127 2002 185.347 19.005 21.643.740 1.139 2003* 194.760 19.852 22.401.275 1.128 Fonte: IBGE Pesquisa da Pecuária Municipal e Censo Agropecuário * Estimativas Analisando os dados de 1993 a 2002, últimos dez anos, verificamos que o aumento do volume produzido foi de 38.8%. No ano de 2002, a Região Sudeste respondeu por 40,4% da produção nacional (8.7 bilhões), seguida pela Região Sul com 25,4% (5.5 bilhões), como pode ser observado nas Figuras 2 e 3. Em termos de crescimento no período de 1993 a 2002 (Tabela 4), destacaram-se as Regiões Norte (118.4%) e Centro-Oeste (59.9%), seguidas da Sul (49.4%), Nordeste (40.6%) e Sudeste (19.1%).

5 10.000 1993 2002 8.000 6.000 4.000 2.000 0 SUDESTE SUL CENTRO-OESTE NORDESTE NORTE Regiões Figura 2. Produção de leite por Região Brasileira (milhões de litros), 1993/2002. Brasil 93/02 = 38.8% Sul 93/02= 49.4% 1993 = 23.6% 2002 = 25.4% Fonte: IBGE - Pesquisa da Pecuária Municipal - 2002 Figura 3. Percentual de Produção de leite por Região Brasileira, 1993/2002.

6 As áreas de maior concentração da produção de leite não são distribuídas de forma homogênea no País. No ano de 2002, cerca de 74% do volume produzido concentrou-se nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Santa Catarina (Figura 4). Se forem incluídos os dados dos Estados da Bahia, Rondônia, Pará, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio de Janeiro, a produção correspondeu a 91% do leite produzido no País em 2002 (Figura 4). Alguns Estados merecem destaque pelo desenvolvimento da pecuária leiteira nos últimos dez anos. No período de 1993/2002, a produção de Goiás cresceu 76.7%, em Santa Catarina 62.1%, no Rio Grande do Sul 46.8%, no Paraná 45.6% e em Minas Gerais 36.5%. Dentre os Estados maiores produtores, São Paulo foi o único onde a produção diminuiu, com redução de 14.6% no período. Verifica-se também que Rondônia (8º lugar) e Pará (9º lugar) tiveram elevadas taxas de crescimento, ou seja, 148.1% e 96.8%, respectivamente (Tabela 4). Em uma análise mais detalhada, considerando as 20 mesorregiões com maior volume de leite produzido, os dados de 2002 apontam as seguintes, como pode ser observado na Tabela 5 e na Figura 5: 2.7 3.0 2.2 3.5 2.2 11.5 8.1 9.2 5.5 28.5 2.1 10.8 Fonte: IBGE - Pesquisa da Pecuária Municipal - 2002 Figura 4. Percentual de Produção dos Principais Estados produtores de leite do Brasil.

7 Tabela 4. Produção Estadual de Leite, 1993/2002. Unidade da Federação Produção de Leite (mil litros) Dif. % % do total 1993 2002 2002/1993 2002 Amapá 2.210 3.310 49.8 0.0 Roraima 12.650 8.200-39.8 0.0 Amazonas 41.337 39.571-4.3 0.2 Acre 30.125 103.848 244.7 0.5 Tocantins 88.820 186.069 109.5 0.9 Pará 293.013 576.794 96.8 2.7 Rondônia 259.624 644.103 148.1 3.0 REGIÃO NORTE 727.779 1.561.895 118.4 7.2 Piauí 46.468 74.930 61.3 0.3 Sergipe 78.811 112.168 42.3 0.5 Paraíba 97.789 117.024 19.7 0.5 Rio Grande do Norte 74.275 158.277 113.1 0.7 Maranhão 133.554 195.447 46.3 0.9 Alagoas 182.871 224.014 22.5 1.0 Pernambuco 186.355 391.577 110.1 1.8 Ceará 243.088 341.029 40.3 1.6 Bahia 639.696 752.026 17.6 3.5 REGIÃO NORDESTE 1.682.907 2.366.493 40.6 10.9 Distrito Federal 20.625 37.163 80.2 0.2 Mato Grosso do Sul 268.849 467.095 0.9 2.2 Mato Grosso 467.902 472.208 73.7 2.2 Goiás 1.405.778 2.483.366 76.7 11.5 REGIÃO CENTRO-OESTE 2.163.154 3.459.832 59.9 16.0 Espírito Santo 374.396 374.897 0.1 1.7 Rio de Janeiro 395.522 447.403 13.1 2.1 São Paulo 2.047.235 1.748.223-14.6 8.1 Minas Gerais 4.526.961 6.177.356 36.5 28.5 REGIÃO SUDESTE 7.344.114 8.747.880 19.1 40.4 Santa Catarina 735.867 1.192.690 62.1 5.5 Paraná 1.363.237 1.985.343 45.6 9.2 Rio Grande do Sul 1.586.462 2.329.607 46.8 10.8 REGIÃO SUL 3.685.566 5.507.640 49.4 25.4 T O T A L 15.603.520 21.643.740 38.8 Fonte: IBGE Pesquisa da Pecuária Municipal

8 Tabela 5. Principais mesorregiões produtoras de leite no Brasil, 2002 Estado Minas Gerais Mesorregiões Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1.461*), Sul/ Sudoeste de Minas (1.047), Zona da Mata Mineira (580), Oeste de Minas (528), Central Mineira (522), Vale do Rio Doce (415), Metropolitana de Belo Horizonte (479) e Noroeste de Minas (344) São Paulo São José do Rio Preto (382) Rio Grande do Sul Noroeste (1.332) e Nordeste Rio-Grandense (292) Paraná Oeste (435), Sudoeste (354) e Centro Oriental Paranaense (322) Santa Catarina Oeste Catarinense (791) Goiás Sul (1.161) e Centro-Goiano (740) Rondônia Leste Rondoniense (584) Pará Sudeste Paraense (467) Pernambuco Agreste Pernambucano (286) * Valores expressos em milhões de litros de leite 11.5 Fonte: IBGE - Pesquisa da Pecuária Municipal - 2002 Mesorregiões com maior volume de produção Mesorregiões com maior índice de crescimento Figura 5. Principais mesorregiões produtoras de leite no Brasil, 2002.

9 O significativo crescimento da produção de leite na região de cerrado, especialmente em Goiás e nas regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, é decorrente do menor custo de produção, em razão do menor preço de alguns insumos e da prioridade ao pasto como alimento volumoso do rebanho, durante o verão. Além de menor custo, os sistemas de produção nestas regiões podem suportar um menor preço do leite para sua sobrevivência e são menos vulneráveis às crises do mercado de lácteos, em razão da maior flexibilidade para serem conduzidos, com forte predominância para o gado mestiço Europeu Zebu e utilização de pasto como alimento principal. Em termos percentuais, as 20 mesorregiões que mais cresceram, no período de 1993/2002, estão localizadas no Norte do País e em regiões de cerrado, como observado na Tabela 6 e também na Figura 4. Tabela 6. Mesorregiões que mais desenvolveram a pecuária de leite em termos de percentual de crescimento 1993/2002. Estado Mato Grosso Mesorregiões Nordeste (279%), Sudoeste (158%) e Norte Mato-Grossense (106%) Goiás Norte (174%), Noroeste (143%) e Centro-Goiano (122%) e Distrito Federal (130%) Rondônia Madeira-Guaporé (277%) e Leste Rondoniense (137%) Pará Sudeste Paraense (228%) Amazônas Sul Amazonense (220%) Amapá Norte do Amapá (158%) Acre Vale do Acre (492%). Maranhão Oeste Maranhense (106%) Alagoas Leste Alagoano (105%) Rio Grande do Norte Central Potiguar (101%) Paraná Sudeste (117%), Sudoeste (114%) e Centro-Sul Paranaense (104%) Santa Catarina Oeste Catarinense (133%) Quatro mesorregiões devem ser destacadas, por estar presentes entre as que mais produzem e também entre as que mais cresceram no período. Estas são: Leste Rondoniense, Centro- Goiano, Sudoeste Paranaense e Oeste Catarinense. 2.2 Produtividade A pecuária leiteira no Brasil em meados dos anos 70 apresentava uma produtividade animal, medida em litros de leite por vaca por ano, próximo de 700 litros de leite, considerando todos os rebanhos de vacas ordenhadas, com maior e menor aptidão leiteira (rebanhos de leite, carne e duplo-propósito). Esta produtividade aumentou em 65%, atingindo 1.139 litros em 2002,

10 mas continua muito inferior à média de rebanhos especializados nacionais, como é o caso do rebanho de gado Holandês com 7.570 litros/vaca/ano ou do gado Jersey com 4.670 litros/vaca/ano ou, ainda, da raça Girolando com 3.790 litros/vaca/ano (Arquivo Zootécnico Nacional Gado de Leite). A tecnologia teve um papel fundamental no desempenho da produção brasileira. Os dados dos últimos dez anos indicam um acréscimo na produtividade animal de 46%. Esse fato explica a maior parte do crescimento da produção brasileira. Há um recuo substancial no crescimento do rebanho de vacas em lactação, que no mesmo período reduziu 5% enquanto a produção de leite cresceu 39%. O trabalho da Embrapa Gado de Leite, na geração e adaptação de tecnologias, produtos e serviços, tem influenciado decisivamente na melhoria dos padrões de desempenho da pecuária leiteira nacional. As análises de impactos dos investimentos na Unidade apontam um excelente retorno tanto para os produtores como para os consumidores. Esses benefícios se referem a menores custos de produção, possibilitando sustentação da renda dos produtores, e, para os consumidores, a oferta de produtos a preços mais baixos. Vale destacar que as propriedades leiteiras no País produzem, na maioria, com animais manejados principalmente nas pastagens. Essas áreas foram estimadas em 220 milhões de hectares, sendo 55% de pastagens nativas e o restante de braquiária ou outras espécies cultivadas. Dessas pastagens, pelo menos 50% estão degradadas ou em início de degradação, o que limita, em parte, o maior crescimento do volume de leite brasileiro, via incrementos ainda maiores na produtividade. 3. PERSPECTIVAS DA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE LEITE 3.1 Demanda potencial Segundo as recomendações do Ministério da Saúde, o consumo de leite, na forma fluida ou na de derivados lácteos, varia de acordo com a idade das pessoas. A recomendação para crianças até dez anos é de 400 ml/dia (146 litros/ano), incluindo a forma fluida e os derivados. Para jovens de 11 a 19 anos, o consumo deve ser maior, de 700 ml/dia (256 litros/ano), e para os adultos acima de 20 anos a recomendação é de 600 ml/dia (219 litros/ano). Admitindo um cenário no País que favoreça o consumo de produtos lácteos, em especial as populações mais carentes que pouco ou nada consomem, e tomando por base apenas o consumo de 146 litros/ano, o País requer uma disponibilidade anual de 26 bilhões de litros de leite para atender apenas à demanda interna potencial, composta de 178 milhões de brasileiros. Se considerarmos um consumo per capita de 600 ml/dia, a disponibilidade anual de leite deveria ser de 39 bilhões de litros. 3.2 Importação e exportação A produção de leite no Brasil vem crescendo a taxas significativas, superiores às taxas de crescimento da demanda, o que faz prever a possibilidade de o País tornar-se um importante exportador de lácteos. Mesmo com auto-suficiência, o País participará do mercado internacional, ora importando, ora exportando, dependendo da demanda interna, e dos preços doméstico e internacional. Em média, tomando os últimos dez anos, as importações de

11 produtos lácteos representaram cerca de 10% da produção nacional. A partir de 1999 observase uma tendência de redução nos gastos com importações e simultaneamente uma evolução das exportações. Em novembro de 2003, o Brasil reverteu a tendência histórica, isto é, exportou mais produtos lácteos que importou, registrando saldo positivo na balança comercial de lácteos naquele mês. (Tabela 7) As importações de leite e derivados em 2003 foram de 84 mil toneladas (equivalente a 540 milhões de litros de leite), que representa uma redução de 61% em relação a 2002. Os países exportadores para o Brasil são principalmente Argentina e Uruguai (81%), que fazem parte do Mercosul e o restante da França e Nova Zelândia. Para esse ano de 2004, estima-se que as importações de produtos lácteos continuem em queda. As exportações brasileiras de leite e derivados em 2003 foram de 44 mil toneladas, que representa um crescimento de 11% quando comparado ao ano anterior (Tabela 7). O destino dos produtos lácteos foram, principalmente, Angola, Estados Unidos, Trinidad e Tobago, Argentina e Iraque. Tabela 7. Produção, exportação e importação de leite e derivados pelo Brasil, 1997-2003. Ano Produção Bilhões litros Exportação Mil kg Mil kg Importação Equivalentes bilhões litros % Importação/ Produção 1997 18,67 4.304 318.748 1,93 10.3 1998 18,69 3.000 384.174 2,27 12.1 1999 19,07 4.398 383.674 2,41 12.6 2000 19,77 8.928 307.062 1,81 9.2 2001 20,51 19.371 141.188 0,90 4.4 2002 21,64 40.124 215.332 1,40 6.6 2003 22,40 44.444 83.557 0,54 2,4 Fonte: MDIC Alice web 3.3 Número de produtores A participação relativa dos produtores de maior escala (volume) na produção total aumentou significativamente nos últimos anos. A produção está concentrada em 20% dos produtores. A partir de 1998, reduziu o número de produtores fornecendo leite para as principais indústrias laticinístas, no mercado formal ou inspecionado (Tabela 8). Estima-se que, em 2010, este mercado será abastecido por 250 a 280 mil produtores de leite. Embora essa saída de produtores do mercado formal seja significativa, o volume de produção tem aumentado, ou seja, a produção média dos produtores tem crescido substancialmente. A saída de produtores do mercado de leite deve ser vista por dois ângulos: abastecimento e social. Para o abastecimento, esta exclusão não representa uma grande queda de produção, pelas razões já discutidas. Entretanto, do ponto de vista social, as conseqüências não são desprezíveis. Tal dicotomia recomenda estratégias diferentes para os diferentes grupos de

12 produtores. Provavelmente, o principal problema do pequeno produtor não será resolvido apenas com oferecimento de tecnologia. Tabela 8. Maiores empresas de laticínios no Brasil Recepção e número de produtores, 1998/2002. Empresa / Marca Recepção anual mil litros Número de produtores 1998 2002 1998 2002 Dif % 1 Nestlé 1.357.832 1.489.029 28.920 7.192-75% 2 Parmalat 814.224 947.832 16.052 12.605-21% 3 Itambé 752.628 732.000 15.369 6.010-61% 4 Elegê 602.514 711.335 34.402 28.665 17% 5 Paulista 625.577 307.766 22.162 4.512-80% 6 Danone 144.429 272.236 651 2.470 279% 7 Sudcoop nd 230.952 nd 6.993 nd 8 Centroleite 150.774 213.503 3.355 4.905 46% 9 Embaré nd 192.378 nd 2.884 nd 10 Latic. Morrinhos 121.297 188.241 4.250 4.990 17% 11 Central Leite Nilza nd 182.568 nd 3.031 nd 12 Batavia/Agromilk 274.022 165.276 10.393 6.529-37% 13 Leite Líder 165.000 163.766 6.930 2.807-60% 14 Grupo Vigor 287.830 154.158 6.442 1.525-76% 15 Ilpisa nd 117.637 nd 729 nd T O T A L (4) 5.480.127 6.014.227 151.926 95.847-37 % Fonte: CNA/Decon, Leite Brasil, Embrapa Gado de Leite 3.4 Valor Bruto da Produção Em nível agregado, o Valor Bruto da Produção Agropecuária Brasileira (VBP), no ano de 2003 e a preços de dezembro/2003, foi de R$ 155.7 bilhões, sendo R$ 99.0 bilhões (64%) para os produtos agrícolas e R$ 56.7 bilhões (36%) para os pecuários. Desses, o leite tem posição de destaque, com valor de R$ 9.7 bilhões, o que corresponde a 6.2% do VBP total e 17% do VBP pecuária (Tabela 9). Em relação à agropecuária como um todo, o leite está entre os seis primeiros produtos mais importantes pelo seu elevado valor de produção. Além disso, o seu agronegócio desempenha um papel relevante no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda para a população brasileira.

13 Tabela 9. Valor da Produção Agropecuária Brasileira (produtos selecionados), 2003. Produtos Valor Bruto da Produção (VBP) R$ bilhões Soja 31.1 Carne bovina 25.3 Milho 15.4 Frango 13.8 Cana-de-açúcar 11.7 Leite 9.7 Arroz 5.9 Café beneficiado 4.9 Suínos 4.8 Feijão 4.5 Laranja 3.8 Outros produtos 24.8 Fonte: CNA / DECON (Indicadores Rurais, dezembro 2003) Referências Bibliográficas Arquivo Zootécnico Nacional, www.cnpgl.embrapa.br FAO www.fao.org Gomes, A. T.; Leite, J. L. B.; Carneiro, A. V. O agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001, 262p. IBGE Pesquisa da Pecuária Municipal www.ibge.gov.br Leite em Números, www.cnpgl.embrapa.br Vilela, D.; Bressan, M.; Fernandes, E., N.; Zoccal, R.; Martins, M. C.; Nogueira Netto, V. Gestão ambiental e políticas para o agronegócio do leite. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2003, 314p. Vilela, D.; Bressan, M.; Gomes, A. T.; Leite, J. L. B.; Martins, M. C.; Nogueira Netto, V. O Agronegócio do leite e políticas públicas para o seu desenvolvimento sustentável. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2002, 546p.