INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO DA AMOSTRA SOBRE OS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES Liamara A. LEIDENTZ, Daiane LAZAROTTO. Orientador: Wanderson A. B. Pereira. Introdução O hemograma é um dos exames mais requisitados, por trazer diferentes informações sobre o estado geral do paciente (GROTTO, 2009). Diante disso, o interesse pela pesquisa na área da hematologia veterinária cresceu consideravelmente nas últimas décadas, principalmente relacionado ao melhoramento das técnicas laboratoriais, buscando respostas aos problemas clínicos dos animais (ROCHA, et al 1998). O exame hematológico compreende os testes laboratoriais que são utilizados para examinar os três tipos de células do sangue periférico: série eritrocitária (células vermelhas), série leucocitária (células brancas) e série plaquetária (MIRANDA, 2012). A série eritrocitária permite avaliar o estudo das células vermelhas do sangue, que compreende a avaliação do hematócrito, contagem das hemácias e concentração de hemoglobina, cujos valores obtidos dão origem aos índices eritrocitários que são o volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM) e a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) (ROCHA, et al 1998). A série leucocitária é a parte do hemograma que reflete as alterações quantitativas e qualitativas do leucograma e compreende a contagem global e diferencial dos leucócitos, sendo geralmente utilizada para analisar e supervisionar os processos inflamatórios (COELHO, 2006). A série plaquetária corresponde às menores células do sangue, com grande importância na manutenção da homeostasia. As principais anormalidades incluem a trombocitose, que é o aumento do número de plaquetas e a trombocitopenia que é a diminuição do número de plaquetas (HLAVAC, 2012). As amostras de sangue são obtidas por punção venosa, sem deixar o sangue coagular, através da homogeneização da amostra com um anticoagulante, sendo o ácido etilenodiaminatetracético (EDTA) o de escolha (SINK, FELDMAN 2006). O tempo para o procedimento de um hemograma refrigerado com poucas alterações nos valores da
série vermelha é de até 24 horas após a colheita, sendo preservadas as amostras de sangue em uma temperatura de 4ºC (OLIVEIRA, 2009). Entretanto, Franco et al., analisaram 10 amostras de cães, mantendo o sangue refrigerado por até 24 horas em 6ºC, observando que o número de células diminuíram, tanto na série vermelha como na branca, principalmente nos valores de hematócrito, proteínas plasmáticas, leucócitos totais e plaquetas, quando refrigeradas por 12 horas. O hemograma é um dos exames mais solicitados na medicina veterinária, porém, faltam estudos que mostram as condições do armazenamento de amostras, pois nem sempre as mesmas podem ser processadas imediatamente após a colheita do sangue. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo analisar a ocorrência de alterações no hemograma de cães, causadas pelo tempo de refrigeração da amostra de sangue, verificando sua influência na interpretação do exame hematológico. Material e Métodos Para desenvolver o protocolo experimental, foram utilizados 30 cães, com raças e idades variadas, machos e fêmeas, que foram atendidos na rotina do Centro de Práticas Clínicas e Cirúrgicas do Instituto Federal Catarinense Campus Concórdia. Após a anti-sepsia local, as amostras de sangue foram colhidas por venipunção jugular, utilizando agulhas e seringas descartáveis. Foram coletadas amostras com aproximadamente 4 ml de sangue, sendo depositadas em tubos a vácuo contendo anticoagulante ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). Após a colheita, as amostras foram enviadas ao Laboratório de Análises Clínicas do IFC Campus Concórdia, submetidas à condições diferentes de armazenamento, no qual, o exame foi realizado até 48 horas após a colheita das amostras. Para a realização do hemograma as amostras de sangue foram analisadas em três momentos. M1: a amostra foi processada em um tempo máximo de 2 horas após a colheita em temperatura ambiente. Somente as amostras que apresentaram os resultados com valores de referências normais foram armazenadas para o experimento. M2: armazenou-se a amostra a 4 C por 24 horas. M3: armazenagem da amostra a 4ºC por 48 horas. As análises foram realizadas 15 minutos após terem sido retiradas da refrigeração, para que as mesmas estivessem à temperatura ambiente durante a realização dos testes.
Foram analisados os seguintes parâmetros: hematócrito, proteína plasmática, contagem total de hemácias, contagem total de leucócitos e contagem diferencial de leucócitos (neutrófilos segmentados e linfócitos) e contagem de plaquetas em esfregaço sanguíneo, nos três momentos das amostras. Após a realização das avaliações e obtenção dos resultados, os mesmos foram avaliados pela análise de variância (One way ANOVA), sendo as medidas comparadas pelo teste de Tukey, ambos com 5% de significância. Resultados e Discussão Na avaliação da contagem de hemácias (x10 6 /µl) houve uma redução significativa dos valores médios 6.15 (p < 0.05) no M3 em relação aos momentos M1: 6.71 e M2: 6.31. Tal fato, foi citado por Oliveira que considerou esse decréscimo provavelmente por lise das hemácias durante o período de estocagem. Entretanto, esses achados discordam de Coelho e Dorigam que relataram estabilidade das hemácias quando refrigeradas. Com relação aos resultados apresentados para a avaliação da proteína plasmática (g/dl) houve um aumento significativo na média 7.45 (p < 0.05), ocorrido no M3 em relação aos momentos M1: 7.02 e M2: 7.18 do experimento. Esses dados corroboram com Oliveira que relatou que o aumento foi determinado pela hemólise no plasma. Os dados obtidos para o hematócrito (%) não mostraram diferenças estatisticamente significativas na média (p > 0.05), M1: 43.86, M2: 44.56 e M3: 46.33, durante todo o período de estocagem, considerando-se um parâmetro estável por até 48 horas de refrigeração. Estes dados corroboram com Coelho e Oliveira. Os resultados obtidos para a contagem total de leucócitos (x10 3 /µl) não mostraram alterações significativas na média (p > 0.05), M1: 10.72, M2: 10.19 e M3: 9.62. Estes valores corroboram com Oliveira e também com Coelho que relatou estabilidade por até 96 horas. A partir dos dados apresentados para neutrófilos segmentados (x10 3 /µl), com média no M1: 75.33, M2: 75.70 e M3: 75.60 e os resultados de linfócitos (x10 3 /µl) com média no M1: 22.50, M2: 22.00 e M3: 22.03, não mostraram diferenças significativas (p > 0.05), permanecendo estáveis nos três momentos analisados. Estes dados corroboram Coelho. Os demais parâmetros do diferencial de leucócitos no esfregaço sanguíneo: bastonetes, monócitos e eosinófilos, também foram analisados, permanecendo-se estáveis, porém, não foram incluídos na análise estatística.
Os valores médios obtidos pela contagem de plaquetas (x10 3 /µl) não apresentaram diferenças significativas (p > 0.05), com média no M1: 15.66, M2: 14.08 e M3: 14.53, mantendo-se estáveis durante todo o protocolo experimental. Esses resultados são semelhantes ao estudo de Oliveira. Entretanto, no estudo de Dalanhol et al., que analisaram as amostras em contador Sysmex XT2000i, observou-se que os valores diminuíram significativamente, provavelmente por consequência de aglutinação ou satelitismo plaquetário. A Tabela 1, indica os valores médios e os desvios padrões dos parâmetros nos três momentos avaliados. Tabela 1: Valores Médios e s Padrões dos parâmetros hematológicos avaliados, nos três momentos (M1, M2, M3) do estudo. MOMENTOS M1 M2 M3 Parâmetros Hematológicos Hematócrito (%) 43,86 4,86 44,56 4,68 46,33 4,88 Proteína Plasmática (g/dl) 7,02 0,54 7,18 0,52 7,45 0,59 Hemácias (x10 6 /µl) 6,71 0,84 6,31 0,92 6,15 0,75 Leucócitos (x10 3 /µl) 10,72 2,79 10,19 2,47 9,62 2,33 Segmentados (x10 3 /µl) 75,33 6,36 75,70 6,68 75,60 6,32 Linfócitos (x10 3 /µl) 22,50 6,70 22,00 6,58 22,03 6,35 Plaquetas (x10 3 /µl) 15,66 3,95 14,80 3,20 14,53 3,54 Conclusão Diante dos resultados obtidos pode-se concluir que os valores do hematócrito, contagem total de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos e contagem de plaquetas em esfregaço sanguíneo, podem ser realizados em um período de até 48 horas de refrigeração, mantendo boas condições para análise. E a contagem total de hemácias e proteína plasmática podem ser satisfatórios quando realizados com até 24 horas de refrigeração.
Referências COELHO, S. P. Influência do Tempo, Temperatura e Recipiente de Estocagem nas Características do hemograma de Cães Adultos Hígidos. 2006. 88 f. Dissertação (Mestre de Medicina Veterinária Patologia Animal) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP, São Paulo, 2006. DIAS JUNIOR, F. R; ROCHA, A. M; DIAS, A. F. R. Efeito de diferentes concentrações do ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) no eritrograma de cães. Semina: Ciências Agrárias. Londrina, v. 19, n.1, p. 13 16, março, 1998. DORIGAM, P. J. de. Influência do tempo e Temperatura de Estocagem de Amostras de Sangue nas Variáveis Hematológicas de Cães Portadores de Enfermidade Renal Crônica. 2011. 49 f. Dissertação (Mestre em Medicina Veterinária - Patologia Animal) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP, São Paulo, 2011. FRANCO, F. D. et al. Alterações no Hemograma de Cães Causados pela Refrigeração da Amostra. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n.8, Janeiro de 2007. GROTTO, Z. W. H. O hemograma: importância para a interpretação da biópsia. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. Vol. 31, n.3, p. 178-182, 2009. HLAVAC, R. C. N. Avaliação de Parâmetros Plaquetários em Cães Saudáveis: Efeito da Temperatura, Tempo e Tipo de Anticoagulante. 2012. 53 f. Dissertação (Mestre em Medicina Veterinária) Universidade Federal do Rio Grande do sul UFRGS, Porto Alegre, 2012. MIRANDA, A. B. M; CELIS, C. V. V. del; GIRALDO, A. C. B. Valores de referencia del hemograma en perros sanos entre 1 y 6 años de edad, atendidos en el Hospital Veterinario - Universidad de Antioquia, 2002-2009. Revista Colombiana de Ciencias Pecuarias. V. 25, p. 409 4016. Mayo, 2012. OLIVEIRA, C. A. de. Influência da Concentração do EDTA, Tempo e Temperatura de Armazenagem sobre Parâmetros Hematológicos de Cães no Hemograma Automatizado e Manual. 2009. 48 f. Dissertação (Pós Graduação em Medicina Veterinária) Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2009. SINK, A. C; FELDMAN, F. B. Urinálise e Hematologia: Laboratorial para o Clínico de Pequenos Animais. 1 ed. São Paulo: Roca, p. 46, 2006.