Modalidade: Resumo Expandido GT: Dança Eixo Temático: 5. Mediações Culturais: fundamentos, práticas e políticas. ÒNA METÁ: CORPO, JOGO E ANCESTRALIDADE. ANDRÉIA OLIVEIRA ARAÚJO DA SILVA Universidade Federal da Bahia - UFBA Escola de Dança/ Escola de Belas Artes Salvador-Bahia-Brasil Orientação: Prof.ª Dr.ª Lara Rodrigues Machado RESUMO: O presente artigo parte das vivências artísticas junto ao Grupo de Dança Contemporânea da Universidade Federal da Bahia (GDC / UFBA) Núcleo Irepó que tem como resultado do processo criativo o espetáculo Òna Metá. Os Três Caminhos, sob coordenação da Prof.ª Dr.ª Lara Rodrigues. A premissa é investigar aspectos da cultura afro-brasileira no cotidiano dos intérpretes do Grupo Irepó. A proposta metodológica O Jogo da Construção Poética, representa o cerne desse plano de trabalho, e traz o jogo das relações entre os indivíduos, como fundamental para o processo criativo do espetáculo de dança contemporânea. Palavras-chave: corpo; jogo; ancestralidade. ABSTRACT: This article is part of the artistic experiences with the Contemporary Dance Group of the Federal University of Bahia (GDC / UFBA) - Irepó core which results of the creative process the spectacle Òna Metá. Os Três Caminhos, coordinated by Prof.ª Dr.ª Lara Rodrigues Machado. The premise is to investigate aspects of the african-brazilian culture in everyday interpreters Irepó Group. The methodology "The Game of Poetics Construction" is the core of this work plan, and brings the game of relations between individuals, as fundamental to the creative process of contemporary dance show Keywords: body; game; ancestry. 2851
1 INTRODUÇÃO O espetáculo de Dança Contemporânea Òna Metá. Os Três Caminhos, estreou em 10 de dezembro de 2014, no XXIV Painel Performático da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia. A obra é inspirada na vida e obra do escultor, ensaísta, escritor e sacerdote alapini do culto aos ancestrais Eguns, Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi. Didi reuniu em suas obras, contos, esculturas, relatos de sua vivência inseridos no contexto cultural Nagô/ Iorubá. As influências da tradição estudada, seu modo de existir e resistir encontradas nas vivências in loco se desdobram, se reconfiguram, ganham outras qualidades, novas explorações. Ações são selecionadas e resignificadas durante os laboratórios de improvisação. Sendo a coleção de imagens de extrema importância para a construção cênica, já que, são as imagens selecionadas e externadas pelos intérpretes em forma de movimento o que traz sentido a configuração estética da obra. Vemos na vivência do Grupo Irepó, a reinvenção da cultura nagô, pois, tornam vivo um complexo sistema cultural de conhecimentos, a utilizando como disparadora criativa para experimentação de outros modos de representar o mundo, transmitindo ao outro no aqui e agora do fluxo contemporâneo. Dessa maneira, a execução do presente projeto pode ser entendida como atitude política de resistência, que colabora para a cultura nagô se fazer presente na contemporaneidade. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Estamos envolvendo nesse desdobramento compositivo, treze diferentes maneiras de perceber um mesmo referencial, evidenciando as singularidades, subjetividades e emoções distintas de cada estudante. Assim, a investigação será renovada constantemente, a cada experimentação, nas trocas geradas entre diferentes coautores e espaços. A antropóloga Juana Elbein nos leva a examinar o significado da oralidade na cultura nagô. A palavra proferida tem um poder de ação. A transmissão simbólica, a mensagem, se realiza conjuntamente com gestos, com movimentos corporais; a palavra é vivida, pronunciada, está carregada com modulações, com emoção, com história pessoal, o poder e a experiência de quem a profere. (Introdução do livro Contos Crioulos da Bahia, 1976). Mitos, gestos, sons, danças, afetos, narrativas de vida, geram elementos que emergem da relação dinâmica dos artistas pesquisadores durante laboratórios direcionados de criação, o jogo da construção poética de Òna Metá, está calcado em histórias de gente e apresenta o corpo enquanto microcosmo. O corpo como construção cultural é portador de emoções, sensibilidades, sentido ético-estético resultante das relações históricas e sociais. (FALCÃO, 2002), que se entrelaça a outras cosmovisões e constrói um imaginário coletivo que se retroalimenta, já que, 2852
esse imaginário é constituído da interação de corpos, ou seja, de territórios singulares. O jogo da construção poética: processo criativo em dança, resultado da tese de doutorado da orientadora do referido projeto e, se entrelaça aos estudos da cultura negro-africana, como uma urdidura de teorias que norteiam o presente estudo. 3 METODOLOGIA Òna Metá se configurou a partir dos laboratórios direcionados de dança, improvisação e pesquisa de campo. Utiliza como metodologia O Jogo da Construção Poética uma proposta que a partir das histórias, memórias e imagens que cada intérprete-criador traz em seu inventário unido à coleção de movimentos adquiridos em outros espaços de investigação em dança. A criação emana de um processo que se dá de dentro para fora, cita a diretora artística Lara Rodrigues durante os encontros com o grupo, ou seja, o indivíduo transforma em movimento o que está em seu âmago, sua história pessoal. Já que, o mesmo é que conta seu próprio mito, o externaliza somando-o a outras histórias encontradas durante o jogo de relações dos intérpretes. O jogo então é estabelecido das relações destes em vivências artísticas em grupo e, ao pensarmos o lugar do corpo na trama das relações sociais, nos deparamos com a sua originariedade... (SODRÉ, 2014, p. 12). O jogo das relações entrelaça as subjetividades que brotam das entranhas de cada pesquisador. A pesquisa de movimento dos intérpretes surge das pesquisas de campo in loco nas comunidades de terreiro Ilê Axé Opô Afonjá e Ilê Asipá, entrelaçada com as histórias que cada um dos indivíduos traz em seu inventário. A dança se instaura a partir do movimento enquanto rito, manifestação de sentimentos, expressados no estado de corpo extra cotidiano. A metodologia do jogo prioriza as trocas de experiencias, transcende configurações engesadas e abrange o contexto que se apresenta a cada relação dos intérpretes. E daí emerge a ancestralidade de cada indivíduo. Nesse processo criativo, a tradição e a contemporaneidade costuram elos, como numa colcha de retalhos, o qual cada parte (retalho) traz características próprias formando um corpo coletivo que pulsa pluralidades culturais. Assim, durante o processo de criação o intérprete seleciona o que de mais significativo foi construído, o que considera importante expressar artisticamente, ou seja, o que faz sentido ser configurado enquanto manifestação artística. Salientamos a importancia das pesquisas de campo como fundamentais para o desenvolvimento do método. Essa atividade possibilita ao estudante pesquisador aprimorar a cada visita in loco a sua argumentação crítica e reflexiva sobre dado objeto. 2853
4 RESULTADOS Os espaços de formação acadêmica, sobretudo, a Escola de Dança da UFBA, traz em seu histórico, estudos voltados para a cultura eurocêntrica. O presente projeto construi um espaço ímpar de formação que fortalece o desenvolvimeto das pesquisas voltadas para a cultura local, e evidencia a pluralidade cultural de cada indivíduo, contribuindo para aguçar nos mesmos o pertencimento pela sua propria identidade cultural, que muitas vezes foi marginalizada, como no caso da cultura afrobrasileira. Sendo assim, o discente passa a se perceber enquanto parte do ambiente que está inserido, sendo o mesmo, o protagonista da sua construção de conhecimento. Essa mudança de paradigma contribui para o fomento e consequente fortalecimento das pesquisas com temática afrobrasileira, bem como, gera mudanças de paradigmas no que diz respeito a pesquisa acadêmica, referenciais teóricos, práticas educativas, dentre outros. Outro paradigma modificado foi a concepção de grupo, que muitas vezes mantém em seu elenco os mesmos integrantes, não possibilitando novos componentes, Irepó dá lugar ao movimento de ideias, visões de mundo, subjetividades distintas oportunizando a participação de novos intérpretes e colaboradores. A criação Òna Metá. Os Três Caminhos, foi apresentada no 1º Encontro Interinstitucional do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa Rituais e Linguagens: a elaboração Estética (GIP - UNICAMP), evento parceiro do III Seminário Interno do Programa de Pós Graduação em Artes da Cena (PPGAC UNICAMP) que aconteceu em Campinas, São Paulo entre os dias 03 a 07 de agosto de 2015. E Centro Cultural Leny de Oliveira Zurita em Araras, São Paulo no dia 05 de Agosto de 2015. O estudo teve pôster e performance aprovadas na mesa Corporalidade, Ritual e Religião do II Encontro Latinoamericano de Investigadores sobre o Corpo e Culturas que aontecerá em Bogotá, Colômbia entre os dias 03 a 07 de Outubro de 2015. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Projeto Òna Metá. Os Três Caminhos está em desenvolvimento e pretende construir diferentes maneiras de abordagem sobre os dados assuntos, seja enquanto publicação de artigo científico, resenhas, resumos expandidos, pôster, criações artísticas e participação efetiva nos eventos de cunho acadêmico e artístico. 2854
6 REFERÊNCIAS DIDI, Mestre. Biografia. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21953/mestre-didi>. Acesso em: 14 de Agosto de 2015. DIDI, Mestre. Contos Crioulos da Bahia, narrados por Mestre Didi (Deoscóredes Maximiliano dos Santos), prefácio de Muniz Sodré, introdução de Juana Elbein. Petrópolis, Vozes, 1976. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2007. MACHADO, Lara Rodrigues. O jogo da construção poética: processo criativo em dança. 2008. Tese (doutorado). Instituto de Artes/Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2008. MUNIZ, Sodré. Cultura, Corpo e Afeto. Revista do Programa de Pós-Graduação em Dança. V.3, n.1, p.10-20, jan./jul. 2014. RODRIGUES, Graziela Estela Fonseca. Bailarino-pesquisador-intérprete: processo de formação. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1997. SANTOS, Inaicyra Falcão. Corpo e Ancestralidade: uma proposta pluricultural de arte-educação. Salvador: EDUFBA, 2002. dança- ANDRÉIA OLIVEIRA ARAÚJO DA SILVA Nasceu em Salvador, é Arteeducadora, Dançarina e Artista Multimídia. Graduanda do Curso de Licenciatura em Desenho e Plástica. Intérprete-Criadora do GDC (Grupo de Dança Contemporânea da UFBA) Núcleo Irepó. Integra a Comunidade Artística LIGAdoCorpo. Link do Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2431263350717459 2855