lauda 1

Documentos relacionados
SENTENÇA. Vistos. Pugna pela declaração da rescisão contratual, condenando-se a requerida na devolução de 90% dos valores pagos.

SENTENÇA. Vistos. Determinada a emenda à inicial e deferida a tutela antecipada (fls. 75/76). Emendas às fls. 135/136 e 147.

SENTENÇA. Vistos. É O RELATÓRIO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Vistos. Em sua contestação (fls. 108/138), a ré requer, preliminarmente, extinção do lauda 1

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SALLES ROSSI (Presidente sem voto), MOREIRA VIEGAS E LUIS MARIO GALBETTI.

Vistos. 1018XXX lauda 1

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

SENTENÇA. Vistos. A tutela foi parcialmente concedida (folhas 101/102), sobrevindo agravo de instrumento de folhas 216/217.

lauda 1

lauda 1

SENTENÇA. Os pressupostos de existência e desenvolvimento válido e regular estão presentes.

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

lauda 1

PRÁTICAS COMERCIAIS - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vistos lauda 1

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Wzi 1 Incorporação Imobiliária Ltda. (w.zarzur)

ACÓRDÃO. São Paulo, 20 de fevereiro de James Siano Relator Assinatura Eletrônica

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores RUI CASCALDI (Presidente sem voto), AUGUSTO REZENDE E LUIZ ANTONIO DE GODOY.

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Rodrigo Nogueira

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

SENTENÇA. Afirmam que adquiriram imóvel na planta junto à requerida em 8 de novembro de 2013.

THAYANI CRUZ NANNINI e RODRIGO MACHADO GOMES ajuizaram "ação de rescisão contratual" contra GAFISA SPE-127 EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA.

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Camila Rodrigues Borges de Azevedo

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO. São Paulo, 18 de janeiro de James Siano Relator Assinatura Eletrônica

SENTENÇA Procedimento Comum Marcos Luis Miranda da Costa e outro Esp 91/13 Empreendimentos Imobiliários Ltda.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

lauda 1

SENTENÇA. Processo nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

lauda 1

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

SENTENÇA Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

SENTENÇA. Foi deferida a tutela antecipada (fls. 77).

SENTENÇA. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Edward Albert Lancelot D C Caterham Wickfield

Vistos. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Juliana Nishina De Azevedo. fls. 130

SENTENÇA V I S T O S.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

SENTENÇA. Sobreveio a decisão de fl. 126/127, que deferiu a tutela provisória de urgência.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Vistos lauda 1

SENTENÇA FUNDAMENTO E DECIDO.

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MIGUEL BRANDI (Presidente sem voto), RÔMOLO RUSSO E LUIZ ANTONIO COSTA.

SENTENÇA. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Alessandra Laperuta Nascimento Alves de Moura

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

SENTENÇA. RIBEIRO e RAFAEL XIMENES RIBEIRO contra FIBRA MZM DIADEMA EMPREENDIMENTO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE SÃO PAULO 2ª VARA CÍVEL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Ordinário - Interpretação / Revisão de Contrato

lauda 1

É o relatório. Fundamento e DECIDO.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos lauda 1

SENTENÇA C O N C L U S Ã O

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente) e BERETTA DA SILVEIRA. São Paulo, 21 de abril de 2017.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MOREIRA VIEGAS (Presidente), FÁBIO PODESTÁ E FERNANDA GOMES CAMACHO.

Vistos lauda 1

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MIGUEL BRANDI (Presidente sem voto), LUIS MARIO GALBETTI E MARY GRÜN.

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro. Vistos.

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MIGUEL BRANDI (Presidente) e LUIS MARIO GALBETTI. São Paulo, 19 de dezembro de 2017.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

RECURSO ESPECIAL Nº MG (2013/ )

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MOREIRA VIEGAS (Presidente) e FÁBIO PODESTÁ. São Paulo, 26 de outubro de 2016.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Superior Tribunal de Justiça

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores VITO GUGLIELMI (Presidente) e PERCIVAL NOGUEIRA. São Paulo, 18 de junho de 2015.

PODER JUDICIÁRIO SÃO PAULO 4 a VARA CÍVEL CENTRAL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

SENTENÇA. A petição inicial foi instruída com documentos (fls. 16/94).

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 8ª Câmara de Direito Privado. Registro: ACÓRDÃO

C O N C L U S Ã O S E N T E N Ç A

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição:

fls. 342 SENTENÇA Processo Digital nº: 1107073-83.2015.8.26.0100 Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Giovanni Rivadavia Pazzeto Paolone Requerido: Esser Mabruk Empreendimentos Imobiliários Ltda. (esser) Juiz(a) de Direito: Dr(a). Flavia Poyares Miranda Vistos. GIOVANNI RIVADAVIA PAZZETO PAOLONE, qualificado nos autos, propôs ação de rescisão contratual c/c devolução de valores em face de ESSER MABRUK EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. ESSER, também qualificada, alegando, em síntese, que pretende a parte autora a rescisão do compromisso de compra e venda do imóvel descrito na inicial. Requer a rescisão do contrato, com a repetição de valores, no percentual descrito na inicial, inclusive devolução integral a título de intermediação, condenando-se a requerida na devolução dos valores pagos, na forma descrita na inicial. Com a inicial, vieram documentos. A parte ré ofereceu contestação a fls.143/167, acompanhada de documentos. Destaca preliminar de ilegitimidade passiva. No mérito, em síntese, aduz que são devidas as cobranças e a retenção de valores. Pugna pela improcedência. Junta documentos. Houve réplica fls.198/222. Em reconvenção a requerida reconvinte pleiteia a limitação de eventual restituição ao percentual de 60% dos valores pagos, conforme previsto em cláusula contratual. Contestação à reconvenção acostada a fls. 14/27. As partes foram instadas à especificação de provas. É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO E DECIDO. Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva destacada pela ré, posto que a parte autora aponta a requerida como sendo responsável pelas cobranças 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 1

fls. 343 levadas a efeito, tendo a requerida legitimidade para figurar no pólo passivo da demanda. Aliás, a ré é responsável solidária, nos termos do art.7º, par.único, do CDC, na medida em que participou da construção, compra e venda e demais contratos celebrados. Este foi o entendimento consagrado no REsp nº 1.551.951:. Legitimidade passiva 'ad causam' da incorporadora, na condição de promitente-vendedora, para responder pela restituição ao consumidor dos valores pagos a título de comissão de corretagem e de taxa de assessoria técnicoimobiliária, nas demandas em que se alega prática abusiva na transferência desses encargos ao consumidor. No mérito, possível o julgamento no estado dos processos, principal e reconvenção, nos termos dos artigos 355, inciso I e 371, ambos do Código de Processo Civil, pois a questão, de direito e fática, está suficientemente dirimida através da prova documental constante dos autos, tendo sido julgados os recursos repetitivos referentes aos temas objeto do feito, sendo certo que, na hipótese de ser entabulado acordo extrajudicial bastará que informem para posterior homologação. Neste sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA.INDEFERIMENTO. PROVA TESTEMUNHAL. 1. No sistema de persuasão racional adotado pelo Código de Processo Civil nos arts. 130 e 131, em regra, não cabe compelir o magistrado a autorizar a produção desta ou daquela prova, se por outros meios estiver convencido da verdade dos fatos, tendo em vista que o juiz é o destinatário final da prova, a quem cabe a análise da conveniência e necessidade da sua produção. Desse modo, não há incompatibilidade entre o art. 400 do CPC, que estabelece ser, via de regra, admissível a prova testemunhal, e o art. 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 2

fls. 344 desde logo: 131 do CPC, que garante ao juiz o poder de indeferir as diligências inúteis ou meramente protelatórias. 2. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg no Ag 987.507/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe 17/12/2010) grifos nossos PROCESSO CIVIL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA. IMPRESCINDIBILIDADE DA PROVA POSTULADA. REEXAME. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO PROVIDO. 1- Sendo o magistrado destinatário final das provas produzidas, cumpre-lhe avaliar quanto à sua suficiência e necessidade, indeferindo as diligências consideradas inúteis ou meramente protelatórias (CPC, art. 130, parte final). 2- A mera alegação de haver o juízo sentenciante julgado antecipadamente a lide, com prejuízo da produção das provas anteriormente requeridas, não implica, por si só, em cerceamento de defesa. 3- Indagação acerca da imprescindibilidade da prova postulada que suscita reexame de elementos fático-probatórios da causa (Súmula n 7). Precedentes do STJ. 4- Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no Ag 1351403/PE, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 29/06/2011) grifos nossos Ora, estando em termos o processo, o Juiz deve julgá-lo "Presentes as condições que ensejam o julgamento antecipado da causa, é dever do juiz, e não mera faculdade, assim proceder". (STJ, 4a T., REsp n 2.832- RJ, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 14.8.1990) No 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 3

fls. 345 mesmo sentido: RSTJ 102/500 e RT 782/302. No mérito, os pedidos da ação principal comportam parcial acolhimento, devendo ser rejeitado o pedido reconvencional. A relação jurídica estabelecida entre as partes está sujeita à disciplina do Código de Defesa do Consumidor. Neste passo, cumpre salientar que o avanço das relações jurídicas modernas colocou em confronto a consagrada autonomia da vontade dos indivíduos na celebração dos contratos e o interesse do Estado em preservar a supremacia de normas públicas e indisponíveis, em consagração ao interesse coletivo atingido por uma convenção particular. A complexidade do contratualismo moderno impulsionou maior ingerência e controle do Estado na vontade dos cidadãos. Classicamente, os doutrinadores e a jurisprudência sempre consideraram alguns princípios fundamentais que deveriam ser observados na celebração de um contrato, alguns deles consagrados desde o tratamento deste fenômeno social pelo Direito Romano. Entretanto, o interesse público protegido pelo Estado vem constituindo, especialmente a partir do século XX, fato limitativo a alguns destes fundamentos. A autonomia da vontade representa a liberdade do indivíduo na estipulação livre de seus interesses, mediante acordo de vontades, para o fim de conceder a tutela jurídica ao bem sobre o qual as partes acordam. Anote-se que a liberdade de contratar abrange tríplice aspecto: liberdade de contratar propriamente dita; liberdade de estipular o contrato; liberdade de determinar o conteúdo do contrato. Por conseguinte, consagrou-se a força vinculante das disposições contratuais, oriundas da plena vontade das partes, representada pela cláusula pacta sunt servanda (somos servos do pacto). É certo, porém, que este princípio contratual jamais foi absoluto, pois sofreu, desde a formação das primeiras teorias contratuais, limitações de normas públicas estranhas ao pacto, mas que representavam o interesse coletivo na celebração do contrato. Modernamente, contudo, este interesse coletivo ganhou novos contornos e legitimou, mediante certos limites, a intromissão do Estado na vontade do indivíduo manifestada no pacto. Estas limitações à liberdade de contratar constituem, basicamente, o imperativo de ordem pública, representado na ordem econômica e moral da sociedade ao tempo da celebração do contrato, que se aglutinam para formar o interesse público, e 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 4

fls. 346 os bons costumes, que constituem o reflexo das normas morais sobre os contratos. O primeiro fator limitativo é representado, normalmente, pelas normas coativas, que traçam dever de conduta inderrogável pelas partes privatorum pactis mutari non potest -. Estas normas, pelo fato de regularem interesses sociais juridicamente protegidos pelo Estado, estão imunes à vontade do particular, e a inobservância acerca destes deveres fulmina de nulidade a cláusula contratual que dispuser de modo contrário. Em decisão histórica, no ano de 1950, em decisão relatada pelo Desembargador David Filho, o Tribunal de Justiça de São Paulo afirmava que a teoria da revisão, aos poucos, vai sendo acolhida pela jurisprudência, porque em face da injustiça do convencionado, do desequilíbrio evidente, da ruína talvez de alguma das partes, não é possível que o Juiz cruze os braços. O intervencionismo estatal nos contratos particulares recebeu previsão legal expressa com a edição do Código de Defesa do Consumidor, conjunto de normas destinadas a regular as relações de consumo oriundas da comercialização de produtos ou serviços a um destinatário final. O inciso V, do artigo 6º, deste diploma legal permite a revisão judicial do contrato e a modificação de suas cláusulas sempre que tais disposições estabeleçam prestações desproporcionais, ou quando a ocorrência de fatos supervenientes tornem a execução do contrato excessivamente onerosa ao consumidor. Ainda nesta linha introdutória, o art. 54 do CDC define o contrato de adesão como aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo (grifei). A hipótese dos autos é de autêntico contrato de adesão, nos termos do mencionado artigo 54, do CDC. A retenção de valores pela ré se justificaria pelos custos com corretagem, publicidade e outros custos administrativos. Porém, não se trata, em verdade, de disposição contratual com esta natureza, mas, sim, de cláusula penal pelo descumprimento ou 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 5

fls. 347 desistência. Assim, em sendo de cláusula penal a natureza jurídica da aludida disposição contratual, é imperiosa a sua redução, já que o percentual acima de 10% (quinze por cento) de retenção sobre o valor a ser devolvido se revela verdadeiramente abusivo. Se a intenção da retenção é apenas remunerar os custos administrativos advindos do empreendimento, então deve ser fixada em percentual razoável e proporcional a tais despesas, sob pena de enriquecimento ilícito. A conduta adotada pela ré, na prática, inviabiliza a desistência do negócio por parte do consumidor, que será obrigado a arcar com penalidades extremamente desproporcionais. Não se olvide que a unidade retomada pela construtora será renegociada, não experimentando a ré maiores prejuízos. A finalidade da cláusula é unicamente punir severamente o consumidor desistente. Assim, deve ser declarada nula qualquer cláusula contratual que preveja a perda de valor superior a 10% da quantia paga pelo comprador, o que equivale dizer que a devolução deve corresponder ao mínimo equivalente a 90% do valor pago em caso de desistência pelo comprador, sendo portanto nulas as cláusulas inseridas no compromisso de compra e venda de imóvel que estabelecem que apenas 10% do valor pago será devolvido. Frise-se que o cálculo da retenção deverá levar em conta o valor efetivamente pago, e não o preço do negócio. Nesse sentido: PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO EM AGRAVO. PRETENSÃO RECEBIDA COMO AGRAVO REGIMENTAL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESCISÃO CONTRATUAL. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. RAZOABILIDADE NA DETERMINAÇÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM DE RETENÇÃO DE 20% A TÍTULO DE DESPESAS ADMINISTRATIVAS. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS DE FORMA PARCELADA. ABUSIVIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. FALTA DE COTEJO 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 6

fls. 348 ANALÍTICO. SIMPLES TRANSCRIÇÃO DAS EMENTAS. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. 1.- Em homenagem aos princípios da economia processual, da instrumentalidade das formas e da fungibilidade recursal, o pedido de reconsideração pode ser recebido como Agravo Regimental. 2.- É entendimento pacífico nesta Corte Superior que o comprador inadimplente tem o direito de rescindir o contrato de compromisso de compra e venda de imóvel e, consequentemente, obter a devolução das parcelas pagas, mostrando-se razoável a retenção de 20% dos valores pagos a título de despesas administrativas, consoante determinado pelo Tribunal de origem. 3.- Esta Corte já decidiu que é abusiva a disposição contratual que estabelece, em caso de resolução do contrato de compromisso de compra e venda de imóvel, a restituição dos valores pagos de forma parcelada, devendo ocorrer a devolução imediatamente e de uma única vez. 4.- Não houve demonstração de dissídio jurisprudencial, diante da falta do exigido cotejo analítico entre os julgados. A simples transcrição das ementas dos precedentes paradigmas não atende às exigências dos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e 255, 1º e 2º, do RISTJ. 5.- Agravo Regimental a que se nega provimento. (RCDESP no AREsp 208018/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 05/11/2012). AÇÃO CIVIL PÚBLICA - COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - sentença de extinção sem o julgamento do mérito com fundamento na ILEGITIMIDADE ATIVA - A ASSOCIAÇÃO DE CONSUMIDORES TEM CAPACIDADE POSTULATÓRIA PARA A AÇÃO CIVIL COLETIVA, EM QUE PESE TER SIDO CONSTITUÍDA HÁ MENOS DE UM ANO EM RAZÃO DO MANIFESTO INTERESSE SOCIAL - INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, INC. V, DA LEI Nº 7.345/87, COMBINADO COM O ART. 82, INC. IV, 1º DO CDC - extinção afastada - TEORIA DA CAUSA MADURA - APLICAÇÃO - INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 515, 3º, DO CPC - INOCORRÊNCIA DE MOTIVO IDÔNEO PARA A ANULAÇÃO PRETENDIDA CLÁUSULAS contratuais que prevêem restituição de 30% a 50% dos valores pagos e a devolução de forma parcelada DAS QUANTIAS DESEMBOLSADAS PELOS COMPRADORES - abusividade - limite de retenção de 10% dos valores pagos e devolução de uma só vez acompanhando patamar aplicado em decisões similares - aplicação da súmula 2 deste TJ - sentença reformada. RECURSO PROVIDO. (TJSP, Apelação 4004488-19.2013.8.26.0019, 2ª Câmara de Direito Privado, rel. Neves Amorim, j. 06/05/2014). O percentual de 10% se mostra razoável, levando-se em conta os patamares fixados em Acórdãos tanto dos tribunais estaduais quanto dos tribunais 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 7

fls. 349 superiores, conforme julgados citados. Referido percentual inclusive já engloba as perdas e danos da ré com a rescisão. Nos termos das ementas acima transcritas, a abusividade também se aplica à cláusula que prevê a devolução parcelada, eis que evidentemente abusiva. Devolver em prazo alargado equivale ao mesmo que não devolver. É certo que a devolução para atender ao disposto no Código de Defesa do Consumidor necessita ser imediata e, ainda, os valores necessariamente terão que ser corrigidos monetariamente, já que a correção monetária representa mera recomposição do capital, sem configurar acréscimo. O estabelecimento da restituição em prazo demasiadamente longo significa negar o próprio direito que se perderá no tempo. Preceitua, ainda, a Súmula nº 2 do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que A devolução das quantias pagas em contrato de compromisso de compra e venda de imóvel deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de parcelamento prevista para a aquisição. Sendo devida a rescisão, com a devolução do imóvel e dos valores, procedem também os pedidos para que sejam suspensas as cobranças descritas na inicial bem como que a ré se abstenha de efetuar negativações, com relação ao débito descrito na inicial. No que pertine às cobranças de SATI, serviços não especificados e corretagem, deve-se observar o quanto decidido pelo Colendo STJ no recurso repetitivo sobre os temas. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 8

fls. 350 OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA. I - TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel. II - CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da comissão de corretagem, tendo em vista a validade da cláusula prevista no contrato acerca da transferência desse encargo ao consumidor. Aplicação da tese 1.1. 2.2. Abusividade da cobrança por serviço de assessoria imobiliária, mantendo-se a procedência do pedido de restituição. Aplicação da tese 1.2. III - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. (STJ, REsp 1599511/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/08/2016, DJe 06/09/2016) Improcede o pedido de devolução de corretagem e procede o de devolução da SATI, nos termos do quanto decidido pelo Colendo STJ. Em face do exposto, com fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTE o pedido principal e julgo improcedente o pedido reconvencional para declarar a rescisão do contrato firmado entre as partes, condenando-se as requeridas, CONTUDO, solidariamente, nos termos do art.7º, único do CDC, na devolução de 90% do valor efetivamente pago pelos autores descrito na inicial, bem como o valor integral da SATI, sendo que a devolução deverá ser imediata, atualizados monetariamente, desde o 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 9

fls. 351 ajuizamento da ação, nos termos da Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e acrescidos de juros de mora na ordem de 1%, ao mês, desde a citação até o efetivo pagamento, confirmando a tutela concedida. Diante da sucumbência experimentada, nos termos do art.85 2º do NCPC, arcará a parte requerida com as custas e despesas processuais, bem como com o pagamento de honorários advocatícios da parte adversa, fixados em 10% sobre o valor da causa, nos termos dos arts.85, 2º e 85, 14 do NCPC. P.R.I.C. São Paulo, 15 de fevereiro de 2017. DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA 1107073-83.2015.8.26.0100 - lauda 10