... O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 1.

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Transcrição:

O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 1.

SUMÁRIO O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA PROPOSTA PEDAGÓGICA... 03 Geraldo Juaçaba Filho Ementas dos programas da série: PGM 1 A relevância da Antártica no sistema global PGM 2 O Ano Polar Internacional PGM 3 Pesquisas na Antártica O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 2.

PROPOSTA PEDAGÓGICA O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA Geraldo Juaçaba Filho 1 1. Introdução 2 O ano de 2007 marca o 125º aniversário do 1º Ano Polar Internacional (1882-83), 75º aniversário do 2º Ano Polar Internacional (1932-33) e 50º aniversário do Ano Geofísico Internacional (1957-58), três iniciativas científicas que contribuíram, de maneira significativa, para o entendimento de processos globais e estimularam a cooperação científica internacional voltada para a pesquisa das regiões polares da Terra. O Ano Polar Internacional 2007-2008 (International Polar Year 2007-2008) é um fórum mundial que pretende discutir e aprofundar as pesquisas de ponta desenvolvidas nos pólos Sul e Norte, reunindo exploradores de diversos países para estudar a relação desses inóspitos locais gelados com o restante do planeta, como interagem e de que forma influenciam os oceanos, a atmosfera e as massas terrestres. O Conselho Internacional de União Científica (International Council for Science, ICSU), em conjunto com a Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization, WMO) organizam esse projeto. O Ano Polar marca também os 25 anos de presença brasileira na Antártica. O Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), uma das grandes conquistas nacionais, promove e realiza pesquisas científicas e tecnológicas diversificadas e de alta qualidade na região antártica. Contando com a colaboração de diversos ministérios, universidades, empresas públicas e O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 3.

privadas, proporciona ao Brasil conhecimentos fundamentais sobre fenômenos naturais que afetam direta ou indiretamente a nossa população e que têm a sua origem nas regiões polares. Participar do Ano Polar Internacional 2007-2008 proporcionará a continuidade, o incremento e a integração da pesquisa atualmente em curso com organismos de outros países, cujas iniciativas deixarão um legado de dados e resultados científicos, de estabelecimento de parcerias de toda natureza (tecnológica, científica e humanitária) no âmbito local, regional e global, e de infra-estrutura de apoio para as futuras gerações de cientistas. O Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) foi criado pelo Decreto n.º 86.830, de 12.01.1982. As pesquisas brasileiras no âmbito do PROANTAR tiveram início no verão austral de 1982-83, com a Operação Antártica I. A primeira expedição teve um caráter essencialmente exploratório, em especial na região da península Antártica e ilhas adjacentes. A partir do verão de 1983-84 e, em especial, depois do estabelecimento da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) na Baía do Almirantado, Ilha Rei George, em 1984, e sua posterior ampliação, intenso programa de pesquisas antárticas passou a ser desenvolvido. As atividades científicas brasileiras na Antártica qualificaram o Brasil como membro consultivo do Tratado Antártico, a partir de 1993, e como membro do SCAR. Além dessas pesquisas iniciais, novas pesquisas foram implementadas por meio de duas grandes redes, voltadas para o impacto das mudanças ambientais globais na Antártica e suas conseqüências para o Brasil e para a avaliação do impacto ambiental das próprias atividades brasileiras naquela região. 2. Objetivos da série O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 4.

Os objetivos da série O Brasil na Antártica: pesquisa e tecnologia, que será apresentada no programa Salto para o Futuro /TV Escola/SEED/MEC de 06 a 08 de agosto de 2007, são semelhantes aos objetivos do Programa Especial - Ciência na Antártica: a pesquisa brasileira e o Ano Polar Internacional, também apresentado no Salto para o Futuro em 25/09/2006: envolver do sistema educacional brasileiro, para que estudantes e sociedade sejam informados sobre o que já foi realizado e sobre o estágio atual das pesquisas antárticas. Pretende-se, assim, divulgar nas escolas a importância das atividades e pesquisas antárticas para a vida e a economia do Brasil e também mostrar a importância do Ano Polar Internacional e da participação do Brasil neste programa, que aumentará nossa habilidade para detectar mudanças ambientais globais e avaliar suas conseqüências sobre o homem, incluindo as conseqüências socioeconômicas. 3. O Brasil na Antártica O Tratado da Antártica foi assinado em Washington, em 1º de dezembro de 1959, por 12 países que executaram trabalhos na Antártica durante o Ano Geofísico Internacional (IGY), de 1957 a 1958. O Tratado da Antártica prevê a possibilidade de adesão de qualquer país que seja membro das Nações Unidas. Porém, para que essa adesão seja efetivada, existem exigências importantes a serem cumpridas. Para que um país venha a se tornar Parte Consultiva do Tratado e ter direito à voz e ao voto nas reuniões anuais que tratam do futuro e da conservação do continente gelado, tem de realizar, entre outras coisas, substanciais atividades científicas naquela região. Nesse contexto, o Brasil, sétimo país mais próximo da Antártica, não poderia se manter afastado dos interesses científicos sobre aquele continente. O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 5.

Este Tratado é um conjunto de acordos, celebrados com o propósito de regular as relações entre os Estados na Antártica. O instrumento mais importante é, obviamente, o Tratado da Antártica, juntamente com todas as Recomendações adotadas durante as Reuniões das Partes Consultivas (ATCM). O Sistema do Tratado da Antártica compreende: - a CCAMLR, Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos, que visa regulamentar o aproveitamento de todas as espécies de recursos vivos marinhos na área do Tratado; - a CCAS, Convenção para a Conservação das Focas Antárticas, que tem o objetivo de monitorar o desenvolvimento das populações de focas marinhas antárticas; - a CRAMRA, Convenção para a Regulamentação das Atividades sobre Recursos Minerais, que visa regulamentar a explotação mineral na Antártica; foi concluída em 1988, não estando em vigor por não ter sido ratificada pelas Partes Consultivas. O Tratado da Antártica tem, como organismos consultivos: - o SCAR, Comitê Científico para Pesquisas Antárticas, organismo não-governamental, que promove e coordena as atividades científicas no âmbito do Sistema do Tratado da Antártica. O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 6.

- o COMNAP, Conselho de Gerentes de Programas Antárticos Nacionais, que constitui o fórum para consultas e cooperação entre os países com programas ativos, quanto a aspectos logísticos e operacionais das atividades na Antártica. O Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) deu início às pesquisas brasileiras durante a Operação Antártica I, realizada a bordo do NApOc Barão de Teffé, da Marinha do Brasil, e do NOc Professor W. Besnard, da Universidade de São Paulo, no verão austral de 1982/83. Em 12 de setembro de 1983, o Brasil foi admitido como Membro Consultivo do Tratado da Antártica. Cabe à Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), coordenada pelo Comandante da Marinha, a condução do PROANTAR, que conta com uma Secretaria, a SECIRM, para a execução das atividades administrativas de gerência desse programa. A SECIRM coordena a Subcomissão para o PROANTAR, que conta com três grupos que a auxiliam em suas deliberações: - o Grupo de Assessoramento (GA), que recebe, avalia o mérito científico e sugere ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão financiador, a aprovação dos projetos de pesquisas para cada Operação Antártica; - o Grupo de Operações (GO), funcionando na SECIRM, que verifica a exeqüibilidade das propostas selecionadas pelo GA, planeja a operação do navio e vôos de apoio, compatibilizando os interesses científicos com as necessidades de apoio logístico decorrentes; O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 7.

- o Grupo de Avaliação Ambiental (GAAm), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), que tem o propósito de avaliar o impacto ambiental das atividades científicas e de apoio logístico a serem desenvolvidas em cada Operação Antártica. A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) foi instalada em 6 de fevereiro de 1984, na Baía do Almirantado, Ilha Rei George, Arquipélago das Shetlands do Sul, e marca a presença brasileira na Antártica. Hoje, ela conta com 2.350 m2 de área construída, compreendendo laboratórios, oficinas, enfermaria, lavanderia, cozinha, sala de estar, sala de vídeo, camarotes e um pequeno ginásio de esportes. A estação pode acomodar até 53 pessoas, entre pesquisadores, funcionários do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), que executam a manutenção das instalações e equipamentos e um Grupo Base de dez militares da Marinha do Brasil que é responsável pela operação da EACF. As atividades brasileiras na Antártica são desenvolvidas na EACF, em dois refúgios localizados nas Ilhas Elefante e Nelson, que são construções em madeira que podem abrigar até seis pesquisadores, e a bordo do Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) Ary Rongel, que substituiu o Barão de Teffé. O NApOc Ary Rongel, adquirido em março de 1994, é dotado de laboratórios para pesquisa nas áreas de Meteorologia e Oceanografia Física e Biológica. Opera com dois helicópteros de pequeno porte e pode acomodar até 27 pesquisadores. As atividades logísticas contam com o apoio da Estação de Apoio Antártico (ESANTAR), localizada na Fundação Universidade Federal do Rio Grande, a qual promove o abastecimento da EACF, refúgios e acampamentos, como também contribui com a manutenção do material de campo necessário às operações. O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 8.

Complementando o esforço brasileiro na Antártica, a Força Aérea Brasileira realiza um mínimo de oito vôos de apoio, possibilitando a troca de pesquisadores e o apoio logístico à EACF durante o inverno, e o Ministério das Minas e Energia, por meio da PETROBRAS, fornece o combustível necessário à condução das Operações Antárticas. As atividades científicas do PROANTAR estão agrupadas em Subprogramas de Ciências Físicas, Geociências, Ciências da Vida, de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Tecnológico, compreendendo as seguintes áreas de conhecimento: Circulação Atmosférica; Física da Alta Atmosfera; Climatologia; Meteorologia; Geologia Continental e Marinha; Glaciologia; Oceanografia; Biologia; Ecologia; Astrofísica; Geomagnetismo; Geofísica Nuclear. Além disso, são realizadas pesquisas na área de técnicas construtivas e corrosão. 3.1. A pesquisa brasileira na Antártica A região antártica tem um papel essencial nos sistemas naturais globais. Ao longo dos últimos vinte anos, importantes observações científicas, dentre as quais as relativas à redução da camada protetora de ozônio da atmosfera, à poluição atmosférica e à desintegração parcial do gelo na periferia do continente, evidenciaram a sensibilidade da região polar austral às mudanças climáticas globais. Numa dimensão mais ampla, a grandiosidade e a vastidão do continente antártico, seus valores naturais e agrestes, praticamente intocados pelo homem, por si só constituem um preciosíssimo patrimônio de toda a humanidade, que cabe preservar. As características físicas e biológicas peculiares da Antártica, área oceânica circundante e ilhas subantárticas, a chamada região antártica, derivam de sua configuração geográfica e de sua história geológica únicas. Com uma área de aproximadamente 14 milhões de km2, quase O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 9.

o dobro da área do Brasil, a Antártica é o menos conhecido dos continentes. Centrado no Pólo Sul Geográfico, o continente é inteiramente circundado pelo Oceano Antártico ou Austral, cuja área, de cerca de 36 milhões de km2, representa aproximadamente 10% de todos os oceanos e influencia a circulação geral da hidrosfera marinha no Hemisfério Sul. A Antártica não foi, entretanto, permanentemente, uma região gelada e desolada. Há aproximadamente 200 milhões de anos, o continente estava ligado à África, à América do Sul, à Austrália, à Nova Zelândia e à Índia, integrando uma gigantesca massa terrestre denominada Gondwana. Há cerca de 150 milhões de anos, as mesmas forças terrestres que produziram a aglutinação das massas continentais fragmentaram o Gondwana, movendo-se os continentes para suas atuais posições. O registro fóssil existente nas rochas antárticas evidencia que o clima pretérito da região passou por períodos mais quentes, propiciando o surgimento de vegetação. A separação final e o isolamento do continente resultaram em drástica mudança do clima, com profundas alterações na flora e na fauna. As formas de vida sobreviventes evoluíram sob as condições extremas de frio, vento, gelo e neve que passaram a vigorar no continente. O isolamento deste pelas massas de água e essas condições especiais condicionaram o estabelecimento de espécies que só aí ocorrem. Assim, as comunidades marinhas antárticas são reconhecidas por um alto nível de endemismo. Em contraste com o que ocorre na área continental da Antártica, as comunidades marinhas podem atingir uma alta biomassa e uma alta diversidade. Várias razões tornam de excepcional interesse para a humanidade a pesquisa científica que se realiza na região antártica. Algumas das mais notáveis, em vários campos da ciência, são: O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 10.

A região antártica tem um balanço de radiação solar negativo e, desse modo, atua como uma espécie de "refrigerador" ou "sorvedouro" do calor terrestre. O gelo polar constitui o melhor arquivo sobre a evolução do clima e da atmosfera ao longo de centenas de milhares de anos e com alto grau de resolução. Esses dados são complementados pelo registro preservado em sedimentos do Oceano Austral, da margem continental e do Continente Antártico. Estudos geoquímicos do gelo permitiram determinar variações na concentração de gases do efeito estufa e na temperatura atmosférica e, ainda, a ocorrência de explosões vulcânicas. Tais medidas possibilitam entender os processos de desertificação global, alterações nos padrões de circulação atmosférica e oceânica e eventos de mudanças climáticas abruptas (na escala de uma geração humana). O caráter praticamente prístino do ambiente antártico, afastado das fontes de poluição antropogênica, torna-o um referencial para análise da circulação e do transporte global de componentes químicos e particulados gerados pelas atividades industriais que ocorrem nos continentes de latitudes mais baixas. Tais estudos fornecem dados de entrada para modelos climáticos e de circulação atmosférica global. Um aspecto particular dessa questão refere-se ao estudo da ação de poluentes sobre a camada de ozônio atmosférico. A posição polar do continente e a configuração do campo magnético da Terra propiciam condições excepcionais para estudos atmosféricos e do geoespaço. Favorecem, também, o acompanhamento de fenômenos atmosféricos de grande escala como o "efeito estufa" e a depleção da camada de ozônio atmosférico e sua correlação com a incidência de radiação ultravioleta na superfície da Terra, em latitudes que vão desde a Antártica até regiões equatoriais. O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 11.

A Antártica teve uma posição central no antigo supercontinente Gondwana. Sua evolução geológica e geodinâmica foi, durante dezenas de milhões de anos, solidária às dos continentes do Hemisfério Sul, inclusive América do Sul, e envolveu a interação complexa entre placas litosféricas quando da aglutinação e da fragmentação do supercontinente. Dados meteorológicos antárticos são essenciais para o entendimento do sistema climático do Hemisfério Sul e da modelagem climática. Condições vigentes abaixo das plataformas de gelo e na guirlanda de gelo do mar (banquisa) que circunda a Antártica promovem a formação de água fria profunda, que drena em direção norte, ventilando os outros oceanos, com impacto evidente na biodiversidade das águas costeiras brasileiras. Os Oceanos Austral e Ártico têm um papel importante na troca de CO2, um dos principais gases do efeito estufa, entre o oceano e atmosfera, já que representam grandes repositórios para o CO2. Esses processos são controlados pela formação de gelo do mar, convecção termohalina e produtividade biológica. A previsão de que a variação climática seja mais intensa nas altas latitudes faz com que a detecção de mudanças acima da grande variabilidade natural de fundo possa ser mais bem visualizada nas regiões polares. O derretimento da água retida no manto de gelo da Antártica é suficiente para elevar significativamente o nível do mar. O monitoramento do balanço de massa do gelo antártico é, pois, essencial para prever mudanças no nível do mar atual e impacto claro no gerenciamento costeiro do Brasil. O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 12.

Com essas características, é grande o interesse da comunidade científica em estudar os pólos. 3.2. Tecnologia antártica No continente antártico, o único em que o homem não é originário, a vida humana não seria possível sem o advento da tecnologia que permitiu a implantação de moradias, seja para abrigar atividades exploratórias, como ocorreu no início da ocupação da Antártica, seja para atividades científicas, principal função atual das bases e estações instaladas. Atualmente, de toda sua enorme área continental, apenas uma fração insignificante é ocupada pelas estações científicas, basicamente, formadas por pesquisadores que, muitas vezes, recebem apoio logístico de militares. Sendo este continente o mais isolado, o mais frio, o mais ventoso e o mais seco da Terra, a presença de seres humanos tem de ser apoiada por uma complexa estrutura logística, que deve prover condições para a sobrevivência e a permanência segura do homem na região. É importante lembrar que o continente não possui nada que facilite a vida humana, motivo pelo qual não existiam populações nativas antes do advento da tecnologia. Não existem árvores, o solo é demasiadamente estéril para o desenvolvimento da flora ou de qualquer forma de agricultura e as condições do tempo são sempre instáveis, oscilando, em poucas horas, de um céu límpido e azul para tempo encoberto, com neve e ventos fortes, que podem alcançar velocidades incríveis, já tendo sido medidos ventos de 192 km/h. O frio intenso é outro fator importante a se considerar para a adaptação do homem ao ambiente. As temperaturas médias anuais variam de 0ºC (verão) a -15ºC (inverno) no litoral e de -32ºC (verão) a -65ºC (inverno) no interior do continente. A menor temperatura já O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 13.

registrada na Antártica foi de -89ºC, na estação Vostok (ex-urss), em junho de 1983, sendo essa também a menor temperatura ambiente já medida na Terra. Por outro lado, pelo fato de o continente ter sido descoberto há menos de duzentos anos, não existe grande quantidade de dados experimentais que possam indicar com segurança quais seriam as melhores soluções para a vida de comunidades na Antártica. Mesmo com o avanço da tecnologia e com o aumento fantástico da presença humana em inúmeras expedições científicas e nas dezenas de bases e estações ali implantadas, tudo tem uma forte parcela de novidade. O estudo tecnológico está presente desde pequenos detalhes como o desenvolvimento de roupas apropriadas até grandes questões, como meios de transporte, tecnologias construtivas, equipamentos científicos, etc. 4. Informações importantes que serão apresentadas e comentadas na série O Brasil na Antártica: pesquisa e tecnologia a) o Plano Diretor da EACF que permitiu planejar a revitalização da Estação antártica brasileira e buscar as melhores soluções com menor custo, mais eficiência e menor impacto ambiental. O plano está orientado para oferecer conforto e segurança para os usuários e facilidade de gestão para os administradores do PROANTAR. b) Comunicações o Brasil instalou, no verão 2005/2006, um eficiente sistema de telefonia que permite chamadas diretas entre a Estação Ferraz e o Rio de Janeiro (tarifa local), e também com os demais estados, com tarifa interurbana a partir do Rio de Janeiro. A internet foi incrementada por meio da implementação de um sistema de alta velocidade 2GB, auxiliando tanto a atividade logística como, principalmente, a científica, na necessária troca O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 14.

de dados entre as equipes que permanecem em Ferraz com suas instituições de origem. Em 2007, foi instalada, também a telefonia celular. c) Energia estão sendo desenvolvidos estudos visando à implementação do uso de combustível alternativo, como o biodiesel, por exemplo, para os geradores elétricos da EACF, atualmente movidos a diesel. Com menos intensidade, estuda-se o uso de células fotovoltaicas para aproveitamento da energia solar nos casos de abastecimento de energia para os módulos ou equipamentos isolados, como é o caso das estações automáticas de meteorologia e refúgios, e não se descarta a troca de informações com outros países que estão optando por experiências com geradores eólicos, diante da abundância da matéria-prima: o vento. d) Esgoto o tratamento de esgoto na EACF se torna complexo devido à variedade de águas a serem tratadas, não só oriundas de sanitários, como também de pias, chuveiros, cozinha e laboratórios de química e biologia. Embora o sistema instalado seja eficiente, o Brasil não tem poupado esforços na busca de soluções cada vez mais eficientes, esperando alcançar a excelência de, um dia, poder orgulhar-se de não lançar nenhum poluente na Baía do Almirantado que possa vir a afetar o meio ambiente. e) Pesquisa científica - pressupõe a necessidade de estudos tecnológicos de apoio, principalmente em função da adoção de equipamentos cada vez mais sofisticados e com maior grau de precisão, como os rotineiramente utilizados pelos pesquisadores brasileiro no âmbito do PROANTAR. f) Evolução tecnológica versus impacto ambiental as ações tecnológicas no ambiente antártico devem ser vistas, desenvolvidas e avaliadas não somente sob o aspecto da eficiência, mas também sob o enfoque ambiental, entendendo-se que tal assunto não se restringe à busca de não poluição e não contaminação, passa também pela aplicação de procedimentos que O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 15.

evitem a perturbação das vidas animal, terrestre e marítima, a destruição da frágil flora e a busca de ações que estejam de acordo com a capacidade de suporte do ambiente. Valores intrínsecos, como o impacto na paisagem, também são considerados, seja nos projetos de novas edificações, seja relacionados às atividades de uso e manutenção no espaço exterior. Temas que serão debatidos na série O Brasil na Antártica: pesquisa e tecnologia, que será apresentada no programa Salto para o Futuro/TV Escola/SEED/MEC de 6 a 8 de agosto de 2007: PGM 1 A relevância da Antártica no sistema global No primeiro programa da série, o tema central será o ambiente antártico e sua importância para o planeta e, especialmente, para o Brasil. Será apresentado o programa PROANTAR e serão feitos comentários sobre a importância do trabalho de Educação Ambiental nas redes de ensino de todo o País. PGM 2 O Ano Polar Internacional O segundo programa da série tem como foco a importância do Ano Polar Internacional e a pesquisa brasileira. Os principais resultados das pesquisas realizadas na Antártica. A logística criada pelo Governo brasileiro para viabilizar a pesquisa. O trabalho da Força Área e da Marinha brasileiras, possibilitando o acesso e a permanência das equipes de pesquisa no continente gelado. O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 16.

PGM 3 Pesquisas na Antártica O terceiro programa vai apresentar as pesquisas realizadas pelo Brasil na Antártica: desafios e resultados. Serão comentados e debatidos esses temas, entre outros: O Plano Diretor da EACF; o sistema de comunicações; a utilização de fontes alternativas de energia; a evolução tecnológica versus impacto ambiental. S í t i o s n a I n t e r n e t a s s o c i a d o s a o s t e m a s a b o r d a d o s n o p r o g r a m a : www.ufrgs.br/antartica ftp.cnpq.br/pub/doc/proantar/ http://143.54.108.11/travessia/ www.ultimafronteira.com.br http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/275.html http://www.revistapesquisa.fapesp.br - edição on line da Revista Pesquisa Fapesp - Março 2005 - Edição 109. Texto - O gelo também é nosso, de Marcos Pivetta O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 17.

Notas: 1 Assessor para assuntos institucionais da SECIRM Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar. Consultor desta série. 2 Na introdução da proposta pedagógica desta série, estamos retomando temas que foram abordados no boletim do Programa Especial - Ciência na Antártica: a pesquisa brasileira e o Ano Polar Internacional, que foi apresentado no programa Salto para o Futuro /TV Escola/SEED/MEC no dia 25/09/2006, tendo como consultora a Dra. Maria Cordélia Soares Machado, analista de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), coordenadora para Mar e Antártica da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (SEPED/MCT). O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 18.

Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Diretora do Departamento de Produção e Capacitação em Educação a Distância Leila Lopes de Medeiros Coordenadora Geral de Produção e Programação Viviane de Paula Viana Supervisora Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento Pedagógico Maria Angélica Freire de Carvalho Coordenação de Utilização e Avaliação Carla Inerelli Mônica Mufarrej Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa TVE Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte Consultor especialmente convidado Geraldo Juaçaba Filho E-mail: salto@mec.gov.br Home page: www.tvebrasil.com.br/salto Rua da Relação, 18, 4 o andar - Centro. CEP: 20231-110 Rio de Janeiro (RJ) Agosto 2007 O BRASIL NA ANTÁRTICA: PESQUISA E TECNOLOGIA 19.