REGULAMENTAÇÃO DO FINANCIAMENTO DA SAÚDE O QUE É A EMENDA 29? Foi promulgada no ano de 2000 e considerada uma grande conquista social vez que vinculou recursos públicos para o financiamento da Saúde dos brasileiros. A EC-29 também definiu porcentuais de aplicação em Saúde para cada ente da federação. Para os Estados foi determinado que no mínimo de 12% do orçamento será para o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), e para os Municípios 15%. A Emenda 29 definiu que a União deveria investir em 2000 o mesmo valor gasto com Saúde de 1999 adicionado de 5%. Para o período de 2001 a 2004 o investimento seria com base nos gastos do ano anterior corrigido pela variação do PIB. Lei complementar revista, pelo menos, a cada cinco anos deve redefinir os valores de investimento. Assim prevê a EC-29. É responsabilidade do Congresso Nacional a revisão dos valores investidos na Saúde dos brasileiros e a publicação de uma nova lei atualizando os porcentuais para cada esfera de governo. Desde 2003, o Congresso tenta olhar para a saúde da população votando um novo projeto de lei o atual PLP 306/2008 porém desde junho de 2008 encontra-se com a votação paralisada no plenário da Câmara. TRAMITAÇÃO DA PROPOSTA NO CONGRESSO NACIONAL O Senado aprovou proposta de regulamentação em maio de 2008, definindo que a União deverá aplicar 10% da receita corrente bruta em Saúde. Com a demora na conclusão da votação o SUS já perdeu o equivalente a 66 bilhões de reais. Só para os Municípios a CNM estima que a perda passará dos R$ 28,4 bilhões até o final de 2011. A Câmara dos Deputados recebeu a proposta em maio de 2008 para revisão, permanecendo naquela Casa até então, conforme figura abaixo, totalizando mais de 1100 dias. Várias alterações ao projeto foram propostas excluindo-se o porcentual da União e criando a contribuição social para a saúde (CSS), com alíquota de 0,1% sobre as movimentações financeiras, já aprovada no texto base do projeto. Um destaque apresentado pelos Democratas (DEM), que suprime a base de cálculo da CSS, paralisou a votação no plenário da Câmara. À Câmara Federal só resta concluir a votação do projeto de lei, visto que o texto base está aprovado e já não cabem emendas ou substitutivos. Concluida a votação, o projeto será devolvido a casa originária o Senado, que lhe caberá acatar as alterações e sugestões da Câmara de forma total ou parcial, ou ainda, rejeitar a proposta completamente e manter o texto original (PLS 121/2007).
Figura 1 - Regulamentação do financiamento da saúde no Congresso Nacional. Fonte: CNM. BENEFÍCIOS COM A REGULAMENTAÇÃO DO FINANCIAMENTO O projeto define o que são gastos com saúde facilitando a aplicação correta dos recursos destinados à Saúde e a prestação de contas dos Entes. Espera-se que assim não ocorram desvios de recursos do Setor ou aplicações equivocadas pelos Entes, como as despesas com previdência, assistência social, saneamento, saúde suplementar de servidores públicos, segurança pública. A definição de porcentuais de aplicação de recursos financeiros para a União, garante o financiamento federal da Saúde e melhora o aporte financeiro destinado aos Municípios brasileiros. Os Municípios lutam por uma política de financiamento equânime, justa e equivalente às responsabilidades assumidas. Se o Congresso tivesse aprovado o projeto em 2008, os Municípios brasileiros receberiam mais de 28,4 bilhões de reais no período de 2008 a 2011. Com a demora na regulamentação só quem perde é a população. Os 28,4 bilhões que iriam para os Municípios seriam convertidos em benefícios para a saúde das suas populações. De acordo com os incentivos que o governo federal repassa para os Municípios, veja o que poderia ser realizado com esse recurso.
Tabela 1 implantação de novos serviços ou manutenção dos já existentes com recursos de transferências federais para Municípios. Proposta do Senado, 2008 a 2011. * CEO - Centro de Especialidades Odontológicas. ** UPA - Unidade de Pronto Atendimento. Quais os serviços que o seu Município precisa? O que gostaria de implantar ou ampliar para ofertar a sua população? Quais os serviços que poderiam melhorar a gestão do SUS no seu Muncípio? Vale lutar por esse recurso? Vale lutar pela regulamentação e pelo cumprimento da Emenda Constitucional 29? Agora veja essa informação: Com base nas informações do Programa Saúde da Família, o governo federal está repassando para custeio de cada equipe na modalidade 1 R$ 10 mil/mês. Com base nesse valor o incentivo federal anual seria de R$ 3,8 bilhões. Quando calculado o valor anual estimado para custeio das mesmas 32 mil equipes, com o valor médio de R$ 28 mil por equipe/mês, seriam necessários pouco mais de R$ 10,7 bilhões ao ano. Isso significa dizer que, caso a Emenda 29 fosse regulamentada com a definição de 10% da receita corrente bruta da União, o aporte de recursos financeiros para os Municípios seria o suficiente para manter a principal estratégia da atenção básica de saúde com base no custo médio real, R$ 28 mil por equipe. MUNICÍPIOS COMPENSAM AS PERDAS NO SUS Pactos, compromissos, responsabilidades vão se acumulando na gestão municipal. Em contrapartida União e Estados disponibilizam ao SUS municipal programas subfinanciados, indicadores de saúde e metas inatingíveis, hospitais e unidades de saúde sucateadas, rede de referência desorganizada e com longas filas de espera. Para compensar as perdas no financiamento da Saúde, o conjunto dos Municípios é obrigado a investir cada vez mais no setor. No período (2000-2009) os investimentos próprios municipais foram crescentes acumulando um total de R$ 100,5 bilhões acima do limite constitucional de 15%. Isso demonstra muito mais que compromisso com a saúde da população brasileira, denuncia um processo de transferência de responsabilidade sem uma política de financiamento equivalente.
Somente em 2008 os Municípios brasileiros investiram em média 22% dos seus orçamentos no setor Saúde. Segundo os dados do Siops, 10 Estados realizaram manobras contábeis informando ao Siops receitas inferiores aos seus balanços gerais, no total de R$ 2,5 bilhões a menor, o que acrretou uma perda de mais de R$ 302 milhões para a Saúde pública. No mesmo ano, 22 Estados maquiaram suas informações e acrescentram nas despesas em Saúde gastos com habitação, planos de saúde, previdência social, segurança pública (policia militar e civil), defesa civil, ensino superior, pós-graduação, reforma agrária, sistema prisional e até mesmo com a casa civil do governador. Os desvios na Saúde totalizaram mais de R$ 3,1 bilhões, somente em 2008. No período de 2000 a 2009 o conjunto dos estados acumulou um deficit de quase R$ 7 bilhões com a Saúde pública. Já a União, que também não cumpre a Emenda 29, deixou de aplicar outros R$ 17,5 bilhões no mesmo período (tabela 2). Tabela 2 - Despesas na função saúde segundo esfera de governo e ano. Brasil, 2000 a 2009. (R$ bilhões) Fonte: CNM. A redução da mortalidade infantil, redução de internações em hipertensos e diabéticos, bem como a melhoria de vários outros indicadores da atenção básica de saúde, atreladas a implementação do Saúde da Família, é resultado do empenho dos Municípios, que investiram recursos nas ações de atenção básica - responsabilidade municipal. Os números da Saúde da Família falam pela gestão municipal. Se não houvesse o empenho dos Municípios o Programa não teria atingido a abrangência nacional. Em 1998 o Brasil contava com 3.062 equipes de Saúde da Família contra as atuais 32 mil ESF em agosto de 2011, um crescimento extrordinário no número de equipes e na cobertura populacional com serviços básicos de saúde. Em relação a contratação de profissionais de saúde que atuam no SUS, os Municípios que respondiam por parcela equivalente a dos Estados em 1980, superou os 76% sendo o maior responsável por colocar profissionais de saúde atuando no Sistema Único de Saúde (figura 2), com uma força de trabalho de mais de 900 mil trabalhadores só na Saúde pública.
Figura 2 - Distribuição de recursos humanos no SUS por esfera administrativa. Brasil. Fonte: IBGE e Datasus, elaborado pela CNM. IMPORTÂNCIA DA REGULAMENTAÇÃO A regulamentação do financiamento da Saúde, também conhecida como regulamentação da Emenda 29, não é a solução definitiva para o subfinanciamento comprovado no Sistema Único de Saúde, porém, ajudará a minizar grandes dificuldades encontradas pelas esferas gestoras na ampliação e manutenção das ações e serviços de saúde ofertados à população brasileira, prinicipalmente, pela esfera municipal que tem assumido quase que a totalidade da execução dos serviços públicos de saúde. A regulamentação e aplicação da Emenda Constitucional definindo porcentuais mínimos de aplicação para as três esferas de governo e o que serão considerados como gastos em saúde irá evitar desvios de recursos do setor. Essa medida promoverá a aplicação correta dos recursos no SUS, principalmente da esfera estadual, o que também, desafogará as finanças municipais. Ainda será necessária a revisão e implementação de uma nova política nacional de financiamento que vislumbre as especificidades de cada Ente e remedie de forma adequada a atual prática político-adiministrativa fragmentada de financiar ações e serviços de saúde pública. Denilson Magalhães Área Técnica em Saúde CNM saude@cnm.org.br (61) 2101-6000