CATADORES DE LIXO DO BAIRRO MUCURIPE, FORTALEZA, CEARÁ: PESQUISA E MAPEAMENTO.

Documentos relacionados
ESCOLA ESTADUAL EDGAR BARBOSA OFICINA: QUÍMICA AMBIENTAL E RECICLAGEM NATAL/RN 2013

Carta Compromisso Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA ÁREA DO LIXÃO NA SEDE DO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO/BA

A IMPORTÂNCIA DAS COOPERATIVAS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: UM BREVE RELATO DA EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE SERRA TALHADA PE

DESEQUILÍBRIOS EM ECOSSISTEMAS

[DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS]

Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS LEI / 08/ 2010 DECRETO 7.404/ 12/ 2010

Colégio Nomelini Anglo Barretos - Ensino Fundamental II. CIÊNCIAS PROFª Íris. LISTA EXTRA Recuperação 2 Bimestre Aluno: Série:6º A

CLINICA DE ENGENHARIA Valeconsult Empresarial Ltda USINA PARA O PROCESSAMENTO DE RSU APRESENTAÇÃO

Tratamento de resíduos

RECEPÇÃO DE CALOUROS COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS UFES Campus ALEGRE

Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza Componente Curricular: Educação e Saúde. Prof. Vanderlei Folmer / Msc. Maria Eduarda de Lima

Análise SWOT. Resíduos Sólidos Domiciliares e Comerciais

Aula 2 Resíduos Sólidos

RESÍDUOS SÓLIDOS. UFPR-Profª Eliane C. Gomes

PESQUISA SOCIOLÓGICA SÃO LUIS MA

AVALIAÇÃO DA USINA DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM DA CIDADE DE PARAISÓPOLIS - MINAS GERAIS

PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BAIRRO CARANAZAL, NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM -PA, BRASIL

Os resíduos sólidos considerados inúteis ou indesejáveis formam o que chamamos de lixo.

ATERRO SANITÁRIO DE RIO CLARO. Prof. Marcos Colégio Sta. Clara

Aterros de resíduos sólidos urbanos

ANÁLISE DOS HÁBITOS DA POPULAÇÃO PELOTENSE EM RELAÇÃO AO DESTINO DO LIXO RESIDENCIAL. NEBEL¹, Gitana C. S.; LANZETTA², Suzana. 1.

LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS

MAPEAMENTO LOGÍSTICO DO PROCESSO DE DESCARTE DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NO SETOR SUL DA CIDADE DE BOTUCATU 1 INTRODUÇÃO

BIOLOGIA. Ecologia e Ciências Ambientais. Problemas Ambientais e Medidas de Conservação Parte 1. Prof. ª Daniele Duó.

31/08/2016. Consiste em usar os recursos do planeta de forma responsável, atendendo às necessidades atuais sem prejudicar as futuras gerações.

Eixo Temático ET Educação Ambiental

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Disposição Final de Resíduos Sólidos Urbanos

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) A Questão Ambiental

DIAGNÓSTICO DA COLETA DE LIXO REALIZADO NOS BAIRROS VILA DA AMIZADE, OLARIA NORTE E SÃO LUIZ I, NO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA PA

A importância do descarte correto de EPI s

GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BA. Mineia Venturini Menezes 1 Altemar Amaral Rocha 2 INTRODUÇÃO

Resíduos Sólidos Urbanos

Aula 1: Introdução à Química Ambiental

FÓRUM LIXO & CIDADANIA RIO DE JANEIRO Os Rumos da Coleta Seletiva Boas Práticas e Indicadores de Sustentabilidade

Métodos de disposição final de resíduos sólidos no solo. Disposição final AVALIAÇÃO. Impactos ambientais. Lixão. Aterro Sanitário DOMICILIAR

3º. A excepcionalidade prevista no 1º deste artigo não se aplica aos resíduos orgânicos industriais.

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: DE PROBLEMA SOCIAL À FONTE DE RENDA

Qualidade e Conservação Ambiental TH041

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

sólidos - a incineração, mostrada nas figuras 15 e 16. Muitos proprietários queimam seus lixos

O PANORAMA DAS INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS EM TRABALHADORES RURAIS NA TERCEIRA IDADE

O lixo. Média de lixo produzida por dia. Disposição final do lixo

RECICLAGEM DO LIXO ELETRÔNICO: GRAU DE CONHECIMENTO DOS RISCOS AMBIENTAIS EM DIFERENTES PERFIS DE ESTUDANTES

Vamos aprender: Importância para os seres vivos; Ciclo da água; Tratamento da água e esgoto; Poluição da água e Saneamento básico; Doenças ;

EXERCÍCIOS ON LINE GEOGRAFIA 6º ANO. Com base na tabela e em seus conhecimentos, marque V (verdadeiro) ou F (falso) nas sentenças a seguir.

Disposição final e tratamento de resíduos sólidos urbanos

POLUIÇÃO SUBSTÂNCIA CERTA + LUGAR ERRADO

IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental

PMAS - Pense no Meio Ambiente Sirtec Mensagem Especial - Dia Mundial do Meio Ambiente

ANÁLISE DO DESCARTE DE PILHAS E BATERIAS ORIUNDAS DE RESÍDUOS DOMICILIARES NA CIDADE DE ITABAIANA PB

TÍTULO: O USO DE ARGILOMINERAIS COMO UMA NOVA ALTERNATIVA PARA O TRATAMENTO DE CHORUME

Cavas de Mina: Uso para disposição de resíduos Possibilidades e Restrições Riscos de contaminação e cuidados ambientais relacionados à disposição de r

Grandes Problemas ambientais

Profª. Klícia Regateiro. O lixo

QUESTÃO 4 (Ciências - Jornadas.cie - 6º ano - Adaptada) Jogar lixo nas ruas contribui para a ocorrência de enchentes nos meses de chuvas fortes? Como?

CARACTERIZAÇÃO DO DESCARTE DE LÂMPADAS FLUORESCENTES NA CIDADE DE ITABAIANA PB

GESTÃO AMBIENTAL E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

CLASSIFICAÇÃO DO LIXO

DIAGNÓSTICO DA DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO ESTADO DA PARAÍBA

GERAÇÃO DE RESÍDUOS. Planejamento e Gestão de Resíduos

Percepção ambiental no bairro da Vila Luizão/São Luís - Ma. Alunos: Allysson Maciel, Ellen Raquel, Fabrício e Luziene Souza

IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental

ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO PLANO DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DE MONTEIRO-PB

RECICLANDO PENSAMENTOS

PROBLEMAS AMBIENTAIS E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE PATOS, PARAÍBA

DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO E RECOLHA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA ZONA URBANA DO MUNICIPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA - PA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOBRE RESÍDUO E ORGANIZAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

1º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente. Bento Gonçalves RS, Brasil, 29 a 31 de Outubro de 2008

Avaliação das Demandas e Potenciais Associados à Gestão de Resíduos Sólidos em Cidades Emergentes: O Caso do Município de Rio das Ostras, RJ

ECOLOGIA E BIODIVERSIDADE

ESTUDO EM CÉLULAS EXPERIMENTAIS DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UMA SIMULAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS

Descarte incorreto de óleo lubrificante gera multa em oficina de Novo Progresso


Hsa GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS. Resíduos Sólidos. PROFa. WANDA R. GÜNTHER Departamento Saúde Ambiental FSP/USP

Curso de Engenharia Ambiental. Relatório Visita Técnica 2012

Levantar informações sobre a cadeia de reciclagem de embalagens em Santa Catarina.

- TERMO DE REFERÊNCIA - PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Aula 1: Introdução à Química Ambiental

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA. QUÍMICA AMBIENTAL IFRN NOVA CRUZ CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA Prof. Samuel Alves de Oliveira

RESÍDUOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM COM ÊNFASE NA FEIRA DO PRODUTOR RURAL (MERCADÃO 2000)

4 Reciclagem do lodo para utilização final na agricultura

Aula 5: Química das Águas Parte 3b

PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTANHA ES SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE

Panorama da Política Nacional de Resíduos Sólidos: Principais avanços e gargalos

TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU) COMPOSTAGEM. Profa. Margarita María Dueñas Orozco

IDENTIFICAÇÃO DA PREOCUPAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO DO BAIRRO PLANALTO UNIVERSITÁRIO DE QUIXADÁ CE COM A DESTINAÇÃO DO SEU LIXO RECICLÁVEL

A Empresa. da sociedade. aos clientes e promovendo um aumento do bem estar

A Geração de Resíduos na Cidade de São Luís, Maranhão, no Contexto da Política Nacional de Resíduos Sólidos

III-008 COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA E VALOR ECONÔMICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EXCLUSIVAMENTE DOMICILIARES DE BAIRROS DE CLASSE MÉDIA ALTA EM JOÃO PESSOA

25/03/2011. Prof. M.Sc. Maron Stanley Silva O. Gomes

VII-007 AVALIAÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS DA ÁREA DE DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE SOBRAL - CEARÁ

FONTES DE ENERGIA PROF. ISRAEL FROIS FRENTES A E B

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: PERCEPÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO DE MORADORES NO BAIRRO DO CATOLÉ, NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE-PB.

Previsão e avaliação de impactes no Ar

AVANÇOS E DESAFIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA. - Logística Reversa -

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE GESTÃO E ECONOMIA PROG. DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E GOVERNANÇA PÚBLICA

Confira o passo a passo para implantar coleta seletiva em condomínios

Transcrição:

CATADORES DE LIXO DO BAIRRO MUCURIPE, FORTALEZA, CEARÁ: PESQUISA E MAPEAMENTO. Resumo Edson Correia Lima Neto AGB- Fortaleza Universidade Federal do Ceará edsoncorreialimaneto@hotmail.com Orientação: Profa Dra Vanda de Claudino Sales Estamos no início do Século XXI e os males causados pelo homem à sociedade e ao meio ambiente estão bastante difundidos. Em virtude destes problemas, o seguinte trabalho visa pesquisar os catadores de lixo do bairro do Mucuripe, localizado na região metropolitana de Fortaleza (CE). Foi aplicado um questionário entre os catadores encontrados no bairro do Mucuripe e seus arredores. Com a tabulação e análise dos dados desta pesquisa, concluiu-se que há problemas encontrados entre os catadores, no que diz respeito a suas condições de vida e trabalho. Foi criado um SIG (Sistema de Informações Geográficas), detalhando a localização das residências e a rota diária dos catadores. É necessário um zoneamento dos bairros onde a pesquisa foi realizada, para melhoria do trabalho e maximização dos lucros dos catadores de lixo através da coleta seletiva. Palavras chaves: meio ambiente; lixo; catadores de lixo. INTRODUÇÃO A partir da Revolução Industrial e com o desenvolvimento tecnológico posterior, a sociedade passa a conviver com uma grande produção de resíduos sólidos em zonas urbanas. O acúmulo desses resíduos causa grandes problemas à humanidade e ao planeta, gerando incômodos da poluição generalizada e odores, caracterizando-se como uma grave questão de saúde pública. Buscando encontrar medidas paleativas para tal situação, a sociedade procurou dar uma finalidade a estes resíduos. Uma primeira atitude foi retirar os resíduos sólidos do contato visual e olfativo, o que resultou na criação de lixões, ou áreas de acúmulo organizado dos detritos urbanos, localizados em segmentos periféricos das cidades, distantes dos centros urbanos. Tal 1

medida, obviamente, não resolve o problema da produção de lixo urbano, apenas adiando-o para médio e longo prazo. Na atualidade, os lixões são cada vez mais inoperantes, se considerarmos que ocorre um aumento progressivo dos resíduos sólidos urbanos e que, áreas pouco habitadas, próximas a perímetros urbanos que são propícias ao destino do lixo, são cada vez mais raras. Os atuais padrões de produção e consumo são insustentáveis na perspectiva do ritmo, sem precedentes da quantidade e variedade dos resíduos persistentes no meio ambiente. De acordo com a ONU, a tendência para 2025 é de que esta produção se eleve de 4 a 5 vezes. (BRASÍLIA, 1996 apud CEARÁ, 2000, p.13). Os impactos ambientais causados à biosfera, à litosfera, à atmosfera e à hidrosfera a partir da criação de lixões e à existência de resíduos sólidos dispersos nas áreas urbanas são grandes. O. P. Foranttini em 1979 mostrou, segundo sua concepção, as principais vias de acesso de agentes patogênicos oriundos do lixo. A figura 1, a seguir esclarece este pensamento. (LIMA, 1995, p10). via direta HOMEM LIXO via indireta ar, solo, água: vírus, bactérias, moscas, mosquitos, baratas roedores fontes primárias Figura1: Diagrama das vias de acesso de agentes patogênicos para o homem através do lixo disposto inadequadamente. Na atmosfera, o lixo, composto por materiais orgânicos e inorgânicos, contém bactérias que atuam no material em decomposição, convertendo compostos essenciais para o seu metabolismo, e liberando metano em quantidades consideráveis. O lixo, quando queimado no processo de incineração, emite também dióxido de carbono. Gases que escapam de lâmpadas florescentes, aerossóis e motores de geladeiras que são descartados indiscriminadamente, sem 2

contarem com um destino especial, contribuem para um aumento dos níveis de poluição atmosférica. Os resíduos sólidos agem ainda de forma a poluir o lençol freático, rios e lagoas, através do chorume (fluido produzido pela acumulação do lixo), que contém grande quantidade de matéria orgânica e metais pesados e outras substancias Podemos classificar danos causados pela disposição inadequada do lixo em cursos d água da seguinte forma: poluição física, química, bioquímica, biológica e radioativa (LIMA, 1995, p.32), prejudicando a vida dos seres humanos e de animais, por possuírem substâncias cancerígenas e tóxicas. Logo, o chorume é também prejudicial para o solo (constituído pela interseção da atmosfera, litosfera e biosfera). Em geral, os locais escolhidos para a instalação de lixões correspondem a áreas planas e de baixa altitude, o que facilita a percolação do chorume no solo, até atingir o lençol subterrâneo. Em muitos casos, as áreas escolhidas para a criação de lixões representam ainda setores importantes para a produção agrícola. Por outro lado, o tamanho da área dos depósitos de lixo, que dependendo da demanda chega a milhares de quilômetros quadrados, exige desmatamento e terraplanagem, fatores que degradam o meio ambiente e criam condições ideais para a ocorrência de erosão acelerada. Em diversos grandes centros urbanos, como é o caso de Fortaleza, os lixões foram desativados, tendo sido criada usina de tratamento do lixo, para destino mais adequado dos resíduos sólidos urbanos. Salienta-se, no entanto, que o lixão continua a poluir o meio-ambiente, já que o material acumulado ao longo do tempo não foi objeto de nenhuma medida em particular. O problema do lixo urbano é bem mais complexo do que parece ser: O gerenciamento de resíduos sólidos urbanos deve ser integrado, ou seja, deve englobar etapas articuladas entre si, desde a não geração até a disposição final, com atividades compatíveis com a dos demais sistemas do saneamento ambiental, sendo essencial à participação ativa e cooperativa do primeiro, segundo e terceiro setor, respectivamente, governo, iniciativa privada e sociedade civil organizada. (ZANTA; FERREIRA, 2003, p.1). 3

A criação de usinas de tratamento de lixo, no entanto, não se coloca como solução definitiva para o problema da produção de resíduos sólidos urbanos, se considerarmos que a prática de coleta seletiva do lixo não necessariamente ocorre atrelada ao processo de beneficiamento do lixo nas usinas tal é o caso de Fortaleza. Mais a sociedade já percebeu que os resíduos sólidos urbanos podem ser fonte de riqueza, através da reciclagem e do aproveitamento, para outros fins, e tal contexto cria uma nova realidade, a da importância econômica do lixo, nas grandes cidades. A coleta seletiva é uma das formas de melhorar a qualidade do lixo urbano para o reaproveitamento das embalagens, ao evitar a mistura entre os diversos componentes, através da separação dos materiais, que pode ser realizada nos domicílios e escritórios. (MOTA; SAYAGO,1998, p 4) Uma outra realidade própria do aglomerado humano nas grandes cidades, nas condições sociais presentes hoje em países emergentes como o Brasil, é o grande número de pessoas marginalizadas, que não podem ser chamadas de cidadãos por não terem acesso a uma série de serviços contidos na cidade. Uma parte dessa população urbana, em busca de sobrevivência e fugindo à marginalidade e criminalidade, opta por ganhar a vida catando lixo na rua. Surge então nas grandes cidades brasileiras, a partir da conjunção desses fatores pobreza, marginalidade social e acúmulo elevado de resíduos sólidos a figura do catador de lixo. Os catadores de lixo cruzam as ruas das cidades coletando os resíduos abandonados pela população nas vias públicas ou acumulados em lixeiros particulares, trazendo atrelados a si carros (estrutura, geralmente, em metal com duas rodas, funcionando à tração humana) para condicionamento do material coletado. Tal atividade é permeada de riscos (relativos à saúde, ao deslocamento no trânsito); os catadores de lixo enfrentam ainda baixa estima, por manusearem aquilo que é rejeitado pela sociedade, e sofrem uma série de preconceitos. Essas pessoas são excluídas de uma gama de ambientes e serviços sociais necessários para uma vida urbana digna no presente trabalho, focamos, sobretudo, a carência de trabalho formal e de educação. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO 4

O presente trabalho, que busca apontar sugestões e eventuais soluções para estes três problemas urbanos de grande porte ausência de trabalho, de educação e acúmulo de resíduos sólidos -, propõe-se a analisar a coleta dos catadores de lixo no bairro do Mucuripe, localizado na região metropolitana de Fortaleza, capital do Estado do Ceará. Para alcançar tais objetivos, vem sendo utilizado como instrumento principal, o mapeamento das residências dos catadores de lixo através de um SIG (Sistema de informações Geográficas), a fim de obter dados necessários para análise espacial do objeto de estudo. A perspectiva final do trabalho é sugerir melhorias no processo de coleta de lixo, visando maximizar a produção dos catadores, melhorar as condições de segurança no trabalho e contribuir para a conservação do meio ambiente, através de uma atitude de responsabilidade urbana e social, que a ciência geográfica permite desenvolver. Com a finalidade de obter dados relevantes aos catadores; moradia e cotidiano de trabalho, e em busca do perfil e das características pertinentes à profissão, foi aplicado um questionário, abordando o dia-a-dia do catador no bairro do Mucuripe e seus arredores (Varjota, Meireles, Papicu, Vicente Pinzon, Serviluz e Praia do Futuro). Foram entrevistados 23 catadores de lixo na área. Para melhor compreender os resultados das entrevistas isolamos o dado (RENDA MÉDIA DIÁRIA) para utilizá-lo como parâmetro na análise dos resultados das entrevistas, buscando observar quais fatores influenciam direta ou indiretamente na renda dos catadores de lixo pesquisados. Com a tabulação dos dados (a partir do uso do software Excel), obtivemos como resultados quatro variáveis consideradas importantes para este trabalho: SEXO, IDADE, ESCOLARIDADE e POSSE OU NÃO DO MEIO DE PRODUÇÃO (carrinho de mão). Esses dados foram analisados com outras variáveis consideradas secundárias, gerando o seguinte conjunto de informações: Ao analisar o gráfico (RENDA MÉDIA DIÁRIA, fig. 3) em comparação com o sexo dos catadores, percebemos que as mulheres ganham uma média de R$ 10,25, representando 42,7% a menos que os homens, que ganham em média R$ 17,90, levando-nos a acreditar que essa disparidade ocorre em função da força física. 5

Ao compararmos o gráfico IDADE pela RENDA MÉDIA DIÁRIA (fig. 4), temos que dentre os entrevistados, há muitos adultos (representam 65,2%) que possuem uma renda média diária de R$ 17,07, trabalhando 7,3 horas/dia em média. Há também um número considerável de idosos (26%) os idosos representam à maioria dos catadores possuidores do carro de mão, ou seja, 85,7%. O somatório da renda de todos os idosos é R$12,75 dia, em média, e sua carga horária é de 7 horas e meia por dia. Curiosamente, nenhuma criança foi encontrada catando lixo na rua durante as pesquisas, a não ser acompanhando os pais. Pode-se concluir que muitos deles estão nas escolas, incentivados por programas de assistência governamental, já que 52% dos catadores entrevistados recebem auxilio do Governo Federal, com o programa Bolsa Família (ajuda dada a famílias possuidoras de baixa renda, onde um dos critérios é ter as crianças regularmente matriculadas e presentes nas escolas; fig. 5). Existe dois entrevistados que possuem dezoito anos (jovens) e catam materiais recicláveis a mais de um ano. 6

Figura 2: Mapa mostrando a localização do bairro Mucuripe, localizado na região metropolitana de Fortaleza, capital do Estado do Ceará. Figura 3: Gráfico da renda média diária dos entrevistados em virtude do sexo. 7

Figura 4: Gráfico da renda média diária dos entrevistados em virtude da faixa etária. Figura 5: Gráfico da assistência dada, pelo governo, às famílias dos catadores de 8

O gráfico da ESCOLARIDADE (fig. 6) mostra-nos que a pouca permanência na escola é um fator que impulsiona a atividade de coleta de lixo nas ruas, a ponto de não haver nenhum catador entrevistado que tenha cursado ou esteja cursando o Ensino Médio. Entre os 23 entrevistados, s e i s c a t a d o r (26%) e nãos estudaram. A última variável importante a ser analisada é POSSE OU NÃO DO MEIO DE P RO DU ÇÃO (fig. 7). Nessa variável temos 30% c a t a d o (sete r s donos do carro de mão), onde 70% (cinco desses c a ta d o re s) Figura 6: Gráfico da escolaridade dos entrevistados. são idosos. Figura 7: Gráfico da posse ou não do carro de lixo. 9

A renda média diária dos catadores que possuem carro próprio (fig. 8) é R$ 12,64, enquanto os que não possuem é R$18,25. Os trabalhadores que possuem carro próprio têm carga horária média diária de 6 horas e 40 minutos/dia, já os que não possuem carro próprio trabalham mais, em média cerca de 8 horas e 30 minutos/dia, este fator proporciona aos catadores de lixo sem carro próprio um maior retorno financeiro. Figura 8: Gráfico da renda média diária dos entrevistados em virtude da Ao calcularmos a renda média pela carga horária/dia, encontramos que os catadores que possuem carro próprio ganham R$/hora 1,91, enquanto os catadores que não possuem têm a renda média de R$/hora 2,14. Isso gera uma diferença entre eles de R$/hora 0,23, sugerindo que essa diferença é bastante influenciada pela idade, já que muitos dos idosos estão localizados entre os que possuem carro próprio, diminuindo os índices de lucro desta variável. Ao analisar a distribuição dos catadores no espaço do bairro do Mucuripe e adjacências, percebemos que 30,5% não tiveram seus endereços mapeados, fato este causado por não saberem indicar o endereço ou o endereço não ser encontrado no catálogo residencial, por estarem em favelas, mostrando claramente a falta de instrução dos entrevistados, e o grau de pobreza em que estão inseridos. Entre os que tiveram suas residências mapeadas, percebemos que há uma boa distribuição na área estudada, onde existe uma mescla entre bairros de classe média e rica com bairros de população pobre. 10

Os entrevistados que foram encontrados em bairros mais abastados, não possuem condições de vida diferentes dos demais. Detectamos que, somente, 3 dos entrevistados residem em bairros mais abastados. Figura 9: Localização das residências Figura 10: Rota mais repetida entre os entrevistados. Ao analisarmos as rotas, percebemos que elas em sua maioria tendem a se dirigir ao centro da cidade, já que lá existe a maior concentração de comércios, geradores de material reciclável mais vendável do que em bairros residenciais. O caminho seguido até o Centro se dá pelos bairros do litoral, os quais possuem a maior concentração de hotéis e condomínios de luxo em Fortaleza, cidade que tem sua economia baseada no turismo litorâneo. CONCLUSÃO Levando em consideração a análise destas variáveis colhidas nas entrevistas, detectamos que realmente existe um problema a ser solucionado, em relação ao trabalho de coleta de material reciclável. Em busca de sugerir propostas de monitoramento desse problema, analisamos a distribuição destes catadores na área estudada, através de um SIG que mostra a localização de suas residências, e a rota feita atualmente por eles. Com base neste SIG, percebemos que para melhorar as condições de trabalho e aumentar os lucros, seria necessário propor um zoneamento da área estudada, a fim de denotar as potencialidades na produção de resíduos sólidos no bairro do Mucuripe e bairros próximos. A organização dos catadores em cooperativas seria também uma importante medida, para que se 11

possa iniciar uma coleta seletiva residencial, buscando diminuir as distâncias percorridas pelos catadores, os riscos de acidentes com o manuseio dos materiais e aumentar a aceitação da sociedade. Pois afinal, uma profissão tão importante à sociedade e ao meio ambiente requer maior atenção, na perspectiva de resgatar assim a dignidade daqueles que permanecem esquecidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIMA, L. M. Q. Lixo: Tratamento e biorremediação. 3ªed. São Paulo: Hemus Editora Limitada, 1995. 265 p. CEARÁ. Secretária do Planejamento e Coordenação. Mapa da Situação dos Resíduos Sólidos no Ceará: Relatório de Pesquisa. Fortaleza: Edições IPLANCE, 2000. 98p. ZANTA, V. M, FERREIRA, C. F. A. Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos. 1ª ed. Florianópolis, 2003. cap. 1, p. 1-18. MOTTA, R. S. da, SAYAGO, D. E. Propostas de Instrumentos Econômicos Ambientais para a Redução do Lixo Urbano e o Reaproveitamento de Sucatas no Brasil. Rio de Janeiro, 1998. p 53. SOARES, N. M. B. Gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos domiciliares no município de Fortaleza-Ce. 2004. 106f. Dissertação (Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente). Universidade Federal de Fortaleza, Fortaleza, 2004. 12