As Palavras Pintadas nos Livros dos Séculos XIV e XV 6 )- Diferenças entre os valores cavalheirescos e o humanismo emergente.

Documentos relacionados
As Palavras Pintadas nos Livros dos Séculos XIV e XV

As Palavras Pintadas nos Livros dos Séculos XIV e XV 2)- A função da imagem no mundo clássico e no ambiente cristão.

Literatura na Idade Média. Literatura brasileira 1ª EM Prof.: Flávia Guerra

Prof. José Augusto Fiorin

A baixa Idade Média: da crise do Feudalismo à formação dos Estados Nacionais na Europa (Séc. XI-XV) [Cap. 5 e 8] Prof. Rafael Duarte 7 Ano

Colégio FAAT Ensino Fundamental e Médio

A BAIXA IDADE MÉDIA (séc. XI XV)

1. Formação do Feudalismo

O RENASCIMENTO. Comercial e urbano

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CASQUILHOS - BARREIRO Ficha de avaliação de História A. 10.maio.2012 NOME: Nº

Mestre Consolus. Um milagre de São Pedro. Segunda metade do século XIII. A caverna confere sensação de profundidade.

IDADE MÉDIA BAIXA IDADE MÉDIA (SÉC. XI XV)

CONSOLIDAÇÃO DAS MONARQUIAS NA EUROPA MODERNA

A formação do sistema feudal A Alta Idade Média. OBS: No 6 ano vocês estudaram a Pré-História e Idade Antiga que acabou com o fim do Império romano.

Os povos bárbaros. Povos que não partilhavam da cultura greco-romana. Bárbaros. Estrangeiros. Para os romanos

RENASCIMENTO E HUMANISMO. Professor: Magela Silva 7º ano Colégio Antares

As transformações no modo de viver feudal. Profª Ms Ariane Pereira

A arte medieval Estilo românico e estilo gótico

INSTRUMENTOS DE TORTURA UTILIZADOS CONTRA AS HERESIAS, CONSOLIDANDO O TRIBUNAL DA INQUISIÇÃO

IDADE MÉDIA POESIA TROVADORESCA CONTEXTUALIZAÇÃO

Prof. Alexandre Goicochea História

Fortalecimento do poder dos reis

MONARQUIAS ABSOLUTISTAS A CONSTRUÇÃO DO ABSOLUTISMO

Linha do Tempo. Linha do Tempo

Igreja medieval Cruzadas Renascimento: Comercial e Urbano

1. A multiplicidade de poderes

AS TRANSFORMAÇÕES NO SISTEMA FEUDAL

A consolidação das monarquias na Europa moderna

BAIXA IDADE MÉDIA. Professora: Schirley Pimentel FATORES: GRANDE FOME; PESTE NEGRA; GUERRAS MEDIEVAIS; REVOLTAS CAMPONESAS;

HISTÓRIA DA ARTE PERÍODO DA IDADE MÉDIA

HISTÓRIA DA ARTE PERÍODO DA IDADE MÉDIA

As Palavras Pintadas nos Livros dos Séculos XIV e XV 9 Os livros religiosos enquanto templo e espaço para a reflexão.

HISTÓRIA GERAL AULA 7

A Ilíada Homero Odisseia Homero Os Lusíadas Luís Vaz de Camões O Uraguai Basílio da Gama Mensagem Fernando Pessoa

TRANSIÇÃO DA ANTIGUIDADE PARA A IDADE MÉDIA NA EUROPA

Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires

Fim do Império Romano - causas

1. FEUDALISMO. Páginas 04 à 15.

AS TRANSFORMAÇÕES NO SISTEMA FEUDAL

Capacete de um chefe saxão

Recuperação Final de História Caderno 2: páginas: 23 a 34 Caderno 3 : páginas: 3 a 18. Profª Ms. Ariane Pereira

A FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS. Professor: Eustáquio

Baixa Idade Média 1 CARACTERÍSTICAS GERAIS:

O que foram as Cruzadas? Prof. Tácius Fernandes

ARTE GÓTICA. Prof. Nunes

Técnico Design Interior

FÍSICA FILOSOFIA. Resumex JáEntendi 1. A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA. Características Fundamentais da Idade Média

As transformações de saberes, crenças e poderes na transição para a Idade Moderna. Profª Ms. Ariane Pereira

A Idade Média inicia-se em 476 com aqueda do Império Romano do Ocidente, devido às invasões de povos barbaros.

ATIVIDADE DE HISTÓRIA PROF. MARCELO SAMPAIO ALUNO(a): Turma Assunto(s): Capítulo 12 A Europa Feudal OBS: Responda no seu caderno para posterior visto.

DEPARTAMENTO CURRICULAR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS. PLANO CURRICULAR DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA E DE GEOGRAFIA DE PORTUGAL 5º Ano

PREPARATÓRIO ESPCEX HISTÓRIA GERAL. Aula 4 O Absolutismo

OS BÁRBAROS A IDADE MÉDIA

Colégio Santa Dorotéia Área de Ciências Humanas Disciplina: Artes Ano: 6º - Ensino Fundamental Professoras: Fernanda Coimbra e Denise Vianna

Conceito de Feudalismo: Sistema político, econômico e social que vigorou na Idade Média.

BÁRBAROS Para os romanos, bárbaros eram todos aqueles que não tinham a cultura romana, que estavam fora das fronteiras do Império.

Uma nova visão de mundo

HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PORTUGAL

Idade Média (século V ao XV)

ANTIGO REGIME. Páginas 20 à 31.

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO. A Geografia Levada a Sério

As Cruzadas, a Crise do Sistema Feudal, Renascimento Comercial, Renascimento Urbano, Pré-Capitalismo. Prof. Alan Carlos Ghedini

CARACTERÍSTICAS GERAIS OS POVOS BÁRBAROS O FEUDALISMO O IMPÉRIO CAROLÍNGEO ou REINO CRISTÃO DOS FRANCO O IMPÉRIO BIZANTINO: O IMPÉRIO ÁRABE

Planejamento das Aulas de História º ano (Prof. Leandro)

O feudalismo foi um sistema econômico, social político e cultural predominantemente na Idade Média. ORIGEM e CARACTERÍSTICAS: O processo de

Trabalho de Regulação 1 bimestre

Escola Estadual Frederico J. Pedrera Neto

História 4A Aula 11 As Invasões Bárbaras e o Reino dos Francos.

Idade Média. Ocidental. (Séc V ao Século XV)

FEUDALISMO. CONCEITO: Modo de Produção que vigorou na Europa Ocidental durante a Idade Média e que se caracteriza pelas relações servis de produção.

História 6A Aula 17. A Cultura Medieval

A IGREJA MEDIEVAL. História 1 Aula 13 Prof. Thiago

ARTE GÓTICA Inicialmente, o estilo gótico era aplicado exclusivamente na construção de edifícios religiosos. As características mais importantes

ANO LETIVO 2018/2019 CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA - 7º Ano

Roteiro de Estudos para o 3º Bimestre 1 os anos Roberson ago/10. Nome: Nº: Turma:

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO. A Geografia Levada a Sério

Língua Portuguesa- Latim vulgar (Romances) Galego- Português: falada durante o período do trovadorismo.

RENASCIMENTO CULTURAL. CENSA 2017 Edenice Rinaldi

Classicismo. Literatura brasileira 1ª EM Prof.: Flávia Guerra

A lenda do Santo Graal refere-se ao Cálice que Jesus teria usado na Última Ceia, a que deram o nome de Santo Graal, e ao Precioso Sangue.

FILOSOFIA MEDIEVAL: ESCOLÁSTICA 3ªSÉRIE DO ENSINO MÉDIO DRUMMOND 2017 PROF. DOUGLAS PHILIP

AGRUPAMENTO de ESCOLAS Nº1 de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2013/2014 PLANIFICAÇÃO ANUAL

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CASQUILHOS - BARREIRO Ficha de avaliação 03 de História A. 10º Ano Turma C Professor: Renato Albuquerque. 8.junho.

Aulas Multimídias Santa Cecília. Profº Alexandre Santiago

Idade Média Século V - XV

COLÉGIO SHALOM ENSINO FUNDAMENTAL - 7 Ano Profº: Antonio Carlos Disciplina: HISTÓRIA Aluno (a):. No.

A alta Idade Média e a formação do Feudalismo (Séc. V Séc. X) Prof. Rafael Duarte 7 Ano

Quando contamos, ouvimos ou escrevemos uma história, temos uma narrativa. É o relato de fatos e acontecimentos que ocorrem a determinado(s)

HISTÓRIA DA ARTE Professor: Jeferson Braga Martins MÓDULO I PARTE I GRÉCIA. ROMA. IMPÉRIO BIZANTINO ARTE ROMÂNICA. ARTE GÓTICA.

CAESP - Artes Aula 07-22/03/2018 ARTE MEDIEVAL ROMÂNICA E GÓTICA

ミ Trabalho de Literatura 彡. Tema: Classicismo e Humanismo.

Baixa Idade Média. Professoras: Martha Silva e Andréia Stival

Artes visuais AULA 2 Arte Bizantina, Renascimento e Maneirismo Prof. André de Freitas Barbosa

Pré Socráticos aos Medievais 1

Com a tomada de Roma pelos povos bárbaros, em 476, inicia-se a Idade Média. A arte da Idade Média tem suas raízes na época conhecida como

Um abraço fraterno. Prof. Marcelo Simões PROGRAMA DA PROVA DE RECUPERAÇÃO:

Idade Média (século V ao XV)

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO DE HISTÓRIA

Transcrição:

As Palavras Pintadas nos Livros dos Séculos XIV e XV 6 )- Diferenças entre os valores cavalheirescos e o humanismo emergente. Relevo em marmore com grupo de estudantes de Bolonha Artistas: Jacobello Masegne & Paolo Pier (1383-1409) - Museo Civico, Bolonha It.

6a)- A tripartição da sociedade feudal, é o contexto no qual o cavalheiro ganha importância e exerce o poder. Durante o Sacro Império Romano se estrutura a tripartição da sociedade Medieval: Em (oratores) sacerdotes que detinham a cultura e determinavam as regras morais; (bellatores) soldados que mantinham a ordem social, defendiam ou oprimiam as comunidades; (labratores) camponeses ou pequenos artesões que trabalhavam a terra e produziam para manter as necessidades da sociedade. Após a morte de Carlos Magno, o poder central se enfraquece e os mais frágeis procuraram proteção nos castelos dos ricos senhores proprietários de terras. Desta necessidade, nasce um mecanismo de vínculo e obediência que caracteriza o espaço cultural do mundo feudal entre os séculos IX-XII.. "Clero, Cavalheiros, Camponeses" : Os três estados retirados de uma miniatura do séc.xiii Ms. 2435 Sloane, f.85, British Library London

6b)- O castelo centro do feudo e berço da cortesia. O castelo era o centro do feudo e a residência dos senhores feudais, dos nobres, que tinham recursos para manter um corpo militar. É neste espaço cultural que a cavalheira se desenvolve e cria seus códigos de comportamento, no qual o soldado deve ser um exemplo de lealdade. A igreja refinará o sentimento de lealdade do cavalheiro, em piedade e honra, transformando-o na mais completa expressão dos valores cristãos e levando-o a difundir estes princípios através das cruzadas. Ao redor dos séculos XI e XII, no auge das cruzadas, começam a formar-se nas cortes a idéia de cortesia, que era o comportamento que os cavalheiros deviam demonstrar nos salões dos castelos. A cortesia exprimia o desprezo pelo dinheiro, o orgulho pela magnanimidade do próprio comportamento e a liberdade de viver as experiências amorosas, que inspirará uma vasta produção lírica, típica do âmbito cortes.

6c)- Os ideais cavalheirescos um espelho ao qual se inspirar. Este modelo florescerá na literatura francesa do séc. XI e inspirará uma rica produção iconográfica que viverá nos manuscritos laicos por mais de quatro séculos. A literatura cavalheiresca se distingue em dois ramos: 1 )- O primeiro se inspira nos contos paladinos de Carlos Magno, e nos ideais austeros, da religião, da honra própria ou do soberano, e nos valores do Sacro Império Romano. Cenas de Chanson de Geste Le Chanson de Roland. A partir destes sujeitos se desenvolvem contos do gênero épico, que dão origem a Le chanson de geste, da qual nasce Le Chanson de Roland.

6d)- Os ideais cavalheirescos uma dimensão para sonhar. 2 )- Mais tarde, surge a literatura de caráter gentil, inspirada nas tramas da vida de corte, aprofundando as raízes no ciclo das lendas bretãs com as aventuras do Rei Artur e os cavalheiros da Tavola Redonda. O motor das aventuras será a lealdade do herói ao seu rei e à dama amada. Miniatura Ms Fr 95 f.326: A estória de Merlim, em Rei Artur e os Cavalheiros da Tavola Redonda, ( c.1280-90) Escola Francesa do séc. XIII - Bibliotheque Nationale, Paris, França

6e)- A partir do Trecento os romances corteses conquistam os corações, não somente pela generosidade do amor ideal, mas como modelo de cortesia e de elegância estética. Os manuscritos miniados em estilo tardo gótico se multiplicam em toda a Europa setentrional. Chrétien de Troyes escritor e poeta francês do século XII, deixou um dos melhores exemplos de romances cavalheirescos. Suas obras deram origem a centenas de manuscritos miniados de rara beleza. Entre os romances mais conhecidos se cita, Lancelot ou O Cavalheiro da Charrete, O cavalheiro do Leão, Percival ou Os contos do Gral e outros obras inspiradas no ciclo das lendas bretãs do Rei Artur. Ms Fr. 120 miniatura da Senhora do Lago que encontra Guinevere, na novela de Lancelot em 'La Quite de Saint Graal' Escola Francesa do séc. XIV Encontra-se na Bibliothéque Nationale, Paris, França

6f)- O Santo Graal é o romance que melhor exprime os ideais cavalheirescos. Chrétien sugestionado pela literatura francesa meridional e pelas lendas bretãs, desenvolve obras sobre o tema do amor e da magia. O poeta oferece ás cortes setentrionais uma interpretação magistral dos ideais cavalheirescos e de cortesia, de aventura e coragem, de lealdade e generosidade, aonde o cavalheiro vassalo devoto da dama intocável, é disposto a doar a própria vida para demonstrar á sua amada a pureza do seu coração e a sua elevação espiritual. O conto do Santo Graal é a demonstração destes sublimes conceitos. Manuscrito sobre o Santo Graal; Ms 645-647/315-317 t.3 fol.1 Rei Artur; Lancelot e a sua Dama; ordenação de Sir Galahad; o Graal aparece na Tavola Redonda. Miniatura de Escola Francesa do séc. XV Encontra-se no: Musée Conde, Chantilly, França.

6h)- Os ideais cavalheirescos e o emergente valor do humanismo. Os livros religiosos e as imagens cavalheirescas do mundo feudal, continuam vivas mesmo quando nos sécs. XII e XIII tomam força os empreendimentos mercantis que dão origem as corporações de Artes e Ofícios (como aquelas que administram os Comuni Italianos). Estas associações tomam um vulto político, enfraquecendo a tripartição da sociedade feudal com a circulação do dinheiro. Aos poucos o valor da moeda substituirá os valores da cavalheiria feudal, enfraquecendo sua essência, mas não a forma. A dinâmica de corte do mundo cavalheiresco sobreviverá por muitos séculos. Afresco de escola italiana do séc. XV, com Mercante de tecido que mede a mercadoria. Atualmente no Castello d Issogne, Val d Aosta, Italia.

6i)- O humanismo intelectual foi fruto do revigoramento econômico e da confiança do homem nos seus próprios recursos. O mercante passa a valorizar o sucesso, a sua aparência, o espírito de iniciativa, a inteligência e a capacidade de realização dos próprios projetos, a acumulação dos bens e do patrimônio. Ele é um homem ativo que busca legitimar o seu lugar no mundo, através dos estudos, a legalização dos seus direitos diante da igreja e dos nobres. Para isto o mercante financia a tradução de antigos manuscritos do mundo clássico para conhecer o pensamento do homem e a sua história, ele financia pesquisas e obras de arte. Melhora o espaço urbano e as vias de acesso, constrói monumentos, embeleza igrejas. É um momento precioso para a expansão do pensamento humano e naturalmente para o livro, em particular para o livro ilustrado. Copyright Bridgeman Education London. Nova 2644 fol.105r Alfaiataria que realiza um hábito de lã, no manuscrito de escola italiana séc. XIV 'Tacuinum Sanitatis' Codex Vindobonensis; Encontra-se na Osterreichische Nationalbibliothek, Viena, Áustria.

6j)- A esfera cavalheiresca se faz representar por brasões e simbolismos, enquanto os emergentes valores humanistas evocam o mundo a vida quotidiana. Afresco do inicio do séc.xv Jovens nobres jogando Tarô, Palácio Borromeo de Milão. A Dama e o Unicórnio. Tapeçaria francesa do séc. XV. Museu Nacional da Idade Média e das Termas de Cluny, Paris Copyright Bridgeman Education London. Santa Isabel e S. João Batista. Detalhe do afresco de Domenico Ghirlandaio na igreja de Santa Maria Novella, Florencia Itália. (1449-94). Copyright Bridgeman Education London.