Síntese pelo método Pechini de nanopartículas de CaCu 3 Ti 4 O 12

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SCIENTIA PLENA VOL. 8, NUM. 3 2012 www.scientiaplena.org.br Síntese pelo método Pechini de nanopartículas de CaCu 3 Ti 4 O 12 Synthesis by the Pechini`s methodo of CaCu 3 Ti 4 O 12 Nanoparticles T. S. Neres 1 ; S. J. Matos 1 ; L. M. Jesus 1 ; R. S. Silva 1 ; J. F. Carvalho 2 ; D. R. Ardila 1 ; L. B. Barbosa 1 1 Grupo de Materiais Cerâmicos Avançados, Departamento de Física, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São Cristóvão-Se, Brasil 2 Grupo de Física de Materiais, Instituto de Física, Universidade Federal de Goiás, 74001-970, Goiânia-Go, Brasil luciarabb@gmail.com A formação da fase e de nanopartículas de composição CaCu 3 Ti 4 O 12 (CCTO), através do método Pechini, foram estudadas com técnicas de caracterização termofísica e estrutural. Termogravimetria (TG) e Análise térmica diferencial (DTA) foram utilizadas para determinar condições adequadas de preparação da fase única desejada, enquanto que medidas de difração de raios X serviram para identificar outras possíveis fases formadas ou subprodutos além do CCTO, e para o refinamento estrutural pelo método de Rietveld. O CCTO foi encontrado acompanhado de CuO como fase secundária. O tamanho de cristalito das nanopartículas obtidas foi de 62 ± 4 nm. Os principais fatores que influenciam a qualidade do produto estão relacionados ao tipo e ao grau de pureza dos reagentes de partida, bem como a fatores ainda não otimizados das etapas de pré-síntese (ph e tempo de homogeneização das soluções, entre outros). A síntese do CCTO foi verificada após tratamento térmico de precursores a 800 C por 6 h, mostrando que o método utilizado é altamente eficiente e viável, em condições de temperatura e tempo com os valores mais baixos entre os reportados na literatura. Palavras-chave: nanopartículas; CCTO; Pechini; elevada constante dielétrica The phase and nanoparticles formation of composition CaCu 3 Ti 4 O 12 (CCTO), through the Pechini method, were studied with structural and thermophysical characterization techniques. Thermogravimetry (TG) and Differential thermal analysis (DTA) were used to determine appropriate conditions for preparing the desired single phase, whereas measurements of X-ray diffraction were used to identify other byproducts or possible phases formed along with CCTO, and for the structural refinement by the Rietveld method. The CCTO phase was found accompanied only with CuO as a secondary phase. The crystallite size of nanoparticles obtained was 62±4 nm. The main factors that influence the product quality are related to the type and purity grade of the starting reagents as well as some factors that have not been optimized in the stages of pre-synthesis (definition of ph and time of homogenization of the solution, etc.). The synthesis of CCTO was obtained after thermal treatment of precursors at 800 C for 6 h, showing that the method is highly efficient and viable, with temperature and time being among the lowest values reported in other studies.. Keywords: nanoparticles; CCTO; Pechini; high dielectric constant 1. INTRODUÇÃO Materiais com elevadas constantes dielétricas são amplamente utilizados em aplicações tecnológicas, tais como capacitores, ressonadores e filtros. Constantes dielétricas altas permitem menores componentes capacitivos, oferecendo assim a oportunidade de diminuir o tamanho de dispositivos eletrônicos [1]. Recentemente, um novo material incomum, cúbico de corpo centrado, da família perovskita, de formulação química CaCu 3 Ti 4 O 12 (CCTO), tem atraído muita atenção devido às suas propriedades dielétricas excepcionais, tais como permissividade dielétrica alta (~ 10 4-10 5 ), baixa perda (menos de 0,05) em baixas freqüências a temperatura ambiente, e boa estabilidade térmica em uma larga faixa de temperatura (300-900 C). Além disso, estudos estruturais têm mostrado que o CCTO não apresenta quaisquer transições de fase até T = 300 C, tornando 034812-1

T. S. Neres et al., Scientia Plena 8, 034812 (2012) 2 assim esse material muito promissor para aplicações em capacitores e, certamente, para dispositivos microeletrônicos e de microondas (por exemplo telefones celulares) [2]. O CCTO tem sido preparado por diversos pesquisadores através de processamento cerâmico convencional utilizando o método da síntese no estado sólido, no intervalo de temperatura de 1000-1050 C, com tempo de tratamento térmico de até 48 h, a partir de reagentes óxidos de grau analítico, na composição estequiométrica de 12,5% mol de CaCO 3, 37,5% mol de CuO e 50% mol de TiO 2 [1-6]. Este método demanda um trabalho tedioso, tempos de reação relativamente longos, altas temperaturas de calcinação e de outros tratamentos térmicos. Além disso, algumas fases secundárias ou subprodutos podem aparecer no pó calcinado e na cerâmica sinterizada [2, 7-12], mesmo sendo utilizadas moagens intermediárias do material reagido entre os tratamentos térmicos [13-17]. Dessa forma, outros métodos de síntese vêm sendo procurados e testados nos últimos anos, envolvendo, por exemplo, a mistura homogênea dos íons metálicos em escala atômica, reduzindo assim o comprimento do caminho de difusão necessário, já que distâncias mais curtas de difusão usualmente levam a temperaturas e tempos de reação menores [18]. Dentre os métodos testados recentemente para a obtenção do CCTO estão a rota do oxalato precursor [17], o método do complexo polimerizado [19], a rota de sol-gel convencional [7, 10], a coprecipitação de oxalato [18], e a síntese de citrato assistida por gel [20]. Neste trabalho, descrevemos a síntese do CCTO por uma rota baseada no método Pechini, e avaliamos as características de composição e de tamanho de cristalito do material produzido. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A rota seguida para a síntese do CCTO está descrita no fluxograma da Fig. 1. Inicialmente o ácido cítrico (C 6 H 8 O 7, 99,5%, Labsynth) foi dissolvido em água, sem aquecimento e sob agitação. Etileno glicol (C 2 H 6 O 2, 99,5%, Vetec) e isopropóxido de titânio (Ti(OCH(CH 3 ) 2 ) 4, 97%, Sigma-Aldrich) foram adicionados a esta primeira solução, sob agitação e aquecimento a 100 C por 12 h. Em seguida, foi adicionado o Cu(NO 3 ) 2 3H 2 O (98%, Labsynth), e após sua completa dissolução, adicionamos o Ca(NO 3 ) 2 4H 2 O (99%, Labsynth), em uma razão molar correspondente à composição estequiométrica do CaCu 3 Ti 4 O 12. Finalmente, foi adicionado etileno glicol para a estabilização e formação do poliéster com subsequente aquecimento a 150 C por 2 h. Para a calcinação, o gel formado foi tratado termicamente em duas etapas: a 450 C por 4 h e a 800 C por 6 h para induzir a síntese do material. Figura 1: Fluxograma de preparação do CCTO pelo método de Pechini.

T. S. Neres et al., Scientia Plena 8, 034812 (2012) 3 O pó tratado termicamente a 450 C foi caracterizado por análise térmica diferencial e termogravimetria (DTA/TG, SDT 2960), da temperatura ambiente até 1200 C, com taxa de aquecimento de 10 C/min, em atmosfera de ar sintético (O 2 /N 2 = 1/4), e utilizando a platina como material de referência. O material sintetizado também foi caracterizado por difratometria de raios X utilizando o difratômetro Shimadzu XRD 6000, com radiação K α do Cu, em um intervalo de varredura 2θ entre 5 e 100, com passo de 0,02. O tamanho de cristalito foi estimado através da formula de Scherrer, e o refinamento estrutural foi realizado mediante o método de Rietveld com o programa DBWS-9807 [21]. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Figura 2 apresentamos as curvas de DTA/TG do pó precursor do CCTO pré-calcinado a 450 C/4h. Claramente são observados dois picos endotermicos na curva de DTA (linha cheia). O Primeiro pico, em torno de 1040 C, deve estar relacionado com a difusão do CuO na matriz do CCTO, uma vez que abaixo desta temperatura o pó calcinado ainda apresenta a fase CuO. O segundo pico, em torno de 1155 C, indica o ponto de fusão do CCTO. A perda de massa observada acima de 1155 C ocorre devido a fusão do CCTO e consequente evaporação de seus constituintes. Endo DTA (u.a.) Exo 97 400 600 800 1000 1200 Temperatura ( C) 100 99 98 TG (%) Figura 2: Curvas de TG/DTA de CCTO sintetizado pelo método de Pechini A Fig. 3 mostra a estrutura cristalina do CCTO que foi utilizada como referência para o refinamento estrutural, e a Fig. 4 inclui os difratogramas de raios X experimental (pó calcinado a 800 C/6h) e simulado, bem como a diferença entre as suas intensidades. Figura 3: Estrutura cristalina do CCTO utilizada como base para o refinamento estrutural. Nos vértices da rede ou caixa, metade das arestas da mesma e interior dos octaedros encontram-se, respectivamente, os elementos Ca, Cu e Ti. Nos vértices dos octaedros encontra-se o elemento O.

T. S. Neres et al., Scientia Plena 8, 034812 (2012) 4 Experimental Intensidade (unid. arb.) Calculado Diferença 20 40 60 80 100 2θ (graus) Figura 4: Difratograma experimental, calculado e a diferença entre os dois primeiros após refinamento estrutural do CCTO pelo método de Rietveld Exceto por um pequeno sinal do composto CuO (ficha JCPDF 80-0076) presente em 2θ = 35,5, os principais picos de difração observados correspondem somente ao CCTO (ficha JCPDF 75-2188). O difratograma simulado no refinamento e a diferença entre este e os dados experimentais indicam um bom ajuste estrutural, mesmo não tendo refinado a fase secundária CuO. Os dados do ajuste estão resumidos na Tabela 1. Tabela 1: Resumo do refinamento estrutural do CCTO pelo método de Rietveld. a = b = c = 7,3760 Å x y z Ca 0.000000 0.000000 0.000000 Cu 0.000000 0.500000 0.500000 Ti 0.250000 0.250000 0.250000 O 0.000000 0.697585 0.177941 R p = 2,82%, R wp = 4,33% ; R exp = 1,8% ; S = 2,39; R Bragg = 3,81 De acordo com diversos trabalhos presentes na literatura [1-20], a fase CCTO única é obtida somente quando a proporção de cálcio, cobre e titânio estão próximas das estequiométricas. A ausência de subprodutos como CaTiO 3 e o TiO 2 indica que não houve excesso de titânio na preparação. Ainda que a presença do CuO tenha sido atribuída em alguns casos à precipitação de CaTiO 3, essa explicação não pode ser validada neste caso. É mais provável que uma quantidade representativa de CuO tenha precipitado ao longo do processo de preparação. A não presença do CaTiO 3 e o TiO 2 pode ser atribuida, parcialmente, ao uso do material fonte de titânio escolhido, isto é, o isopropóxido de titânio. Masingboon e col. [19], usaram os mesmos reagentes iniciais escolhidos aqui, exceto a fonte de titânio (isopropróxido de titânio) bis(2,4- pentanodionato, 75 wt% em peso), com grau de pureza igual ou inferior a 99,9%, e reportaram a formação de outros subprodutos além do CuO. Outros fatores que devem estar influenciando na qualidade do CCTO obtido aqui são o grau de pureza de nossos reagentes escolhidos, e o ph e tempo de homogeneização das soluções, entre outros. Um estudo sistemático da influência destes fatores na precipitação do CuO está sendo atualmente desenvolvido por nós. A partir da análise dos picos principais do difratograma, o tamanho de cristalito (D) foi estimado pela fórmula de Scherrer:

T. S. Neres et al., Scientia Plena 8, 034812 (2012) 5 Com β sendo a largura corrigida na meia altura de cada pico da difração, k sendo o coeficiente de forma [22] que depende da morfologia do cristalito, da distribuição de tamanho de cristalitos, e da definição de β (um valor entre 0,9 e 1, que aqui foi adotado como igual a 0,94, é usualmente utilizado para cristalitos sem forma definida), e θ é o ângulo correspondente da difração. O valor encontrado para D foi de 62 ± 4 nm, sugerindo assim a escala nanométrica do pó obtido. 4. CONCLUSÃO Em resumo, condições adequadas para a preparação de CCTO pelo método de Pechini foram estabelecidas e utilizadas para a obtenção deste material na forma de nanopartículas com tamanho de cristalito de 62 ± 4 nm. Por meio da difração de raios X observamos a presença de uma pequena quantidade da fase secundária CuO, subproduto freqüente na preparação do material por diversos métodos. A sequência do trabalho visa encontrar formas de controlar a precipitação deste subproduto, tentar diminuir ainda mais a temperatura e o tempo de síntese do produto, que já estão entre os mais baixos reportados na literatura. A sequência do trabalho também prevê a caracterização elétrica e dielétricas do CCTO. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio financeiro recebido das agências brasileiras CNPq e FAPITEC/SE (projeto Núcleo de Excelência em Detectores, Sensores Inteligentes e Marcadores Luminescentes Nanoestruturados, NExSEn). 1. G. ZANG, J. ZHANG, P. ZHENG, J. WANG, C. WANG. Grain boundary effect on the dielectric properties of CaCu 3 Ti 4 O 12 ceramics. J. Phys. D: Appl. Phys. 38 (2005) 1824 1827. 2. T. LI, R. XUE, J. HAO, Y. XUE, Z. CHEN. The effect of calcining temperatures on the phase purity and electric properties of CaCu 3 Ti 4 O 12 ceramics. J. Alloys Cmpnds 509 (2011) 1025 1028. 3. P. LUNKENHEIMER, R. FICHTL, S.G. EBBINGHAUS, A. LOIDL. Nonintrinsic origin of the colossal dielectric constants in CaCu 3 Ti 4 O 12. Phys. Rev. B 70 (2004) 172102. 4. S. KROHNS, P. LUNKENHEIMER, S.G. EBBINGHAUS, A. LOIDL. Broadband dielectric spectroscopy on single-crystalline and ceramic CaCu 3 Ti 4 O 12. Appl. Phys. Lett. 91 (2007) 022910. 5. L. FANG, M. SHEN, F. ZHENG, Z. LI, J. YANG. Dielectric responses and multirelaxation behaviors of pure and doped CaCu 3 Ti 4 O 12 ceramics. J. Appl. Phys. 104 (2008) 064110. 6. C.-M. WANG, K.-S. KAO, S.-Y. LIN, Y.-C. CHEN, S.-C. WENG. Processing and properties of CaCu 3 Ti 4 O 12 ceramics. J. Phys. Chem. Solids 69 (2008) 608 610. 7. L. LIU, H. FAN, P. FANG, X. CHEN. Sol gel derived CaCu 3 Ti 4 O 12 ceramics: Synthesis, characterization and electrical properties. Mater. Res. Bull. 43 (2008) 1800 1807. 8. H. YU, H. LIU, D. LUO, M. CAO. Microwave synthesis of high dielectric constant CaCu 3 Ti 4 O 12. J. Mater. Process. Technol. 208 (2008) 145 148. 9. A.F.L. ALMEIDA, P.B.A. FECHINE, M.P.F. GRAÇA, M.A. VALENTE, A.S.B. SOMBRA. Structural and electrical study of CaCu 3 Ti 4 O 12 (CCTO) obtained in a new ceramic procedure, J. Mater. Sci.: Mater. Electron. 20 (2009) 163 170. 10. S.K. JO, Y.H. HAN. Sintering behavior and dielectric properties of polycrystalline CaCu 3 Ti 4 O 12. J. Mater. Sci.: Mater. Electron. 20 (2009) 680 684. 11. S. KWON, C.C. HUANG, M.A. SUBRAMANIAN, D.P. CANN. Effects of cation stoichiometry on the dielectric properties of CaCu 3 Ti 4 O 12, J. Alloys Cmpnds 473 (2009) 433 436. 12. C.-M. WANG, S.-Y. LIN, K.-S. KAO, Y.-C. CHEN, S.-C. WENG. Microstructural and electrical properties of CaTiO 3 CaCu 3 Ti 4 O 12 ceramics. J. Alloys Cmpnds 491 (2010) 423 430. 13. T.B. ADAMS, D.C. SINCLAIR, A.R. WEST. Giant barrier capacitance effects in CaCu 3 Ti 4 O 12 ceramics. Adv. Mater. 14 (2002) 1321 1323. 14. D.C. SINCLAIR, T.B. ADAMS, F.D. MORRISON, A.R. WEST. CaCu 3 Ti 4 O 12 : one-step internal barrier layer capacitor, Appl. Phys. Lett. 80 (2002) 2153 2155. 15. B.A. BENDER, M.-J. PAN. The effect of processing on the giant dielectric properties of CaCu 3 Ti 4 O 12. Mater. Sci. Eng. B 117 (2005) 339 347.

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