CULTURAS INTERCALARES DE SOJA EM REFLORESTAMENTOS DE EUCALIPTOS NO SUL-SUDESTE DO BRASIL RESUMO

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CULTURAS INTERCALARES DE SOJA EM REFLORESTAMENTOS DE EUCALIPTOS NO SUL-SUDESTE DO BRASIL Henrique Geraldo Schreiner * RESUMO Em Itapetininga, Estado de São Paulo, foi estudada a viabilidade de consórcios de soja (Glycine max (L. Merril) com eucalipto (Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden), em função de densidades populacionais de soja, de 330.000, 360.000 e 400.000 plantas/ha, dispostas, respectivamente, em três, quatro e cinco linhas, entre as linhas do eucalipto, espaçado de 3m x 2m. Ambas as culturas foram plantadas em novembro de 1985 mas, devido à seca, tiveram que ser reimplantadas cerca de 30 dias depois. A soja foi colhida em maio de 1986. Até 18 meses decorridos da reimplantação, os consórcios, além de não prejudicarem a sobrevivência do eucalipto, favoreceram o seu crescimento. Neste período, o volume de madeira, nos consórcios, alcançou, em média, 49,320 m 3 /ha, enquanto que sem consórcio limitouse a 37,360 m 3 /ha. A produção de soja não foi influenciada pelas densidades de plantio, porém registrou-se tendência a maior produção (1.734 kg/ha) com a densidade populacional de 400.000 plantas/ha. Esta cultura propiciou retorno da ordem de 30% sobre o capital de seu custeio, apesar de ter sido prejudicada, em sua fase inicial, por anormalidades climáticas e por ataques de formigas. PALAVRAS-CHAVE: Agrossilvicultura; sistema agroflorestal; Eucalyptus grandis; Glycine max. INTERCROPPING OF SOYBEAN WITH EUCALYPT IN SOUTHERN AND SOUTHEASTERN BRAZIL ABSTRACT The viability of an agroforestry sistem was studied with soybean (Glycine max (L.) Merril) and eucalypt (Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden) in Itapetininga, State of São Paulo, Brazil. Three densities of soybean (330,000, 360,000 and 400,000 plants/ha, planted in three, four and five rows between the rows of eucalypt at 3m x 2m spacing) were comopared. Both crops were planted in November 1985, but due to dry weather, it was necessary to replant in the following December. The soybean was harvested in May 1986. Up to 18 months after replanting, the intercropping had no effect on the survival of eucalypt, Moreover, it favored the growth of eucalypt trees. In that period, the estimated timber volume of eucalypts, averaged over all intercropping densities, was 49.320 m 3 /ha, while the stands without soybean produced 37.360 m 3 /ha. The soybean yields were not affected by the stand density, but they tended to * Eng.-Agrônomo, M.Sc., CREA n o 5.423, Consultor da EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Florestas.

be higher (1,734 kg/ha) at the density of 400,000 plants/ha. Although the soybean crop was not affected by climatic irregularities and ant attacks, there was a 30% return over the variable costs of its implantation. KEY-WORDS: Agroforestry; agroforestry system; Eucalyptus grandis; Glycine max. 1. INTRODUÇÃO Culturas agrícolas, em consórcio com povoamentos florestais, em fase de implantação, podem produzir quatro tipos de benefícios: a. receita adicional suficiente para atender, pelo menos, parte dos custos de implantação e manutenção inicial da floresta; b. efeitos sobre o solo e o ambiente capazes de favorecer o desenvolvimento da espécie florestal; c. maior oferta de alimentos para a comunidade, sem o comprometimento de áreas exclusivamente para esse fim; e d. oportunidade para a manutenção, junto às empresas, de um contingente adicional de mão-de-obra. Outros estudos já demonstraram a viabilidade dos seguintes sistemas: Pinus taeda L. e milho - Zea mays L. (SCHREINER & BAGGIO, 1984), Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden e feijão - Phaseolus vulgaris L. (SCHREINER & BALLONI 1986), erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hill.) e feijão (BAGGIO et al. 1982) e erva-mate e milho (SCHREINER 1982). Devido às suas características de lavoura tipicamente empresarial, voltada para a exportação, a soja (Glycine max (L.) Merril) chegou a ser considerada não prioritária para a formação de consórcios silviagrícolas. Isto não implica, porém, uma condenação formal ao seu emprego. Ao contrário, ela pode ser uma das melhores opções para o desenvolvimento destes sistemas. Como leguminosa, a soja promove o enriquecimento dos solos em nitrogênio, podendo, assim, favorecer o crescimento da espécie florestal; adicionalmente, dentre as culturas anuais plantadas no Sul- Sudeste, ela é uma das menos afetadas por irregularidades climáticas. Assim, foi realizado este experimento, com o objetivo de avaliar a viabilidade técnica e econômica do consórcio de soja e eucaliptos, com diferentes densidades populacionais da cultura agrícola. A disponibilidade de informações sobre o consórcio eucalipto-soja é reduzida. COUTO et al. (1982) relatam trabalho realizado no município de Bom Despacho (MG), onde testaram o plantio desta leguminosa em vários espaçamentos, entre as linhas do eucalipto espaçado de 3m x 2m. Além de não prejudicar a sobrevivência do eucalipto, o consórcio favoreceu seu crescimento, até os dois anos de idade. A receita propiciada pela soja foi suficiente para cobrir os custos de implantação do sistema e, ainda, para deixar urna razoável margem líquida, eliminando a necessidade de combate às invasoras no povoamento. As melhores produções de soja (2.449 kg/ha) e de madeira, aos dois anos de idade do eucalipto (66,500 m 3 /ha), foram obtidas com o plantio de soja em cinco linhas espaçadas de 0,50m, entre as linhas do eucalipto. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado na Fazenda Monte Verde, no município de Itapetininga (SP), latitude 23 38'S, longitude 48 18'W e altitude 600m. O clima se

enquadra na variedade Cwa de Koeppen (sub-tropical com inverno seco). O solo é classificado como Latossolo Vermelho-Escuro distrófico, com textura argilosa. A análise das amostras de solo coletadas no local revelou as seguintes características: ph = 4,1; 5,6% de matéria orgânica; 1,3 meq. de Ca ++ + mg ++ /100g de solo; 2,2 meq. de Al +++ trocável/100g de solo; traços de P assimilável e 37 ppm de K + trocável. Em consórcio de Eucalyptus grandis, plantado no espaçamento de 3m x 2m, foram testados os seguintes tratamentos, relacionados com a população e espaçamento da soja: T 0 - Eucalipto sem consório (testemunha); T 1 - Eucalipto com soja em três linhas, espaçadas de 75cm, e 25 plantas por metro de linha (330.000 plantas/ha). T 2 - Eucalipto com soja em quatro linhas, espaçadas de 60cm, e 22 plantas por metro de linha (360.000 plantas/ha); e T 3 - Eucalipto com soja em cinco linhas, espaçadas de 50cm, e 20 plantas por metro de linha (400.000 plantas/ha). O delineamento adotado foi o de blocos ao acaso, com cinco repetições. A Figura 1 mostra a distribuição das plantas, nas parcelas de cada tratamento. A área útil de cada parcela foi de 9m x 16m (144m 2 ), com 24 plantas de eucalipto, dispostas em três linhas de oito plantas. A soja foi distribuída no Tratamento T 1, em nove linhas, das quais seis nas faixas centrais, uma em cada faixa externa e uma em coincidência com o limite da área útil da parcela; no tratamento T 2, em doze linhas, das quais oito nas faixas centrais e duas em cada faixa externa da parcela; no tratamento T 3 em quinze linhas, das quais dez nas faixas centrais, duas em cada faixa externa e uma em coincidência com o limite da área útil da parcela. Entre os limites das áreas úteis das parcelas contíguas, foi plantada uma linha de bordadura de eucalipto, ocupando faixa de 3m de largura e, a seus lados, as linhas de soja necessárias para completar o previsto para cada uma destas parcelas. Em volta de cada bloco foi plantada uma linha de bordadura de eucalipto, ocupando faixa de 3m de largura e, a seus lados, as linhas de soja necessárias, para completar o previsto para cada uma destas parcelas. Em volta de cada bloco foi plantada uma linha de bordadura de eucalipto.

A área ocupada somente pela soja, nas parcelas do tratamento T 1, foi de 108 m 2, o que corresponde a 75% da área total do consórcio (144 m 2 ); no tratamento T 2, essa área foi de 115 m 2, correspondendo a 80% da área total; e no tratamento T 3, de 120 m 2, correspondente a, aproximadamente, 83% da área total. A área útil do experimento foi de 2.880 m 2 e a área total de, aproximadamente, 4.500 m 2. As mudas de eucalipto foram produzidas na própria Fazenda. A variedade de soja utilizada foi a IAC-8. O solo foi preparado com uma aração e duas gradagens. Na mesma ocasião, foi aplicado calcário dolomítico, à razão de 2t/ha, aplicando-se metade antes e metade depois da aração. O eucalipto foi plantado em covas, sem adubação. A semeadura e adubação da soja foram feitas manualmente, em sulcos, procurando-se simular o trabalho das semeadeiras comerciais. As sementes foram inoculadas com rizóbio apropriado. O adubo empregado foi uma fórmula PK 30-10, à razão de 300 kg/ha. Para o controle de invasoras, no desenvolvimento inicial do sistema, foi feita uma capina manual. Tendo em vista a similaridade de condições climáticas e sócio-econômicas entre a região de Itapetininga e as zonas de produção de soja no Sul do Paraná, recorreuse, em seu plantio e condução, principalmente, ao Manual Agropecuário para o Paraná (FUNDAÇÃO INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ 1978) e às recomendações de CARRARO et al. (1982). Ocorreram, na fase de implantação do sistema, repetidos ataques de formiga. Para seu controle, foram utilizadas iscas contendo dodecacloro. O consórcio foi instalado em novembro de 1985. Devido à pronunciada seca, então dominante no Sul do Brasil e em São Paulo, não foram satisfatórias as sobrevivências tanto da soja como do eucalipto. Isto requereu uma reinstalação, em dezembro do mesmo ano. A partir de março de 1986, o quadro climático se inverteu, passando a chover mais que o normal para a época. Consequentemente, ocorreu alongamento do ciclo da soja, com algum prejuízo para sua produção, além da ocorrência de variabilidade acima da esperada, na população das duas culturas. A soja foi colhida em maio de 1986. A sobrevivência e altura do eucalipto foram medidas em maio de 1987 e junho de 1987 (cinco e dezoito meses após o replantio); seu diâmetro só foi medido em junho de 1987. Os volumes de madeira por árvore foram estimados aos dezoito meses da implantação, aplicando-se o fator de forma 0,5. O volume de madeira por hectare foi estimado com ajustes de acordo com as sobrevivências de cada tratamento. O município de Itapetininga apresenta condições sócio-econômicas relativamente semelhantes às da região produtora de soja, no sul do Paraná. Assim, para maior facilidade na análise e discussão dos resultados, a apropriação dos custos da cultura foi baseada em planilhas elaboradas pela Secretaria da Agricultura deste Estado (PARANÁ 1983). Estas planilhas prevêm, entre outras prescrições, o emprego de tecnologia para a produção mínima de 2.400 kg/ha, que foi a utilizada neste trabalho. A receita foi estimada com base no preço médio de venda, fornecido pela mesma fonte. Os dados de custo e ingresso foram ajustados para a área efetivamente ocupada pela soja (0,83 ha) em um hectare de consórcio. A fim de corrigir os efeitos da inflação, os custos foram ajustados com base na variação da OTN de novembro de 1985 a março de 1986.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os efeitos dos espaçamentos e densidades de plantio sobre a produção de soja (Tabela 1), analisados pelo teste de F para constrastes, ao nível de P 0,05, não foram significativos. As alternativas de consórcio, também não tiveram efeito significativo sobre a sobrevivência nem sobre a altura do eucalipto, até seis meses depois de seu replantio (Tabela 2). Em junho de 1987 (dezoito meses após o replantio do sistema), também não foi detectado efeito dos consórcios sobre a sobrevivência e altura do eucalipto. O diâmetro, no entanto, foi favorecido pelo consórcio. Seu crescimento, com a soja plantada em três e em cinco linhas, foi maior que com a soja plantada em quatro linhas (Tabela 3).

Os volumes de madeira em pé, estimados tanto em metros cúbicos por árvore como por hectare, foram significativamente maiores nos consórcios que na testemunha. Os consórcios com a soja em três e cinco linhas produziram maiores volumes de madeira do que com a soja em quatro linhas (Tabela 4). Tanto os dados de desenvolvimento do eucalipto, como os da produção de soja, concordam, em linhas gerais, com os obtidos por COUTO et al. (1982), em Bom Despacho. O efeito favorável da soja sobre o crescimento do eucalipto pode ser atribuído ao aproveitamento, pela espécie florestal, da adubação aplicada na soja; ao aproveitamento do nitrogênio fixado pela leguminosa; e às condições ambientais mais favoráveis de crescimento inicial, devido à cobertura do solo pela soja. SCHREINER & BALLONI (1986) verificaram que o feijão, em associação com eucalipto, também favorece o crescimento da espécie florestal, atribuindo o fato a estas mesmas causas. Parece estranho o menor desenvolvimento do eucalipto no consórcio com quatro linhas de soja, em comparação com os registrados com três e cinco linhas; tendência semelhante foi observada, também, na produção de soja. É possível que este efeito resulte de problemas imprevisíveis de heterogeneidade do local. Entretanto, ele poderia ter resultado também do atraso no replantio e da continuidade do ataque de formigas. COUTO et al. (1982) obtiveram, também, produções de madeira e de soja acentuadamente diferentes com espaçamentos e densidades populacionais muito próximas (cinco linhas espaçadas de 50 cm e 40 cm), porém,

não comentaram o fato. As irregularidades climáticas, os ataques de formiga e a necessidade de replantio não chegaram a afetar a validade das conclusões gerais quanto aos benefícios do sistema. Não obstante, é admissível que estes fatores tenham prejudicado a produção de soja e interferido no efeito diferencial dos três tipos de consórcio sobre o desenvolvimento do eucalipto. Assim, julga-se conveniente realizar um plantio de comprovação, com a densidade populacional de 400.000 plantas de soja por hectare, em linhas espaçadas de 50 cm, Esta densidade é, também, a mais indicada pela pesquisa e assistência técnica para a cultura solteira de soja (CARRARO et al. 1982). Apesar dos fatores adversos ocorridos durante a realização do experimento, o retorno da cultura agrícola (30%) pode ser considerado razoável (Tabela 5). Os custos de preparo do solo, bem como do controle de plantas invasoras, foram debitados à cultura agrícola, reduzindo-se, assim, os encargos de implantação da espécie florestal. 4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Para as condições em que se desenvolveu este trabalho, podem ser registradas as seguintes conclusões e recomendações: Culturas intercalares de soja, no ano de implantação de Eucalyptus grandis, espaçado de 3m x 2m, proporcionam, desde que observadas, em sua condução, as prescrições técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa e assistência técnica, retornos suficientes para ressarcir, conforme as condições climáticas, desde uma parte até o total dos encargos de plantio e manutenção inicial de seus povoamentos; O consórcio favorece o crescimento juvenil do eucalipto, até os 18 meses de idade; A soja deve ser plantada à razão de 400.000 plantas/ha, distribuídas em cinco linhas, espaçadas de 50 cm, entre as linhas do eucalipto; Tendo em vista as anormalidades ocorridas logo após o plantio do sistema, que tornaram necessária uma reimplantação, recomenda-se a execução de um plantio de confirmação, com a densidade populacional de 400.000 plantas de soja por hectare.

AGRADECIMENTOS Ao Eng.-Agrônomo Altair Araldi, do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná, pelo auxílio prestado na avaliação da rentabilidade do sistema estudado. 5. REFERÊNCIAS BAGGIO, A.J.; STURION, J.A.; SCHREINER, H.G. & LAVIGNE, M. Consorciação das culturas de Ilex paraguariensis (erva-mate) e Phaseolus vulgaris (feijão) no Sul do Paraná. Boletim de Pesquisa Florestal, Curitiba, (4):75-90, 1982. CARRARO, I.M.; FONSECA JR, N.S.; OLIVEIRA, E.F. de & HARADA, A. Recomendações técnicas para a cultura da soja no Paraná no ano agrícola 1982/83. Cascavel, OCEPAR, 1982. 59p. (OCEPAR. Boletim Técnico, 9). COUTO, L.; BARROS, N.F. & REZENDE, G.C. Interplanting soybean with eucalypt as a 2-tier agroforestry venture in southeastern Brasil. Australian Forest Research, 12: 329-32, 1982. FUNDAÇÃO INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ, Londrina, PR. Manual agropecuário para o Paraná, 1978. Londrina, 1978. 742p. PARANÁ. Secretaria de Agricultura. Departamento de Economia Rural. Estimativa do custo de produção das principais culturas do Paraná. Curitiba, 1983. SCHREINER, H.G. Consórcio das culturas de erva-mate e milho. In: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS NATIVAS, Campos do Jordão, 1982. Anais do Congresso Nacional sobre Essências Nativas. São Paulo, Instituto Florestal, 1982, p.812-3. SCHREINER, H.G. & BAGGIO, A.J. Culturas intercalares de milho (Zea mays l.) em reflorestamentos com Pinus taeda L. no Sul do Paraná. Boletim de Pesquisa Florestal, Curitiba (8/9):26-49, 1984. SCHREINER, H.G. & BALLONI, E.A. Consórcio das culturas de feijão (Phaseolus vulgaris L.) e eucalipto (Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden) no Sudeste do Brasil. Boletim de Pesquisa Florestal, Curitiba, (12):83-104, 1986.