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UMA GOTA DE LOUCURA EM MINHA MÃO (epigênese e deslumbramento) 3
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Alufá-Licutã Oxorongá UMA GOTA DE LOUCURA EM MINHA MÃO (epigênese e deslumbramento) 5
UMA GOTA DE LOUCURA EM MINHA MÃO (epigênese e deslumbramento) Capa: Alufá-Licutã Oxorongá Digitação: Alufá-Licutã Oxorongá Editoração: Alufá-Licutã Oxorongá Revisão: Alufá-Licutã Oxorongá Ficha catalográfica: Oxorongá, Alufá-Licutã UMA GOTA DE LOUCURA EM MINHA MÃO Recife Pernambuco Brasil - América Literatura Brasileira - poesia 6
UMA GOTA DE LOUCURA EM MINHA MÃO (epigênese e deslumbramento) 7
Imago Dei, Aquecedor do carinho Leopoldo & Teodora, Capricho primaveril Suzanne Christinne, Urdidura e decantamento Joshua Reuel & Rebecca Elisama, Pássaros lançados ao firmamento Recife, Canteiro favorável Oxorongá, Alufá-Licutã Uma gota de loucura em minha mão: poeis Apresentação, Alufá-Licutã 64p.; il. Recife Pernambuco 8
O mundo será sempre triste, porque a vida será sempre um mistério também os poetas serão sempre tristes, porque serão sempre os intérpretes desta grande e dolorosa dúvida humana. Desta curiosidade insaciável, desta desesperada ignorância do que somos e do que seremos. Olavo Bilac 9
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APRESENTAÇÃO Não sou entusiasta de conversas enfadonhas e demoradas, de sorrisos entreabertos e forçadamente educados ou de frios apertos de mãos ocidentalmente ensinado. Sou um homem simples e amante das simples coisas da vida. Gosto de estar quieto, de pensar quieto, de trabalhar quieto. Gosto da solidão de se estar sozinho, que não me força ao compromisso da fala, nem à obrigação do ouvir além dos versos da própria alma. No entanto, esta minha esquisitice tem me forçado a indelicadezas diárias, a andar por um terreno de resistência e dor; a afixar na antecâmara de minha vida um cartaz nem sempre aceito: Estou ocupado às companhias indesejáveis, não me perturbe do meu silencio solidário, deixe-me conversar com a minha própria solidão: não quero honra, piedade, gratidão, lisonja, sentimentalismo, idealismo ou fé. O afeto que procuro é outro, é ouvir e ser ouvido, entender e ser entendido pelo meu próprio coração. Por isto, não me perturbe, estou ocupado a qualquer companhia. Tenho razões particulares, peculiares e familiares para agir assim. Se por fora a minha silhueta é calma, tranquila, desejável, por dentro a minh alma se queima ácida e vulcanicamente incorreta, não me queira por companhia. Isto pode soar estranho e causar um mal-estar na maioria das pessoas, no entanto, as poucas pessoas que habitam o meu círculo de vida, que entende a minha linguagem (particular e literária) sabem o julgamento desta afirmação e conhecem que do meu vazio aparentemente sem importância há um desejo 11
inaudível pelas inquietações metafísicas da vida e pelos traumas e desilusões do homem. Portanto, por mais dura e esdrúxula que possa soar aos ouvidos do mundo a minha fala é menor que meu silencio. Talvez isto se deva ao fato de antes de qualquer livro, ter me educado pelas águas e pelas pedras pelas correntes de águas claras e pelas lisas pedras de um ribeiro no fundo do quintal da casa em que nasci. Desta forma cresci, com este sentimento contrário de pedra e de água em meu coração e em minha alma. E assim adquirir este gosto pela vida. Este gosto pela adversidade da vida, pela imposição das diferenças e pelo fascínio das margens ante a indiferença dos tronos. Talvez por isto me fiz poeta. Vem daí meu gosto pelo poema (voo/sem/fim) e meu conhecido desprezo com raríssima exceções pelo romance (pouso/enfadonho). Diferente de muitos, o vítreo silencio da noite me convida à casa e não às ruas. A escuridão me faz criar. Não sou dado às cotidianas extravagâncias, a não ser aos exageros permitidos da vida: amar, viver, trabalhar e sentir demais. A dor que me vem completa, me basta. Torna-me livre para dizer o que penso, sem que a agonia do olhar me transforme em mais um na multidão. Talvez por isto um galho, retorcido e seco, em meio a um quintal florido me encanta mais que uma miríade de estrelas no céu. Se isto é loucura? Nem mesmo eu sei. O que sei, e sei por pura assombração da vida, é que me ponho a desvendar os véus intransponíveis da mediocridade humana sem quaisquer receios ou aparentes normas. Sei também que não ouso temer a crítica nem o apedrejamento da lisonja débil e que nunca me esconderei às adversidades da vida. 12
Por tudo isto escrevi este Uma gota de loucura em minha mão. E não há quaisquer pretensões com este livro; não quero quebrar paradigmas nem perpetuar o lugar comum. O livro não esconde segredos indizíveis nem gestos conspiratórios, mas tão e somente algum verso de um poeta comum, que dizem está à beira da loucura, mas, como nos ensina o mestre Guimarães, um dos poucos romancistas (além de Dostoievsky) capaz de me acalmar a alma e abrandar o meu espírito inquieto: Palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; palavra foi feita para dizer. E, se palavras são para dizer e não para enfeitar, a palavra incrustada (e mais recorrente) neste Uma gota de loucura em minha mão é a dor e a solidão humana, pois nem todos têm o poder (admirável) de enfrentar as situações adversas que sempre nos advém, sem se machucar, sem se ferir, sem enlouquecer. É bom que se diga que alguns passam incólumes e encontram um sol brilhante depois do temporal, outros, simplesmente se encharcam neste temporal. E vivem toda a cortina de água que a tempestade da vida pode trazer e que só a loucura pode entender. Por isto nasceu este Uma loucura em minha mão, não para enfeitar um estante, uma prateleira qualquer, ou para fazer companhia a inúteis best-sellers, ele nasceu para incomodar. Por isto é breve, como tudo na vida tem que ser. O autor 13
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15 Aos que vivem a loucura mansa, ou que precisam vivê-la.