INTRODUÇÃO A teologia da política Dr. Rousas John Rushdoony
Introdução Uma área de estudo muito negligenciada nos dois séculos passados ou mais é a teologia da política. O pensamento político tem se tornado secularizado e humanista a ponto de que falar sobre a relação entre Deus e política ser para muitos introduzir um fator estranho na discussão. Segundo vários pastores, a extensão da preocupação política pela Igreja deveria ser limitada a orar pelas autoridades. Essa é uma redução miserável do significado da fé. O ponto de partida do pensamento bíblico é o fato da criação. No princípio, criou Deus os céus e a terra (Gênesis 1.1). O Deus criador não é alguma divindade não partidária que tolere igualmente uma variedade de religiões e filosofias. Ele é o Deus trino; é o Pai de Jesus Cristo. Deus o Filho, em sua existência eterna, é aquele por quem todas as coisas foram criadas. João começa seu evangelho fazendo tal identificação: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (João 1.1-3) Assim, política não pode ser uma esfera neutra. Num universo que é totalmente criação de Deus, não pode existir nenhuma esfera neutra, e nenhum pensamento ou átomo neutro. Todas as coisas estão sob Deus e o seu governo. Além do mais, somos claramente informados: aquele que é o bendito e único Soberano, Reis dos reis e Senhor dos 15
16 Com Liberdade e Justiça para Todos senhores (2 Timóteo 6.15) é o nosso Senhor Jesus Cristo. Significa que, primeiro, não pode existir nenhum sistema político religiosamente neutro. Todos estão submissos a Cristo ou contra ele. Pode existir liberdade religiosa, mas não neutralidade. Imaginar que Deus tenha deixado algumas áreas de sua criação fora do seu propósito e governo não tem base na Escritura. Segundo, significa que devemos ter uma teologia de política, baseada sobre toda a Palavra de Deus. Tal teologia deve aplicar a Escritura a cada faceta da vida política. Deve enfatizar o dever a Deus de todos os que ocupam algum ofício. A Constituição dos Estados Unidos fornece um voto de ofício; os que ajudaram a escrever a Constituição consideravam os votos como um fato bíblico; um voto coloca o ofício, o oficial, e a ordem social, sob Deus. Terceiro, porque a ordem social é um fato moral, e a moralidade é um ramo da teologia, uma falta de fé entre o povo, e uma indiferença à ordem teológica pelo Estado, logo significarão uma decadência moral e, então, o colapso social. Quarto, um governo civil não é uma igreja e, assim, não se deve envolver nas questões da igreja ou em doutrinas eclesiásticas, porém, deve afirmar uma fé bíblica, se quiser evitar o colapso social. A política divorciada de Deus e de sua Palavra não pode fornecer uma ordem moral válida. Pelo contrário, ela se torna uma força corrosiva que leva a decadência. Isso não significa que basta um credo para o Estado. Afinal, não são poucas as igrejas que professam grandes credos e não creem em nenhum deles. Uma teologia de política sadia deve começar na vida das pessoas e manifestar-se nas igrejas. Se não estiver no povo nem na Igreja, não estará no Estado.
Introdução Quinto, em termos da Escritura, a Igreja e o Estado são ministros sob Deus. A Igreja é um ministro de graça, e o Estado, um ministro de justiça. Observe que em nenhum caso devemos limitar os ministérios. Embora a igreja seja o principal meio do ministério da graça, não ousamos esquecer que a graça de Deus alcança homens por meio de vários canais. O mesmo é verdade quanto ao governo civil; o mundo seria um lugar sombrio e terrível se a justiça existisse somente dentro do maquinário do Estado. Nossos pais administravam rotineiramente a justiça em nós, assim como as igrejas, os patrões e uma variedade de grupos e pessoas. Para ser eficaz, a graça e a justiça devem estar presentes em cada esfera da vida. Não devemos restringir a obra de Deus aos canais oficiais! Fazê-lo é limitar a Deus, uma coisa perigosa de se tentar. Precisamos ver a natureza ministerial do governo civil sem limitar a justiça ao Estado. Na década de 1600, Richard Steele escreveu The Religious Tradesman [O comerciante religioso], uma aplicação da Escritura ao mundo dos negócios. Começou declarando que a religião, significando o cristianismo, é o maior negócio da vida. Qualquer teoria de política que negligencie a fé bíblica como sua premissa resultará em engano e produzirá desordem social. Joe Morecraft, III escreveu um estudo de teologia política. E nos diz que a liberdade e a justiça têm como sua premissa necessária o cristianismo, e que sem essa fé, a sociedade termina em escravidão e injustiça. Escreve com habilidade, inteligência e franqueza. Sua fé não é limitada, nem sua trombeta soa escapismo. Antes, com fé no Deus trino e soberano, Morecraft é um guerreiro da verdade. 17