Ornidia Lepeletier & Serville, 1828 (Diptera, Syrphidae) no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: distribuição e preferência floral

Documentos relacionados
Espécies de Syrphidae (Diptera) visitantes das flores de Eryngium horridum (Apiaceae) no Vale do Rio Pardo, RS, Brasil

Comunidade de Syrphidae (Diptera): diversidade e preferências florais no Cinturão Verde (Santa Cruz do Sul, RS, Brasil)

Caderno de Pesquisa, série Biologia, Volume 25, número 3 PSEUDAUGOCHLORA MICHENER, 1954 (HYMENOPTERA, APIDAE) DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

ASTERACEAE DUMORT. NOS CAMPOS RUPESTRES DO PARQUE ESTADUAL DO ITACOLOMI, MINAS GERAIS, BRASIL

Oecologia Australis 22(4) 2018 REDE DE VISITAÇÃO FLORAL VERSUS REDE DE TRANSPORTE DE PÓLEN ENTRE ABELHAS E PLANTAS NA FLORESTA ATLÂNTICA DO SUL DO

Oecologia Australis 22(4) 2018 REDE DE VISITAÇÃO FLORAL VERSUS REDE DE TRANSPORTE DE PÓLEN ENTRE

BIOMASSA DE DYNASTINAE (COLEOPTERA, SCARABAEIDAE) FOTOTÁCTICOS: UM ENSAIO BIOGEOGRÁFICO

Categoria Trabalho Acadêmico\Resumo Expandido OCORRÊNCIA DE DÍPTEROS MUSCÓIDES (FANNIDAE) NO MUNICÍPIO DE TEODORO SAMPAIO, SÃO PAULO

VESPAS VISITANTES FLORAIS DE DUAS ESPÉCIES DE Eryngium (APIACEAE) NO BIOMA PAMPA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

PRISCILA GUIMARÃES DIAS¹ ALICE FUMI KUMAGAI²

Polybia LEPELETIER (HYMENOPTERA: VESPIDAE: POLISTINAE) NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Categoria Trabalho Acadêmico / Resumo Expandido Eixo Temático - (Saúde, Saneamento e Meio Ambiente)

INSETOS-PRAGA NO BRASIL: LAGARTA-DA-ESPIGA

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA FAMÍLIA LECYTHIDACEAE NA PARAÍBA

Levantamento das espécies de borboletas (Insecta, Lepidoptera) na Reserva Particular de Patrimônio Natural Caetezal, do município de Joinville SC

PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESPÉCIES DE CAESALPINIOIDEAE (FABACEAE) DE UM AFLORAMENTO GRANÍTICO NO SEMIÁRIDO PARAIBANO

Aos meus pais Angelina e Rufino e minha irmã Valdirene.

Categoria. Trabalho Acadêmico\Resumo Expandido

RESISTÊNCIA A PRAGAS EM PROGÊNIES DE SERINGUEIRA PROVENIENTES DOS CLONES IAC 15, IAC 35, IAC 41, IAN 873, GT 1, PB 217 e PB 252

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA INMET 5º DISME BELO HORIZONTE. BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO DECENDIAL PARA MINAS GERAIS, 11 a 20 de Março de 2011

VINALTO GRAF ALICE FUMI KUMAGAI 3

COMPORTAMENTO ESPAÇO-TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL ENTRE E

Paloma P. BONFITTO 1 ; Marcos M. de SOUZA¹ ¹IFSULDEMINAS Câmpus Inconfidentes, Inconfidentes/MG,

PLANTAS MEDICINAIS DAS TRILHAS TURISTICAS DO PARQUE ESTADUAL DE VILA VELHA, DEPOSITADAS NO HERBÁRIO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA (HUPG).

Dados sobre o Programa de Educação Tutorial PET atualizados em abril de Fonte: SESu/MEC Apresentação: Diretoria da CENAPET

VISITANTES FLORAIS E POTENCIAIS POLINIZADORES DE ORA-PRO-NOBIS (Pereskia aculeata) NA REGIÃO DE INCONFIDENTES, MG

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DA MICROBACIA DO CÓRREGO MAMANGABA, MUNICÍPIO DE MUNDO NOVO/MS.

Catálogo de pólen da Mata Atlântica. Espécies que ocorrem nas áreas de restauração da SPVS

Coleções de Tecido - O Banco de DNA da Biodiversidade Brasileira

PRIMEIRO REGISTRO DA FAMÍLIA SCELEMBIIDAE (EMBIOPTERA) PARA O BRASIL. Cristiano Machado Teixeira 1 Mikael Bolke Araújo 2 Flávio Roberto Mello Garcia 3

COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DA PRAIA ARTIFICIAL DO MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO IGUAÇU-PR

RAQUEL CARVALHO RECIFE-PE

UTILIZAÇÃO DE LEVANTAMENTO FLORÍSTICO COMO FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

EFEITOS DE UM BLOQUEIO ATMOSFÉRICO NO CAMPO DE PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA NO RIO GRANDE DO SUL

CAMBARÁ. Grosso do Sul até Rio Grande do Sul. Informações ecológicas: semidecídua ou decídua,

Categoria Trabalho Acadêmico\Resumo Expandido

espécies ameaçadas da flora, (2014). No JBP são preservados 156 espécimes ameaçados (5,6 %

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA INMET 5º DISME BELO HORIZONTE. BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO DECENDIAL 11 a 20 de Janeiro de 2011

CARACTERIZAÇÃO BIOMÉTRICA DOS FRUTOS E SEMENTES DA Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz

Universidade do Extremo Sul Catarinense Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais

4ª Jornada Científica e Tecnológica e 1º Simpósio de Pós-Graduação do IFSULDEMINAS 16, 17 e 18 de outubro de 2012, Muzambinho MG

CANIBALISMO EM Larimus breviceps (CUVIER, 1830) (ACTINOPTERYGII: SCIAENIDAE) NA PRAIA DE PONTA DA ILHA (ILHA DE ITAPARI- CA), BAHIA

PROTEÇÃO DOS CITRINOS

Cursos de Dança no Brasil. Dulce Aquino

INSTITUIÇÕES ASSOCIADAS À ABCMC

UTILIZAÇÃO DE PLANTAS ORNAMENTAIS POR BEIJA- FLORES EM ÁREA URBANA

O CARACTERIZAÇÃO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO PREDOMINANTE DOS VENTOS MENSAIS PARA A LOCALIDADE DE RIO DO SUL-SC 1

GEOGRAFIA REVISÃO 1 REVISÃO 2. Aula 25.1 REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV

Primeiro registro de Rhinella pombali e novos registros de R. crucifer e R. ornata no Estado do Rio de Janeiro, Brasil (Amphibia, Anura, Bufonidae)

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO NO MUNICÍPIO DE PRUDENTÓPOLIS

ALGUNS ASPECTOS DA BIOLOGIA DO SERRADOR Oncideres impluviata (GERMAR, 1824) (COLEOPTERA: CERAMBYCIDAE)

FLORA DA MESORREGIÃO DO SERTÃO PARAIBANO, NORDESTE BRASILEIRO: ENDEMISMO, ORIGEM E RIQUEZA.

NOVOS REGISTROS DE BOMBACOIDEAE BURNETT (MALVACEAE) NO SEMIÁRIDO PARAIBANO

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA INMET 5º DISME BELO HORIZONTE. BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO DECENDIAL 11 a 20 de Abril de 2011

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

OCORRÊNCIAS DE REDE. IMPACTO: Ausência de serviços de Telecom (sem sinal / sem conseguir originar e receber chamadas, acesso a dados e SMS).

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA INMET 5º DISME BELO HORIZONTE. BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO DECENDIAL 21 a 30 de Abril de 2011

ALGUNS ASPECTOS DA BIOLOGIA DO SERRADOR Oncideres impluviata (GERMAR, 1824) (COLEOPTERA: CERAMBYCIDAE) SOME BIOLOGICAL ASPECTS OF THE TWIG GIRDLER

Climatologia das chuvas no Estado do Rio Grande do Sul

FENOLOGIA E VARIAÇÕES MORFOLÓGICAS DE HOFFMANNSEGGELLA MILLERI (ORCHIDACEAE) IN SITU

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA ENTOMOFAUNA DAS PRAÇAS DE BAGÉ, RS - ORDEM COLEOPTERA

SCIENTIA Revista Científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas

Registro de Visitantes Florais de Anadenanthera colubrina (VELL.) Brenan Leguminosae), em Petrolina, PE

V Encontro Amazônico de Agrárias

Palavras-Chave: coruja, coleção, fragmentação, distribuição, Mata Atlântica, Pulsatrix, sul do Brasil.

CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL E REGENERAÇÃO NATURAL NA REGIÃO DE DOIS VIZINHOS-PR

HISTÓRIA DA COLETA CIENTÍFICA DE MATERIAL BIOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS, RJ

LISTA MAPAS TELADO GEOGRAFIA

José Nilton da Silva¹, Tomaz Dressendorfer de Novaes² & Fernando Moreira Flores³

Fenologia Reprodutiva de Duas Espécies de Cnidosculus na Região de Petrolina, PE

ANÁLISE DA FREQUENCIA DA PRECIPITAÇÃO DIÁRIA NO MUNICÍPIO DE ÁGUIA BRANCA ES.

Occurrence of Fidicinoides pauliensis Boulard & Martinelli, 1996 (Hemiptera: Cicadidae) in coffee plant in Tapiratiba, SP

O ESTADO DA ARTE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM CLIMATOLOGIA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

DISPERSÃO DE SEMENTES DE LARANJEIRA-DO-MATO EM FRAGMENTOS DE FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL 1

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA INMET 5º DISME BELO HORIZONTE. BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO DECENDIAL 01 a 10 de Março de 2011

A BIOGEOGRAFIA BRASILEIRA NO ÂMBITO DE TRABALHOS PUBLICADOS NOS SIMPÓSIOS DE GEOGRAFIA FÍSICA NO PERÍODO DE 1997 A 2007

ALGUNS ASPECTOS DA BIOLOGIA DO SERRADOR, Oncideres dejeani THOMPSON, 1868 (COLEOPTERA : CERAMBYCIDAE)

Resumo. Marizete Gonçalves da Silva [a], Sonia Marisa Hefler [b], Maria Cristina Zborowski de Paula [c], Marcisnei Luiz Zimmermann [d] [R]

APÊNDICE A QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO GRAU DE ESTUDO DO TEMA ACESSIBILIDADE, EM MEIOS ACADÊMICOS CURSO DE TURISMO - PÁGINA 1 DE 6

50 melhores faculdades de Medicina em 2017, segundo o MEC

ENTOMAFAUNA VISITANTE DE Senegalia riparia (Kunth) Britton & Rose NUMA LOCALIDADE DE ALCÂNTARAS, CEARÁ

MOSCAS-DAS-FRUTAS (DIPTERA: TEPHRITOIDEA) INFESTANTES DE CATUAÍ VERMELHO E CATUAÍ AMARELO NO ESTADO DE SÃO PAULO

REGIÃO NORDESTE 3 BIMESTRE PROFA. GABRIELA COUTO

PREDOMINÂNCIA DO VENTO NA REGIÃO DE TABULEIROS COSTEIROS PRÓXIMO A MACEIÓ AL. Roberto Lyra ABSTRACT

PRODUTIVIDADE ATINGÍVEL EM FUNÇÃO DAS ÉPOCAS DE SEMEADURA PARA SOJA NA REGIÃO SUL DO BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE DISCIPLINA

AVALIAÇÃO DA TENDÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NA LOCALIDADE DE FLORESTA, ESTADO DE PERNAMBUCO

A COLEÇÃO DE FRUTOS (CARPOTECA) DO HERBÁRIO HUPG

Tempo & Clima. é o estado físico das condições. atmosféricas em um determinado momento e local, podendo variar durante o mesmo dia.

Fenologia de Ziziphus joazeiro Mart. em uma área de ecótono Mata Atlântica-Caatinga no Rio Grande do Norte

LEVANTAMENTO DA COLEOPTEROFAUNA POR ARMADILHA DE SOLO E COLETA ATIVA NA MATA DO IFSULDEMINAS - CÂMPUS MUZAMBINHO

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA INMET 5º DISME BELO HORIZONTE. BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO DECENDIAL 21 a 31 de Janeiro de 2011

A participação da PUC-Rio em avaliações externas outubro/2017

Módulo 7 Desempenho do Instituidor

Clipping de notícias. Recife, 27 de abril de 2018.

Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro Av. das Américas, Bl 1 - Sala Shopping Bayside - Cep.

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO DE VERÃO. Características do Verão

Visitantes florais presentes em soja Bt e não Bt na região do cerrado brasileiro

PROCESSO SELETIVO PARA AS FUNÇÕES DE CONCILIADOR E JUIZ LEIGO

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA INMET 5º DISME BELO HORIZONTE

Transcrição:

Ornidia Lepeletier & Serville, 828 (Diptera, Syrphidae) no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: distribuição e preferência floral André Beal Galina Norma Segatti Hahn ORNIDIA LEPELETIER & SERVILLE 828 (DIPTERA, SYRPHIDAE) IN RIO GRANDE DO SUL STATE, BRAZIL: DISTRIBUTION AND FLORAL PREFERENCES Mírian Nunes Morales¹ Andreas Köhler¹ ABSTRACT: The genus Ornidia (Diptera, Syrphidae) is represented by four described species, three of them are recorded from Brazil. Studies about this group are lacking in Rio Grande do Sul State. This work aims to document and increase the knowlegde around the distribution of the species of Ornidia in Rio Grande do Sul and the flowering plants visited by Ornidia obesa Fabricius, 775 in Santa Cruz do Sul region. The material deposited at CESC, MCNZ, MCTP, DZUP, MNRJ and MZSP were examined. Presently, two species of Ornidia are represented in Rio Grande do Sul State: O. obesa and O. major. O. obesa showed intra-specific differentiation for body coloring. A key to the identification of the species of Ornidia found in Rio Grande do Sul is provided. O.obesa was flower visitor of 20 plant species. The niche breadth value indicates that the O. obesa is polilectic, without a well-defined floral preference. KEY WORDS: Syrphidae, Ornidia, distribution, floral preferences, Rio Grande do Sul. ¹ Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Departamento de Biologia, Laboratório de Entomologia, Av. Independência, 2293, 9685-900 Santa Cruz do Sul, RS, Brasil (mirian_nm@yahoo.com.br) (andreas@unisc.br). Rev. bras. Juiz Juiz de de Fora Fora V. V. 6 Nº Nº p. p. 8 93-02 - 92 93 93

Ornidia Lepeletier & Serville, 828 (Diptera, Syrphidae) no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: distribuição e preferência floral INTRODUÇÃO Alimentando-se de pólen e/ou de néctar, e portanto considerados polinizadores potenciais (GILBERT, 98; 985), os indivíduos da Família Syrphidae são importantes visitantes florais pertencentes à ordem Diptera (ENDRESS, 994; PROCTOR et al., 996). Nessa família encontra-se o gênero Ornidia Lepeletier & Serville, 828. O gênero é formado por moscas de coloração verde, azul ou púrpura metálicas, comumente encontrado em ambientes abertos e próximos a habitações humanas; é amplamente distribuído nas Américas e disperso na África, Ásia e Europa (BAEZ, 985; THOMPSON, 99). O gênero contém 4 espécies: Ornidia obesa Fabricius, 775 é extensivamente distribuída nas Américas e disseminou-se amplamente no Velho Mundo no século XIX através do comércio; Ornidia major Curran, 930 e Ornidia aemula Williston, 888 são pouco comuns, porém, amplamente distribuídas; Ornidia whiteheadi Thompson, 99 é conhecida por apenas alguns espécimes coletados no Panamá e na Colômbia (THOMPSON, 99). VAL (972) e THOMPSON (99) citam três espécies de Ornidia para o Brasil: O. obesa, O. major e O. aemula. Os adultos de O. obesa abrigam bactérias de importância para a saúde pública, como Salmonella, Shigella e Mycobacterium; endosimbiontes como Crithidia desouzai e Herpetomonas roitmani (Flagellata, Trypanosomatidae) (SOUZA & MOTTA, 999). Realizam também ações benéficas, pois as larvas são capazes de converter resíduos da produção de grãos de café em suplemento protéico para o gado (LARDE, 989) e os adultos são visitantes florais abundantes (THOMPSON, 99; ARRUDA, 997; ARRUDA et al., 998; MACHADO & OLIVEIRA, 2000; MACHADO & LOIOLA, 2000; SILVA et al., 200). Conforme THOMPSON (972), o gênero Ornidia pertence à tribo Volucellini, e é grupo irmão de Copestylum [Volucellini = Graptomyza + (Volucella + (Ornidia + Copestylum))]. O gênero é caracterizado sinapomorficamente por suas estruturas faciais e notopleurais (características apenas encontradas na família Syrphidae): um arranjo de tubérculos faciais, com uma porção medial grande e uma pequena porção sublateral, e uma notopleura alargada, produzida posteriormente. 94 94

VAL (972) indica as localidades onde foram coletadas espécies do gênero na América do Sul e THOMPSON (99) define sua distribuição mundialmente. ARRUDA (997) e ARRUDA Set al. (998) citam O. obesa como principal visitante floral na Reserva Municipal Mata de Santa Genebra, Campinas (SP); MACHADO & OLIVEIRA (2000) relatam a presença de O. obesa como visitante floral mais freqüente de Casearia grandiflora (Flacourtiaceae) no Parque do Sabiá, Uberlândia (MG); MACHADO & LOIOLA (2000), encontraram esta espécie como visitante floral em um remanescente de floresta Atlântica em Pernambuco; POMBAL & MORELLATO (2000), citam O. obesa como um dos maiores polinizadores de Metrodorea stipularis (Rutaceae) no sudeste do Brasil; SILVA et al. (200), observaram-na como espécie mais abundante de visitantes florais na Estação Ecológica da Universidade Federal de Minas Gerais (MG); KÖHLER (2000), cita O. obesa e O. major como visitantes florais, em uma área próxima a São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul. Este estudo visa documentar a ocorrência do gênero Ornidia no Estado do Rio Grande do Sul e ampliar o conhecimento sobre as espécies de plantas visitadas por Ornidia obesa na região de Santa Cruz do Sul, RS. MATERIAL E MÉTODOS Para fins de verificação da ocorrência das espécies do gênero Ornidia no Rio Grande do Sul analisaram-se todos os exemplares do gênero depositados no acervo das seguintes instituições do Brasil: CESC Coleção Entomológica da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul, RS; MCTP - Museu de Ciência e Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS; MCNZ Museu de Ciências Naturais, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB/RS), Porto Alegre, RS; DZUP Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR; MNRJ Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ; MZSP Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP. Com os dados levantados estruturou-se uma chave para identificação das espécies que ocorrem no Rio Grande do Sul. Mírian Nunes Morales Andreas Köhler 95 95

Ornidia Lepeletier & Serville, 828 (Diptera, Syrphidae) no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: distribuição e preferência floral Através dos registros dos exemplares depositados na CESC e coletados entre os anos de 200 e 2003, fez-se uma lista das plantas visitadas durante a época de floração por O. obesa na Região de Santa Cruz do Sul, RS, visto que O. major é pouco comum na área de estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram examinados, no total, 236 indivíduos do gênero Ornidia coletados no Rio Grande do Sul; destes, 24 estão depositados na coleção entomológica do MCNZ, 09 na coleção entomológica do MCTP, 75 na CESC, na coleção do DZUP, 4 na coleção entomológica do MNRJ e 23 exemplares no MZSP. As datas de coleta dos espécimes variaram desde o ano de 938 a 2003. Após a análise do material, verificou-se a ocorrência de duas espécies do gênero Ornidia no Estado de Rio Grande do Sul: Ornidia obesa Fabricius, 775 e Ornidia major Curran, 930 Conforme identificado na Figura, ocorreram registros de Ornidia obesa nos seguintes municípios do Estado do Rio Grande do Sul: Arroio do Meio, Barão de Cotegipe, Campo Bom, Canela, Cachoeira do Sul, Derrubadas, Dois Irmãos, Guaporé, Nova Petrópolis, Pelotas, Porto Alegre, Rio Pardinho, Santa Cruz do Sul, Santa Vitória do Palmar, São Francisco de Paula, São Jerônimo, São Leopoldo, Torres, Vale do Sol, Venâncio Aires e Figura. Ocorrência de Ornidia obesa no Estado do Rio Grande do Sul. 96 96

Vera Cruz. Ocorreram registros de espécies de O. major nos seguintes municípios do Estado do Rio Grande do Sul: Cachoeira do Sul, Guaporé, Pelotas, Santa Cruz do Sul e São Francisco de Paula, conforme indicado na Figura 2. Mírian Nunes Morales Andreas Köhler Figura 2. Ocorrência de Ornidia major no Estado do Rio Grande do Sul. Ornidia obesa foi a mais abundante, representando 96,6% do total de espécimes identificados, e O. major representou apenas 3,39%. O. obesa estende-se da região Noroeste, Norte até o Sul do Rio Grande do Sul, com maior incidência nas Regiões Central, Centro-Sul, Centro-Nordeste e Leste, porém, O. major somente foi encontrada na Região Centro-Nordeste até o Sul. A baixa ocorrência de O. major não é conseqüência de um número inferior de coletas e da distribuição limitada, sendo que em todas as áreas onde O. major foi encontrada, O. obesa mostrou-se com abundância superior. De fato, percebe-se que há carência de estudos da entomofauna na metade Oeste do Estado, principalmente nas regiões de vegetação campeira. Verificou-se que O. obesa possui uma diferenciação intraespecífica, visto que alguns espécimes apresentaram coloração verde-metálica com tons azul-púrpura-metálicos e outros a coloração marrom-metálica com tons verde-metálicos. Por outro lado, todos os exemplares de O. major apresentaram coloração verde-metálica com tons azul-púrpura. Chave para identificação das espécies de Ornidia no Rio Grande do Sul:. Depressão escutelar dividida medialmente; com cerdas pré- 97 97

Ornidia Lepeletier & Serville, 828 (Diptera, Syrphidae) no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: distribuição e preferência floral escutelares; comprimento torácico entre 3,6 a 4,2mm, asa com mancha apical pequena... Ornidia major Curran, 930.Depressão escutelar medialmente contínua; sem cerdas préescutelares; comprimento torácico entre 2,3 a 3,6mm, asa com mancha apical pequena... Ornidia obesa Fabricius, 775 As análises realizadas com os espécimes de O. obesa, provenientes da Região de Santa Cruz do Sul e depositados na CESC, com datas de coleta entre os anos de 200 e 2003, demonstraram que estes foram visitantes florais de 20 espécies diferentes de plantas, pertencentes a 3 famílias, conforme demonstrado na Tabela. As famílias botânicas Asteraceae e Fabaceae apresentaram o maior número de espécies visitadas por O. obesa. Porém, as espécies que possuíram maior número de visitantes foram Eryngium horridum Malme (Apiaceae) e Trichilia claussenii (C. DC.) (Meliaceae), com 48 e 23 indivíduos visitantes, respectivamente. O valor do nicho alimentar com média de 5,89 (n=4) indica que as espécies enquadram-se conforme MÜHLENBERG (993) como espécies polilécticas, sem preferência floral bem definida. Tabela. Espécies de plantas visitadas por Ornidia obesa durante a época de floração e número de espécimes visitantes, na Região de Santa Cruz do Sul, RS. Família Anacardiaceae Apiaceae Espécie Astronium balansae Engl. Eryngium horridum Malme Eryngium megapotamicum Malme Número de espécimes visitantes 2 48 Asteraceae Senecio brasiliensis (Spreng.) Less Vernonia florida Gardn. Baccharis trimera (Less.) Eupatorium laevigatum Lam. 3 7 8 Euphorbiaceae Actinostemon concolor (Spreng.) Muell. Arg. 3 Fabaceae Lonchocarpus nitidus (Vog.) Mimosa bimucromata (D.C.) O. Kuntze Desmodium affine Schlecht. Bauhinia candicans Benth. 2 7 Malvaceae Sida rhombifolia L. 3 Meliaceae Trichilia claussenii (C. D.C.) 23 Nyctaginaceae Bougainvillaea glabra Choisy Oleaceae Ligustrum japonicum Thunb. 3 Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunb. Rutaceae Solanaceae Ulmaceae Citrus sinensis (L.) Osbeck Solanum acerosum Sendt. Trema micrantha (L.) Blume 5 0 98 98

MATERIAL ESTUDADO Ornidia obesa: BRASIL, RIO GRANDE DO SUL: ARROIO DO MEIO: H. Telöken (leg.): 2.IV.999 (?, CESC, nº ref. 27); BARÃO DE COTEGIPE: leg. não identificado: 04.XII.967 (?, DZUP); CAMPO BOM: C. J. Becker (leg.): 8.III.985 (?, MCNZ, nº ref. 69384); CANELA: M. Hofmann (leg.): 27.I.992, 25.II.992, 20.VI.992 (3?, MCNZ, nº ref. 69268, 69296, 96267); D. Wittmann (leg.): 07.IV.984 (?, MCNZ, nº ref. 69093); DERRUBADAS: M. G. Hermes (leg.):.v.2002 (?, CESC, nº ref. 3295); 26.IV.2003 (3?, CESC, nº ref. 7536, 7537, 7538); M. N. Morales (leg.): 26.IV.2003 (3?, 4?, CESC, nº ref. 7539, 7540, 754, 7542, 7543, 7544, 7545); D. J. Krise (leg.): 26.IV.2003 (?, CESC, nº ref. 7535); DOIS IRMÃOS: (?, MZSP); GUAPORÉ: M. N. Morales (leg.): 5.I.2002 (?, CESC, nº ref. 72); NOVA PETRÓPOLIS: M. Hofmann (leg.): 3.I.985 (?, MCNZ, nº ref. 6909); D. Wittmann (leg.): 26.I.985 (?, MCNZ, nº ref. 3960); B. Blochtein (leg.): 03.XII.985 (?, MCNZ, nº ref. 39549); PELOTAS: C. Bienzanko (leg.): 27.III.956 (4, MNRJ); (4?, 6?, MZSP); PORTO ALEGRE: leg. desconhecido, 03.IV.938, 0.V.938 (2?, MCNZ, nº ref. 39669, 39670); T. Lema (leg.): 30.IV.96 (?,?, MCNZ, nº ref. 3959, 39520); D. Wittmann (leg.): I.984 (?, MCNZ, nº ref. 69092); 27.IX.985 (?, MCNZ, nº ref. 39533); M. Hofmann (leg.): 27.IX.985 (?, MCNZ, nº ref. 39536); V. Siber (leg.): 4.V.986 (?, MCNZ, nº ref. 6934); (?, MZSP); RIO PARDINHO: M. N. Morales (leg.): 9.XI.2002 (?, CESC, nº ref. 6489); E. C. G. de Azevedo (leg.): 4.I.2002 (2?, CESC, nº ref. 2868, 2863); SANTA CRUZ DO SUL: M. N. Morales (leg.):.ix.200, 9-23-24-3.X.200, 2.XI.200, 7.XII.200 (2?, 28?, CESC, nº ref. 56, 57, 58, 59, 520, 559, 560, 56, 562, 563, 630, 65, 652, 666, 667, 668, 669, 670, 67, 672, 673, 674, 675, 677, 800, 80, 809, 926, 932, 34); 4-5.II.2002, 20.IV.2002, 30.XI.2002, 6.XII.2002 (5?, 45?, CESC, nº ref. 2903, 2906, 3055, 3056, 3057, 3058, 3059, 3060, 306, 3062, 3063, 3064, 3065, 3066, 3067, 3068, 3069, 3070, 324,5963, 5964, 5965, 6236, 6237, 6238, 6239, 6289, 6290, 629, 6292, 6293, 6294, 6295, 6296, 6297, 6298, 6299, 6300, 6337, 6338, 6339, 6340, 634, 6342, 6343, 6344, 6345, 6346, 6347, 6348, 6349, 6350, 6394, 6395, 6396, 6397, 6398, 6432, 6433, 6434); M. G. Mírian Nunes Morales Andreas Köhler 99 99

Ornidia Lepeletier & Serville, 828 (Diptera, Syrphidae) no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: distribuição e preferência floral Hermes (leg.): 28.VIII.2002 (3?, CESC, nº ref. 428, 4282, 4283); 07.I.2003 (?, CESC, nº ref. 7335); D. J. Krise (leg.): 23-3.X.200, 3-6.XI.200, 9.XII.200 (5?, 9?, CESC, nº ref. 602, 640, 646, 647, 835, 836, 837, 838, 950, 970, 989, 46, 490, 492); 02-04-08-6.I.2002, 06.II.2002 (0?, 7?, CESC, nº ref. 585, 588, 64, 663, 72, 722, 724, 73, 760, 79, 794, 795, 798, 803, 806, 828, 834, 2000, 2003, 20, 203, 2047, 2050, 205, 2449, 2472, 2505); C. Heitling (leg.): 23-3.X.200, 2-2.XI.200 (2?, 5?, CESC, nº ref. 708, 786, 796, 797, 798, 9, 029); P. Meinhart (leg.): 02.V.998 (2?, CESC, nº ref. 36, 37); SANTA VITÓRIA DO PALMAR: D. J. Krise (leg.): 05.IV.2003 (?, CESC, nº ref. 7336); SÃO FRANCISCO DE PAULA: A. Köhler (leg.): 23.III.2000 (?, MCTP); 2-25.II.998, 2.XII.998 (3?, MCTP); R. Mecke (leg.): 9.V.997, 24.IX.997, (3?, MCTP); B. Harter (leg.): 08.III.997 (2?, MCTP, nº ref. 3998, 2769); 5.III.996 (?, MCTP, nº ref. 0743); M. S. Barbosa (leg.): 02-2.XII.999, 20.XI.999 (2?,?, CESC, nº ref. 7206, 7207, 7208); SÃO JERÔNIMO: C. J. Becker (leg.): 30.IV.982, 03.VI.982, 5-30.IX.982, 3.X.982 (2?, 3?, MCNZ, nº ref. 39769, 39770, 39868, 39899, 39945); SÃO LEOPOLDO: C. J. Becker (leg.): 26.XI.982 (?, MCNZ, nº ref. 69385); 24.IV.987 (?, MCNZ, nº ref. 69386); (5?, 4?, MZSP); TORRES: leg. desconhecido, III.940 (?, MCNZ, nº ref. 39668); VALE DO SOL: M. G. Hermes (leg.): 24.IX.2002 (?, CESC, nº ref. 488); VENÂNCIO AIRES: G. Hermany (leg.): 5.IV.2000 (?, CESC, nº ref. 273); VERA CRUZ: P. Theisen (leg.): 9.IV.998 (?, CESC, nº ref. 272). MATERIAL ESTUDADO Ornidia major: BRASIL, RIO GRANDE DO SUL: SÃO FRANCISCO DE PAULA: M. S. Barbosa (leg.): 2.XII.999 (?,?, CESC, nº ref. 7204, 7205); SANTA CRUZ DO SUL: M. N. Morales (leg.): 6.XII.2002 (3?, CESC, nº ref. 6288, 6336, 6393). GUAPORÉ: M. N. Morales (leg.): 06.XI.200 (?, CESC, nº ref. 4822); CACHOEIRA DO SUL: C. Schulz (leg.): 2.VI.2002 (?, CESC, nº ref. 720); PELOTAS: (?,?, MZSP). 00 00