O SR. Elimar Máximo Damasceno (PRONA - SP) pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna para alertar a população brasileira, particularmente os adolescentes e jovens de nosso País, a respeito dos malefícios à saúde relacionados ao uso do piercing. O piercing não se trata de novidade dos nossos tempos. Há relatos de sua utilização por civilizações antigas no Egito, Índia, África e outros povos, por razões religiosas, culturais, políticas, ou, simplesmente, como adorno. No mundo contemporâneo essa prática foi reforçada por meio do movimento hippie dos anos 60 e 70, e posteriormente pelos "punks" nos anos 80 e 90.
2 Na década de 90, o uso do piercing tornou-se mais freqüente entre os adolescentes do Brasil, estimulado principalmente por veículos de marketing. Atualmente essa prática pode estar associada a um mero modismo, mas também pode representar um meio de expressão cultural e afirmação ideológica. Os piercings têm sido colocados em locais diversos do corpo, sendo relatadas complicações que podem representar risco para a saúde do usuário, além de elevar os custos para o sistema de saúde pública. Uma pesquisa realizada pela Associação Médica Britânica estima que sangramentos, pequenas infecções e inchaço em volta do furo
3 ocorrem em 30% dos casos - qualquer que seja o local em que se coloque o piercing. Os procedimentos executados sem os cuidados elementares causarão a contaminação. Assim como a não utilização de luvas e agulhas descartáveis e a falta de esterilização de equipamentos cirúrgicos em estufas, podem provocar inflamações, e até mesmo o contágio pelo vírus da AIDS ou da hepatite B. As complicações acontecem até mesmo quando são feitos com material esterilizado. Não se iludam com aqueles que tentam induzir o uso do piercing, alegando que o material é esterilizado. O nariz e a parte superior da orelha são vulneráveis às infecções uma vez que o tecido das cartilagens tem pouca irrigação sangüínea.
4 Dificultando, assim, a ação defensiva do sistema imunológico no combate aos microorganismos. No caso das mucosas (lábios, língua e genitais), a umidade local pode facilitar a proliferação de fungos e bactérias. O organismo também pode rejeitar algum tipo de metal usado no piercing, principalmente o níquel, provocando alergias. É particularmente preocupante o crescimento da utilização de adornos na boca, e mais especificamente na língua, onde ele é mais usado. Pode ocasionar uma série de complicações, dentre as quais destacamos: fratura nos dentes, periodontites, mau hálito, infecções, alteração da fala, trauma no palato e hemorragias.
5 A literatura internacional também relaciona o uso do "piercing" com a ocorrência de cefaléia, tétano, asfixia, choque anafilático, septicemia e endocardite. Assim, a atuação do "piercing" como produtor de trauma crônico, torna-o fator provável de elevação do risco da ocorrência de câncer de boca. Espero, também como médico, que a citação de tão variada gama de complicações contribua para que a sociedade tome consciência de que a colocação de um piercing não é uma atividade isenta de risco, pois existe a possibilidade de aquisição de doenças potencialmente fatais. Diante do fato exposto, é fundamental que os jovens, adolescentes e seus responsáveis legais, possam avaliar com extrema responsabilidade os
6 riscos à saúde associados à decisão de utilização de piercing no corpo. Quero alertar aos pais, que distraidamente ou por falta de conhecimento das complicações ora relatadas, permitem que seus filhos, embalados por essas modas passageiras, sofram em seus corpos essas agressões tão abomináveis. Estamos atravessando uma época em que há uma carência de autoridade dos pais com um excesso de permissividade. Nós, médicos, somos procurados cada vez com maior freqüência para reconstituirmos esses orifícios ou lesões ocorridos, absurdamente, até em crianças. Não há como não dizer que isso é uma irresponsabilidade dos pais. Era o que eu tinha a dizer.
7 Muito Obrigado, Sr. Presidente. DEPUTADO ELIMAR MÁXIMO DAMASCENO PRONA - SP