TEXTO DE APOIO PARA O FORMANDO

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CORPO NACIONAL DE ESCUTAS ESCUTISMO CATÓLICO PORTUGUÊS CURSO DE ININIAÇÃO PEDAGÓGICA (C.I.P.) MANUAL ÁREA B PEDAGOGIA GERAL DO ESCUTISMO MÓDULO B.1 OS VALORES DO ESCUTISMO B.1.3 U.F. LEI PROMESSA E PRINCÍPIOS TEXTO DE APOIO PARA O FORMANDO Introdução Toda a pedagogia escutista se baseia e se desenvolve à volta destes três grandes pilares que qualquer escuteiro começa por assumir logo de início. Os Princípios... a Lei... e os compromissos da Promessa. Neles se compendiam e resumem os conteúdos da acção educativa do escutismo, numa articulação que os inter-relaciona no sentido de uma concretização e dimensão prática. Poderemos dizer que, numa dimensão lógica e educativa, dos Princípios derivam os artigos da Promessa e da Lei, mas numa dimensão prática de vivência escutista, do cumprimento da Lei derivará uma fidelidade à Promessa e um assumir dos Princípios do próprio escutismo. Tudo isto em três grandes vectores que poderíamos sintetizar como: crescimento na Fé, educação para a cidadania e sentido do dever A Lei do Escuta: A Lei do Escuta visa o desenvolvimento da consciência de um crescimento sadio em diálogo com a natureza, com os outros e com Deus. Ao mesmo tempo procura incrementar nos mais jovens a vivência de um conjunto de valores humanos que de outro modo que não o Jogo escutista seria mais difícil fazer compreender ou viver. Por isso mesmo se pode estabelecer um certo paralelo entre os Princípios e a Lei do Escuta. Valores como honra, lealdade, amizade, o serviço, o respeito e a bondade de intenções, o sentido de humor, a sobriedade e o equilíbrio, a pureza de intenções resumem o conteúdo da Lei do Escuta. Mas ao mesmo tempo constituem outros tantos desafios num contexto social marcado pela corrupção, pelo egoísmo, pela traição e pela desonestidade, pelo desregramento físico e moral, pela falta de respeito pelas pessoas e pelas instituições, pela natureza e pelo património cultural. Vivemos um tempo marcado pela concorrência desleal, pelo

clientelismo a diversos níveis, pela fraude nas palavras e nos actos, pelo imediatismo de vida e falta de sentido do futuro na utilização dos bens e recursos, etc., pelo que a Lei do Escuta constitui a formulação de um conjunto de regras de conduta geradora de um sem número de valores que formarão uma personalidade aberta, um desenvolvimento sadio e um sentido dos outros capaz de criar laços perenes de fraternidade. A Lei do Escuta representa a dimensão positiva da vida humana que poderia resumir-se na máxima de Baden Powell: "Vale alguma coisa ser bom, mas é muito melhor fazer o bem". i Já desde as primeiras experiências vividas no lobitismo, os valores humanos estão presentes na formação do escuteiro. Numa idade em que a criança começa a desenvolver o sentido da socialização mesmo que misturado com algum egocentrismo próprio da idade infantil, a Lei do Lobito representa uma forma de olhar o outro como referência de comportamentos: o lobito não se escuta a si mesmo quer dizer que ele tem que ir superando o egoísmo ou egocentrismo que o levavam a colocar à sua volta o mundo e os outros, para se colocar juntamente com os outros à descoberta do mundo. Nesse processo de descoberta e de relacionamento, a vida na Alcateia é um microcosmos onde se desenrola todo um conjunto de situações lúdicas que são outras tantas transposições da vida real que se prepara para enfrentar. É aí que o lobito encontra a Akelà como ponto de referência comportamental, como orientação e exemplo, ao mesmo tempo que estabelece um relacionamento particular com as outras figuras do Livro da Selva, como com os seus colegas, de modo a interiorizar e fazer o seu juízo sobre os diferentes comportamentos. Ao aceitar que O lobito escuta a Akelà a criança vai-se integrando na sociedade, desenvolve o sentido do dever e da obediência, reconhece a dimensão da ordem como regra da boa convivência, e sabe que há-de encontrar, naquele a quem é chamado a obedecer, alguém que está ali para o ajudar, que sempre aparecerá para o defender e, mais ainda, para o ensinar a defender-se. Por seu lado, as Máximas do Lobito vão integrando na sua formação de criança alguns comportamentos concretos que o ajudam a integrar-se na sua Alcateia, no seu meio ambiente e particularmente na sociedade que ele não pode ver como obstáculo à sua liberdade, mas pelos contrário como um ambiente onde ele pode ser feliz com os outros. O lobito combate o egoísmo quando pensa primeiro no seu semelhante e por isso pratica diariamente uma boa acção; a abertura e descoberto do mundo aprende-se a partir do momento em que o lobito sabe ver e ouvir e por isso ele faz como saudação o sinal do lobo de orelhas bem erguidas e olhar sempre atento; a integração com o mundo também se realiza na medida em que o lobito é asseado, procurando viver desde criança aquela máxima de mente sã em corpo são ; o lobito é alegre, uma alegria que se manifesta nas canções, nos gritos, no jogo com os seus amigos, e mesmo no sentido de grupo que ele constrói no interior do bando ; a melhor maneira de construirmos um alegre e feliz relacionamento com os outros é defendendo a verdade nas atitudes e nos comportamentos, sendo transparentes nas intenções, não escondendo os actos e assumindo as responsabilidades pelas atitudes e, por isso, o lobito diz sempre a verdade. A Lei do Escuta dispensa-nos, por agora, mais comentários, já que se trata, para um Dirigente, de algo necessariamente conhecido e vivido. De um ponto de vista pedagógico poderíamos aqui apresentar um certo paralelo entre a Lei so Escuta e as Máximas do Lobito que de certa forma já a preparam, para aqueles que entram no escutismo em mais tenra idade. Sabemos já que se poderá estabelecer um paralelo com outros códigos como o Decálogo ou Código da Aliança de Deus com o seu Povo e ainda com outros valores evangélicos como as Bem-aventuranças, assumidas particularmente pelos Caminheiros como referência de vida. Em estádios futuros de desenvolvimento da formação teremos oportunidade de referir ainda a Lei do Escuta aos valores evangélicos, ao exemplo de Jesus Cristo e mesmo à forma como muito santos, ao longo dos tempos, foram capazes de viver o mesmo evangelho. ii

A LEI DO ESCUTA E AS MÁXIMAS DO LOBITO 1 A honra do escuta inspira confiança 2 O escuta é leal 5 O lobito diz sempre a verdade 3 O escuta é útil e pratica uma boa acção 4 O escuta é amigo e irmão dos os outros 1 O lobito pensa no seu semelhante escutas 6 O escuta protege as plantas e os animais 5 O escuta é delicado e respeitador 7 O escuta é obediente 2 O lobito sabe ver e ouvir 8 O escuta tem sempre boa disposição de 4 O lobito é alegre espírito 9 O escuta é sóbrio, económico e respeitador 3 O lobito é asseado 10 O escuta é puro nos pensamentos, palavras e acções Princípios do Escuta: 1 O Escuta orgulha-se da sua Fé e por ela orienta toda a sua vida; 2 O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão; 3 O dever do Escuta começa em casa. O Escuta orgulha-se da sua Fé e por ela orienta toda a sua vida; este primeiro Princípio relaciona-se com os próprios fundamentos do Escutismo que, mesmo que tal não venha a ser expressamente afirmado, são fundamentos de ordem religiosa. O escuta não só deve ter uma religião, como o grande objectivo do escutismo, na óptica do seu fundador, é a realização do Reino de Deus. Por isso mesmo há uma relação de proximidade entre a Lei do Escuta e a dimensão religiosa da Aliança e o consequente Decálogo (Ex 20 e Dt 6) ou código dos Dez Mandamentos; mais ainda, os valores preconizados pela Lei se aproximam do espírito das bemaventuranças (Mt 5), a doutrina evangélica sobre o a solidariedade para com próximo (Mt 25) e da doutrina joanina sobre o amor de Deus e sua relação com o amor do próximo (1Jo 2, 3-6). O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão; neste segundo Princípio encontramos os elementos essenciais da educação para a cidadania, uma cidadania que começa por relacionar o escuta com a sua pátria, os valores do seu património, da sua história e cultura, os ideais que identificam uma comunidade nacional e os valores que definem o seu agir em cada tempo. Trata-se de um dos aspectos em que o escutismo assumiu um certo pioneirismo relativamente ao seu tempo, e se afirma, hoje em dia, de uma grande actualidade; à medida que a ideia de globalização caracteriza as diferentes formas e níveis e de relacionamento humano diluindo um pouco a especificidade e os valores de cada povo, sentimos a necessidade de preservar a identidade de cada um em ordem a

uma abertura e um diálogo de culturas que não seja despersonalizante. iii De facto, hoje mais que nunca, somos desafiados a promover um diálogo permanente com culturas, raças e povos diferentes; superam-se conceitos de nacionalismo exacerbado e cada homem transforma-se progressivamente em cidadão do mundo. O sentido de responsabilidade e de colaboração com todos, o desenvolvimento dos ideais de solidariedade humana transcendem as fronteiras do mundo religioso e da moral cristã; a crescente importância do voluntariado, o aparecimento de organizações não governamentais de assistência aos mais desfavorecidos, tudo são elementos que elevam a uma dimensão mais abrangente alguns dos princípios que norteiam a formação escutista. O dever do Escuta começa em casa; o sentido do dever constitui um dos maiores desafios ao escutismo actual, iv onde a tendência mais frequente é para reivindicar direitos, para questionar a autoridade, para evitar responsabilidades e onde o espírito de obediência é confundido com servilismo e perda de personalidade. Mas é, afinal, no ambiente familiar que melhor se aprende não apenas a obedecer, mas, pela obediência, a fazer crescer o sentido de responsabilidade e de respeito pelas pessoas e pelas instituições, que poderão efectivamente ser questionadas, mas apenas se tivermos vontade e capacidade para fazer melhor que os outros. Ao dizer que o dever do escuta começa em casa este princípio envolve a obediência por aquele ambiente de amor que a torna mais leve, ao mesmo tempo que ajuda a criar o sentido de proximidade que faz conhecer e tornar sensível o escuta para as situações reais da vida, evitando aquela ideia romântica da solidariedade com os distantes, capaz de inspirar palavras e discursos, mas não provoca sentimentos e muito menos leva à acção. A Promessa escutista Num mundo e num tempo em que se desvanece o sentido do compromisso no seio da família, no seio das relações humanas, e em que as ideias e as posições perante a vida e os outros mudam com os ventos, a Promessa escutista surge como uma promoção do ideal de fidelidade que deve caracterizar toda e qualquer posição e atitude humana. Assumir publicamente o cumprimento do dever para com Deus, a Igreja e a Pátria é ter consciência de ser, no momento actual, um ponto de referência para um conjunto de valores, clara e drasticamente relativizados; ao mesmo tempo o escuteiro, com esta atitude, identifica-se com Jesus Cristo que não só era "submisso e obediente a seus pais terrenos" (Lc 2, 51) como manteve sempre uma atitude de obediência ao Pai até à entrega da Sua vida, como nos recorda S. Paulo ao referir que "Cristo se fez obediente até à morte e morte de cruz" (Fil 2, 6-11). Auxiliar o semelhante em todas as circunstâncias é viver em plenitude o ideal da caridade cristã, é cumprir o mandamento novo do amor, é ser, no mundo de hoje, o Bom Samaritano do Evangelho; é ir ao encontro do outro que em cada momento se torna o nosso próximo, é responder aos apelos dos que sofrem, é dizer "presente" onde se reclame a presença de alguém, independentemente das circunstâncias, das limitações ou dos recursos. É, afinal, viver plenamente o sentido da divisa Sempre alerta para servir.

Obedecer à Lei do Escuta é seguir um caminho que nos torna mais homens e ajuda os outros a conseguir o mesmo; é compreender o espírito das Bem-aventuranças como a nova forma de apresentar os mandamentos, é saber que através da lei humana se chega à Lei de Deus, é compreender a palavra de Jesus quando diz: "o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes" (Mt 25). "Por isso mesmo - diz Baden Powell - tomemos o compromisso de fazermos absolutamente tudo o que pudermos para estabelecer a amizade entre os escuteiros de todas as nações e contribuir para o progresso da paz e felicidade do mundo e da boa vontade entre os homens. Apesar de tudo é o espírito que domina. A nossa Lei e Promessa, se as praticarmos na verdade, suprimem todas as ocasiões de guerras e de lutas entre as nações". v Desempenhar o melhor que puder as obrigações da missão que me é confiada é compreender a dimensão de responsabilidade que é conferida a uma Promessa de Dirigente: uma responsabilidade de ser exemplo, ser testemunho de fé, ser apóstolo na comunidade escutista e na comunidade cristã. Ao mesmo tempo o Dirigente escutista compreende as inplicações da missão do escutismo, bem como a sua actividade de Dirigente como uma missão mais do que um dever, ou muito menos um poder. A missão de Dirigente envolve-o nos amplos objectivos da formação escutista, comprometendo-se a uma formação contínua e a uma dedicação à formação dos outros, para o que deve também procurar elevar o seu nível de competências. Conclusão Se a Lei do Escuta é a regra fundamental do Jogo escutista, ela será também uma forma de apresentar as regras essenciais para o jogo da vida que o escuta tem que aprender a jogar, um jogo que o Dirigente deve orientar. É este jogo que faz com que o escuta seja fiel à Lei, não pelo cumprimento cego de um código aleatório, mas como forma de incarnar um conjunto de valores que o realizam como homem, que o inserem e ajudam a viver em sociedade, que ajudam a construir um mundo melhor, objectivo final de qualquer acto educativo, bem resumido na máxima deixada pelo Fundador na sua Última Mensagem: procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrastes. 1 No capítulo IX de Escutismo para Rapazes, Baden-Powell apresenta algumas máximas interessantes que demonstram o modo, muitas vezes bem humorado, de tratar as questões: "Se desprezardes os outros rapazes porque têm uma casa mais pobre que a vossa não passais de presumidos. Se odiardes os outros rapazes porque nasceram mais ricos que vós sois loucos. Cada um de nós precisa de aceitar a sorte que lhe tocou no mundo e aproveitá-la o melhor possível e colaborar como os que o cercam" (BADEN-POWELL, Escutismo para Rapazes, p. 289). 2"No cumprimento dos nossos deveres para com os homens sejamos úteis e generosos e sejamos também gratos por qualquer serviço que nos prestem e procuremos mostrar que o somos" (BADEN-POWELL, Escutismo para Rapazes, p. 257) 3Ibid. 4Numa Unidade de Formação dedicada aos Princípios, Lei e Promessa, ao nível dos Cursos de Aprofundamento Pedagógico (CAP), se abordará esta questão de um modo mais aprofundado. Também para aí deixamos a noção e aprofundamento de alguns valores que a Lei do Escuta procura incutir nos jovens. 5BADEN-POWELL, Escutismo para Rapazes, p. 293. O mesmo dizia Pio XII numa recepção aos escuteiros quando resumia lapidarmente a Lei do escuta e a apresentava como forma sublime de viver o Evangelho: O Escutismo desperta no jovem e põe em acção tudo o que é naturalmente bom, nobre, sadio: simplicidade de vida, amor pela natureza e pela pátria, sentimento da honra, auto-disciplina, obediência, dedicação no serviço aos outros, espírito de fraternidade e de gentileza cavalheiresca. O Escutismo dá ao culto e ao serviço de Deus o lugar proeminente que lhes é devido na vida do homem e com isto mesmo dispõe o jovem a discernir em todo o objecto, em toda a ordem, em toda a virtude, em toda a beleza criada, o seu verdadeiro valor, o seu verdadeiro esplendor, à luz do Sol Divino