EMPRESAS AGROPECUARIAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA: ANÁLISE DOS RESULTADOS APÓS ADOÇÃO DAS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE NO BRASIL

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Transcrição:

EMPRESAS AGROPECUARIAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA: ANÁLISE DOS RESULTADOS APÓS ADOÇÃO DAS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE NO BRASIL Grupo de Pesquisa: Grupo 3.Comércio Internacional Resumo A internacionalização da economia tem feito com que empresas agropecuárias do Brasil busquem novos mercados, bem como novos investidores em outras regiões do mundo. Com a adoção às normas internacionais de contabilidade pelo Brasil, a comparação de empresas passou a ser mais fácil, permitindo a integrantes do mercado internacional poder avaliarem empresas nacionais que operam na bolsa de valores. Destaca-se dentre as alterações adotadas, a classificação do ativo biológico. A apuração dos resultados das empresas pode apresentar um indicador conservador ou não, a partir da adoção das normas internacionais. Neste estudo calculamos o índice de Gray para analisar o conservadorismo das normas Brasileiras relativamente às internacionais, usando o lucro líquido e o Patrimônio Líquido reconciliado às IAS/IFRS relatado pelas empresas do setor agropecuário com valores cotados na bolsa de valores BM&FBOVESPA, que possuem ativos biológicos registrados em seus relatórios. Esta análise mostra que o normativo brasileiro é mais conservador nos resultados, corroborando com os resultados em outros setores da economia brasileira. Este estudo é relevante para os diferentes utilizadores, tais como investidores, comerciantes internacionais, aplicadores, analistas de mercados, com o intuito de prever o nível de conformidade com as IFRS, das demonstrações financeiras do setor agropecuário permitindo melhor avaliação de empresas agropecuárias brasileiras no mercado internacional. Palavras-chaves: Agropecuária; Mercado internacional; Brasil; Contabilidade; AGRICULTURAL COMPANIES LISTED ON BM & FBOVESPA: ANALYSIS OF RESULTS AFTER ADOPTION OF INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS IN BRAZIL Abstract The internationalization of the economy has meant that agricultural companies in Brazil to seek new markets and new investors in other regions of the world. With the adoption of international accounting standards by Brazil, understanding and comparison of companies becomes easier, allowing members of the international market can assess national companies operating in the stock market. It stands out among the changes adopted, the classification of biological assets. The calculation results of the companies can present a conservative indicator or not, based on the adoption of international standards. In this study the index Gray was calculated to analyze the conservatism of Brazilian rules compared standards to International, using net income and equity reconciled to IAS / IFRS reported by companies in the agricultural sector with securities listed on the stock exchange BM & FBOVESPA, which have assets biological recorded in their reports. This analysis shows that the Brazilian normative presents more conservative results, corroborating the results in other sectors of the Brazilian economy. This study is relevant for different users, such as investors, international traders, investors, market analysts, aiming to predict the level of compliance with the IFRS financial statements for the agricultural sector, allowing a better assessment of Brazilian agribusiness companies by market internationally. Key words: Agriculture; international market; Brazil; Accounting

1. INTRODUÇÃO O processo de harmonização contábil já é uma realidade no mundo dos negócios para um elevado número de países que adotaram as normas internacionais tendo como finalidade a padronização das normas do International Accounting Standard International Financial Reporting Standards (IAS/IFRS). Este processo nem sempre foi tranquilo e adequado, pois cada país tem necessidade de proceder a adaptações nas suas normas internas com o intuito de convergir para as IAS/IFRS, procurando aumentar a qualidade da divulgação da informação financeira. A contabilidade brasileira apresentava uma forte tradição formal, que diverge dos padrões das normas internacionais onde se prioriza a substância sobre a forma. Assim, as mudanças passam a ser significativas, com alterações que devem modificar a perspectiva dos utilizadores, analistas, pesquisadores, profissionais da contabilidade e investigadores (Santos e Calixto, 2010). No Brasil, com a adoção das IAS/IFRS, o setor agrícola passa por uma alteração significativa na elaboração das suas demonstrações financeiras. De entre as principais alterações apresentadas pelo processo de convergência e harmonização brasileira para as empresas rurais, destaca-se a adoção da norma do Comitê de Pronunciamentos contábeis 29 - CPC 29, baseada na International Accounting Standard - IAS 41 Agricultura. Com a aplicação desta norma surge a necessidade de classificação do ativo biológico, (que é considerado como tal um animal e/ou uma planta, vivos) separadamente do produto agrícola e sua mensuração ao valor Justo, obrigando ao reconhecimento das alterações do Justo Valor nos resultados do período. No Brasil, poucos estudos se têm debruçado nesta área, contudo podemos destacar os estudos de Rech e Cunha (2011); Rech, Pereira, Pereira, e Cunha (2006); Lima e Pereira (2011); Gonçalves, Santos, e Szuster (2012). Sendo o Brasil um país com forte expressão agropecuária no cenário mundial, tanto na produção quanto na comercialização (OECD-FAO, 2012), a divulgação dos relatórios financeiros das empresas do setor agropecuário na bolsa de valores pode provocar dúvidas e apreensão aos investidores internacionais e nacionais, quando da mudança de um sistema contábil para outro. Esta preocupação está materializada no estudo de Gray (1988), ao considerar que o Brasil faz parte do um grupo de países onde é ressaltado o direito formalista (code Law), que tende a apresentar lucros menores diante de outros padrões, contrariamente aos países com influência anglo-americana que enfatizam o direito consuetudinário (common Law) e das normas IFRS (Niyama, 2005; Santos e Calixto, 2010). Vários estudos têm analisado o impacto da adoção das IFRS em termos do índice de Gray com o intuito de compreender os níveis de conservadorismo de umas normas relativamente às outras (Santos, Cia e Cia (2011); Liu (2011); Fifield, Finningham, Fox, Power, e Veneziani (2011); Rodriguez (2009); Gray, Linthicum, e Street (2009)). Tendo por base aqueles estudos, consideramos que identificar e analisar a forma como as empresas brasileiras agropecuárias, que possuem ativos biológicos registrados nas suas demonstrações financeiras divulgadas na bolsa de valores BM&FBOVESPA, relataram as suas Demonstrações Financeiras, com maior ou menor conservadorismo, passa a ser importante. Neste sentido, o objetivo deste estudo é analisar o conservadorismo das normas

brasileiras relativamente às IAS/IFRS, mais propriamente à CPC 29 nas empresas brasileiras agropecuárias que possuem ativos biológicos, nos resultados apresentados nas suas demonstrações financeiras, divulgadas na bolsa de valores BM&FBOVESPA, nos anos de 2008 e 2009. Para tal, irá ser utilizado o índice de Conservadorismo, desenvolvido por Gray (1980). Além desta parte introdutória, o presente estudo possui três partes. Na seguinte, apresenta-se o referencial teórico e a metodologia. Na próxima, os resultados e a análise da pesquisa. Na última, as considerações finais e as referências. 2. REFERENCIAL TEORICO Enquadramento Normativo O ativo biológico é considerado pelo CPC 29, norma correspondente ao IAS 41, como um animal ou planta, vivos. Determina também que seu reconhecimento deve ser quando e, somente quando: (a) a empresa controle o ativo como consequência de acontecimentos passados; (b) seja provável que benefícios econômicos associados ao ativo fluirão para a empresa; e (c) o justo valor ou custo do ativo possa ser fiavelmente mensurado. O presente estudo não pretende analisar a forma como foi valorado o ativo biológico, mas sim, a partir da identificação deste, determinada as empresas objeto do estudo, avaliar os impactos das alterações nas Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP). A adoção da IAS 41, nas diversas partes do mundo, provocou mudanças importantes nos registros e controles das empresas rurais ao evidenciar a necessidade de valoração dos ativos pelo valor justo, em substituição do custo histórico, tradicionalmente utilizado. Assim, a necessidade de se efetuarem estudos sobre os impactos que tais alterações podem provocar nas respectivas contabilidades nacionais têm feito com que pesquisadores despertem para o tema, apesar de ser ainda reduzido o números de estudos na área. Neste sentido, Deaconu (2011), discute as formas de controle na Romênia sobre registros e apresentação das contas, a partir das alterações introduzidas pelas IAS naquele país. Já Cairns, Massoudi, Taplin, e Tarca (2011), analisando a comparabilidade das informações em empresas da Austrália e Reino Unido, após implantação das IFRS, avaliaram também a extensão da utilização do valor justo para as empresas, inclusive sobre o impacto das IAS 41. Concluíram que no caso dos ativos biológicos, o efeito foi menor para o processo de comparabilidade. Aryanto (2011) efetua uma crítica à incapacidade da IAS 41 acomodar os diversos tipos de ativo biológico, considerando as diferenças de produção de cada país, o que pode provocar possíveis distorções na análise por parte dos utilizadores, pondo em causa o papel fundamental das IFRS de aumentar a harmonização contábil. Peng e Bewley (2010) ao analisarem as divergências das normas IRFS relativamente às normas da China, verificaram que relativamente à implementação do justo valor, existiam diferenças na forma de avaliação dos ativos biológicos. Existem outros estudos da atividade agrícola, que versam sobre o valor justo (Argilés, Garcia-Blandon, e Monllau, 2011); sobre o papel ideológico da adoção da IAS 41 na legitimação de conflitos sociais no campo (Elad, 2007).

No Brasil alguns estudos analisaram a aplicação da IAS 41. Rech et al. (2006) avaliaram a aplicação das normas na atividade de pecuária de corte; Gonçalves et al. (2012) avaliaram o nível de evidenciação do ativo biológico nas demonstrações de 10 empresas listadas na BM&FBOVESPA; já Filho, Machado, e Machado (2012) verificaram, por meio de análise de regressão, nas empresas de capital aberto que exploram o ativo biológico, se houve alterações na base de mensuração do conteúdo informacional para o mercado de capitais. Os resultados empíricos suportam que a substituição do custo histórico pelo valor justo, não se mostrou relevante para os utilizadores da informação contábil. Wanderley, Leal, e Silva (2011) efetuaram análise do conteúdo aos relatórios e contas divulgados de três grandes empresas brasileiras, que possuem ativos biológicos, enquanto Rech e Cunha (2011) estudaram a aplicação de taxas de descontos passiveis de utilização para empresas que possuem ativos biológicos, para cálculo do valor justo. Paulo, Carvalho, Sales, e Ikuno (2011), efetuaram um estudo a partir de uma análise de conteúdo das empresas de capital aberto no Brasil, que possuem ativos biológicos, tendo estudado a caracterização e extensão da adoção da IAS 41 em suas demonstrações contábeis. Visando analisar a adequação da aplicação do valor justo às empresas que possuem ativos biológicos, à luz da teoria contábil, Lima e Pereira (2011) concluíram pela adequação da aplicação do valor justo às empresas rurais, na avaliação do ativo biológico e à luz da teoria contábil, conforme determina a norma. Índice De Conservadorismo Índice de Conservadorismo de Gray ou índice de comparabilidade, (Weetman, Jones, Adams, e Gray, 1998) - doravante chamado de IC - vem sendo utilizado em diversos estudos em todo o mundo, principalmente para comparar o conservadorismo entre o Lucro Líquido- LL e Patrimônio Líquido-PL de uma mesma empresa, produzido por padrões e normas diferentes de contabilidade, numa mesma data. O IC mede a diferença entre o Lucro Líquido- LL obtido com base nas DF elaboradas de acordo com as normas nacionais e o Lucro Líquido obtido tendo por base as IAS/IFRS. No presente estudo será utilizado para o cálculo do LL a fórmula (1) e para o cálculo do PL, a fórmula (2), abaixo descritas, considerando IFRS como as normas do International Accounting Standard International Financial Reporting Standards, adotadas a partir de 2008 e as BRGAAP como os princípios contábeis aceitos no Brasil, anteriores a adoção às normas internacionais: Os resultados obtidos sobre o IC, serão interpretados da seguinte forma:

1 - Quando o indicador de conservadorismo for superior a 1, indica que o LL/PL demonstrado antes da implementação (BR GAAP) é superior ao LL/PL obtido após a adoção das IAS/IFRS, ou seja, o LL/PL é menos conservador nos padrões utilizados anteriormente, (BR GAAP) do que nos padrões internacionais; 2 - Quando o índice resultante for inferior que 1, indica que o LL/PL demonstrado antes da implementação (BR GAAP) é inferior ao LL/PL obtido após a adoção das IAS/IFRS, ou seja, o LL/PL é mais conservador nos padrões utilizados anteriormente (BR GAAP) do que nos padrões internacionais; 3 - Quando o indicador for igual a 1, indica que a empresa não apresenta nenhuma diferença entre o seu LL/PL para os padrões internacionais de contabilidade, ou seja, não se aplica o índice de conservadorismo, pois não existem divergências entre o LL/PL. Assim, estudos como o de Fifield et al. (2011) analisaram a extensão e natureza de ajustes dos normativos do IFRS para um grupo de empresas no Reino Unido, Itália e Irlanda, no ano de 2004, a partir da utilização do IC, na passagem da adoção das normas do IFRS, em substituição das GAAPs nacionais e concluíram que o impacto de implementação de IFRS no lucro em cada um dos países de amostra foi significante. Já o estudo de Liu (2011), faz uma comparação do padrão IRFS com o padrão US GAAP, de 15 empresas chinesas cotadas, no periodo de 2002 a 2006, afirmando que ainda não é completamente comparável o lucro líquido e a receita liquida para as mesmas empresas. O estudo desenvolvido por Liu (2011), amplia o estudo de Haverty (2006), também realizado na China, só que no periodo de 1996 a 2002. Outros estudos também foram desenvolvidos sobre empresas dos países europeus, com a utilização do IC, ou este em conjunto com outros indicadores, onde destacamos o de Cordazzo (2009); o de O'Connell e Sullivan (2009); o de Beckman, Brandes, e Eierle (2007); o de Damak-Ayadi (2009); Hellman (2011); Tsalavoutas e Evans (2010); Cordazzo e Multari (2009) dentre outros. Na mesma linha Gray et al. (2009) utilizaram o IC para avaliar as empresas europeias cotadas na bolsa dos Estados Unidos, que publicavam suas demonstrações financeiras no padrão da US GAAPs, através de medidas como o lucro e patrimônio líquido para analisar se as mesmas convergiam para o padrão IFRS. Os resultados sugerem que, antes da adoção em 2005 os indicadores fossem mais elevados no padrão UK GAAPs do que no US GAAPs e que os resultados não produziram a convergência esperada. Outro estudo realizado por Weetman et al. (1998), analisaram 25 empresas do Reino Unido, que reportaram na 20F da SEC, da bolsa dos Estados Unidos, no período de 1988 a 1994, identificando uma diferença importante entre o lucro divulgado com as normas UK GAAP e as US GAAP. Rodrigues, Niyama, e Oliveira (2009) avaliaram o grau de convergência entre as normas contábeis emitidas pela China e as normas internacionais IAS/IFRS, utilizando o IC, tendo concluído que as empresas, na amostra estudada, quando utilizam as normas chinesas obtinham um lucro mais conservador em relação ao resultado reconciliado com os padrões internacionais editados pelo IASB. Um estudo realizado no Brasil, por Santos et al. (2011) verificou se as diferenças entre as normas contábeis brasileira e norte-americana (US GAAP) geram impactos significativos

no resultado duplamente reportado no 20F da SEC, nas 30 maiores emissoras brasileiras de ADRs na NYSE, no período de 2001 a 2005, utilizando para a mensuração dos efeitos dessas diferenças o IC, concluindo que a contabilidade brasileira mostra-se mais otimista que os US GAAP até 2002, passando a mais conservadora a partir de 2003 até 2005. Outras pesquisas também foram realizadas no Brasil, com a utilização do IC, como a de Lemes e Carvalho (2009); Santos e Calixto (2010); Grecco, Geron, e Formigoni (2009), tendo concluído, de uma forma geral, que no Brasil as normas brasileiras são mais conservadoras, quando comparadas com outras normas, seja US GAAPs ou IFRS. 3. METODOLOGIA Para a realização da pesquisa, partiu-se da base de dados das empresas que possuem informações sobre as demonstrações financeiras padronizadas DFP na BM&FBOVESPA, no total de 698 empresas. A BM&FBOVESPA é a principal instituição brasileira de intermediação para operações do mercado de capitais sendo a única bolsa de valores, mercadorias e futuros em operação no Brasil. Estas, são organizadas e apresentadas numa listagem geral, dividindo-se em Setor econômico, subsetor e segmento. Identificamos inicialmente os segmentos que poderiam apresentar empresas que possuíssem nas suas notas explicativas informações sobre ativo biológico, conforme figura 1: SETOR ECONÔMICO SUBSETOR SEGMENTO Petróleo, Gás e Biocombustíveis Petróleo, Gás e Biocombustíveis Exploração e/ou Refino Materiais Básicos Madeira e Papel madeira Papel e Celulose Consumo não Cíclico Agropecuária Alimentos Processados Agricultura Açucar e Alcool Café Grãos e Derivados Laticínios Alimentos Diversos Bebidas Cervejas e Refrigerantes Fumo Cigarros e Fumo Comércio e Distribuição Alimentos Consumo Cíclico Tecidos, Vestuário e Calçados Fios e Tecidos Fonte: elaborado pelo autor, a partir da BM&FBOVESPA FIGURA 1 - segmentos BM&FBOVESPA Além da procura nestes segmentos, foi também realizada uma pesquisa pelo nome de empresas que tivessem a possibilidade de apresentar nas suas demonstrações financeiras valores na rubrica de ativos biológicos. Foi identificada uma empresa fora da lista apresentada na tabela 1 que possui ativos biológicos registrado nas notas explicativas, perfazendo o total de 75 empresas. Foram excluídas da amostra inicial 52 empresas, pelos seguintes motivos: i) 46 por não divulgaram nada sobre ativos biológicos; ii) uma que, por decisão da administração, não mensurou o ativo biológico por considerar que somente após a maturação (10 dias antes da colheita) seria possível valoriza-lo; iii) duas por serem controladas por outras empresas que fazem parte da amostra; iv) duas por terem sido constituídas após a adoção das normas, e v) uma por não divulgar as DFP nos dois anos, nas duas normas. Assim, foram identificados 23 empresas no total, dentre todos os segmentos que apresentaram informações sobre ativo biológico nas suas notas explicativas e nas DFP. A pesquisa foi realizada no período de 25 a 30 de outubro de 2012. Considerando que a obrigatoriedade da adoção das IFRS no Brasil para as todas as empresas cotadas foi a partir do ano de 2010, mas como as DFP são apresentadas anualmente pelas empresas com valores cotados na BM&FBOVESPA, sempre com os três últimos anos

Ordem para efeitos de comparativos, as empresas ao apresentarem as suas DFP no ano de 2010 já apresentaram na nova estrutura, obedecendo aos padrões internacionais, divulgando também as DFP para os anos de 2009 e 2008 de acordo com as normas internacionais. Assim, foi possível identificar as DFP dos anos de 2009 e 2008, tanto na nova estrutura como na anterior, publicadas a partir dos BR GAAPs. No entanto, para o ano de 2008, 10 empresas não divulgaram o valor do lucro líquido e uma não apresentou o valor do PL, com base nas IFRS, apesar de terem apresentado os respectivos valores no normativo BR GAAPs. No ano de 2009 foram divulgados para todas as empresas da amostra pesquisada informações com base nas duas normas. Em função disso, a nossa análise será realizada considerando o lucro líquido divulgado no ano de 2009 e o patrimônio líquido dos anos 2008 e 2009, totalizando 23 empresas. Sempre que necessário consultar alguma informação das DFP divulgadas, socorremos-nos das notas explicativas para esclarecimento de qualquer dúvida. 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Após realizados os cálculos do IC, foi construído o quadro 1 abaixo, onde consta os valores do IC para o ano de 2009 relativo ao lucro líquido e para os anos de 2008 e 2009 para o cálculo do Patrimônio Líquido, bem como a lista de empresas consultadas. ÍNDICE DE EMPRESAS CONSERVADORISMO PL LL 2008 2009 2009 1 BRASILAGRO 1,00 1,03 2,05 BRF BRASIL 2 FOODS 1,05 1,01 0,81 3 BUETTNER -1,58 0,25-0,05 4 CELULOSE IRANI 0,12 0,20 2,01 5 COSAN LTD 0,68 0,55 0,53 6 DURATEX 0,90 0,75 0,54 7 ENCORPAR 0,57 0,57 2,18 8 EUCATEX 0,83 0,89 1,07 9 FIBRIA 0,67 0,66 0,20 10 JSB 0,88 0,87 0,59 11 KARSTEN 0,58 0,62 1,03 12 KLABIN 0,48 0,51 1,94 13 MARFRIG 1,22 1,11 1,27 14 MELHOR 1,00 1,00 0,99 15 MINERVA 1,03 1,00 2,87 16 MINUPAR 1,04-5,89 0,59 RASIP AGRO 17 PASTORIL 0,86 0,88 1,59 18 RENAR 1,00 1,00 1,00 19 SÃO MARTINHO 0,99 0,88 1,10 20 SLC GRICOLA 0,42 0,45 3,10 21 SUZANO 0,52 0,56 0,90 VANGUARDA AGRO 1,00 1,08-0,54 22 23 WEMBLEY 0,96 0,96 1,04 Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 1 cálculo do índice de Conservadorismo

Ao analisar os IC entre mais conservadores e menos conservadores, dentre os anos estudados e a partir do LL e do PL, percebemos algumas particularidades nestas empresas. No tocante ao lucro líquido avaliado pelo índice em 2009, As empresas 1, 4, 7, 15 e 20 apresentaram IC elevado, superior a 2, demonstrando um lucro líquido superior (ou um prejuízo menor) nas normas brasileiras do que quando adotado o padrão IFRS. De forma contrária, as empresas 3, 9 e 22 tiveram o IC inferior a 0,5, o que demonstra que o lucro com base IFRS ficou superior ao lucro apresentado pelas normas brasileiras. A tabela 1 a seguir mostra um resumo do resultado para o LL do ano de 2009: Tabela 1 IC Lucro líquido 2009 Contas Classificadas - Índice de Gray TOTAL - LL - 2009 quantd. % I. <0,50 3,00 13,04 II. >=0,50 - <0,74 4,00 17,39 III. >=0,75 - <0,94 2,00 8,70 PESSIMISTA (<0,95) 9,00 39,13 IV. >=0,95 - <0,99 1,00 4,35 V. 1 1,00 4,35 VI. >=1,01 - <1,05 3,00 13,04 NEUTRO (0,95-1,05) 5,00 21,74 VII. >=1,06 - <1,25 1,00 4,35 VIII. >=1,26 - <1,50 1,00 4,35 IX. >=1,50 7,00 30,43 OTIMISTA (>1,05) 9,00 39,13 Total 23,00 100 Fonte: elaborado pelo autor Percebe-se que no tocante ao lucro líquido do ano de 2009 houve uma divisão igual entre empresas que apresentaram um IC otimista e pessimista, sugerindo que ainda existem divergências entre as empresas brasileiras cotadas que possuem ativo biológico quando a utilização do padrão IFRS, naqueles elementos contábeis que interferem nos resultados das empresas. Quando se analisa o resultado do IC relativo ao PL, nos anos de 2008 e 2009, destacamse as empresas 3, 4 e 20, que apresentaram um IC inferior a 0,5, tanto no ano de 2008 quanto no ano de 2009, demonstraram que o PL foi mais conservador nas normas brasileiras do que no padrão IFRS. Um destaque deve ser feito a empresa 16, pois apresentou um IC elevado de -5,89, caracterizado principalmente pela resultado da equivalência patrimonial negativa naquele ano de 2009. Abaixo, na tabela 2, observa-se um resumo dos IC calculados para o grupo de empresas, nos anos analisados.

Tabela 2 IC PL 2009-2008 Contas Classificadas - Índice de Gray TOTAL - Patrimônio Líquido 2009 2008 quantd. % quantd. % I. <0,50 4,00 17,39 4,00 17,39 II. >=0,50 - <0,74 6,00 26,09 5,00 21,74 III. >=0,75 - <0,94 4,00 17,39 4,00 17,39 PESSIMISTA (<0,95) 14,00 60,87 13,00 56,52 IV. >=0,95 - <0,99 2,00 8,70 2,00 8,70 V. 1 3,00 13,04 4,00 17,39 VI. >=1,01 - <1,05 3,00 13,04 3,00 13,04 NEUTRO (0,95-1,05) 8,00 34,78 9,00 39,13 VII. >=1,06 - <1,25 1,00 4,35 1,00 4,35 VIII. >=1,26 - <1,50 0,00 0,00 0,00 0,00 IX. >=1,50 0,00 0,00 0,00 0,00 OTIMISTA (>1,05) 1,00 4,35 1,00 4,35 TOTAL 23,00 100 23,00 100 Fonte: elaborado pelo autor Quanto a análise do PL das empresas, nos dois anos estudados, mostra-se uma tendência pessimista, ou seja, mais da metade das empresas apresentaram um valor de PL menor nas normas brasileiras do que no padrão IFRS, tanto no ano de 2009 quanto no ano de 2008. (60,87% e 56,52% respectivamente). Tais resultados diferem dos encontrados por pesquisas como a de Lemes e Carvalho (2009) e de (Lemes, Carvalho, e Oliveira-Lopes, 2007), que identificaram mais de 50% das empresas objeto de pesquisa com resultados superiores nas normas brasileiras em comparação às US GAAPS. No entanto, confirmam a previsão de Gray (1988) sobre o conservadorismo da contabilidade brasileira tradicional, conservadorismo também identificado em outros trabalhos sobre o Brasil. (Santos, Cia, e Cia (2007); Santos (2011)). Buscou-se também realizar cálculos estatísticos para avaliar os resultados. Em função do tipo de dados, a quantidade disponível e de sua apresentação de não normalidade, foi realizado cálculos não paramétricos - o teste dos postos sinalizados de Wilcoxon de Amostras Relacionadas, tanto para o ano de 2008, quanto para o ano de 2009, sobre os valores do PL e para o LL de 2009. Os valores são apresentados abaixo, na tabela 3:

Tabela 3 Estatísticas PL e LL Empresas Selecionadas PL-Patrimônio LL-Lucro Liquido Painel A - estatísticas Gerais Liquido IC-2008 IC-2009 IC-2009 Nº observações 23 23 23 Mínimo -1,577-5,893-0,537 1º quartil 0,577 0,555 0,588 Mediana 0,877 0,874 1,027 3º quartil 1,000 0,998 1,762 Máximo 1,217 1,105 3,104 Amplitude (3ºQ - 1ºQ) 0,423 0,443 1,174 Painel B - Teste de Mediana estátistica z (teste de Wilcoxon) 2,728 2,8890 0,763 p-value (teste de Wilcoxon) 0,006 0,004 0,445 Elaborado pelo Autor Assim, rejeita-se a hipótese de igualdade das medianas no PL, tanto para o ano de 2008, quanto para o ano de 2009. No tocante ao LL de 2009, encontrou-se um valor diferente, não rejeitado a hipótese de igualdade das medianas. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo pretende ter contribuído para a análise das consequências da implantação das IFRS nas empresas cotadas do setor agropecuário brasileiro na BM&FBOVESPA, notadamente as empresas possuidoras de ativos biológicos. Com base no Índice de Comparabilidade/Índice de Gray-IC, (Gray, 1980), foram analisadas 23 empresas, além de terem sido realizados testes não paramétricos, de mediana, de Wilcoxon. Este estudo também demonstrou o número reduzido de empresas agropecuárias que são cotadas em bolsa de valores no Brasil. Isso pode ser no futuro um fator limitante aos investimentos externos necessários a alavancagem financeira de recursos que o setor necessita, dada a importância do setor para o Brasil e para o mundo. O estudo também confirmou que as empresas do setor apresentam um padrão conservador nos resultados, corroborando com os resultados em outros setores da economia brasileira, conforme estudos já citados. Em relação ao estudo do Lucro Líquido-LL, no ano de 2009, os resultados para as 23 empresas analisadas demonstraram um comportamento dividido, onde 5 empresas tiveram seus resultados classificados com neutros, mas 9 tiveram resultados classificados tanto quanto pessimistas quanto otimistas, divergindo de estudos anteriores sobre o conservadorismo brasileiro (Gray, (1980); Santos, Cia e Cia (2007); Santos (2011)). O teste de Wilcoxon para o LL no ano de 2009 confirma-se a hipótese da igualdade das medianas. Já em relação ao PL, nos anos analisados, percebe-se nitidamente que o conservadorismo dos resultados, onde nos dois anos, o resultado pessimista foi superior em mais de 50% dos casos estudados, com o IC inferior a 0,95. Os testes não paramétricos demonstram para os dois anos a rejeição da hipótese de igualdade das medianas.

Apesar de se ter consultado 100% das empresas cotadas que possuem ativos biológicos divulgados em seus relatórios, nos anos analisados, deve ser visto com reserva a extensão deste resultado para o conjunto das empresas agropecuárias brasileiras, em decorrência do número reduzido de empresas cotadas, apenas 23 e o elevado número de empresas do setor não cotadas. Outro fator limitante ao presente estudo foi a impossibilidade de realizar testes paramétricos, que poderiam contribuir para uma maior robustez dos resultados. Pesquisas posteriores devem ser realizadas para comparar o conservadorismo tanto de empresas cotadas como em empresas não cotadas neste setor, além de ampliar a base de estudo, permitindo estudos mais complexos e aprofundados. 6. REFERENCIAS ARGILÉS, J. M., GARCIA-BLANDON, J., E MONLLAU, T. (2011). Fair Value versus Historical Cost-Based Valuation for Biological Assets: Predictability of Financial Information. Revista de Contabilidad, 14(2), 87-113. ARYANTO, Y. H. (2011). Theoretical Failure of IAS 41. Rochester, Rochester: Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1808413. Acesso em 11.06.2012. BECKMAN, J., BRANDES, C., E EIERLE, B. (2007). German Reporting Practices: An Analysis of Reconciliations from German Commercial Code to IFRS or US GAAP. Advances in International Accounting, 20(0), 253-294. doi: 10.1016/s0897-3660(07)20009-1 CAIRNS, D., MASSOUDI, D., TAPLIN, R., E TARCA, A. (2011). IFRS fair value measurement and accounting policy choice in the United Kingdom and Australia. The British Accounting Review, 43(1), 1-21. CORDAZZO, M. (2009). The Impact of IFRS on Accounting Practices: Evidence from Italian Listed Companies (pp. n/a). Rochester, Rochester. http://search.proquest.com/docview/189864187?accountid=26357. acesso em 10.06.2012. CORDAZZO, M., AND MULTARI, N. (2009). Implications of IFRS Transition for Firms' Accounting Figures: Italy vs. Germany (pp. n/a). Rochester, Rochester. http://search.proquest.com/docview/189857441?accountid=26357. acesso em 12.05.2012. DAMAK-AYADI, S. (2009). De l'efficacité des mesures de convergence pour préparer le passage aux IAS/IFRS en France. La Revue des Sciences de Gestion : Direction et Gestion, 44(236), 73-84,11. DEACONU, S.-C. (2011). Consideratii privind utilizarea contului 711 "Venituri aferente costurilor stocurilor de produse" în domeniul contabilitatii activelor biologice. Audit Financiar, 9(8), 43-48. ELAD, C. (2007). Fair value accounting and fair trade: an analysis of the role of International Accounting Standard No. 41 in social conflict. Socio - Economic Review, 5(4), 755-777. doi: 10.1093/ser/mwm013

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