TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Agravo de instrumento nº. 0023004-18.2010.8.19.0000 Agravante: ESPÓO DE ARMANDO DIAS TUCCI REP/S/INV MARIA NAZARÉ DANTAS DE MOURA Agravado: LEONARDO SOARES DOS SANTOS Relator: Des. EDSON VASCONCELOS DECISÃO DO RELATOR MEDIDA CAUTELAR DECISÃO DETERMINANDO A RESERVA DE QUINHÃO HEREDITÁRIO RAZÕES RECURSAIS IMPOSSIBIDADE JURÍDICA DO PEDIDO TEORIA DA ASSERÇÃO - A questão posta em exame consiste no pleito de extinção da cautelar, com consequente revogação da liminar deferida. Para tanto, o agravante alega com impossibilidade jurídica do pedido por não ter sido reconhecido ao agravado a filiação do de cujus, além de ter outro pai, cujo reconhecimento decorreu dos efeitos da revelia em outro processo. As condições da ação, dentre as quais se insere a possibilidade jurídica do pedido, são verificadas em abstrato, aferidas consoante os fatos narrados na inicial. No caso dos autos, na análise da possibilidade jurídica do pedido não cabe averiguar se o agravado é realmente filho do de cujus. A simples existência de ação de investigação de paternidade proposta pelo agravado é hábil a lhe conferir decisão favorável nos termos em 1
que a cautelar foi proposta. O agravado tem pai registral, no entanto, este integra o polo passivo da ação de investigação de paternidade. Embora revel naquele processo, não pode o juízo da cautelar ultrapassar sua medida de jurisdição, extinguindo o processo por concluir acerca da paternidade que é controversa em outro juízo. Jurisprudência do STJ. Negado seguimento ao recurso. 2
RELATÓRIO Volta-se o presente agravo de instrumento contra decisão do Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca da Capital Fórum Regional da Ilha do Governador, que, nos autos da ação cautelar incidental, rejeitou a preliminar aduzida pelos réus, ora agravantes, por considerar que a revelia na ação de investigação de paternidade não induz os efeitos do artigo 319 do Código de Processo Civil, por se tratar de direito indisponível. Dispôs, também, que a ação cautelar tem como objeto tão somente a proteção do direito do autor ao recebimento de quinhão hereditário na sucessão dos bens pelo falecimento de Armando Dias Tucci, direito este amparado pela decisão de fls. 118/120 (fls. 53). Alega o agravante com erro na decisão que rejeitou a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido e da ação, pois o suposto herdeiro é ilegítimo em razão de não ter sido reconhecido e por ter outro pai, cujo reconhecimento decorreu dos efeitos da revelia em outro processo. Afirma que o juízo monocrático não teria analisado a questão quando do deferimento da decisão liminar nos autos da medida cautelar, apesar de ser matéria de ordem pública. No mais, transcreve na íntegra a referida decisão, bem como a peça de bloqueio apresentada nos autos daquela ação. Requer seja revogado o cumprimento da decisão agravada, na forma da liminar de antecipação de tutela, com a extinção da cautelar inominada em razão da sua impossibilidade jurídica (fls. 02/15). Recurso tempestivo e devidamente preparado. É o relatório. 3
EXAMINADOS, DECIDO: Cumpre na partida delimitar o pleito do agravante no presente recurso, pois o recorrente chega a reescrever em suas razões todos os argumentos expendidos em sede de contestação, o que poderia causar certa confusão na demarcação das questões devolvidas a este órgão. Para tanto, observemos o seu pedido de fls. 15, verbis: Requerendo a esta Egrégia Câmara e Turma, através do Exmo. Des. Relator, que atribua efeito suspensivo a decisão atacada e comunique a decisão o juízo a quo, até inteiro provimento deste agravo (art. 558- CPC); revogando, portanto, o cumprimento da decisão agravada na forma da liminar de antecipação de tutela argüida preliminarmente, confirmando-a em definitivo com a extinção total da ação cautelar inominada que incide no processo de inventário, pela sua impossibilidade jurídica; condenando, por fim, o Agravado no pagamento das custas e honorários advocatícios a base de 20% sobre o valor da causa. (sic)(grifo) Neste diapasão depreende-se que a questão posta em exame consiste no pleito de extinção da cautelar, com consequente revogação da liminar deferida. Para tanto, o agravante alega com impossibilidade jurídica do pedido por não ter sido reconhecido ao agravado a filiação do de cujus, além de ter outro pai, cujo reconhecimento decorreu dos efeitos da revelia. 4
As condições da ação, dentre as quais se insere a possibilidade jurídica do pedido, são verificadas em abstrato, aferidas consoante os fatos narrados na inicial, não podendo o magistrado adentrar com profundidade em sua análise, sob pena de exercer juízo meritório. Neste sentido, sua análise é restrita ao momento da prolação do juízo de admissibilidade inicial do procedimento. Com efeito, não se trata de analisar se o alegado pelo autor corresponde à realidade, mas verificar o preenchimento da condição a partir de suas afirmações. Assim, no caso dos autos, na análise da possibilidade jurídica do pedido não cabe averiguar se o agravado é realmente filho do de cujus, cuja reserva do quinhão hereditário é pleiteada. A simples existência de ação de investigação de paternidade proposta pelo agravado é hábil a lhe conferir decisão favorável nos termos em que a cautelar foi proposta. Conforme informado pelo próprio agravante, de fato, o agravado tem pai registral, no entanto, este integra o polo passivo da ação de investigação de paternidade. Embora revel naquele processo, não pode o juízo da cautelar ultrapassar sua medida de jurisdição, extinguindo o processo por concluir acerca da paternidade que é controversa em outro juízo. Ademais, certo é que o Superior Tribunal de Justiça pronunciou-se no sentido do cabimento do manejo da cautelar para reserva de quinhão daquele que tem a filiação discutida em juízo. Confira-se, pois: 5
Processo civil. Sucessões. Inventário. Ação de nulidade parcial de assento de nascimento cumulada com investigação de paternidade e petição de herança. Reserva de quinhão. Medida Cautelar. Requisitos. Possibilidade. - A reserva de quinhão é medida cautelar e, portanto, sujeita aos requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. - O fumus boni iuris se verifica presente na propositura da ação de nulidade parcial de assento de nascimento cumulada com investigação de paternidade. - O periculum in mora está caracterizado no pedido de reserva de bens, porquanto a posterior procedência do pedido de investigação de paternidade gerará o desfazimento da partilha com risco de não ser possível repor o monte partível no estado anterior. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 628.724/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/05/2005, DJ 30/05/2005 p. 370) Assim, irretocável a decisão proferida pelo juízo singular. À conta de tais fundamentos, nego seguimento ao recurso manifestamente improcedente, na forma do artigo 557 do CPC. Intimem-se Rio de Janeiro, 26 de maio de 2010. Des. Edson Vasconcelos Relator 6 Certificado por DES. EDSON VASCONCELOS A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br. Data: 31/05/2010 12:32:59Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0023004-18.2010.8.19.0000 - Tot. Pag.: 6