PROCESSO N.º 0016864-81.20103.5.16.0004 RECLAMANTE: SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS NO ESTADO DO MARANHÃO RECLAMADA: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL I. RELATÓRIO. SENTENÇA SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS NO ESTADO DO MARANHÃO assistida por advogado regularmente constituído nos autos ajuizou ação trabalhista em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, conforme fundamentos fáticos e jurídicos narrados na inicial. Deu à causa o valor de R$28.000,00. Regularmente notificada, a reclamada compareceu à audiência inaugural e apresentou defesa com documentos. Dispensados os depoimentos pessoais. Sem outras provas, foi encerrada a instrução. Razões finais orais remissivas. Sem êxito as propostas conciliatórias. É o relatório. II. FUNDAMENTAÇÃO. PRELIMINARMENTE. ILEGITIMIDADE ATIVA. Nesta preliminar, alega a CEF falta de interesse e legitimidade ao Sindicato para funcionar http://pje.trt16.jus.br/primeirograu/visualizadocumento/publico/documentosemloginhtml.seam?idbin=8621fc7090b80d140c5b5114b1e5c9d0&idprocess 1/6
na defesa dos substituídos, uma vez que o direito pleiteado não se configura como sendo individual ou coletivo da categoria, a teor do que dispõe o art. 8º, inciso III, da Constituição Federal. Com efeito, é constitucional a autorização para que os sindicatos atuem na defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da respectiva categoria profissional, o cancelamento da Súmula 310, do rol interpretativo do Tribunal Superior do Trabalho, que consagrava a tese de que o dispositivo constitucional não seria auto-aplicável, dependendo de legislação definindo as hipóteses em que o sindicato poderia agir em nome próprio para defender direitos dos trabalhadores, quebrou uma barreira interpretativa, e fez prevalecer o entendimento de que o legislador constitucional consagra amplamente a substituição processual. Em nível infraconstitucional, a Lei 8.073/90 em nada restringiu a atuação das entidades sindicais. Apenas assegurou-lhes que poderão atuar como substitutos processuais dos integrantes da categoria (art. 3º). Ressalte-se, sem qualquer restrição. Nesse diapasão não vislumbro ilegitimidade ativa a ser declarada, até porque resta comprovado nos autos que os substituídos se encontram regularmente filiados à sua entidade sindical. Ressalto que os efeitos de uma eventual condenação abrangerá a totalidade dos substituídos relacionados na petição inicial. Rejeito, portanto, a preliminar. PREJUDICIAL DE MÉRITO. PRESCRIÇÃO. Aplicável ao caso a Súmula 294, do C. TST, eis que o pedido se funda em alteração contratual (jornada de trabalho) cujo direito é também previsto em lei (art. 224, da CLT relativo à jornada de 06 horas), não havendo, portanto, prescrição total a se declarar. Contudo, é acolhida a arguição de prescrição quinquenal (art. 7º, inciso XXIX, da CRFB/88), sendo DECLARADA prescrita a pretensão correspondente às verbas atinentes a lesões de direito anteriores a 05.09.2008, exceto quanto ao FGTS, cuja prescrição é trintenária (Súmula 362, do TST). MÉRITO PROPRIAMENTE DITO. http://pje.trt16.jus.br/primeirograu/visualizadocumento/publico/documentosemloginhtml.seam?idbin=8621fc7090b80d140c5b5114b1e5c9d0&idprocess 2/6
O Sindicato autor ajuizou a presente ação trabalhista argumentando que os substituídos foram inicialmente contratados como escriturários, mas atualmente foram obrigados a optarem por exercer a função de Tesoureiro Executivo, com jornada diária de oito horas, mas que deveria ser seis horas, já que a função exercida é técnica e não de confiança. Requer que seja anulada a opção dos substituídos pelo regime de 8 horas, com o pagamento das 7ª e 8ª horas trabalhadas a título de horas extras, em parcelas vencidas e vincendas, com divisor de 150 e reflexos. Por sua vez, a reclamada alega que existem normativos internos que a autorizam ao exercício do jus variandi, legalmente consagrado no artigo 468, da CLT, que reuniu na figura do Tesoureiro Executivo as prerrogativas que justificam o seu enquadramento na exceção do artigo 224, da CLT, isto é, atividade com jornada de 8 horas, eis que se trata de função de confiança. Por fim, alega a reclamada que a opção pelo cargo comissionado foi feita de forma consentida e voluntária, e que não houve alteração contratual lesiva e, portanto, se enquadrariam no art. 224, parágrafo 2º, da CLT. Aprecio. A controvérsia reside em saber se a função exercida pelos substituídos caracteriza-se como função de confiança, conforme designam os normativos internos da reclamada, bem como se houve alteração contratual lesiva. A reclamada não demonstra, satisfatoriamente, que as funções desenvolvidas pelos substituídos como tesoureiro executivo ou "tesoureiro de retaguarda" detinham a mesma natureza das anteriormente exercidas como "caixa executivo" ou escriturário, essas últimas eminentemente técnicas. Insta observar que a mera atribuição da qualidade de confiança ao cargo em documento interno do banco não basta para inserir o bancário na exceção do parágrafo 2º, do artigo 224 da CLT, princípio de primazia da realidade, mesmo que receba gratificação de função superior a um terço do seu salário efetivo. Entendo que é necessário que o empregado detenha fidúcia especial que não se revela no caso. Ademais, a reclamada disse em sede de defesa: Os Cargos em Comissão foram introduzidos na CAIXA com a criação em 15/09/1998 http://pje.trt16.jus.br/primeirograu/visualizadocumento/publico/documentosemloginhtml.seam?idbin=8621fc7090b80d140c5b5114b1e5c9d0&idprocess 3/6
do PCC PLANO DE CARGOS EM COMISSÃO, através da aprovação por RESOLUÇÃO DE DIRETORIA (ATA 1392/1998), consubstanciada no VOTO CAIXA/GEARU 598/98, de mesma data. Através da CI GEARU 055/98, de 28/09/1998 (Visualize aqui), a CAIXA divulgou internamente o PCC e já especificava que dentre os Cargos em Comissão criados haveria aqueles com OPÇÃO PELA JORNADA DE 8 HORAS DIÁRIAS. A CAIXA teve a oportunidade de reforçar a todos os empregados que exerciam tais Cargos em Comissão com jornada diária de 8 horas que aqueles que desejassem poderiam fazer administrativamente a reopção pelo mesmo Cargo em Comissão com jornada de 6 horas, conforme CI SUPES/GEPES 034/05, de 03/10/2005. Grifei. Se o próprio PCC da Caixa Econômica estabelece duas jornadas para os mesmos cargos de tesoureiro executivo e "tesoureiro de retaguarda", com opção de jornada contratual de seis ou oito horas, não existe dúvidas quando à impossibilidade de enquadramento da função como de confiança bancária. Portanto, declaro nula a opção pelo cumprimento de jornada de 8(oito) horas, porque lesiva aos empregados/substituídos, em face da imutabilidade contratual prevista nos artigos 9ª, 444 e 468, todos da CLT e Súmula 51, do TST. Com efeito, constatado que os substituídos sempre desenvolveram atividades próprias dos bancários enquadrados nos preceitos do caput do artigo 224, da CLT, mesmo depois de implantado o novo PCC, estão inseridos na jornada normal de seis horas, defiro os seguintes pedidos autorais: A) Obrigação de fazer que consiste em reduzir a jornada de trabalho de todos os substituídos para 6(seis) horas diárias, perfazendo um total de 30 (trinta) horas semanais, conforme determina o art. 224, caput, da CLT; B) Pagamento de 2 (duas) horas extras diárias, assim considerada as sétima e oitava horas laboradas (calculadas com base no divisor 150), acrescidas do adicional de 50% (cinquenta por cento), a partir das admissões dos substituídos, até a efetiva mudança da jornada de trabalho dos mesmos para 6 horas por dia; http://pje.trt16.jus.br/primeirograu/visualizadocumento/publico/documentosemloginhtml.seam?idbin=8621fc7090b80d140c5b5114b1e5c9d0&idprocess 4/6
C) Incidência das horas extras sobre férias, 13º salários, adicionais legais ou contratuais, descanso semanal remunerado, FGTS, contribuições para Caixa de Previdência Privada FUNCEF e demais verbas que compõem a remuneração. Defiro, ainda, o pedido de honorários advocatícios em favor do sindicato, no percentual de 10% do valor da condenação, pois preenchidos os requisitos legais e o arbitramento foi feito tendo em conta a complexidade da causa. Atendidos os requisitos legais, defiro o pedido de Justiça Gratuita ao autor. III. DISPOSITIVO. ANTE O EXPOSTO, nos termos da fundamentação, a qual passa a fazer parte do presente dispositivo, na reclamação trabalhista ajuizada pelo SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS NO ESTADO DO MARANHÃO, reclamante, em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, reclamada, decido rejeitar a preliminar de ilegitimidade ativa, não acolher a prejudicial de mérito de prescrição total (Súmula 294, do TST), mas acolher a prejudicial de prescrição quinquenal (art. 7º, inciso XXIX, da CRFB/88) e declaro prescrita a pretensão correspondente às verbas atinentes a lesões de direito anteriores a 05.09.2008, exceto quanto ao FGTS, cuja prescrição é trintenária (Súmula 362, do TST) e, no mérito, julgar PROCEDENTE EM PARTE os pedidos formulados pelo autor para condenar a reclamada nas seguintes obrigações: A) Obrigação de fazer que consiste em reduzir a jornada de trabalho de todos os substituídos para 6(seis) horas diárias, perfazendo um total de 30 (trinta) horas semanais, conforme determina o art. 224, caput, da CLT; B) Pagamento de 2 (duas) horas extras diárias, assim considerada as sétima e oitava horas laboradas (calculadas com base no divisor 150), acrescidas do adicional de 50% (cinquenta por cento), a partir das admissões dos substituídos, até a efetiva mudança da jornada de trabalho dos mesmos para 6 horas por dia. C) Pagamento de incidência das horas extras sobre férias, 13º salários, adicionais legais ou contratuais, descanso semanal remunerado, FGTS, contribuições para Caixa de Previdência Privada http://pje.trt16.jus.br/primeirograu/visualizadocumento/publico/documentosemloginhtml.seam?idbin=8621fc7090b80d140c5b5114b1e5c9d0&idprocess 5/6
FUNCEF e demais verbas que compõem a remuneração. D) Pagamento de honorários advocatícios em favor do sindicato, no percentual de 10% (dez por cento) do valor da condenação. Custas processuais, pela reclamada, no valor de R$560,00, calculadas sobre o valor provisoriamente arbitrado à condenação de R$28.000,00. Liquidação por simples cálculos, devendo a reclamada fornecer a evolução salarial dos substituídos no prazo de dez dias após notificação cartorial, sob pena de arbitramento. Recolhimento das importâncias devidas à Seguridade Social incidentes sobre as parcelas tributáveis deferidas neste decisum, por cada uma das partes, nos termos da legislação previdenciária, observando-se o disposto na Lei 8.212/91 e Súmula 368 do TST, sob pena de execução. Incidência de correção monetária e juros de 1% ao mês a contar do ajuizamento da ação, a serem calculados após o trânsito em julgado desta decisão. Intimem-se as partes. Nada mais. São Luís, 02 de abril 2014. ÂNGELA CRISTINA CARVALHO MOTA LUNA Juíza do Trabalho imprimir http://pje.trt16.jus.br/primeirograu/visualizadocumento/publico/documentosemloginhtml.seam?idbin=8621fc7090b80d140c5b5114b1e5c9d0&idprocess 6/6