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Transcrição:

Perfil: Um Tapete de Grama 1 Élmano Ricarte de Azevêdo SOUZA 2 Itamar de Morais NOBRE 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN RESUMO Perfila-se, do ponto de vista jornalístico, aspectos da vida de dona Edilza Anita de Aquiar, moradora da comunidade Gameleira de Baixo, no município de São Tomé, no estado do Rio Grande do Norte (Nordeste brasileiro). Intitulado Um tapete de grama, a reportagemperfil utiliza como método para o discurso jornalístico a entrevista e a descrição dos aspectos que rondam o repórter e entrevistado, preconizados no Novo Jornalismo. A partir da construção de uma imagem simbólica da personagem, aborda-se a vida no campo e seus ensinamentos para o homem urbano. PALAVRAS-CHAVE: perfil; jornalismo; entrevista; COMTRILHAS. 1 INTRODUÇÃO Pretende-se apresentar o processo de realização do perfil Um Tapete de Grama 4, protagonizado pela personagem dona Edilza Anita de Aquiar, moradora da comunidade Gameleira de Baixo, no município de São Tomé, no estado do Rio Grande do Norte (Nordeste brasileiro). Com seu jeito humilde, dona Edilza debate com seu entrevistador sobre a vida no campo e os aspectos de sua vida sustentada pelo seu trabalho de agricultura familiar. 1 Trabalho submetido ao XIX Prêmio Expocom 2012, na Categoria Jornalismo, modalidade Produção em Jornalismo Interpretativo. 2 Jornalista recém-formado (2011-2012) no Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, do Departamento de Comunicação Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, email: ricarteazevedo@gmail.com. 3 Orientador do trabalho. Professor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia (PPgEM), da UFRN. Jornalista. Fotojornalista. Especialista em Antropologia. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN. Pesquisador do Grupo de Pesquisa PRAGMA - Pragmática da Comunicação e da Mídia: teorias, linguagens, indústria cultural e cidadania. Integrante do Grupo de Estudos BOA-VENTURA - CCHLA/UFRN, em convênio com a Universidade de Coimbra-Portugal. Membro do Núcleo de Pesquisa: Fotografia, da INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Membro da REDE FOLKCOM Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação, e-mail: itanobre@gmail.com.. 4 Disponível no endereço: http://www.fotec.ufrn.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1467:sao-tome-umtapete-de-grama&catid=20:trilhas-potiguares-edicao-2011&itemid=52 1

A partir do detalhar dos aspectos naturais do ambiente em que se desenvolve a entrevista e com o auxílio da descrição do modo de falar da personagem, busca-se traçar um retrato simbólico de dona Edilza. Um Tapete de Grama foi produzido inicialmente como reportagem do Projeto de Extensão Universitária Comunicação Social no Programa Trilhas Potiguares COMTRILHAS 5, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no Programa Trilhas Potiguares PTP 6. No COMTRILHAS, são realizadas reportagens para o Portal da Agência FOTEC 7 - Fotojornalismo Experimental. 2 OBJETIVO O perfil apresentado neste trabalho foi construído na versão do COMTRILHAS no ano de 2011, cujo objetivo é perfilar jornalisticamente o cotidiano de uma senhora habitante de uma zona rural de uma cidade no interior potiguar. A partir da entrevista a dona Edilza Anita, busca-se traçar ainda um perfil de um estilo de vida sob a técnica do gênero perfil jornalístico. 3 JUSTIFICATIVA Optou-se por pelo uso do gênero perfil-jornalístico, a fim de estabelecer uma conexão mais próxima com o leitor. Acreditamos que esse estilo faz com que os leitores mergulhem, por um momento, na vida de outra pessoa semelhante ou não a sua, promovendo uma projeção mental na realidade da personagem apresentada pelo repórter. 5 Coordenado pelo professor dr. Itamar de Morais Nobre membro do Grupo de Pesquisa PRAGMA - Pragmática da Comunicação e da Mídia, do Departamento de Comunicação Social da UFRN. O COMTRILHAS é um projeto de extensão inscrito no Programa Trilhas Potiguares da Pró-Reitoria de Extensão da UFRN. A primeira versão do COMTRILHAS foi aplicada nas férias acadêmicas de julho e agosto de 2009. Em suas atividades, alunos do curso de Comunicação Social realizam a fotodocumentação e produção de conteúdo fotojornalístico. 6 Durante o período de uma semana, cerca de 20 alunos de vários cursos da UFRN realizam, no PTP, projetos como minicursos, palestras, atividades de lazer e cultura, abordando temas dentro da Comunicação, do Meio Ambiente, da Tecnologia, da Cultura, dos Direitos Humanos, do Trabalho, da Educação, da Saúde, e de temáticas livres dentro da proposta da extensão universitária e do PTP. As atividades contam com a participação dos moradores de todas as faixas etárias do município visitado cuja inscrição acontece e deve ser realizada pelo (a) prefeito (a) municipal no mesmo período que os acadêmicos, isto é, geralmente, no início de cada ano. Estas inscrições tanto para alunos quanto para prefeituras municipais são de caráter voluntário e sem remuneração financeira. O PTP é desenvolvido pela Pró-reitoria de Extensão Universitária da UFRN desde 1996. 7 Disponível no endereço: http://www.fotec.ufrn.br. 2

Reportagens com foco nas histórias de vida de pessoas surgem com o Novo Jornalismo, nos anos 60 do século XX, cujos principais representantes são Trumam Capote, Tom Wolfe e Gay Talese. Nele, o jornalista apresenta uma visão dinâmica dos fatos que narra, contando-se de dentro, seguindo o ritmo da sua evolução, ainda que de infinitamente mais criativa e conturbada nos seus manejos do tempo e das focalizações das personagens (PONTE, 2004, p.36). De acordo com Villas Boas (2003), um perfil, quando trabalhado de forma a atrair o seu leitor, pode provocar a reflexão sobre aspectos à existência do ser humano e sua interação com o meio em que vive. A fotografia aparece em Um Tapete de Grama não apenas como mais um elemento jornalístico, e sim como outro discurso que ajuda a construir um retrato simbólico de dona Edilza e o seu cuidar para com os vegetais. Sobre a leitura dos discursos visuais, Manguel (2006, p.27) afirma que Quando lemos imagens de qualquer tipo, sejam pintadas, esculpidas, fotografadas, edificadas ou encenadas -, atribuímos a elas o caráter temporal da narrativa. Ampliamos o que é limitado por uma moldura para um antes e um depois e, por meio da arte de narrar histórias (sejam de amor ou ódio), conferimos à imagem imutável uma vida infinita e inesgotável. Dessa forma, a imagem fornece uma contribuição, com seu discurso visual, para construção da imagem na mente do leitor do perfil e de suas ações na narrativa apresentada pelo repórter. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Como forma de enriquecimento da descrição das atitudes da personagem e do ambiente que ao seu redor, fez-se uso do jornalismo literário, cuja estrutura tenta fugir das amarras da pirâmide invertida (KOTSCHO, 2005). Sobre esse braço do fazer jornalístico, Pena (2006, p. 06-07) considera que não se trata apenas de fugir das amarras da redação ou de exercitar a veia literária. O conceito é muito mais amplo. Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores 3

primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. Dessa forma, a descrição ganha características dos cinco sentidos humanos, pois aproxima cada vez mais o leitor da cena presenciada pelo repórter em campo (WOLFE apud FARO, 2007). O método de narração no perfil em questão é o da onisciência seletiva, uma vez que os acontecimentos relatados estão sob a óptica personagem central. Segundo Leite (2001, p.54), há uma limitação das informações contidas na reportagem frente aos sentimentos, pensamentos e percepções da personagem central. Além disso, o método da descrição de dona Edilza é apresentado como sendo de uma personagem indivíduo, cujo retrato do perfilado é mais psicológico que referencial. Ou seja, o destaque recai sobre a atitude do entrevistado diante da vida e seu comportamento (SODRÉ; FERRARI, 1986). A entrevista é outra técnica utilizado, em Um Tapete de Grama, por se tratar de um diálogo informal entre os dois únicos interlocutores: repórter e personagem. Com o diálogo, houve uma maior aproximação entre os participantes da entrevista. Para Medina (1990, p.08), a técnica da entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação. Em todos estes ou outros usos das Ciências Humanas, constitui sempre um meio cujo fim é o interrelacionamento humano. Para além da troca de experiências, informações, juízos de valor, há uma ambição ousada que filósofos como Martim Buber já dimensionaram: o diálogo que atinge a interação humana criadora, ou seja, ambos os partícipes do jogo da entrevista interagem, se modificam, se revelam, crescem no conhecimento do mundo e deles próprios. Esta situação, que pode ser rotulada de ideal, se realiza no cotidiano, até mesmo em uma entrevista jornalística levada às últimas conseqüências. A partir das anotações das frases principais do diálogo, pode-se observar que a personagem entrevistada abria cada vez mais espaço para novos questionamentos, o que comprova a eficácia da técnica para fins de aquisição de informação e conhecimento como propõe Medina (1990), convergindo com o pensamento de Cripa (1998) que enxerga a entrevista como base para o jornalismo. 4

A imagem fotográfica que aparece no presente perfil jornalístico foi produzida com o uso de um ângulo baixo e o enquadramento em plano conjunto. Dessa forma, acreditamos que houve uma captura do contexto abordado pelo texto, uma vez que são expostos o espaço o qual está a grama de dona Edilza, sua planta favorita, a Maria-Sem-Vergonha na cor vermelha e a varanda de sua casa. Além disso, com o uso do ângulo baixo, a personagem central ganha mais valor mostrada como maior do que realmente é e o elemento invisível de seu orgulho por ser uma mulher simples e ainda sim possuir conhecimento como descrido no texto. Ainda sobre a técnica da fotografia, optou-se por uso da luz natural, uma vez que o céu estava pouco nublado, fazendo com que a luz estivesse difusa, sem a necessidade da luz artificial com o flash. Com isso, ganhou-se mais profundidade, visto que não apenas a personagem em primeiro plano ficou em destaque como o cenário de fundo com parte de sua casa aparece como elemento que produz sentido para o discurso do perfil. 5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O perfil-jornalístico Um Tapete de Grama possui 3.501 caracteres, com a apresentação da personagem Edilza Anita de Aquiar, cidadã da comunidade Gameleira de Baixo, no município de São Tomé, no estado do Rio Grande do Norte (Nordeste brasileiro). O contato com dona Edilza Anita deu-se por meio do Programa Trilhas Potiguares, desenvolvido pela Pró-reitoria de Extensão da UFRN, no Projeto COMTRILHAS. No dia 15 de julho de 2011, fizemos uma visita à comunidade da personagem central da reportagem. Na ocasião, deparamo-nos com um gramado plantado aparentemente de forma aleatória próximo a uma casa. Como se tratava de cerca de dois metros quadrados de grama verde em um chão de barro seco, como é característico no interior potiguar, houve o despertar da curiosidade jornalística. Por trás daquela grama, descobrimos uma história que passou desapercebida pelos outros universitários, reportada no perfil-jornalístico apresentado. A reportagem expõe ainda alguns momentos de drama pertencentes à vida da personagem, como o aspecto do abandono do lar de seu esposo, e as características de sua feição ao relatar tal episódio. O processo de escrita do texto foi realizado com o uso apenas de um bloco de papel e uma caneta, além do auxílio de uma máquina digital amadora modelo SAMSUNG S830 para produção das imagens e da foto selecionada. Ao passo que a personagem participava 5

da entrevista e conduzia o repórter por suas terras, logo por sua vida, houve o cuidado de anotar cada momento vivenciado. Com o retorno para a zona urbana do município de São Tomé, uma seleção de conteúdo foi realizada para escrita do perfil, uma vez que toda entrevista durou cerca de duas horas e rendeu 15 folhas de tamanho 10cm por 15cm do bloco de anotações. Outro ponto importante no perfil é a observação do repórter ao entrevistar a personagem. A partir de sua observação, trabalha-se uma possibilidade maior de detalhes nas descrições. O texto apresenta as constatações do repórter ao ponto de notarmos a intimidade do diálogo sobre fatos ocorridos no passado da história da personagem. Esse resultado como consequência de um diálogo bem trabalhado no texto jornalístico é descrito por Medina (1990, p. 15), ao explicar que Em certos casos felizes, a entrevista torna-se diálogo. Este diálogo é mais que uma conversação mundana. É uma busca em comum. O entrevistador e o entrevistado colaboram no sentido de trazer à tona uma verdade que pode dizer respeito à pessoa do entrevistado ou a um problema. Com essa perspectiva, o perfil torna-se mais próximo dos anseios do leitor, cujo interesse basea-se na vida alheia, visto que pessoas possuem afinidade na leitura de histórias sobre pessoas (NOBLAT, 2008). Ainda podemos descrever Um Tapete de Grama como um perfil-humanizado, pois oferece uma aproximação do cotidiano de uma personagem desconhecida e que ganha destaque por suas características únicas, ressaltadas por meio da descrição. Este tipo de reportagem, ao contrário da espetacularização, a entrevista com finalidade de traçar um perfil humano, não provoca gratuitamente, apenas para acentuar o grotesco, para condenar a pessoa (que estaria pré-condenada) ou para glamorizá-la sensacionalisticamente. Esta é uma entrevista aberta que mergulha no outro para compreender seus conceitos, valores, comportamentos, histórico de vida. (MEDINA, 1990, p. 18) Há ainda de se relatar que, durante o processo de entrevista com a personagem, o que foi também exposto ao leitor, é uma volta às memórias do repórter, quando transmite um traço possivelmente em comum com a personagem do perfil e suas recordações sobre o avô materno também agricultor. 6

6 CONSIDERAÇÕES Em nossa sociedade, grande parte dos homens está particularmente ocupada com si e descuida de atenção com o próximo. No perfil-jornalístico, e, por meio do auxílio do jornalismo literário, há uma tentativa de aproximar as reportagens dos seus leitores com uma abordagem mais detalhista em sua descrição e sem amarras predefinidas. Dessa forma, acreditamos que é possível ofertar uma narrativa que faça uma fuga das notícias mais corriqueiras sobre agenda de autoridades como visita a obras públicas e ainda sobre notícias de aumento nas vendas de ovos de páscoa por exemplo. Como afirmado, os leitores são pessoas e gostam de ler sobre pessoas. No perfil Um Tapete de Grama houve a exposição de uma personagem inusitada e que conduz seu entrevistado para um mundo particular repleto de elementos bucólicos que mostram que a vida pode ser simples em sua lida. Dona Edilza Anita protagoniza uma história real que acontece todos os dias, um aprendizado diário com o meio ambiente, dependendo de suas mudanças constantes. Acreditamos que se deva dar voz e espaço para histórias como a de dona Edilza a fim de que descubramos mais sobre quem não está nos periódicos. A partir de textos como este, em que a entrevista transforma-se e dar espaço para um diálogo informal sem perguntas esquematizadas, há uma surpresa em cada nova fala. Com o perfil Um Tapete de Grama, refletimos sobre quando e como uma história pode ser interessante de ser apresentada a outras pessoas, como ela pode ser contada, qual o gênero pode ser mais adequado para isso. Talvez, se não fosse escrito um texto sobre a história da dona daquele pedaço de grama verde, o olhar acomodado e descuidado com o cotidiano teria deixado passar uma lição de vida com aquela mulher de uma comunidade de interior. O que nos leva a imaginar uma vasta gama de outras entrevistas e histórias ainda por serem descobertas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRIPA, Marcos. Entrevista e ética: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1998. FARO, J. S. Realidade e o Novo Jornalismo. Vanguarda do pensamento comunicacional brasileiro. Coleção Verde-Amarela, vol. I. São Paulo: Ed. Intercom, 2007. KOTSCHO, Ricardo. A prática da reportagem. São Paulo: Ática, 2005. 7

LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. 10. ed. São Paulo: Atica, 2001. MANGUEL, Alberto. Lendo imagens. Editora Schwarcz: São Paulo/SP, 2006. MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista, o diálogo possível. São Paulo: Ática, 1990. NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto, 2008. PENA, Felipe. O jornalismo literário como gênero e conceito. 2006. Disponível em: <http://www.felipepena.com/download/jorlit.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2012. PONTE, Cristina. Leituras das notícias: Contributos para uma análise do discurso jornalístico. Lisboa: Livros Horizonte, 2004. SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de Reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986. VILLAS BOAS, Sérgio. Perfis e como escrevê-los. São Paulo: Sammus Editorial, 2003. 8