Notas sobre as despesas dos cinco maiores bancos com segurança e publicidade: 2011-2015 A segurança é um dos principais temas de atenção dos bancários brasileiros, especialmente aqueles que trabalham em agências e estão sujeitos a risco constante de ataques criminosos, envolvendo assaltos e/ou sequestros. Conforme pesquisa recente divulgada pela CONTRAF- CUT, elevou-se o número de mortes em assaltos envolvendo bancos nos últimos anos. Diante disso, surge a necessidade de se estudar a política dos bancos em relação ao tema. Para tanto, examinamos a trajetória recente das despesas dos bancos com segurança e vigilância bem como os gastos relacionados à publicidade e propaganda, uma vez que estas últimas dizem respeito à manutenção de uma boa imagem das instituições perante seus clientes e à sociedade como um todo. Objetiva-se neste texto apresentar informações que possibilitem a qualificação e subsequente aprofundamento do debate sobre o que pode ser aperfeiçoado no que se refere a questão tão candente. 1. Trajetória do Lucro Líquido No período de 2011 a 2015, a soma do lucro dos cinco maiores bancos que operam no Brasil foi de R$ 324,7 bilhões (em valores de dezembro de 2015). A contribuição ano a ano de cada uma das 5 maiores instituições financeiras para esse total pode ser visualizada na Tabela 1. Tabela 1 Lucro Líquido dos 5 maiores bancos: 2011-2015 (em R$ mil, valores de Dez/15, deflator IPCA) 2011 2012 2013 2014 2015 Bradesco 14.782.171 14.372.067 14.369.608 16.998.270 17.873.000 Itaú 19.300.778 17.514.766 18.649.166 22.819.672 23.832.000 Santander 8.793.002 7.893.848 6.764.385 6.474.372 6.624.000 Banco do Brasil 16.007.198 15.222.692 12.192.145 12.553.642 14.400.000 Caixa 6.841.935 7.565.889 7.917.299 7.848.931 7.156.000 TOTAL 65.725.084 62.569.263 59.892.603 66.694.887 69.885.000 Note-se que, tomando como referência o valor de R$ 65,7 bilhões em 2011, houve uma redução da ordem de 8,9% desse montante até 2013, ano em que é atingido o menor valor da série, R$ 59,9 bilhões. A partir de então, inverte-se a tendência, e verifica-se um crescimento de 16,7% até 2015, onde se observa o maior valor da série, R$ 69,8 bilhões. Na totalidade do período, o crescimento real do lucro líquido (isto é, já descontada a inflação) foi de 6,3%. Em termos de participação, observamos que três maiores bancos privados (Bradesco, Itaú e Santander) foram responsáveis por 66,8% do total do lucro entre 2011 e 2015, enquanto a 1 / 7
participação dos dois maiores bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) corresponde a 33,2%. 2. Despesas com Segurança e Vigilância O montante de despesas com segurança e vigilância despendido pelos cinco maiores bancos no período de 2011 a 2015 foi de R$ 19 bilhões (em valores de dezembro de 2015), o que representa 5,9% do lucro obtido no mesmo período. Na Tabela 2, é possível visualizar a contribuição ano a ano de cada uma das 5 maiores instituições para esse total. Tabela 2 Despesas com Segurança e Vigilância dos 5 maiores bancos: 2011-2015 (em R$ mil, valores de Dez/15, deflator IPCA) 2011 2012 2013 2014 2015 Bradesco 440.141 533.852 582.934 618.290 609.000 Itaú 636.491 637.313 646.526 694.155 675.000 Santander 688.574 698.555 698.595 676.567 661.815 Banco do Brasil 1.008.288 1.048.858 991.715 1.112.144 1.112.808 Caixa 731.246 856.511 919.716 962.082 800.955 TOTAL 3.504.741 3.775.088 3.839.486 4.063.238 3.859.578 Vale destacar que, tomando como base o valor de R$ 3,5 bilhões observado em 2011, o total de despesas com segurança cresceu 15,9% entre 2011 a 2014, quando atinge R$ 4 bilhões (maior valor da série), para, então, recuar 5% entre 2014 e 2015, chegando ao patamar de R$ 3,8 bilhões. Na totalidade do período, houve um crescimento real de 10,1%. Percentualmente, os dois maiores bancos públicos, Banco do Brasil e Caixa Econômica, respondem por 50,1% do total de gastos com segurança, enquanto os três maiores bancos privados Bradesco, Itaú e Santander contribuem com 49,9%. 3. Despesas com Propaganda e Publicidade As despesas com propaganda e publicidade realizadas pelos cinco maiores bancos no período de 2011 a 2015 totalizaram R$ 18,8 bilhões (em valores de dezembro de 2015), o que equivale a 5,8% do lucro obtido no mesmo período. A contribuição ano a ano de cada uma das 5 maiores instituições para esse total pode ser visualizada na Tabela 3. Tabela 3 Despesas com Propaganda e Publicidade dos 5 maiores bancos: 2011-2015 (em R$ mil, valores de Dez/15, deflator IPCA) 2011 2012 2013 2014 2015 Bradesco 1.238.228 996.553 933.871 1.033.686 1.064.000 Itaú 1.262.946 1.174.910 1.602.773 1.075.742 1.095.000 Santander 564.591 592.579 517.828 507.095 430.800 Banco do Brasil 387.655 459.614 459.046 462.777 381.395 Caixa 506.443 516.187 534.304 475.802 516.746 TOTAL 3.959.863 3.739.843 4.047.822 3.555.102 3.487.941 Note-se que entre 2011, quando foi registrado o valor total de R$ 3,9 bilhões e 2013, onde é observado o maior valor da série, R$ 4 bilhões, ocorreu um crescimento de 2,2%. Já de 2013 2 / 7
a 2015, houve uma redução significativa da ordem de 13,8%. Considerando o período como um todo, ocorreu uma variação negativa de 11,9%. Do ponto de vista da participação de cada banco, nota-se que, ao contrário do que ocorre em relação aos gastos com segurança, a participação dos bancos privados é bem mais expressiva neste quesito. Bradesco, Itaú e Santander, juntos, respondem por 75% das despesas com publicidade e propaganda, enquanto o Banco do Brasil e a Caixa Econômica contribuem com 25% do total. 4. Relação entre o Lucro Líquido e as Despesas com Segurança e Publicidade Considerando os dados anteriormente apresentados, elaboramos o Gráfico 1, a partir do qual é possível visualizar as dimensões do lucro obtido pelos bancos entre 2011 e 2015 e das despesas relacionadas com segurança e publicidade. Gráfico 1 Despesas com segurança, publicidade e lucro líquido dos 5 maiores bancos: 2011 2015 (R$ milhões) Note-se que, a despeito da trajetória oscilante, porém crescente, do lucro líquido, tanto as despesas com segurança, quanto as com publicidade mantêm uma relativa estabilidade, o que sugere uma ausência de correlação entre as variáveis observadas. Isto é, um aumento ou diminuição nos resultados não implica necessariamente um rebatimento nessas rubricas, e vice-versa. Portanto, conclui-se, que se tratam de custos relativamente fixos para os bancos. 5. Relação entre o Despesas com Segurança e Publicidade Considerando os dados apresentados nas Tabelas 2 e 3, reagrupamo-los em dois grupos: bancos públicos e bancos privados. Essa divisão se deu pelo fato de observarmos a notável diferença entre as políticas relacionadas aos gastos nas rubricas de segurança e de publicidade de acordo com a origem de capital. Vejamos, primeiramente, o Gráfico 2, referente aos bancos privados. 3 / 7
Gráfico 2 Despesas com segurança e com publicidade dos 3 maiores bancos privados: 2011 2015 (R$ milhões) Neste caso, observa-se nitidamente a grande ênfase dada pelas instituições privadas à publicidade em detrimento dos gastos com segurança. Apesar de os gastos com publicidade terem diminuído 15,5% entre 2011 e 2015 e as despesas com segurança terem se elevado 10,2% no mesmo período, os gastos com publicidade foram, na média, 48,4% maiores do que as despesas com segurança. Os anos de 2011 de 2014 são marcados pela maior e menor disparidade, com diferenças de 73,7% e 31,5%, respectivamente. Já no caso dos bancos públicos, observa-se o inverso dessa tendência, conforme podemos observar no Gráfico 3. Os gastos com segurança superam os gastos com publicidade em 103,1% na média do período. A menor proporção dos gastos com segurança frente às despesas com publicidade ocorreu e 2011, registrando 94,6%. Já a maior proporção foi alcançada em 2014, onde se observa 121%. Gráfico 3 Despesas com segurança e com publicidade dos 2 maiores bancos públicos: 2011 2015 (R$ milhões) 4 / 7
6. Considerações finais A segurança é um dos principais temas de atenção dos bancários brasileiros no que concerne às condições de trabalho, especialmente aqueles lotados em agências, sujeitos a risco constante de ataques criminosos, envolvendo assaltos e/ou sequestros. Apesar das dificuldades de acesso a estatísticas detalhadas referentes ao tema, é possível perceber uma deterioração do cenário nos últimos anos a partir de um levantamento elaborado conjuntamente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF) e pela Confederação Nacional de Vigilantes & Prestadores de Serviços (CNTV). Segundo o estudo, houve, no período entre 2011 e 2014, um crescimento de ocorrências de mortes em assaltos envolvendo bancos da ordem de 34,7%, conforme pode ser observado no Gráfico 4. Gráfico 4 Mortes em assaltos envolvendo bancos (Brasil): 2011 2014 Fonte: Notícias da imprensa Elaboração: Contraf-CUT e CNTV Apoio Técnico: DIEESE - Subseção Contraf-CUT Diante disso, emerge a necessidade de se estudar a política dos bancos em relação ao tema. Para tanto, examinamos a trajetória recente de suas despesas com segurança e vigilância e tomamos como referência, para efeito de comparação, os gastos relacionados à publicidade e propaganda, uma vez que estes últimos dizem respeito à manutenção de uma boa imagem das instituições perante seus clientes e à sociedade como um todo. Considerando os dados apresentados, pudemos observar a disparidade de comportamento entre os dois maiores bancos privados e os dois maiores bancos públicos. Enquanto Bradesco e Itaú gastam pesadamente em publicidade e relativamente pouco em segurança, os maiores bancos públicos, Banco do Brasil e Caixa, apresentam uma tendência contrária: do ponto de vista estrutural isto é, desconsiderando-se pequenas oscilações conjunturais, despendem significativamente mais em segurança do que em publicidade. O Santander aparece como exceção entre os privados, pois ainda investe mais em segurança do que em publicidade e, mesmo tendo uma escala de atuação menor que os dois maiores bancos privados, mantém seus gastos com segurança em pé de igualdade com o Itaú e, via de regra, superiores ao Bradesco no período analisado. Essa constatação nos leva a reflexões talvez incômodas aos gestores desses bancos. Por exemplo: por que Bradesco e Itaú investem tão alto em publicidade e relativamente tão pouco em segurança em comparação aos outros grandes bancos que operam no Brasil e mesmo com um outro banco privado de menor escala, como o Santander? Estariam essas instituições mais preocupadas com sua imagem corporativa, e consequentemente com seu valor de mercado, do que com a integridade física de seus funcionários e clientes? Ao julgarmos pelo observado nos dados, essa parece ser a diretriz de atuação corporativa de tais instituições, 5 / 7
pois, apesar de ter havido uma relativa redução da disparidade entre os gastos com publicidade em relação aos de segurança, o quadro geral, mais estrutural, revela uma verdade inconveniente. Nesse sentido, vale lembrar que Bradesco e Itaú são empresas praticamente onipresentes em termos publicitários. É virtualmente impossível assistir a meia hora de programação em qualquer canal de televisão aberta, em especial no chamado horário nobre, e não se deparar com suas campanhas publicitárias. Grandes eventos culturais e esportivos também são sistematicamente patrocinados por esses bancos, a exemplo da Copa do Mundo (Itaú) e das Olimpíadas (Bradesco) 1 sediadas no Brasil, em 2014 e 2016, respectivamente. Outro fato que chama a atenção se relaciona à divulgação recente (em abril de 2016) de um ranking das marcas mais valiosas do Brasil na última década, elaborado por uma consultoria internacional de marketing. Nele, talvez não à toa, Bradesco e Itaú figuram nas duas primeiras posições, respectivamente, conforme pode ser observado do Gráfico 5 2. Segundo a metodologia da consultoria, contam pontos para essa classificação, além da performance financeira (medida em valor de mercado na Bolsa), uma Performance em imagem, isto é, um entendimento da imagem da marca junto à consumidores e investidores. O Valor de cada marca é a combinação da performance financeira e em públicos estratégicos. 3 Gráfico 5 As marcas mais valiosas da década 1 O banco patrocina também seis confederações e o time de atletas que vão representar o País nos Jogos do Rio de Janeiro, chamado de time BRA por razões óbvias (de Brasil e de Bradesco). Além disso, apoiará a Paraolimpíada, que acontece em setembro. Essa foi uma decisão pensada pelo banco, que queria expor sua imagem nos dois eventos, mostrando seu compromisso com a inclusão social. Disponível em: <http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20160415/podio-bradesco/362782>. Acesso: 4 Jan 2017. 2 Disponível em: <http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20160415/marcasbrasileiras-maisvaliosas-decada/362802>. Acesso: 4 Jan 2017. 3 Disponível em: <http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20160415/entenda-metodologia-dasmarcas-mais-valiosas-brasil/362935>. Acesso: 4 Jan 2017. 6 / 7
Diante do exposto, consideramos fundamental aprofundar os estudos sobre o tema e divulgar seus resultados ao máximo entre dos trabalhadores e clientes dessas instituições, a fim de que seja ampliado o debate sobre a questão da segurança bancária e também sobre o uso da publicidade pelos bancos. Consequentemente, é possível, através desse caminho, enriquecer a discussão sobre o papel das instituições que integram o sistema financeiro para com a sociedade brasileira. Afinal, além de serem empresas gigantes, que obtêm elevados lucros a cada ano, são também, segundo preceito constitucional, concessões públicas e, portanto, devem ter entre suas diretrizes de atuação um cuidado exemplar com a integridade de seus funcionários e clientes. 7 / 7