O FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE CAPITALISTA NA CONCEPÇÃO DE ÉMILE DURKHEIM E KARL MARX



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Transcrição:

O FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE CAPITALISTA NA CONCEPÇÃO DE ÉMILE DURKHEIM E KARL MARX FERNANDES, Piedade Maria Inglês Psicóloga Graduada pela Universidade São Marcos SP; Pedagoga Graduada pela Faculdade de Ciências Humanas FAHU/ACEG GARÇA/SP; Psicopedagoga pelo Centro de Pós-Graduação CPG da FAEF GARÇA/SP e discente da Habilitação para Magistério da Educação Infantil da UNESP MARÍLIA/SP e-mail: pmif1961@hotmail.com MATTOS, Gabriel Gonçalves Discente do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde FASU/ACEG GARÇA/SP BRASIL e-mail: gabriel_220885@hotmail.com RESUMO O artigo em questão busca refletir as concepções do funcionamento da sociedade capitalista, nas visões de Marx e Durkheim, com o objetivo de melhor compreender a vida contemporânea, a invasão do capital, a extensão deste por todo o globo e as implicações dessas diferentes concepções de sociedade e do capitalismo. Palavras-chave: capitalismo, alienação, fato social, solidariedade mecânica, solidariedade orgânica. ABSTRACT The article about tries to do a reflection about the conception of the capitalist society process, from the view of Marx and Durkheim, purposing to make a better comprehension of the contemporary s life, the money proliferation to all global world, and also, understanding the implication of the different conception of society. Key-Words: Capitalism, alienation, social fact, mechanic solidarity, organic solidarity. 1. INTRODUÇÃO Durante o processo histórico da civilização, a sociedade tem se organizado conforme os meios materiais de produção, ou seja, de acordo com as possibilidades concretas de existência, que definem o modo objetivo e subjetivo de produzir a vida em todos os aspectos. O modo objetivo refere-se aos meios provedores da existência, como por exemplo: os alimentos e as roupas. A forma subjetiva relacionase aos preceitos éticos e os valores morais de uma sociedade.

A sociedade primitiva, segundo Figueiredo (1995), possuía um sistema coesivo o qual abrigava animais e plantas sob o mesmo teto, eximindo os indivíduos de qualquer esforço reflexivo em torno do que fazer e como fazer; assim a Ética centrava-se no coletivo, e todos tinham de produzir e compartilhar igualmente deste produto. Todos os homens tinham de lutar e proteger o clã contra a invasão dos outros clãs. Nas sociedades escravocratas, as relações eram de domínio e sujeição, e os escravos não passavam de meros instrumentos dos aristocratas na antiga Grécia (D ONÓFRIO, 2005). Esse regime pôde ser visto em outros momentos e lugares, como no Brasil, por exemplo. O feudalismo que predominou na Europa ocidental, durante toda a Idade Média, possuía um sistema um pouco diferente da organização citada anteriormente, mas com a mesma divisão social: senhores e servos. O servo poderia fazer o uso da terra, mas tinha que pagar com seu trabalho, que, na maioria das vezes, era semelhante ao trabalho escravo. Os senhores feudais tinham o poder sobre a economia e faziam as leis do feudo. Foi no final desse sistema que o capitalismo se iniciou. Na medida em que a exploração do trabalho do servo aumentava e a agricultura já não respondia mais as necessidades sociais, surgiram os moldes do capitalismo (ARRUDA; PILETTI, 2003). O próximo passo seria o socialismo, porém, não se chegou a este estágio, e mesmo onde o socialismo aconteceu, foi refutado. Existem alguns países que se mantiveram no socialismo, ao menos no que chamam de socialismo, em um sistema ditatorial de total centralização de poder nas mãos do Estado (D ONÓFRIO, 2005). Apoiado nas idéias de Augusto Comte, ou opondo-se a elas, Marx e Durkheim trouxeram grandes reflexões para o entendimento do funcionamento social e do capitalismo, que se instalou de maneira quase plena em todo o mundo contemporâneo. O artigo em pauta pretende refletir sobre as concepções de Émile Durkheim e Karl Marx, a respeito desse sistema vigente e as implicações que suas visões trazem para a compreensão do funcionamento social. E a pesquisa bibliográfica facultou o levantamento dos dados necessários a esse propósito.

2. FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE CAPITALISTA SEGUNDO DURKHEIM E MARX Embora Augusto Conte considere-se o Pai da Sociologia, essa ciência estabeleceu-se a partir de Durkheim, que contribuiu, de fato, para que este estudo fosse aceito como ciência rigorosa e legítima. Seus estudos referem-se ao reino moral ou social, como sendo aquele constituído pelas idéias ou pelos ideais coletivos (DURKHEIM, apud RODRIGUES, 2000). Assim, as leis morais devem ser conhecidas e não se pode questioná-las ou mudá-las, só conhecê-la para viver melhor. Exemplo: lei da gravidade. Segundo Durkheim (apud RODRIGUES, 2000), a Sociologia, como ciência metódica, poderá descobrir as leis sociais, da seguinte forma: a verdadeira Ciência só aparece quando ocorre a perfeita separação entre prática e teoria; o fator social é sempre determinante; deve-se despir-se de nossos próprios valores para poder entendê-lo. Nessa visão, a Sociologia é o estudo dos fatos sociais, que se distinguem por características: coersitividade, generalidade e exterioridade. A coersitividade refere-se às sanções legais ou espontâneas, (...) ou seja, é a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, os levando a se conformar às regras da sociedade em que vivem (COSTA, 1997, p. 59). Outra característica do fato social é a generalidade, explicado como sendo um fato que se repete ou se aplica a todos os indivíduos, manifestando uma coletividade. Por exemplo: todos os indivíduos moram em uma casa, todos usam roupas. Por fim, a exterioridade: os fatos, os costumes, as normas de conduta, são anteriores à existência do indivíduo e as mesmas precisam ser adotadas para que haja aceitação social, sem importar a sua subjetividade. Socialmente, é como se existissem dois de nós em nós: ser individual, referente apenas a nossa pessoa e ser social que é o conjunto de crenças, de hábitos, de valores; o indivíduo faz parte da sociedade e uma parte da sociedade faz parte dele. A sociedade só existe em sua plenitude em conjunto. A sociedade é constituída através dos seus indivíduos. Assim como hidrogênio + oxigênio = água, indivíduo + indivíduo = sociedade; e nessa relação o todo tem precedência sobre as partes. Um não é nada sem o outro, mas cada

qual tem vontade própria. Aprendemos a viver em sociedade, fomos educados para isso; a educação tem conteúdos (crenças, valores, regras), produzidos pelas gerações passadas e presentes; algumas regras caem em desuso ou são diferentes de acordo com a cultura ou classe, por exemplo, dar passagem aos mais velhos; arrotar. O fato é que a sociedade forma o indivíduo em seu íntimo, sendo muito difícil encontrar comportamentos humanos que não envolvam componentes sociais (LANE, 2004). Segundo Durkheim (apud RODRIGUES, 2000), a solidariedade é a maneira pela qual as pessoas estão ligadas e unidas, havendo duas formas: a mecânica e a orgânica. A solidariedade mecânica é característica da sociedade pré-capitalista, na qual as ligações são por meio das crenças e costumes, há pouca divisão do trabalho, as pessoas se unem baseadas nas semelhanças, e a consciência coletiva é mais forte e extensiva a um número maior de pessoas, existindo maior consenso. Por outro lado, a solidariedade orgânica já é uma característica da sociedade capitalista moderna e sua principal característica é a divisão de trabalho, que causa interdependência entre os indivíduos e suas crenças, costumes ou preferências não aparecem como co-relação. Assim sendo: indivíduos desempenham funções diferentes; existe uma dependência entre as pessoas; a divisão de trabalho é a solução pacífica para a competição na luta pela vida; e há uma margem maior de liberdade para pensar e agir. Nesse contexto, ocorrem o enfraquecimento da consciência coletiva e o fortalecimento do individualismo; e quebram-se as regras coletivas, em decorrência de uma maior interpretação individual ou grupal dessas regras, causando conflitos sociais. Durkheim (apud RODRIGUES, 2000), afirma que a solidariedade orgânica é superior à solidariedade mecânica, pois a primeira permite ao indivíduo usar de sua autonomia e é quando a consciência coletiva afrouxa. O estudioso assim mantémse em uma posição conservadora propondo reforma social, haja vista, que ele é a favor do capitalismo tendo uma opinião positiva e acreditando que o capitalismo é o caminho para o sucesso das sociedades.

No que se refere ao materialismo histórico desenvolvido por Marx, este foi a corrente mais revolucionária do pensamento social, tanto no campo teórico como no da política (COSTA, 1997). Marx acreditava numa transformação política, por isso suas obras foram escritas para o acesso de todos os homens e não apenas de estudiosos ou culturalmente privilegiados. Segundo Costa (1997, p. 84) as contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de superação apontadas pela obra de Marx não puderam, pois, permanecer ignoradas pela sociedade. A crítica de Marx ao meio de produção capitalista apontava as injustiças sofridas pelos trabalhadores. Meksenas (2001, p. 48) reafirma esta idéia quando diz: Na realidade o capitalismo trouxe progresso e riqueza apenas para algumas pessoas, pois as indústrias desenvolviam-se de tal modo que seus proprietários (burgueses ou empresários) ficavam riquíssimos e poderosos; no entanto, a classe trabalhadora que fabricava todos os bens recebia um salário miserável. O processo de modernização, pelo qual a sociedade passou, mostra que o capitalismo e todo o processo de produção dominaram a vida, de tal forma que não havia espaço para o tempo livre; este somente acontecia para regenerar as forças. O tempo ocioso ganhou uma conotação maldosa de inutilidade, e de preguiça. Para Marx a liberdade era um ponto fundamental do trabalho. Ele afirmava que trabalhar era uma atividade coletiva, mas servia para o homem realizar-se a si mesmo. O trabalho alienado traz a miséria e o trabalhador afunda até um nível de mercadoria das mais deploráveis, fazendo a miséria do trabalhador aumentar junto com sua força de produção. Alienar é tornar alheio, transferir para outro o que é seu (MARX, 1844). Com a divisão do trabalho, por exemplo, as linhas de montagem, a alienação se intensificou. Antes o produtor sabia todas as etapas da produção e depois da divisão ele não mais as conhecia. O trabalho tornou-se mecânico e isto caracteriza a alienação. É a perda da liberdade e o início da dominação. A mercadoria, visando a lucros, passou a ter valor superior ao homem. Ela se humaniza e o homem se desumaniza. Desaparece a valorização do lado sentimental e emocional das pessoas. O burocrata-diretor olha as pessoas sem amor nem ódio, simplesmente olhar suas fichas como se eles fossem coisas.

O conceito de mais valia torna-se primordial na sociedade capitalista, de modo que as pessoas são exploradas para que o produtor obtenha lucros exorbitantes em relação ao salário pago aos operários. A mais-valia é mais bem explicada no exemplo dado por Costa (1997, p. 89) que relata: Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas e confeccione um par de sapatos a cada três horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é suficiente para obter o necessário a sua subsistência. Como o capitalista lhe paga o valor de um dia de força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram um valor maior do que lhe foi pago na forma de salário. A duração da jornada de trabalho resulta, portanto, de um cálculo que leva em consideração o quanto interessa ao capitalista para obter lucro sem desvalorizar seu produto. De maneira geral, Marx opõe-se ao capitalismo salientando todos os seus problemas: a retirada da humanidade do homem, a alienação, a exploração, a manipulação do conhecimento e do poder, e o uso de aparelhos ideológicos para propagar sua doutrina. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Opondo-se a Durkheim, Karl Marx desenvolve sua teoria de um ponto de vista progressivo, em que uma reforma social não dá conta de sanar os problemas criados pelo capitalismo. Enquanto Durkheim acredita que o capitalismo é o caminho mais adequado para o crescimento social, Marx propõe um novo sistema econômicosocial com um foco socialista. Na visão marxista, o ideal de Durkheim levaria o povo à alienação e ao conformismo, enquanto seu posicionamento abriria espaço para a emancipação e libertação, principalmente da classe trabalhadora. Contudo, o ideário socialista de Marx, ainda, não foi alcançado pelo mundo contemporâneo, sucumbindo ao capitalismo crescente. A força capitalista derruba muros, transpõe muralhas, incomoda ditadores socialistas; invade novas sociedades com sua pseudo-oferta de ascensão social e financeira rápida e fácil, e seu consumismo para obtenção da felicidade plena. Porém, o capitalismo não perde sua hegemonia por estar legalizado e legitimado pelo povo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, J. J. de A.; PILETTI, N. Toda a História: História geral e História do Brasil. São Paulo: Ática, 2003. COSTA, C. A. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997. D ONÓFRIO, S. Pequena enciclopédia da cultura ocidental: o saber indispensável, os mitos eternos. Rio de Janeiro: Campus 2005. FIGUEIREDO, L. C. Revisitando as psicologias: da Epistemologia à Ética nas práticas e discursos psicológicos. São Paulo: EDUC; Petrópolis: Vozes, 1995. LANE, S. T. M. O que é Psicologia Social? 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. MARX, K. Primeiro manuscrito: o trabalho alienado. In:. Manuscritos econômicos e filosóficos e outros textos escolhidos, 6ª ed. RJ: Zahar, 1844, p. 89-102. MEKSENAS, P. O capitalismo e o nascimento da sociologia. In: Aprendendo sociologia: a paixão de conhecer a vida. São Paulo: Loyola, 2001, p. 46-48. RODRIGUES, A. T. Sociedade, educação e vida moral. In: Sociologia da educação. Rio de Janeiro. DP&A; 2000, p. 19-34.