QUESTÕES AMAZÔNICAS: A DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL DO IDH E OS FUNDAMENTOS PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS ESTADOS



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Transcrição:

QUESTÕES AMAZÔNICAS: A DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL DO IDH E OS FUNDAMENTOS PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS ESTADOS Idglan Souza Maia 1 Airton Cardoso Cançado 2 Waldecy Rodrigues 3 Miguel Pacífico Filho 4 Resumo: O trabalho é uma análise da distribuição territorial dos melhores e piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) das cidades dos dois maiores estados do Brasil, Pará e Amazonas. Pretende-se contribuir para o acervo dos estudos críticos do desenvolvimento dos territórios e a governança regional focada em equidades. O estudo verifica se esses índices podem ser considerados durante um eventual processo de criação de novas unidades federativas. Propõe uma análise acerca de um dos argumentos que tangem a criação de novos estados e territórios: a distância de um município com relação a capital do seu estado dificulta o seu desenvolvimento? Verificou-se as distancias das cidades com relação às capitais (Belém e Manaus) através da ferramenta Google Earth e a confrontação de dados da PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, assim como levantamentos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A bibliografia está relacionada ao Federalismo e redivisão territorial. Palavras-chaves: Federalismo. Estados. Territórios. Divisão. 1 Mestrando em Desenvolvimento Regional pelo programa de pós-graduação strictu sensu da Universidade Federal do Tocantins, Graduado em Jornalismo, pós-graduado MBA em Gestão Empresarial. 2 Pós-doutorado em Administração pela EBAPE/FGV, Doutor em Administração pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia - UFBA (2004) e graduado em Administração com Habilitação em Administração de Cooperativas pela Universidade Federal de Viçosa - UFV (2003). 3 Pós-Doutor em Economia (UnB), Mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), professor adjunto do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Pró Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Tocantins. 4 Doutorado em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) (2004) Mestrado em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) (1999), Graduação em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

1. Introdução O Federalismo e a Divisão Territorial A atual composição dos estados da República Federativa do Brasil sofreu sua ultima modificação em 1988, quando foram criados em definitivo os Estados do Amapá, Roraima e, pelo desmembramento do Estado de Goiás, o Tocantins, Martins (2001). As propostas de desmembramento vem acompanhadas de estudos, gráficos, planilhas e justificativas. Os argumentos são trabalhados à luz da parte interessada com o intuito de convencer a opinião pública da viabilidade de criação dessa nova unidade federativa. Martins (2001) argumenta: A divisão territorial do Brasil não é um fenômeno novo. Sempre gerou propostas, estudos e acaloradas polêmicas na vida política brasileira, muitos sem nenhum efeito prático, sobretudo, nos períodos de elaboração ou revisão das Cartas Constitucionais. Ações e movimentos políticos para criação de novos estados da Federação seja através da fragmentação ou desmembramento de estados existentes, elevação de territórios a estado ou transformação de regiões em territórios e, posteriormente, em estados, são recorrentes na história política do país (MARTINS, 2001, p.266). Existem outras propostas de criação de novos estados no Brasil, o artigo é uma análise de um dos principais argumentos utilizados acerca da proposta de divisão territorial do estado do Pará considerando a última proposta votada em Plebiscito no dia 11 de dezembro de 2011 para a criação de mais dois estados (Carajás e Tapajós), onde a população local foi negativa a divisão. As assimetrias regionais e os fundamentos para a criação do novos estados é tratado por Costa (2011) e é permeada de argumentos que remetem a dificuldades relacionadas ao distanciamento. O autor argumenta que nos tempos atuais é difícil imaginar o Brasil com a capital no Rio de Janeiro, pois, a sua posição litorânea cria enormes distâncias para muitos estados membros da federação, ao falar do Pará e a sua capital Belém, e enfatiza: Por certo a fundação de Belém veio atender aos propósitos estratégicos da coroa portuguesa, mas consiste em um anacronismo sua permanência como sede do governo do Pará, a considerar a atual extensão territorial do estado. A localização excêntrica da capital paraense, na borda mais setentrional, mostra-se desprovida de qualquer princípio de gestão pública que leve em conta a economicidade e eficiência administrativa, o que não coopera para a boa governança de um território tão grande e desarticulado

[ ] Por conseguinte o poder polarizador dessa capital e sua localização antípoda às sub-regiões sudeste e oeste do estado, também chamadas de Carajás e Tapajós, impõem condições de isolamento a boa parte dos municípios paraenses, que clamam por melhor assistência do poder estatal (COSTA, 2011, p.103). Os custos administrativos da localização da capital paraense com relação a outros municípios situados a mais de 1000 km são apresentados por Costa (2011) como limitadores ao desenvolvimentos, uma vez que a capital encontra-se geograficamente em um dos extremos do estado. Ao falar do Pará e sua capital, Costa, E. (2008) deixa a entender que as distâncias dentro de um estado são fatores limitadores ao desenvolvimento: Belém exerce a função de metrópole regional com forte poder de comando sobre os fluxos regionais, estabelecendo-se como centro primaz de decisão. As enormes distâncias e as dificuldades geográficas de acesso a muitas das diversas sub-regiões estaduais, todavia, limitam o estabelecimento de fluxos interurbanos mais consistentes e a consolidação de uma rede urbana hierarquizada de forma rígida, (COSTA, E. 2008 p8). A ideia se completa na fala de Mattos (1980) que diz: (...) de fato, ninguém poderia esperar que o governo estadual, sediado em Belém ou Manaus, tivesse poder político ou econômico para irradiar sua ação além de um raio de 100 quilômetros dessas capitais, e as sedes municipais, algumas com jurisdição sobre territórios maiores alguns países europeus, tivessem capacidade de atender, e muito precariamente além da administração da própria localidade-sede (...) (MATTOS, 1980, Apud COSTA, 2011, p 107). De fato as regiões mais afastadas de Belém são justamente as que querem sua emancipação com a criação de novas unidades federativas. O fator distanciamento não veio isolado, interesses políticos regionais, a possível valorização de terras, a criação de novas capitais, novos órgãos e cargos públicos também precisam ser levados em conta. De certa forma é possível também encontrar argumentos relacionados ao distanciamento no relatório número um da Comissão de Estudos Territoriais da Câmara dos Deputados de 1989: Enquanto as áreas do Nordeste, Sudeste e Sul tem estados de 200.000 km² em média, na região norte, apenas os estados do Pará e Amazonas respondem por 1/3 da extensão do Brasil. As enormes distancias dentro de uma mesma unidade federativa dificultam a ação administrativa, resultando na impossibilidade de se implementar programas consistentes de desenvolvimento, (BRASIL, 1989). A divisão territorial brasileira e a criação de novos estados é prevista na Constituição Federal de 1988, no Título III da Organização do Estado, Capitulo I Artigo 18 trata da organização político-administrativa da República Federativa do Brasil. Ela é formada pela

União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos. O parágrafo segundo diz que os territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. A Constituição Brasileira também prevê que os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar, BRASIL (1988). Considerando o tamanho da nação brasileira com seus 8.514.876,599 km², sendo o quinto maior país do mundo em extensão e com 5.565 municípios, IBGE (2011) há que se observar o modelo escolhido para governar um país dessa magnitude, hoje o regime da nação é federalista, Saldanha (2009) resume: A federação é uma das espécies de Estado composto. Uma das principais características do federalismo é a descentralização política em que cada ente da federação detém competências próprias e encontra seu fundamento na constituição federal (SALDANHA, 2009, p. 327). Os países democráticos com maior extensão territorial e população adotaram o federalismo, pois este modelo, em sua concepção original, tem o intuito de aproximar mais o cidadão dos seus governantes. Para a sociedade brasileira é permeada por heterogeneidades estruturais e por um padrão acentuado de desigualdades socioeconômicas, o modelo Federalista é o que mais se aproxima de atender essas especificidades, Anastasia (2007). Federalismo diz respeito à composição de um país em estados e municípios e a organicidade das partes em um equilíbrio de funções e atribuições. Federação vem do latim foedus que significa aliança, pacto, união. O termo trás a ideia de articulação das partes (estados) com o todo (nação) por meio do governo central ou Federal, Affonso (1994), Rodden (2005) e Neme (2007). Federalismo também pode ser considerado como arranjos institucionais, isto é, o conjunto de leis, normas e práticas que definem como um estado federal é concretamente governado, Costa, V. (2007, p. 211). Para Souza (2003, p. 346) o federalismo brasileiro nasceu sob a égide da acomodação das desigualdades regionais pela via da negociação de recursos federais baseada em regras formais constitucionais e legais. O que se observa na composição da federação brasileira é um conjunto de desigualdades entre os entes federados, estados que sozinhos possuem riquezas superiores à soma de muitos outros. Também existe um

desequilíbrio espacial, considerando o tamanho de alguns estados em relação aos outros e também um desequilíbrio ocupacional com regiões densamente povoadas e outras particularmente desabitadas. A formação do estado brasileiro se deu de forma diferente a dos Estados Unidos, por exemplo, onde treze colônias independentes formaram o que é hoje a nação mais rica do mundo dividida em cinquenta estados federados com áreas relativamente similares. O Brasil por sua vez recebeu possessão portuguesa de seus territórios, mas a divisão espacial se deu forma arbitrária atendendo interesses locais e criando disparidades entre os estados, principalmente com relação ao tamanho dos seus territórios, demarcados em estados e capitanias quase continentais, Costa (2011). Saldanha (2009), também argumenta: O longo período de colônia (1500 a 1822) deixou marcas profundas na cultura brasileira. Verifica-se que o processo de independência do Brasil veio muito mais como vontade das elites descontentes com a metrópole, do que da vontade do conjunto da população; diferente, por exemplo, do que ocorreu com os EUA, em que a população toma parte, de forma ativa, no processo de independência, (SALDANHA, 2009, p.327). Para uma melhor elucidação do termo federalismo, Rodden (2005 p.17) afirma que o federalismo não é uma distribuição particular de autoridade entre governos, mas sim um processo estruturado por um conjunto de instituições por meio do qual a autoridade é distribuída e redistribuída. Affonso (1994) reforça: A "Federação" constitui, antes de mais nada, uma forma de organização territorial do poder, de articulação do poder central com os poderes regional e local. O que chamamos "pacto federativo" consiste, na verdade, em um conjunto de complexas alianças, na maioria pouco explícitas, soldadas, em grande parte, através dos fundos públicos, (AFFONSO, 1994, p. 322). O federalismo brasileiro constitui-se em um emaranhado de interesses entre os entes federados e suas respectivas elites regionais. Arretche & Rodden (2004, p. 550) argumentam que a visão comum é a de que elites poderosamente instaladas nos estados controlam recursos que lhes permitem cobrar um alto preço para que quaisquer mudanças no status quo sejam realizadas. Abrúcio (1998) considera as elites regionais, principalmente os governadores, como os barões da federação. Ele aplica o termo federalismo estadualista argumentando que a conjuntura política e federativa brasileira passa necessariamente pelo rígido controle do executivo estadual. O papel do governo central em uma nação federalista é manter o equilíbrio das

relações e administrar de forma equânime visando à harmonia do conjunto. No Brasil, com o seu tamanho peculiar, essa tarefa nem sempre é fácil, pois existem estados muito populosos e com territórios relativamente pequenos e estados pouco populosos com áreas bem maiores, Costa (2011), disserta: Em uma organização federativa, pressupõe-se que o papel do governo central é de assegurar a inclusão regional em busca do desenvolvimento econômico harmônico de e entre suas unidades subnacionais, empenhando em que o contexto econômico nacional não alimente uma disputa fraticida entre estados e regiões, (COSTA, 2011, p. 49). A busca pela unidade da federação brasileira é antiga, Martins (2001) observa que o Brasil superou o período de instabilidade e rebeliões e mesmo diante das forças centrífugas tendentes à fragmentação conservou sua integridade territorial. Ele completa ainda, dizendo que o imenso território português na América não se esfacelou em várias repúblicas, como ocorreu com o território espanhol Martins (2001, p.263). Hoje, com o país consolidado em 26 estados, 5565 municípios e um Distrito Federal, IBGE (2011) quase não se nota movimentos que colocam em risco a integridade territorial externa do Brasil, em contrapartida, acontece o oposto com os estados brasileiros onde movimentos separatistas buscam criar novas unidades federativas e o fator distanciamento dos municípios até a capital aparece nos discursos políticos, econômicos e sociais. Muitos municípios formam grupos e com esse argumento, somado a outros, tentam a emancipação regional através da criação de novos estados, é o caso recentemente do Pará, da Bahia, do Mato Grosso, Amazonas, Maranhão e outros. A parte interessada na divisão de um estado geralmente alega que o distanciamento da capital prejudica a logística de atendimento às demandas dos entes federados, nesse caso, os municípios mais distantes. Esse argumento pode ser plenamente sustentado? Os municípios localizados em áreas distantes da capital tendem a ser menos desenvolvidos? Com base nesses argumentos efetuou-se a análise dos melhores e piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH-PNUD 2000) dos municípios dos dois maiores estados do Brasil, Amazonas e Pará visando elucidar com maior clareza se o argumento de distanciamento da capital é um discurso viável para propostas de divisão territorial. Para um maior rigor metodológico, foi utilizada a ferramenta digital desenvolvida pelo Google (Google Earth) para medir as distâncias dessas cidades com relação às capitais desses estados. Ressalta-se que as distâncias são aproximadas, pois foi posicionado o cursor de medida do Google Earth em um ponto central de cada capital, e as distâncias para cada

cidade foram medidas de forma visual até algum outro ponto central, o que não configura em precisão milimétrica. Ainda que seja possível um equívoco de até cinco quilômetros do que seria a zona central de cada cidade, tal fato não implicará em erro metodológico que comprometa a investigação. A análise inicial dos 26 estados brasileiros nota-se visualmente que pelo menos 23 possuem suas capitais em locais que não privilegiam todos os municípios. Os estados maiores possuem mais problemas de distanciamento, mas, os estados menores também não são exemplares na equidistância de seu governo central. Os estados litorâneos, em sua maioria, possuem capitais litorâneas, e dessa forma a região oposta à localidade da capital sempre ficará relativamente distante. O nordeste é um exemplo de como as capitais estão situadas em desequilíbrio com o território dos estados. A região norte, com exceção do estado do Tocantins, todas as capitais estão relativamente distantes do que seria o centro do estado, atraídas por facilidades logísticas ou grandes rios, Belém, Manaus, Boa Vista, Macapá, Rio Branco e Porto Velho estão todas situadas em locais que não privilegiam todos os seus municípios. Com a observação atenta de um mapa cartográfico do Brasil, é possível perceber que muitas capitais estão situadas em pontos não muito estratégicos de vários estados. Figura 01 Mapa do Brasil com suas respectivas capitais (fonte: www.raroplastic.com.br) A figura 1 revela que apenas o Tocantins com a cidade de Palmas que foi planejada para ficar no centro, o Mato Grosso do Sul com Campo Grande, que também é uma cidade Planejada, e o Goiás com a capital Goiânia que fica na parte central do estado possuem capitais centrais. Por outro lado, no Pará, existem municípios como Jacareacanga com distâncias de 1270 km da capital Belém. No Amazonas a cidade de Ipixuna fica a 1365 km de Manaus. Argumenta-se que as cidades mais afastados do poder central estão

desassistidas dos investimentos necessários ao seu desenvolvimento, Costa (2011). 2. Procedimentos metodológicos e análise Considerando os argumentos de divisão territorial sob a alegação de distancia de uma localidade até a capital, optou-se uma leitura que leve em consideração o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada cidade. O índice do Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD) que aborda dados como educação, longevidade, renda entre outros, foi o escolhido para dar suporte e observar se o distanciamento de um município com relação a capital de seu estado pode afetar a qualidade de vida de seus habitantes. Foram desenvolvidos dois quadros idênticos onde se aplica a seguinte metodologia: Observou-se as 30 cidades com os melhores e piores IDHs de cada estado, essa opção foi feita para manter o equilíbrio entre o Pará e o Amazonas, uma vez que este último possui apenas 62 municípios e o Pará, 144, (IBGE 2011). Pretende-se com isso responder as seguintes perguntas: qual a distribuição espacial dos índices dentro dos estados? As cidades com melhores índices situam-se próximas ou distantes das capitais? À medida que um município se distancia do poder central, ocorrem mudanças significativas em seus IDHs? Amazonas e Pará foram escolhidos devido a sua extensão territorial que os torna os maiores estados do Brasil em área, o primeiro com 1.559.161,682 km² e o segundo com 1.247.950,003 km². O IDH de Manaus é significativamente maior que o do restante do estado, a capital está na posição 1207 no ranking brasileiro, enquanto o município de Ipixuna a 1365 km está na posição 5501 em um total de 5507 cidades brasileiras pesquisadas. A capital paranaense, Belém, possui um IDH relativamente satisfatório se comparado ao restante das cidades pesquisadas, com 0,806 ela ocupa a posição 447 no ranking nacional. O IDH do Estado em 2000 é de 0,723. O quadro 01 mostra os IDHs do conjunto de 60 cidades do Pará divididos em 30 melhores e 30 piores.

Quadro 01 Municípios do Estado do Pará com seus IDHs e sua distância para a Capital Melhores IDHs do Pará (em 2000) Piores IDHs do Pará (em 2000) Nº Município Pop. IDH Km Nº Município Pop. IDH Km 1 Ananindeua 471.980 0,782 15 km 1 Melgaço 24.808 0,551 252 km 2 Barcarena 99.859 0,768 16 km 2 Cachoeira do Piriá 26.484 0,571 218 km 3 Novo Progresso 25.124 0,760 988 km 3 Bagre 23.864 0,578 195 km 4 Tucuruí 97.128 0,755 290 km 4 Garrafão do Norte 25.034 0,581 168 km 5 Tucumã 33.690 0,747 657 km 5 Chaves 21.005 0,582 220 km 6 Castanhal 173.149 0,746 63 km 6 São J.do Araguaia 13.155 0,594 434 km 7 Santarém 294.580 0,746 700 km 7 Stª Luzia do Pará 19.424 0,595 175 km 8 Almeirim 33.614 0,745 456 km 8 Anajás 24.759 0,596 170 km 9 Redenção 75.556 0,744 748 km 9 Curralinho 28.549 0,598 152 km 10 Parauapebas 153.908 0,741 535 km 10 Nova Esp. do Piriá 20.158 0,605 191 km 11 Salinópolis 37.421 0,740 155 km 11 Viseu 56.716 0,608 262 km 12 Xinguara 40.573 0,739 646 km 12 Portel 52.172 0,612 266 km 13 Altamira 99.075 0,737 459 km 13 Afuá 35.042 0,612 256 km 14 Vigia 47.889 0,731 75 km 14 Bonito 13.630 0,614 131 km 15 Sapucaia 5.047 0,730 622 km 15 Tracuateua 27.455 0,615 180 km 16 Capanema 63.639 0,729 147 km 16 Capitão Poço 51.893 0,618 161 km 17 Soure 23.001 0,723 80 km 17 Augusto Corrêa 40.497 0,618 210 km 18 Stª Isabel do PA 59.466 0,721 39 km 18 Aurora do Pará 26.546 0,618 127 km 19 C. do Araguaia 45.557 0,718 760 km 19 Bom J. Tocantins 15.298 0,619 398 km 20 Rio Maria 17.697 0,718 671 km 20 Itupiranga 51.220 0,551 418 km 21 Oriximiná 62.794 0,717 821 km 21 Prainha 29.349 0,621 557 km 22 Salvaterra 20.183 0,715 78 km 22 Ipixuna do Pará 51.309 0,622 164 km 23 Marabá 233.669 0,714 435 km 23 Quatipuru 12.411 0,622 176 km 24 Marituba 108.246 0,713 20 km 24 Faro 8.177 0,623 922 km 25 Uruará 44.789 0,713 652 km 25 São D. do Capim 29.846 0,625 84 km 26 Colares 11.381 0,712 62 km 26 Novo Repartimento 62.050 0,626 349 km 27 Benevides 51.651 0,711 30 km 27 Acará 53.569 0,629 64 km 28 Terra Alta 10.262 0,711 80 km 28 Breves 92.860 0,63 223 km 29 Medicilândia 27.328 0,71 537 km 29 Juruti 47.086 0,63 850 km 30 Curuçá 34.294 0,709 107 km 30 Stª Cruz do Arari 8.155 0,63 116 km Valores Médios 83.418 0,732 365 km Valores Médios 33.084 0,606 270 km Fonte: dados da pesquisa 2013, IBGE, PNUD. Municípios bem próximos a Belém possuem índices distantes ao da capital a média de IDH das quatro cidades mais próximas é em torno de 0,746 e eles ficariam ranqueados na posição nº 1978 no Brasil. As cidades melhores posicionadas estão a uma distancia não muito grande de Belém. Duas cidades, Novo Progresso e Tucumã, chamam a atenção para os seus IDHs, elas estão relativamente distantes e conservam um índice bom no estado.

Os cinco piores IDHs do estado do Pará também estão concentrados em um raio entre 170 e 250 km de Belém, pelos dados é possível presumir que a proximidade com capital não trouxe os efeitos positivos, pelo contrário, criaram-se as cidades com os indicadores menos favoráveis. Quando é aumentada a distância de Belém e pesquisa-se os quatro municípios centrais, encontra-se novamente o que pode ser considerado aqui de Fenômeno do distanciamento ele não ocorreu de forma uniforme, uma vez que a cidade de Tucuruí a 290 km de Belém está melhor posicionada em IDH do que Melgaço a 252 km. A média dos melhores IDHs dos 30 municípios estudados é de 0,732 e as distâncias para Belém correspondem a 365 km atendendo uma população de média de 83.418 pessoas. Os piores índices (0,606) estão mais próximos a Belém a uma distância média de 270 km e uma população média de 33.084 habitantes. Essa diferença de 95 km corresponde a 35% de aumento no distanciamento e uma variação de IDH de 0,606 para 0,732, que mudaria o ranking de um município de 4546 para 2367, uma melhora de 52,06%. Com características similares ao estado do Pará, o Amazonas, é o maior estado brasileiro, de proporções enormes e desenho particular. Manaus, a capital, está situada na porção nordeste, bem fora do eixo central do estado. Manaus fica a uma distância de aproximadamente 1493 km na divisa com o noroeste do Acre, no município de Guajará, observa-se distâncias pouco acima 330 km em direção ao estado do Pará, e entre 390 e 240 km até a divisa com Roraima. Não é simples determinar uma cidade com disposição mais geodésica, o município de Tefé seria o mais propenso ao equilíbrio de distâncias, ainda assim o estado Teria localidades distanciadas a mais de 1000 km de Manaus. O conjunto dos municípios mais próximos a Manaus tem realidades muito diferentes dos que se situam mais afastados, o IDH médio é de 0,668 a uma distância média de 334 km. Os piores IDHs (0,563) estão a uma distância aproximada de 711 km. Mesmo considerando os municípios mais próximos os índices estão entre os piores do Brasil abaixo da média 0,718. Na metodologia utilizada não se observou alteração de IDH nas cidades próximas a capital em uma distância que varia de 20 a 70 quilômetros a soma resultante do ranking das quatro cidades seria a posição 3460 com IDH médio de 0,670. As quatro cidades centrais do estado do Amazonas (Tefé, Alvarães, Uarini e Maraã) possuem IDHs semelhantes e nos revelam que quanto mais elas se distanciam da capital, piores são os seus indicativos. Em um intervalo de 522 a 610 km o IDH caiu de 0,663 para 0,560 a média das quatro cidades centrais é de 0,619 o que as deixariam na posição de 4320 no Brasil. O quadro 02 mostra os IDHs do conjunto de 60 cidades do Amazonas

divididos em 30 melhores e 30 piores. Quadro 02 Municípios do Estado do Amazonas com seus IDHs e sua distância para a Capital Melhores IDHs do Amazonas (2000) Piores IDHs do Amazonas (2000) Nº Município Pop. IDH Km Nº Município Pop. IDH Km 1 Pres. Figueiredo 27.175 0,741 120 km 1 Ipixuna 22.254 0,487 1365 km 2 Itacoatiara 86.839 0,711 175 km 2 Tapauá 19.077 0,498 447 km 3 Tabatinga 52.272 0,699 1108 km 3 Guajará 13.974 0,504 1493 km 4 Urucará 17.094 0,698 260 km 4 Itamarati 8.038 0,505 983 km 5 Parintins 102.033 0,696 370 km 5 Envira 16.338 0,513 1206 km 6 Iranduba 40.781 0,694 10 km 6 Santo A. do Içá 24.481 0,525 881 km 7 Itapiranga 8.211 0,694 226 km 7 Fonte Boa 22.817 0,532 679 km 8 Maués 52.236 0,689 257 km 8 Pauini 18.166 0,532 924 km 9 Humaitá 44.227 0,678 588 km 9 Jutaí 17.992 0,533 752 km 10 Rio Preto da Eva 25.719 0,677 60 km 10 São P. de 31.422 0,536 993 km 11 Apuí 18.007 0,676 450 km 11 Olivença Canutama 12.738 0,546 613 km 12 Silves 8.444 0,675 204 km 12 Juruá 10.802 0,546 673 km 13 São G. Cachoeira 37.896 0,673 853 km 13 Stª I. R. Negro 18.146 0,548 632 km 14 Manacapuru 85.141 0,663 70 km 14 Atalaia do Norte 15.153 0,559 1138 km 15 Manaquiri 22.801 0,663 59 km 15 Maraã 17.528 0,560 635 km 16 Tefé 61.453 0,663 522 km 16 Eirunepé 30.665 0,562 1160 km 17 Urucurituba 17.837 0,663 219 km 17 Beruri 15.486 0,575 172 km 18 Autazes 32.135 0,661 110 km 18 Carauari 25.774 0,575 787 km 19 São S. Uatumã 10.705 0,659 247 km 19 Japurá 7.326 0,577 788 km 20 Careiro da Várzea 23.930 0,658 18 km 20 Tonantins 17.079 0,587 863 km 21 Nhamundá 18.278 0,656 382 km 21 Barcelos 25.718 0,593 401 km 22 Novo Airão 14.723 0,656 117 km 22 Codajás 23.206 0,593 240 km 23 Alvarães 14.088 0,647 532 km 23 Lábrea 37.701 0,598 700 km 24 Barreirinha 27.355 0,645 330 km 24 Borba 34.961 0,599 147 km 25 Boa V. Ramos 14.979 0,642 271 km 25 Uarini 11.891 0,599 571 km 26 Benjamin Constant 33.411 0,640 1120 km 26 Boca do Acre 30.632 0,611 1026 km 27 Anamã 10.214 0,637 161 km 27 Manicoré 47.017 0,621 328 km 28 Anori 16.317 0,634 194 km 28 Caapiranga 10.975 0,624 134 km 29 Amaturá 9.467 0,631 909 km 29 Novo Aripuanã 21.451 0,624 223 km 30 Careiro 32.734 0,630 85 km 30 Coari 75.965 0,627 362 km Valores Médios 32.217 0,668 334 km Valores Médios 22.826 0,563 711 km Fonte: dados da pesquisa 2013, IBGE, PNUD. Com exceção da cidade de Tabatinga, para um estado do tamanho do Amazonas, as outras quatro cidades de melhor IDH estão localizadas relativamente próximas a capital em um raio que varia de 115 a 370 km. A leitura do quadro 02 mostra que as cidades mais distantes de Manaus concentram os piores IDHs, com exceção de Tabatinga (1108 km),

São Gabriel da Cachoeira (853 km) e Amaturá (909 km) todas as outras localidades com os melhores índices estão em pontos mais próximos da capital. A soma dos piores IDHs resultam em uma média de 0,563, distribuídos em um raio de 711 km. Esses números configuram um aumento de 112% nas distancias, reforçando a ideia de que, de alguma forma, o distanciamento dos municípios com relação a capital do estado do Amazonas interfere nos índices para baixo. A leitura do IDH médio de 0,668 posiciona o conjunto de cidades mais próximas em 3484 enquanto que um IDH com média 0,563 posiciona as cidades mais distantes no ranking brasileiro em 5189, uma variação negativa de -67,14%. O mapa 01 mostra a distribuição espacial dos melhores (em azul) e piores (em vermelho) IDHs nos estados do Amazonas e Pará. Nota-se que a cidade Manaus atraiu os melhores índices para suas proximidades, enquanto que Belém atraiu os melhores e os piores. Mapa 01 Distribuição espacial do IDH de 60 municípios nos estados do Amazonas e Pará Fonte: dados da pesquisa 2013. Mapa, elaboração do autor. 3. Conclusões A grande maioria das capitais brasileiras estão de fato mal distribuídas em seus respectivos territórios. No Amazonas, existe uma tendência em piora do IDH de acordo com o distanciamento, é possível, em partes, ser sustentado o argumento de que as cidades mais distanciadas possuem menos privilégios com relação ao IDH. Evidentemente que não se pode ser taxativo uma vez que os dados também mostram que os piores e os melhores

índices no estado do Pará, concentram-se em distancias relativamente curtas de Belém. O que se revela inicialmente é que o argumento de divisão de um estado baseado no distanciamento de uma localidade até o governo central é complexo e pode tornar-se frágil, considerando que a maioria dos estados possuem suas capitais em pontos que não equivalem exatamente ao centro. A análise dos melhores e piores IDHs do conjunto de cidades dos dois maiores estados do Brasil demonstram essas complexidades. Enquanto que no Amazonas é possível apontar que o distanciamento piora o IDH, no Pará o processo é inverso uma vez que a soma dos melhores índices situa-se a uma distância maior que a soma dos piores. Não é possível ter clareza se o distanciamento dos municípios com relação a Manaus ou Belém influencia negativamente nos indicadores de IDH. O que pode ser revelado é que os melhores índices encontram-se em cidades próximas, mas os piores não necessariamente estão nas cidades mais distantes. Alegar que as cidades mais distanciadas da capital são de alguma forma punidas ou prejudicadas por esse distanciamento torna-se insustentável se observarmos os números do IDH, os movimentos separatistas que se valem dessas falas estão sujeitos a argumentos contrários e precisariam de um conjunto maior de alegações para dar sustentabilidade aos seus anseios. É possível em casos, como o do Pará, utilizar-se dados do IDH para sustentar um argumento contrário aos argumentos de distanciamento, pois, aparentemente, as localidades mais distantes da capital experimentam atualmente uma onda de progresso, de crescimento, e desenvolvimento, independentemente de possuir identidade ou proximidade com a capital. É fato que em um país federalista com governos centrais, as burocracias inerentes à execução de projetos, grandes decisões politicas e resolução de embargos estão concentradas nas capitais. Estar a 10 e não a 1000 km de Belém ou Manaus é de fato um facilitador para qualquer gestor municipal ou cidadão que necessite de soluções burocráticas. As capitais possuem a vantagem de uma gama maior de investimentos em saúde, educação, renda e muitos benefícios, por outro lado, a grande demanda de pessoas afetam a qualidade desses serviços. De alguma forma seria preciso mais estudos caso a caso, estado por estado com um número maior de cidades investigadas e principalmente com os dados da PNUD/IDH atualizados para se ter uma noção mais crítica do assunto.

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