Noções de Direito Penal - PF: Agente de Polícia Federal Professor: Francisco Menezes. Aulas 01 a 24

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Transcrição:

Noções de Direito Penal - PF: Agente de Polícia Federal - 2014 Professor: Francisco Menezes Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 1 de 75

NOÇÕES DE DIREITO PENAL AULA 01 1. Princípio da legalidade: Código penal: Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Constituição Federal:Art. 5º XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal A legalidade é um princípio constitucional explícito (art. 5º, XXXIX, CF) ratificado no Código Penal (art. 1º, CP). Em um Estado democrático de direito exigi-se a subordinação de todos perante a lei e a faceta penal deste princípio assegura uma série de garantias a todos os cidadãos perante o poder de punir do Estado. Existem várias garantias ou corolários (ou subprincípios) que advêm do Princípio da Legalidade: Princípio da anterioridade (lex praevia): a lei penal incriminadora deve ser anterior ao fato que se quer punir. É aplicado para todas as normas de direito material penal. Só considera uma atitude como criminosa se for praticada durante a vigência da lei que a incrimina. Assim, tanto a lei quanto a pena devem existir antes do fato. Exemplo: uma alteração do código penal que aumentasse a pena de crimes como peculato (artigo 312 do Código penal) ou corrupção passiva (artigo 317 do mesmo código) não será aplicável aos condenados na ação penal 470 do Supremo Tribunal Federal (o popular processo do mensalão ). Princípio da reserva legal (lex scripta): somente a lei em sentido estrito pode veicular crimes ou penas. A lei é a única fonte formal da norma incriminadora, mais especificamente, a lei ordinária é o veículo próprio para a tipificação de condutas e sanções penais. Esta garantia proíbe a incriminação pelos costumes, pois, insiste-se, somente a lei ordinária pode prever crimes ou penas. A separação entre moral e direito é um dos Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 2 de 75

corolários da legalidade: uma atitude moralmente duvidosa só será objeto do direito punir do Estado quando a lei assim o disser. Veda-se, ainda a proibição da analogia em desfavor do réu. É a chamada analogia in malam partem. A analogia é método de integração da norma jurídica que consiste no preenchimento de uma lacuna legislativa, com a utilização de regra que serve para situação semelhante. Ex.: se o indivíduo utiliza arma de brinquedo durante a prática do crime de roubo, não se aplica a causa de aumento de pena do art. 157, 2º, I, CP, pois esta majorante se refere ao uso de arma e aplicá-la para o uso de brinquedos ou simulacros é uma clara analogia em desfavor do réu. Roubo Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma. (...) A Súmula 174 do Superior Tribunal de Justiça foi cancelada para se preservar este princípio, pois o verbete previa justamente o contrário. É preciso salientar que a analogia em favor do réu é possível, tendo em vista que o princípio da legalidade visa agregar garantias ao indivíduo e, portanto, não pode acabar prejudicando-o. OBSERVAÇÂO: Não confunda analogia com interpretação analógica. A analogia (método de integração) pressupõe ausência de lei, já a interpretação analógica ocorre quando a própria lei traz uma fórmula casuística seguida de uma forma genérica permitindo a ampliação interpretativa de suas hipóteses de aplicação. A interpretação analógica é perfeitamente aceita, pois autorizada pela própria lei. Exemplo: art. 121, 2º, I, CP: ou por outro motivo torpe. Homicídio simples Art. 121. Matar alguem: Homicídio qualificado 2 Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.(...) Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 3 de 75

Princípio da taxatividade (lex certa): exige clareza na definição do tipo penal, que não pode ser vago ou extremamente abrangente. O tipo penal deve definir de forma pormenorizada a conduta delituosa. Os tipos penais vagos, abertos, violam o princípio da legalidade. Assim, a lei não pode tipificar condutas como: realizar atos que ofendem a ordem nacional ou ainda, condutas que atentem contra o direito do consumidor. É necessário descrever de forma clara e precisa a ação ou omissão que se quer criminalizar. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 4 de 75

AULA 2 Lei penal no tempo. Conceito: trata-se do estudo acerca da sucessão de leis penais no tempo e seus efeitos nos crimes praticados. Anterioridade da norma incriminadora: O art. 1º do Código Penal (já estudado na primeira aula) traz o princípio da legalidade, que por sua vez exige a anterioridade da norma incriminadora. Esta regra é aplicável a qualquer norma de direito material penal que é desfavorável ao acusado. Código penal: Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Constituição Federal:Art. 5º XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal Retroatividade da lei benéfica: a lei penal que traz benefícios ao acusado retroage para reger condutas anteriores à sua vigência. É um princípio que mitiga a exigência da anterioridade da lei penal. Assim, nova lei que diminui a pena de um delito, ou deixe de considerar um fato como criminoso, retroage para reger todos os atos anteriores. Constituição Federal Art. 5º XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Código Penal Lei penal no tempo Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 5 de 75

Conclusão: A lei penal maléfica (lex gravior) é estática, só é aplicada aos crimes praticados durante sua vigência e só enquanto ela estiver em vigor. Já a lei benéfica (lex mitior) possui dois atributos que a lex gravior não possui: Retroatividade: pois ela retroage para reger os atos anteriores a sua vigência. Ultratividade: a lex mitior ultra-agirá para reger os atos praticados durante sua vigência, sempre que for sucedida por uma lex gravior. Observação: Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal: Súm. 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. A melhor interpretação para a súmula é a de que se aplica a última lei que entra em vigor durante a permanência ou continuidade do crime, ainda que mais grave, ou seja: se durante a permanência ou continuidade do crime houver a sucessão de leis, aplica-se a última. Crime permanente: é aquele cuja consumação se prolonga no tempo e o agente controla a permanência. Exemplos: Extorsão mediante sequestro (art. 159, CP), pois enquanto a vítima está sequestrada, o crime está se consumando Extorsão mediante sequestro Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. Crime de posse ilegal de arma (Art. 12, Lei 10.826/03). Posse irregular de arma de fogo de uso permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 6 de 75

Crime de tráfico de drogas (art. 33, Lei 11.343/06). Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Atenção: crime permanente é o contrário de crime instantâneo, que é aquele que se consuma em um momento específico, portanto não possui consumação que se prolonga no tempo. Existem crimes instantâneos que são de efeitos permanentes. São aqueles cujos efeitos não são reversíveis pela vontade do agente. (exemplo: homicídio). A Súmula 711 não se aplica aos crimes instantâneos, ainda que com efeitos permanentes. Crime continuado: é uma regra de aplicação de pena (art. 71, CP) na qual várias infrações são consideradas como um só crime. Essa ficção jurídica só tem efeitos na aplicação da pena. De acordo com a Súmula 711, caso ocorra uma sucessão de leis penais curante uma continuidade delitiva, quando o juiz considerar todas as infrações como continuação da primeira, aplicará a pena de acordo com a última lei. Crime continuado Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Lei temporária e excepcional art. 3º do código penal. Lei excepcional ou temporária Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 7 de 75

Lei penal temporária é aquela que possui data determinada de vigência, ou seja, possui um período específico na qual ela faz parte do ordenamento. Exemplo: Lei que prevê crimes para o período da Copa do Mundo no Brasil. Lei penal excepcional (temporária em sentido amplo): é aquela que possui vigência condicionada a uma situação de anormalidade. Exemplo: estado de sítio, estado de defesa, guerra externa. Ambas possuem ultratividade maléfica, ou seja, aplicam-se aos fatos praticados durante a sua vigência, mesmo depois que deixam o ordenamento. Tempo e Lugar do crime: O Código Penal adotou a teoria da atividade para determinar o momento do crime, que será o da ação ou omissão, independentemente do momento do resultado. Exemplo: em 02/10/10, Tício, de 17 anos, comete homicídio, com pena de 6 a 20 anos. No dia 03/11/10 altera-se a lei aumentando a pena para 12 a 30 anos e no dia 04/12/10 a vítima morre e Tício completa 18 anos. Considera-se que o crime foi praticado no dia 02/10/10, de forma que Tício só poderá receber medidas sócio-educativas, por ser inimputável no momento da atividade. No que tange ao lugar do crime, o código adotou a teoria da ubiquidade, de forma que o delito ocorre tanto no local onde se dá a conduta quanto naquele em que ocorreu ou ocorreria o resultado. Exemplo: Tício recebe um tiro na Argentina, mas morre no Brasil. O crime ocorreu tanto lá quanto aqui, sendo aplicáveis ambos os ordenamentos jurídicos. Tempo do crime Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Lugar do crime Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 8 de 75

Questão de prova Prova: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia Federal Julgue os itens a seguir com base no direito penal. O fato de determinada conduta ser considerada crime somente se estiver como tal expressamente prevista em lei não impede, em decorrência do princípio da anterioridade, que sejam sancionadas condutas praticadas antes da vigência de norma excepcional ou temporária que as caracterize como crime. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: errado Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 9 de 75

AULA 3 Combinação de leis penais Conceito: trata-se da utilização simultânea de dois institutos pertencentes a leis penais distintas, que se sucedem no tempo, em benefício do réu (exemplo: causa de aumento de uma lei em escala penal de outra). A lei antiga de Drogas (Lei 6.368/76) previa, no art. 12, a pena de 3 a 15 anos para Tráfico de ilícito de entorpecentes. Já a Lei 11.343/06 entrou em vigor prevendo, no seu art. 33, a pena de 5 a 15 anos para este mesmo delito. Caso o crime fosse praticado na vigência da lei antiga, em tese, aplicar-se-ia a esta, por ser mais benéfica. No entanto, a Lei 11.343/06 traz, no 4º do mesmo artigo, uma hipótese de redução que pode chegar a 2/3 da pena, podendo vir a ser mais benéfica no caso concreto. A combinação de leis penais consistiria na aplicação da escala penal da lei antiga (3 a 15 anos) com a causa de diminuição de pena da lei nova (1/6 a 2/3) para os crimes que são praticados ainda na vigência da lei antiga. Lei 11343/06 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Lei 6368/76 Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Pena - Reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 10 de 75

Quanto à possibilidade de combinação, existem 2 correntes de pensamento: 1ª corrente: diz que não é possível a combinação de leis, pois criar-se-ia uma terceira lei através de decisão judicial, violando a separação dos poderes. 2ª corrente: é possível, pois estaria promovendo a integração do ordenamento jurídico. De acordo com essa corrente, em respeito aos princípios da legalidade e retroatividade da lei penal benéfica, a combinação promove a integração do ordenamento penal jurídico. Para eles não está criando uma lei nova, está integrando a leis que foram criadas legitimamente pelo Poder Legislativo. Ótica jurisprudencial: o STJ, na Súmula 501, se posicionou de acordo com a 1ª corrente. Recentemente, o STF também se posicionou assim, defendendo que não é possível a combinação de leis. Esta será a resposta em provas de concurso. Súm. 501, STJ - É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. OBSERVAÇÃO: a abolitio criminis (lei que deixa de considerar fato como crime) não apaga os efeitos extrapenais do crime ou da sentença. Então, uma sentença penal transitada em julgado de crime que não existe mais ainda pode ser utilizada como título executivo na esfera civil. A Súmula 611 STF diz ainda que o juiz da execução é competente para aplicar a lei penal benéfica, se já houver trânsito em julgado. Súm. 611, STF - Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. LEI PENAL NO ESPAÇO Conceito: trata-se do estudo acerca da aplicabilidade da lei brasileira aos crimes cometidos dentro e fora do país. No que tange a essa aplicabilidade, é importante citar o art. 6º que a teoria da ubiquidade. O lugar do crime é tanto o local da ação quanto o local onde ocorreu ou deveria ter ocorrido o resultado. Princípio da territorialidade: O art. 5º trata da territorialidade da lei brasileira, adotando o princípio da territorialidade mitigada (ou temperada). A lei brasileira é aplicada Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 11 de 75

nos crimes cometidos no território brasileiro, permitindo-se exceções de direito internacional. A estas exceções dá-se o nome de intraterritorialidade e um bom exemplo seria as imunidades diplomáticas.. Pela regra geral firmada no citado artigo 5º (se o crime ocorre no território brasileiro, via de regra, aplica-se a lei brasileira) é importante saber o que é o território nacional. Território em sentido estrito: engloba todo o espaço no interior das fronteiras, incluindo solo, subsolo e as águas interiores, o mar territorial (12 milhas náuticas a partir da costa) e todo o espaço aéreo correspondente. Se um crime é praticado desse território, aplica-se a lei brasileira, a não ser que existam tratados internacionais que afirmem o contrário. Território nacional por extensão: art. 5º, 1º e 2º. Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Considera-se território nacional por extensão: Embarcações (em sentido amplo) ou aeronaves brasileiras públicas ou a serviço do governo, em qualquer lugar. Ex.: Se o crime é praticado em um navio de guerra do Brasil, aplica-se a lei brasileira ainda que a embarcação esteja no mar territorial da França. Embarcações ou aeronaves privadas ou mercantes, brasileiras, quando estão em alto mar ou no espaço aéreo corresponde ao alto mar. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 12 de 75

Ex.: Em um crime praticado em iate brasileiro privado navegando em alto mar, aplica-se a lei brasileira, não importa a nacionalidade de seus passageiros. Se esse mesmo iate privado entra no território francês, não há mais aplicação da lei brasileira. Embarcações ou aeronaves estrangeiras privadas, em território brasileiro. Observação 1: embarcações e aeronaves estrangeiras públicas não são consideradas com extensões territoriais do Brasil, mesmo quando estão em território nacional no sentido estrito. Observação 2: embaixadas não são extensão territorial. Havia um tratado internacional que dizia que seriam, mas atualmente não mais. Observação 3: destroços ou fragmentos de embarcação mantêm a sua bandeira para a aplicação do princípio da territorialidade, então a lei brasileira será aplicável se nos destroços acontecer um crime. Exemplo: um iate brasileiro privado bate em um iceberg e um argentino e um espanhol constroem uma jangada com os destroços do navio. O argentino mata o espanhol. Aplicase a lei brasileira ao crime. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 13 de 75

AULA 4 Extraterritorialidade A extraterritorialidade da lei brasileira é excepcional e só ocorre nos casos expressos em lei. O código penal possui, em seu artigo 7º, diversas hipóteses de extraterritorialidade em seu artigo 7º. Podemos dividi-las em condicionadas e incondicionadas. Extraterritorialidade incondicionada: Nas seguintes hipóteses, previstas no artigo 7º I do código penal, a lei brasileira é aplicável independentemente de qualquer condição, mesmo que o réu seja condenado ou absolvido no estrangeiro. Extraterritorialidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. A alínea a refere-se aos crimes contra a vida e a liberdade do presidente da república. Assim, se a presidente do Brasil sofrer um atentado contra a sua vida em território venezuelano, a lei brasileira poderá ser aplicada independentemente de qualquer condição, mesmo que o autor seja efetivamente absolvido pelo poder judiciário da Venezuela, por se tratar de extraterritorialidade incondicionada. A alínea b refere-se aos crimes contra o patrimônio (artigos 155 a 183 do código penal) ou fé pública (artigo 289 a 311 do código penal) de ente da administração pública brasileira direta ou indireta. Assim, caso o agente pratique um crime de estelionato (artigo 171 do CP) em desfavor da Petrobrás (sociedade de economia mista brasileira) em solo americano, a lei brasileira será aplicável ao delito, independentemente de qualquer condição. A alínea c refere-se aos crimes contra a administração pública por quem está a seu serviço. São os crimes do artigo 312 a 326 do código penal. Exemplo: se funcionário público brasileiro recebe vantagem indevida em razão de seu cargo (crime de corrupção Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 14 de 75

passiva do artigo 317 do código penal) em território francês, a lei brasileira é aplicável independentemente de qualquer condição. Cada uma das hipóteses supracitadas se fundamenta no princípio da defesa real ou da proteção, que afirma: aplica-se a lei do país a que pertencer o bem jurídico violado. A alínea d refere-se ao delito de genocídio, previsto na lei 2889/56, em seus artigos 1º, 2º e 3º. O princípio que fundamenta esta hipótese é chamado de princípio da universalidade, justiça universal ou ainda cosmopolita. Tal postulado prega um dever universal de solidariedade na persecução de crimes gravosos. O inciso II do artigo 7º dispõe acerca das hipóteses de extraterritorialidade condicionada. Nestas, a lei brasileira só é aplicável quando todas as condições descritas no 2º deste artigo estiverem presentes. Extraterritorialidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Na alínea a a aplicação da lei brasileira pode ocorrer nos crimes que, por tratado o Brasil o se obrigou a reprimir. A hipótese também se fundamenta no princípio da universalidade ou justiça universal. Na alínea b, temos os crimes praticados por brasileiro, hipótese bem cobrada em prova. O princípio fundamentador é o da nacionalidade ativa: aplica-se a lei do Estado aos seus nacionais. Por fim, a lei traz os crimes praticados em embarcações ou aeronaves brasileiras privadas ou mercantes no estrangeiro, quando lá não são julgadas. Percebe-se aqui uma Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 15 de 75

integração do ordenamento jurídico penal, pois não temos mais a extensão do território nacional nas hipóteses descritas nesta alínea c, havendo extraterritorialidade condicionada para se evitar a impunidade. O princípio é o da bandeira ou da representação que dispõe: é aplicável a lei do país a que pertencer o meio de transporte privado. É preciso notar que as condições descritas no 2º são cumulativas, portanto, todas devem estar presentes para que a lei brasileira seja aplicada nas hipóteses do inciso II. Entretanto, nas hipóteses do inciso I nenhuma condição é necessária. O 3º do artigo 7º traz mais uma hipótese extraterritorialidade condicionada fundamentada pelo princípio da nacionalidade passiva. Art. 7º 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Por derradeiro, é preciso lembrar a hipótese de extraterritorialidade incondicionada trazida no artigo 2º da de lei de tortura (lei 9455/97), muito cobrada em concursos policiais. Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. Questão de prova resolvida em aula: Prova: CESPE - 2012 - Polícia Federal Julgue os itens a seguir com base no direito penal. Será submetido ao Código Penal brasileiro o agente, brasileiro ou não, que cometer, ainda que no estrangeiro, crime contra administração pública, estando a seu serviço, ou cometer crime contra o patrimônio ou a fé pública da União, de empresa pública ou de sociedade de economia mista. A circunstância de a conduta ser lícita no país onde foi praticada ou de se encontrar extinta a punibilidade será irrelevante para a responsabilização penal do agente no Brasil. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: Certo Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 16 de 75

AULA 05 Conflito aparente de normas Conceito: ocorre quando duas normas incriminadoras são aparentemente aplicáveis ao mesmo fato e ao mesmo tempo, ou seja, quando há, simultaneamente, dois tipos penais aplicáveis ao mesmo fato. O direito penal moderno rechaça a dupla punição pelo mesmo crime (princípio da proibição do bis in idem), havendo 4 princípios penais que resolvem o citado conflito aparente. Princípio da especialidade: norma especial afasta a aplicação de norma geral. Considera-se especial a norma que possui um elemento que especifica e individualiza a conduta no caso concreto. Exemplo: art. 334 do código penal prevê o crime de contrabando ou descaminho: contrabando é importar ou exportar mercadoria proibida. O art. 33 da Lei 11.343/06 traz a conduta de importar e exportar droga. Como droga também é mercadoria proibida, é preciso resolver o conflito através do princípio da especialidade. O art. 33 é norma especial, afastando a incidência do art. 334, pois de todas as mercadorias proibidas que se pode importar, aquele só tratou do entorpecente. Contrabando ou descaminho Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 17 de 75

Princípio da subsidiariedade: Norma primária afasta a aplicação da norma subsidiária. Considera-se primária a norma que prevê ofensa mais ampla e grave ao mesmo bem jurídico. Este princípio leva em consideração a gravidade do crime, enquanto o da especialidade só se preocupa com elementos que trazem especialização ao caso concreto. O princípio da subsidiariedade pode ter aplicação expressa ou tácita. Subsidiariedade expressa: o próprio tipo penal se declara subsidiário. Exemplo: art. 132, CP: exposição de perigo à vida. O próprio tipo penal afirma que só haverá o crime previsto, se a conduta não resultar em delito mais grave. Também percebemos a aplicação do princípio no artigo 15 do estatuto do desarmamento. Perigo para a vida ou saúde de outrem Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. Disparo de arma de fogo Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Subsidiariedade tácita: ocorre quando um tipo penal serve como causa de aumento, qualificadora ou elemento constitutivo de outro. A norma penal mais grave vai prevalecer, afastando a menos grave. Exemplo: o artigo 163 traz o crime de dano que consiste na destruição ou deterioração de coisa alheia. Por sua vez, o crime de furto possui uma qualificadora que consiste justamente no rompimento ou destruição de obstáculo (artigo 155 4º I) que, no caso concreto, afastará o crime de dano por ser norma mais ampla e grave. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 18 de 75

Dano Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Furto qualificado 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; Princípio da consunção: O crime que serve como meio de preparação, execução ou mero exaurimento de outro é por este absolvido. Princípio da consunção (ou princípio da absorção): O crime que serve como meio de preparação, execução ou mero exaurimento de outro é por este absolvido. Existem 3 situações em que o princípio se aplica: - Ante-fato impunível: Ocorre quando um crime serve como meio de preparação necessária para outro. Exemplo: Súmula 17 do STJ descreve situação na qual o agente falsifica um documento para praticar o crime de estelionato. Neste contexto, caso a falsificação não tenha qualquer outra potencialidade nociva, somente o crime de estelionato prevalecerá no caso concreto. Súmula 17 Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. - Pós-fato impunível: ocorre quando o agente pratica dois crimes que violam o mesmo bem jurídico, num contexto no qual o segundo só é praticado para se obter a vantagem desejada com o primeiro. Este absorverá aquele. Exemplo: agente falsifica moeda para coloca-la em circulação. Responderá apenas pelo primeiro crime. Moeda Falsa Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papelmoeda de curso legal no país ou no estrangeiro: Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 19 de 75

Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa. - Crime progressivo: o agente pratica um tipo penal que passa necessariamente por um delito menos grave que fica absorvido como num delito de passagem. Exemplo: Para se praticar homicídio (artigo 121 do CP) é necessário praticar lesão corporal (artigo 129 do CP). Homicídio simples Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Princípio da Alternatividade: Ocorre nos chamados tipos mistos alternativos, que são os crimes que possuem vários verbos núcleos. A prática de vários desses verbos, dentro do mesmo contexto fático, gera crime único. Exemplo: O já mencionado delito do artigo 289 1º do código penal. Guardar moeda falsa e depois coloca-la em circulação gera crime único. Questões resolvidas em sala: Prova: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia Julgue os itens a seguir com base no direito penal. Conflitos aparentes de normas penais podem ser solucionados com base no princípio da consunção, ou absorção. De acordo com esse princípio, quando um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação ou execução de outro crime, aplica-se a norma mais abrangente. Por exemplo, no caso de cometimento do crime de falsificação de Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 20 de 75

documento para a prática do crime de estelionato, sem mais potencialidade lesiva, este absorve aquele. ( ) Certo ( ) Errado Prova: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia Federal Luiz, proprietário da mercearia Pague Menos, foi preso em flagrante por policiais militares logo após passar troco para cliente com cédulas falsas de moeda nacional de R$ 20,00 e R$ 10,00. Os policiais ainda apreenderam, no caixa da mercearia, 22 cédulas de R$ 20,00 e seis cédulas de R$ 10,00 falsas. Nessa situação, as ações praticadas por Luiz guardar e introduzir em circulação moeda falsa configuram crime único. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: Certo Certo Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 21 de 75

AULA 06 Conceito analítico de crime: Em seu conceito analítico, crime é conduta típica, ilícita e culpável. Estes 3 substratos compõem o conceito moderno de delito e podem ser decompostos da seguinte forma: FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE Conduta humana (ação ou omissão) Dolo ou culpa Resultado (material ou meramente jurídico) Nexo causal Tipicidade (formal e material) Causas de exclusão da ilicitude (art.23, CP) Imputabilidade Potencial consciência da ilicitude Exigibilidade de conduta diversa Analisaremos cada um dos substratos citados acima. Conduta: comportamento humano voluntário psicologicamente dirigido a um fim. É possível perceber que nosso Código adotou o conceito finalista de conduta. Hoje, no conceito finalista, o dolo e culpa são elementos subjetivos pertencentes à conduta humana. Causas de exclusão da conduta - Movimentos reflexos: a reação nervosa e muscular automática a determinado estímulo. Nesse caso não há conduta penalmente relevante, uma vez que não existe comportamento voluntário destinado a um fim. Exemplo: pessoa toma um choque elétrico e derruba alguém. - Momentos de inconsciência: Também são desprovidos de conduta, mas tem que ser momento de completa inconsciência. Exemplo: hipnose e sonambulismo. Nesse contexto, importante lembrar que a embriaguez é classificada pelo Código Penal, no art. 28, 1º e 2º do CP, como causa de exclusão da imputabilidade quando ela for involuntária (aquela que acontece por caso fortuito ou força maior). Ou seja, o embriagado não está em momento de inconsciência, a conduta é penalmente relevante, mas tem causa de exclusão da imputabilidade, não sendo fato culpável. Excluiria a conduta, apenas a embriaguez comatosa excluiria a conduta. - Coação física irresistível: ocorre quando uma força física externa atua no corpo do agente, movendo-o contra a sua vontade. Exemplo: A quer lesionar C, e para isso ele move o corpo de B contra C. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 22 de 75

Já na coação moral irresistível, não há uma força física externa, existe uma ameaça. É a situação na qual o coator ameaça o coagido, obrigando-o a praticar crimes (de acordo com o art. 22, CP, é causa de excludente de culpabilidade). Elementos subjetivos da conduta Dolo Conceito: dolo é a vontade consciente de praticar os elementos do tipo penal. Toda conduta criminosa, via de regra, pressupõe o dolo. O comportamento criminoso é aquele realizado de forma consciente e voluntária. Art. 18 - Diz-se o crime: Crime doloso I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; Crime culposo II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Espécies de dolo: O código penal adotou as teorias da vontade e do assentimento para classificar uma conduta como dolosa. Assim, podemos dividir as espécies de dolo em: Dolo direto: De 1º grau: a vontade consciente está diretamente voltada para a prática do crime. Ou seja, o agente vai realizar sua conduta querendo diretamente produzir o crime. De 2º grau: traduz vontade consciente referente às consequências necessárias da conduta realizada, ou seja, aos efeitos colaterais da conduta. Ex.: o agente quer matar uma pessoa colocando uma bomba no carro, sabendo que mulher e filha do indivíduo estão no veículo. O artefato explode, o homicídio da pessoa pretendida é em dolo direito de 1º grau e da mulher e filhos de segundo.. Dolo indireto: Dolo eventual: ocorre quando o agente prevê possível resultado, mas mantém sua conduta, assumindo o risco de produzi-lo. Não existe vontade relacionada ao resultado, existe aceitação de risco, de uma probabilidade. O agente aceita o resultado como possível, provável. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 23 de 75

Dolo alternativo: ocorre quando o agente prevê uma pluralidade de possíveis resultados, e dirige sua conduta como vontade de praticar qualquer um deles. Culpa Conceito: é a inobservância de um dever objetivo de cuidado, que gera um resultado indesejado, porém objetivamente previsível. Elementos do conceito de culpa: - Inobservância de dever objetivo de cuidado: trata-se do desrespeito a uma norma que visa a pacífica coesão social. Suas formas: a imprudência, negligência e imperícia.. Imprudência: inobservância ativa do dever de cuidado. É fazer o que não se deve. Exemplo: desobedecer a um semáforo fechado. Negligência: inobservância passiva do dever de cuidado. É não fazer o que se deve. Está muito mais ligado à omissão. Exemplo: técnico de segurança não toma todas as prevenções necessárias na manutenção de uma máquina. Imperícia: é a falta de habilidade de quem exerce arte, ofício ou profissão. Exemplo: médico age com imperícia em uma operação. Resultado material indesejado: todo crime culposo é material, possui resultado naturalístico gerado de forma involuntária. Não existem crimes culposos formais ou de mera conduta. Resultado natural: resultado perceptível no mundo dos fatos. Previsibilidade objetiva: o resultado gerado pela conduta culposa deve se mostrar previsível para a consciência média da sociedade. O resultado não precisa ter sido previsto pelo agente, mas precisa ser previsível para o homem médio.. Culpa inconsciente: ocorre quando o agente atua sem prever o resultado, embora este seja previsível. Como não é necessária a previsão para a culpa, mas apenas a previsibilidade, o agente vai responder. Exemplo: o chefe de segurança se esquece de vistoriar certos equipamentos, ele não previu que poderia ocorrer um resultado, mas é previsível que pode ocorrer. Culpa consciente: ocorre quando o agente prevê possível resultado, mas mantém sua conduta, acreditando na não ocorrência deste resultado. Atenção para a diferença entre culpa consciente e dolo eventual: na culpa consciente o agente prevê o resultado advindo da sua conduta, mas ele acredita Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 24 de 75

sinceramente que não vai ocorrer. No dolo eventual ele prevê o resultado e também continua agindo, mas assumindo o risco do resultado. Exemplo: indivíduo sai, domingo de manhã de uma casa de show, completamente embriagado, e prevê que nesta condição pode atropelar e matar alguém. Se ele assume o risco de matar, está agindo com dolo eventual; já se ele acredita sinceramente que não vai acontecer nada, ele esta agindo com culpa inconsciente. Observação 1: o art.18, parágrafo único, exige a previsão expressa da modalidade culposa em todos os tipos penais em que este elemento estiver presente. Via de regra, todo crime é doloso, a responsabilidade por culpa é exceção, por isso deve ser prevista de forma expressa. Art. 18 - Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Observação 2: Crimes preterdolosos são aqueles em que há dolo na conduta e culpa no resultado. O agente opera com dolo, mas o resultado é atingido culpa. O criminoso acabou obtendo um resultado mais grave do que queria. Ex.: o agente queria lesionar, mas acabou matando. Questões resolvidas em aula: Prova: CESPE - 2009 - DPF - Agente da Polícia Federal Quanto a tipicidade, ilicitude, culpabilidade e punibilidade, julgue os itens a seguir. São elementos do fato típico: conduta, resultado, nexo de causalidade, tipicidade e culpabilidade, de forma que, ausente qualquer dos elementos, a conduta será atípica para o direito penal, mas poderá ser valorada pelos outros ramos do direito, podendo configurar, por exemplo, ilícito administrativo. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: Errado. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 25 de 75

AULA 7 1. Consumação e tentativa. Os conceitos de consumação e tentativa estão, no artigo 14, incisos I e II do código penal. Art. 14 - Diz-se o crime: Crime consumado I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativa Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Para a compreensão dos institutos, é necessário verificar o conceito de Iter Criminis. 2. Iter criminis Conceito: É o caminho do crime. O itinerário percorrido pelo agente desde a concepção do delito até sua consumação. É composto de várias fases. - Cogitação: É a elaboração mental do crime. É fase interna impunível em nome do princípio da lesividade (o direito penal não deve cuidar de condutas que não ultrapassam o indivíduo, ou seja, que não afetam concretamente interesse de terceiro). - Preparação: forma de atuar que cria condições prévias para a prática do delito. Inaugura a fase externa do iter criminis e, via de regra, é impunível, como pode-se concluir a partir da análise dos artigos 31 e 14 parágrafo único do CP. Entretanto, atos preparatórios podem resultar em crimes autônomos. Um dos exemplos é o delito de porte ilegal de armas, crime autônomo que pode servir como ato preparatório para o crime de homicídio. Casos de impunibilidade Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 26 de 75

Art. 14 Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. - Execução: Conduta diretamente voltada para a prática do delito. Inicia-se quando o agente pratica conduta capaz de gerar o verbo núcleo do tipo penal (teoria objetiva-formal). - Consumação: Ocorre quando todos as elementares do crime se encontram realizadas no mundo dos fatos. Classificação quanto ao resultado material. Quanto à presença de um resultado material (e também quanto ao momento consumativo do crime) é possível dividir os delitos em: - Crimes materiais: São aqueles que necessitam de um resultado naturalístico ou seja, material, perceptível no mundo dos fatos - para a consumação. Exemplo: Homicídio, artigo 121 do código penal. Homicídio simples Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. - Crimes formais: Também chamados crimes de consumação antecipada. Nestes, o tipo penal prevê um resultado que é desnecessário para a consumação. Exemplo: extorsão, artigo 158 do código penal. Extorsão Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 27 de 75

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. - Crimes de mera conduta: O tipo penal não prevê qualquer resultado naturalístico. Incrimina-se uma simples ação ou omissão. Ex: porte ilegal de armas, artigo 14 da lei 10.826/03. Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Consequências do crime tentado: Conforme o artigo 14 parágrafo único do código penal, a tentativa ocorre quando o agente inicia a execução e não chega à consumação por motivos alheios à sua vontade. O crime tentado recebe a pena da consumação reduzida de 1/3 a 2/3, salvo disposição em contrário. Adotou-se a teoria objetiva, que afirma que a pena da tentativa deve se fundamentar no grau de exposição de perigo ao bem jurídico tutelado pela lei. Entretanto, a teoria foi adotada em sua versão mitigada ou temperada, pois permite que a lei disponha em sentido contrário. Como exemplo, temos o artigo 352 do CP que pune a tentativa com a pena da consumação. São crimes de atentado ou empreendimento. Critério para a escolha da fração de diminuição. O superior tribunal de justiça possui entendimento pacífico no sentido deque a fração de diminuição no crime tentado deve variar conforme a progressão no Iter Criminis. Quanto maior a progressão após o início da execução, menos se diminui. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 28 de 75

AULA 8 Classificações da tentativa: O crime tentado pode ser classificado conforme vários critérios. Vejamos os principais. - Critério da progressão no Iter criminis. Divide a tentativa em: Tentativa perfeita/tentativa acabada/ crime falho: O agente finaliza todos os atos de execução conforme inicialmente pretendia, mas mesmo assim não consegue consumar o crime Tentativa imperfeita/tentativa inacabada: o agente sequer termina os atos de execução, por ser interrompido. - Critério da violação do bem jurídico Tentativa cruenta/vermelha: O agente consegue atingir a vítima (ou o objeto material do crime) Tentativa incruenta/branca: O agente não consegue sequer atingir a vítima. - Critério da possibilidade de consumação. Tentativa inidônea/inacabada/ quase- crime: A consumação não pode ocorrer por absoluta impropriedade do objeto ou absoluta ineficácia do meio. É sinônimo de crime impossível. Tentativa idônea ou propriamente dita: A consumação poderia ocorrer, mas não acontece por motivos alheios à vontade do agente. Crimes que não permitem tentativa: Culposos: não há vontade tangente ao resultado criminoso. Assim, não pode haver tentativa. Contravenções penais: não cabe tentativa de contravenção, conforme artigo 4º do decreto-lei 3688/41. Condicionados: são aqueles nos quais o resultado descrito se apresenta como condição objetiva de punibilidade. Caso o resultado não ocorra, não haverá conduta punível. Exemplo: artigo 122 do código penal. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio faça: Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 29 de 75

Habituais: o tipo penal exige habitualidade na prática de determinada atividade. O crime se perfaz com a prática reiterada e habitual da conduta e não com uma simples ação ou omissão. Assim, não há crime quando o agente tenta praticar a conduta delitiva uma vez só e não a consuma por circunstancias alheias à sua vontade. Exemplo: curandeirismo do artigo 284 do código penal. Curandeirismo Art. 284 - Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - fazendo diagnósticos: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa. Omissivos próprios: O tipo penal prevê uma conduta omissiva. São delitos de mera conduta e unissubsistentes (não há como fracionar os atos de execução). Exemplo: omissão de socorro. Unissubsistentes: Não há como fracionar os atos de execução. Com um só ato a execução se conclui e o crime já está consumado. Exemplo: Artigo 135: omissão de socorro. Artigo 158: extorsão (quando praticada verbalmente). Extorsão Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Preterdolosos: Não há vontade com relação ao resultado. Empreendimento ou de atentado: O tipo penal pune a tentativa com a pena da consumação. Portanto, tentar também é consumar. Exemplo: artigo 352 do código penal. Prof. Francisco Menezes www.aprovaconcursos.com.br Página 30 de 75