PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ANGRA VARA FEDERAL ÚNICA DE ANGRA DOS REIS

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Transcrição:

VARA FEDERAL ÚNICA DE ANGRA DOS REIS Fls 676 AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROCESSO N : 0114486-71.2015.4.02.5111 (2015.51.11.114486-4) PARTE AUTORA: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL PARTE RÉ: IPHAN-INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL E OUTROS JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO: IAN LEGAY VERMELHO Vistos etc. Trata-se de ação civil pública promovida pelo Ministério Público Federal (Inquérito Civil 08120.000313/97/64- de 1997 a 2015) cujo intuito é obrigar os réus a executarem os projetos de restauração do Covento São Bernardino de Sena (erigido no século XVIII) e de replanejamento urbano de seu entorno, nos termos constantes das 424-494 dos autos, em razão do precário estado de conservação do aludido prédio histórico tombado, conforme acusam as vistorias realizadas pela Defesa Civil do Município de Angra dos Reis e pelo IPHAN. Relata a parte autora que, já em 1997, após recebimento do laudo elaborado pelo IPHAN, foi instaurado o procedimento extrajudicial na Procuradoria da República de Angra dos Reis com o objetivo de se apurar o estado do complexo arquitetônico e subsidiar eventual adoção de medidas necessárias à reversão do quadro de deterioração apresentado. Alega que, por reiteradas vezes, o Município de Angra dos Reis restou notificado a fim de tomar providências. No entanto, até o presente momento, nenhuma ação foi executada nesse sentido. Em que pese haja projeto de restauração e reurbanização relativos ao referido prédio histórico, bem como notícia de que estariam realizando reforma na integralidade da edificação, o relatório técnico do IPHAN (fls. 248-249) apontou que os serviços contratados eram de mera manutenção (varrição, limpeza das ruínas, pintura de paredes) cuja contratação deu-se de forma generalizada para todos os prédios públicos do Município, não se tratando de empresa especializada para o fim pretendido, conforme se vê às fls. 318-321, 337, 347. Processo nº 0114486-71.2015.4.02.5111 (2015.51.11.114486-4). 1

De igual modo, a vistoria requisitada ao IPHAN apontou necessidade de intervenção global na citada edificação, com adoção de medidas de urgência (fls. 227/238). E, em atendimento à requisição do Ministério Público Federal quanto às vistorias técnicas da Defesa Civil do Município de Angra dos Reis e do Corpo de Bombeiro do Estado do Rio de Janeiro, adveio a informação de que o convento em questão não dispõe de dispositivo fixo de combate a incêndio, apresentando instalações elétricas precárias em desconformidade com o Código de Segurança contra Incêndio e Pânico (Decreto nº 897, de 21/07/1976 - COSCIP).- fls. 225 Fls 677 Às fls. 358-359, o laudo técnico da Defesa Civil acusou que a edificação em tela apresenta alto risco à coletividade. Às fls. 271, o Município de Angra dos Reis admite que, em relação à restauração, não tem conhecimento de ter havido providência que tenha gerados resultados. Às fls. 292, há notícia de que parte da edificação restou interditada pela Defesa Civil do Município de Angra dos Reis em razão da situação crítica de estabilidade e segurança da estrutura de madeira do telhado e do 2º piso (pavimento) localizado na ala lateral direita da nave do Convento São Bernardino de Sena (fls. 359). Tal precariedade estrutural concentra-se nas áreas administradas pela Prefeitura Municipal, Igreja e ruínas do Convento (fonte: ficha M206- Diagnóstico do Estado de Conservação nº 02/14). É o relato do necessário. Passo a decidir Do evidente estado de precariedade e degradação da edificação No presente caso, resta clara e urgente a necessidade de execução de projeto que restaure o prédio do Convento São Bernardino de Sena, bem como reurbanize o seu entorno, conforme se verifica da realidade fática retratada nos autos por meio de fotos, laudos e demais documentos produzidos por ambas as partes que integram a lide. Processo nº 0114486-71.2015.4.02.5111 (2015.51.11.114486-4). 2

Ainda que em cognição sumária neste momento, pela particularidade do caso, é possível concluir que a edificação histórica chegou ao estado precário em que se encontra hoje em decorrência da omissão dos responsáveis, ora réus, quanto ao dever de manutenção do patrimônio, que decorre da Constituição Federal, artigos 215, 3º, I; 216, IV, V, 1º e 4º e 23, incisos III e IV, e do Decreto-lei 25/37, artigo 17 e do qual não podem se eximir. Fls 678 Observo que o Município de Angra dos Reis, além da competência concorrente de proteção de bem de valor histórico, no presente caso também é possuidor do prédio tombado (contrato de locação às fls. 114-116), não podendo se furtar do dever de promover a restauração da mencionada edificação, nos termos di artigo 17 do Decreto-lei 25/37 já mencionado. O IPHAN, igualmente, possui o dever de fiscalização de bens tombados, bem como a incumbência de garantir recursos para evitar o perecimento do patrimônio histórico. E a União, na hipótese de insuficiência de recursos dos demais, tem o dever de custear as obras necessárias à recuperação da citada edificação histórica. Tais réus são responsáveis, pois, pelo cumprimento da obrigação de fazer ora buscada pelo Ministério Público Federal. Da documentação carreada aos autos e do decurso de tempo havido, evidencia-se total descaso das rés no tratamento do imóvel histórico em questão, em que pese sejam notórios a avançada deterioração e o risco de iminente desabamento, realidade esta corroborada por vários laudos técnicos que vem se agravando há anos, porquanto nenhuma medida efetiva e eficiente foi executada nesse sentido. Percebe-se apenas, como já demonstrado na própria exordial, mínimas ações paliativas por parte do Município de Angra dos Reis que refogem da real e efetiva execução de projeto de restauração, como serviços prestados por profissionais não especializados e que não respeitam a identidade histórica do prédio tombado, descaracterizando linhas e traços arquitetônicos que deveriam ser preservados, violando o próprio propósito do tombamento em questão. A título de exemplo, como se observa na fachada traseira da edificação, vários "rebocos" desordenados foram realizados, desrespeitando totalmente as Processo nº 0114486-71.2015.4.02.5111 (2015.51.11.114486-4). 3

características do bem tombado (fotos às fls. 640, 641, 642,643, 647 e 648). Fls 679 Constata-se, ainda, às fls. 173, 185, 188, que, já em 2002, havia necessidade de se realocar construções ilegais oriundas da urbanização desordenada que desrespeitaram a distância limítrofe que deve ser guardada em relação ao Convento São Bernardino de Sena, havendo, inclusive, risco para a permanência daquelas no local. Constam dos autos, às fls. 181e 191, ofícios que informam a demolição de algumas casas irregulares do entorno do citado prédio histórico. Ressalve-se que, às fls. 191, há recomendação do IPHAN de que a Prefeitura Municipal de Angra dos Reis realize projeto de urbanização e requalificação da área a fim de impedir futuras ocupações irregulares. Nesse mesmo sentido, há recomendação do Ministério Público Federal, às fls. 198, apontando para a necessidade do projeto de reurbanização e requalificação da área. Por se tratar de dano ao patrimônio histórico nacional, a responsabilidade é solidária e objetiva, não se perquirindo se houve culpa na provocação do estágio avançado de degradação existente. Recorde-se, ainda, que a proteção ao patrimônio histórico abarca não somente o bem tombado, mas o seu entorno, havendo relação direta com a conservação e fruição pública do bem cultural. Registre-se que houve proposta de TAC (por reiterada vezes diante da ausência de resposta) por parte do Ministério Público Federal (fls. 310-311) para solução consensual do conflito, mas, o Município, apesar de manifestar interesse (fls. 316) nesse sentido, quedou-se inerte na aceitação daquele, o que faz imprescindível, neste momento- após anos de tentativas de solução do conflito- a intervenção do Poder Judiciário, nos termos provocados pelo Ministério Público Federal. Da antecipação de tutela O perigo de prejuízo irreparável ou de difícil reparação alegado pelo Ministério Público Federal, ora autor, decorre da própria iminência de desabamento do telhado do imóvel e do próprio estado precário da Processo nº 0114486-71.2015.4.02.5111 (2015.51.11.114486-4). 4

edificação (vide fls. 193 e 294 a 300- laudo do IPHAN), que já teve parte de sua estrutura interditada (fls. 381). Ademais, trata-se de patrimônio histórico nacional cuja existência está ameaçada pela estrutura há muito debilitada, ante a omissão dos responsáveis. Fls 680 É relevante destacar que os próprios réus reconheceram, em laudos técnicos, o péssimo estado de manutenção da edificação e assumiram o compromisso de buscar conjuntamente uma solução para o problema, o que, no entanto, até o momento, não ocorreu. Ademais, conforme se vê da situação concreta, a precariedade da edificação representa sério risco à coletividade (fls. 379), sobretudo em virtude do perigo de desabamentos e curtos-circuitos (por instalação elétrica inadequada e ausência de dispositivo fixo de combate a incêndio- fls. 290), o que ficou atestado em laudo de vistoria. Não se pode descurar, ainda, estar a edificação localizada no sopé de um morro, terreno visivelmente em declive, daí advindo a possibilidade de um desabamento atingir outras casas que circundam a edificação. Dessa forma, o deferimento do pedido de antecipação de tutela é medida que se impõe, porquanto presentes os requisitos do fumus boni iuris - haja vista que a edificação é tombada, estando sob a proteção da Constituição Federal (artigo 216) e obrigações legais e contratuais - e do periculum in mora, diante dos iminentes riscos para a edificação acima relatados. Embora o IPHAN tenha elaborado, por meio de profissionais, projeto voltado para zelar pela restauração e integridade do bem tombado, a morosidade relativa ao início da execução das obras implica omissão no cumprimento do dever institucional, porque nenhum resultado prático terá tal projeto caso não sejam realizadas em tempo hábil. Para dar a máxima efetividade ao disposto no artigo 37, caput, da Constituição, atendendo aos preceitos contidos no artigo 19, 1º e 3º, do Decreto-lei 25/37, deve o IPHAN realizar, dentro de até seis meses, as obras de restauração, nos termos constantes do projeto anexado às fls. 424-494 dos autos, incluindo-se aí, obras urgentes. Processo nº 0114486-71.2015.4.02.5111 (2015.51.11.114486-4). 5

Diante do exposto, determino que o IPHAN, ainda que a expensas da União Federal, dê início, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, às obras de restauração e conservação do imóvel em comento, cuja fase necessária à supressão dos riscos aos imóveis vizinhos e ao desabamento do Covento São Bernardino de Sena deve ser concluída em 90 (noventa) dias, segundo parâmetros que lastreio no prazo legal previsto no 1º do artigo 19 do Decreto-Lei nº 25/37. Fls 681 Fixo astreintes (multa diária) no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para cada dia de descumprimento do prazo assinalado, devendo o referido valor ser destinado ao fundo instituído pela Lei 7.347/85, podendo tal receita ser revertida na aplicação in situ, sem prejuízo das demais sanções legais, inclusive de natureza penal. Publique-se. Cite-se e intimem-se. Angra dos Reis/RJ, 9 de outubro de 2015. IAN LEGAY VERMELHO Juiz Federal Substituto (Assinada eletronicamente, conforme Lei nº 11.419/2006) Processo nº 0114486-71.2015.4.02.5111 (2015.51.11.114486-4). 6