PAREDES EM ALVENARIA DE TIJOLO FACE À VISTA: PROJETO, CONCEÇÃO E REABILITAÇÃO

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Seminário Reabilitação de Fachadas, Vasconcelos&Lourenço (eds.), 2016 35 PAREDES EM ALVENARIA DE TIJOLO FACE À VISTA: PROJETO, CONCEÇÃO E REABILITAÇÃO Eduardo L.C.F. COSTA Arquiteto (Departamento Comercial) Cerâmica Vale da Gândara, Mortágua SUMÁRIO No âmbito da temática proposta, caracteriza-se as paredes de alvenaria em tijolo face à vista quanto à sua composição e funcionamento como ponto de partida para a identificação das principais patologias registadas neste sistema construtivo. Pretende-se identificar as suas causas e realizar uma breve análise das estratégias de reabilitação destas anomalias. 1. INTRODUÇÃO As alvenarias de tijolo assumem um papel preponderante na construção em Portugal. No entanto, a sua evolução não tem registado avanços significativos, apesar da constante introdução de novas soluções materiais e construtivas no setor. Assumindo na maior parte dos casos a função de enchimento e recorrendo a mão-de-obra a baixos custos, neste tipo de alvenarias regista-se descoramento na execução e o consequente aparecimento de patologias. Nos sistemas em que as alvenarias de tijolo são posteriormente finalizadas com outros revestimentos como as argamassas, rebocos, etc., os problemas resultantes dos erros cometidos na realização da obra acabam por se manifestar visualmente de forma mais retardadas. Na construção em sistema de tijolo face à vista, onde as alvenarias de tijolo se caracterizam como o acabamento das fachadas e o tijolo assume o papel de acabamento final, os erros de projeto e execução manifestam-se em patologias de uma forma preponderante e resultam em consequências mais graves. Deste modo, é fundamental que na fase de projeto haja uma cuidada pormenorização dos desenhos e partes escritas, de modo a salvaguardar as corretas prescrições do sistema, que servirão de manual guia, tanto para a fiscalização como para o empreiteiro na fase de construção. Do mesmo modo è essencial que durante a execução da obra, tanto nos trabalhos preparatórios como na fase de realização das alvenarias de tijolo face à vista sejam cumpridas as recomendações da memória descritiva e caderno de encargos para que se evitem os erros que estão na origem dos problemas futuros. Nesta breve reflexão serão abordadas as principais patologias que se registam na construção em alvenaria de tijolo face á vista e analisadas de forma breve algumas estratégias para a sua correção no âmbito das boas práticas da construção em paredes de tijolo face à vista. Adicionalmente, apresenta-se uma nova solução de revestimento pelo exterior com acabamento cerâmico desenvolvida recentemente com aplicação direta na reabilitação de fachadas.

Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 36 2. TIJOLO FACE À VISTA 2.1. Caracterização O tijolo face à vista consiste num bloco de configuração paralelepipédica obtido a partir de uma base argilosa e por meio de um fabrico que passa por várias etapas desde a extrusão, secagem e cozedura a elevadas temperaturas. Quando aplicado em obra é normalmente utilizado como alvenaria da parede exterior de um sistema duplo definindo o acabamento da fachada através de uma das suas faces que se apresenta visível sem ser rebocada. Os tijolos face à vista fabricados pela Cerâmica Vale da Gândara são do tipo Klinker, o que significa que no seu fabrico são utilizadas argilas especiais e uma temperatura de cozedura na ordem dos 1150 C para redução da sua porosidade e aumento da massa volúmica. Isto permite que o tijolo Klinker apresenta propriedades de absorção de água inferiores a 6%, massa volúmica superior a 2000 kg/m3 e resistência mecânica a compressão superior a 45 N/mm2, constituindo a gama alta do tijolo face à vista [1]. A Cerâmica Vale da Gândara produz tijolos face à vista em diferentes tonalidades e acabamentos nas dimensões (24x11,5x5 /24x11,5x7/ 28x13,5x5 cm) a que correspondem diferentes referencias (Figura 1). Figura 1: Gama de tijolos face à vista da Cerâmica Vale da Gândara 2.2. Vantagens Durabilidade - Por ação do calor, estas argilas sintetizam e desenvolvem ligações cerâmicas extremamente fortes e estáveis. Como consequência, os tijolos suportam climas extremamente agressivos e são inertes a quase todos os ataques químicos. Assim, este material de construção apresenta-se com uma grande durabilidade [1]. Fatores Estéticos - Os tijolos cerâmicos apresentam cores naturais, esteticamente agradáveis e atrativas. A cor deriva de complexas reações físico-químicas ocorridas durante o processo de cozedura. A cor do tijolo é permanente e não se degrada com o tempo. As cores naturais dos tijolos são extremamente versáteis podendo criar ambientes muito diversos, mas sempre confortáveis e duradouros [1]. Isolamento Térmico e Acústico - As paredes em tijolo atenuam os sons devido à sua estrutura densa. A espessura e massa volúmica do tijolo amortecem a transmissão de ruídos e facilitam a reflexão do ruído de volta ao ambiente envolvente. O tijolo klinker tem melhor comportamento térmico do que outros materiais de construção equivalentes. A inércia térmica das paredes em tijolo mantém estável a temperatura interior das habitações. O tijolo absorve e liberta calor lentamente e assim mantém a casa fresca durante o dia e mais quente durante a noite [1]. Resistência mecânica - A elevada resistência do tijolo à compressão foi explorada durante milénios para construir estruturas, desde edifícios a pontes e viadutos. Uma parede em tijolo é um elemento construtivo que confere ao edifício uma segurança adicional [1].

E. Costa 37 Resistência ao fogo - O material cerâmico é incombustível, pelo que uma parede de alvenaria de tijolo apresenta propriedades otimizadas de resistência ao fogo [1]. Custos de manutenção - Os tijolos não necessitam de manutenção. O custo inicial é rapidamente recuperado, pois os custos de manutenção são inexistentes. A aparência das paredes mantém-se com o passar do tempo, enobrecendo-se. Trata-se de um investimento com retorno garantido [1]. 3. O SISTEMA DE PAREDES EXTERIORES EM ALVENARIA DE TIJOLO FACE À VISTA As paredes de alvenaria em tijolo face á vista são normalmente utilizadas num sistema de parede dupla, sendo composta pelo interior por uma parede de tijolo de alvenaria (ex: 30x20x15cm) sobre a qual se aplica o isolamento (projetado ou em placas). Depois do isolamento deve ser salvaguardada uma caixa-de-ar (4cm no mínimo) e finalmente pelo exterior é realizada a parede em alvenaria de tijolo face á vista (Figura 2a). A parede exterior deve estar apoiada na sua base em elementos estruturais ou elementos em aço inox solidários a estes, em pelo menos 2/3 da largura do tijolo. Esta base de assentamento deve estar nivelada e aprumada e sobre esta deve ser aplicada uma tela de apoio impermeável e elástica, para permitir os micro movimentos do paramento relativamente á estrutura. Ambas as paredes devem estar solidárias através de grampos que ligam ambos os panos. Este grampeamento será realizado com 5 grampos por m 2 em aço inoxidável com Ø 3mm distribuídos em quincôncio. O isolamento térmico a aplicar sobre a parede interior poderá ser projetado ou em placas, com uma espessura mínima de 4cm e deverá contornar os elementos estruturas para prevenir pontes térmicas (Figura 2b). A caixa-de-ar deverá ter um minino 4 cm e um máximo 7cm, devendo estar completamente desobstruída de argamassa. Na sua base deverão ser criados quartos ou meias canas, devidamente impermeabilizadas e localizadas juntas de ventilação na fiada de tijolo da parede exterior que se encontra no seu alinhamento. Este pormenor permitirá uma eficaz ventilação e escoamento da caixa-de-ar. Para assentamento dos tijolos face à vista deverá ser utilizada uma argamassa específica para o efeito, com características hidrófugas. As juntas entre os tijolos verticais e horizontais terão uma dimensão entre 1 e 1,5cm de espessura. (a) (b) Figura 2: (a) Corte de uma parede dupla com tijolo face à vista; (b) pormenor 3D de uma parede dupla com o pano exterior em TFV [1]. 3.1 Fachadas ventiladas O processo construtivo de fachada ventilada em tijolo face à vista consiste num conceito desenvolvido com o propósito de melhorar o desempenho das fachadas relativamente à construção tradicional, principalmente ao nível do isolamento térmico, estanquidade e estabilidade. Este tipo de fachada proporciona maior proteção dos agentes atmosféricos e seus

Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 38 efeitos como: calor, frio, vento e chuva, o que se traduz num maior conforto no interior das habitações. As principais características que definem este tipo de fachada e que contribuem para os desempenho melhorado em relação ao sistema tradicional são: (1) a utilização de uma parede exterior contínua que não apoia diretamente na estrutura do edifício e por isso não é interrompida laje a laje (Figura 3b,c); (2) continuidade da caixa-de-ar ao longo de toda a fachada, o que permite uma melhor ventilação evitando as pontes térmicas entre exterior e interior e evacuação das condensações; (3) continuidade do isolamento térmico eliminando a possibilidade de ocorrência de pontes térmicas (Figura 3a). Nesta configuração, a parede interior, que assenta diretamente na estrutura do edifício, posiciona-se no alinhamento do remate dos elementos estruturais (lajes/vigas) fechando o espaço interior e ao mesmo tempo serve de suporte ao pano exterior ao qual se liga por meio de grampos e outros elementos metálicos. 4. PATOLOGIAS: CAUSAS E ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO 4.1. Fissuração As causas para a ocorrência de fissuras nas paredes de alvenaria de tijolo face à vista são variadas podendo estar relacionadas com: - Alterações na estrutura por ação de movimentos e deformações em fundações, apoios, pilares e vigas [2]; - Movimentos de Dilatação/contração; - Uso de argamassas inadequadas ao nível das características de resistência e elasticidade; - Negligência no cálculo, pormenorização e execução de juntas de dilatação verticais e horizontais; - Alteração dimensional do material cerâmico por absorção de água. - Negligência no reforço de pontos particulares onde se prevejam cargas diferenciais; Ao nível das fissuras nos paramentos de tijolo face à vista podemos observar dois tipos: as fissuras nas juntas de argamassa entre tijolos e as fissuras nos próprios tijolos. (a) (b) (c) Figura 3: Pormenores da fachada ventiladas; (a) fases de construção; (b) montagem de perfil de arranque; (c) apoio com suportes individuais em laje de betão [1].

E. Costa 39 4.1.1. Fissuras nas juntas No caso das fissuras nas juntas, o seu tratamento desadequado no momento da sua execução, no que respeita à salvaguardada das condições térmicas e atmosféricas para a execução dos trabalhos, e o uso de argamassas impróprias para o efeito são dois dos principais motivos que estão na origem destas patologias (Figura 4a). Tendo em conta que as juntas correspondem em média a 20% da área visível do pano construído, estas constituem um elemento importante na qualidade estética e funcional das fachadas em tijolo face à vista. É essencial que se proceda à sua realização com precaução, respeitando as indicações dos projetistas e fornecedores. Para a correção deste tipo de fissuras devemos utilizar argamassas de composição específica para o efeito e com características que garantam impermeabilidade, resistência e elasticidade, não obstante da sua consistência permitir uma excelente trabalhabilidade. No que respeita à sua composição devem consistir numa mistura de conglomerantes inorgânicos (cimento e/ou cal), areia, água de amassadura e aditivos, devendo cumprir o disposto na norma NP EN 998-2 (2012) [3]. Cada um dos constituintes deve verificar as seguintes características: - Cimento: de modo a garantir a plasticidade da argamassa este devera apresentar uma resistência inferior a 35 MPa e evitar a presença de elevados índices de sais solúveis de modo a prevenir o aparecimento eflorescências. Na presença de necessidades de utilização de argamassa branca ou pigmentada recomenda-se o uso de uma base de cimento branco [1]. - Cal hidráulica: deve ser utilizada sempre que a proporção cimento-areia for inferior a 1:4, e permite conferir à argamassa melhor plasticidade tornando a tonalidade final da argamassa mais clara [1]. - Areia: isenta de sais e materiais orgânicos que alterem as suas propriedades, poderá ser proveniente de rio, mina, lavada, fina ou uma conjugação destes tipos [1]. - Saibro: usado de forma correta e controlada atribui maior qualidade ás argamassas conferindo-lhes maior plasticidade, impermeabilização, trabalhabilidade, facilidade de limpeza e redução do risco da ocorrência de eflorescências e fissuração [1]. - Água: deverá ser potável sem a presença de sais, sendo totalmente desaconselhado o uso de águas marinhas ou salinizadas [1]. - Aditivos: quando introduzidos na composição as argamassas estes produtos alteram as suas características podendo classificar-se como: plastificantes, indutores de ar, corantes, hidrófugos, etc. Devem ser previamente testados em parede de ensaio antes de serem aplicados na construção de modo a verificar eventuais reações não desejadas da argamassa aditivada e o tijolo face à vista como: eflorescências, manchas ou alterações de cor [1]. Atualmente o mercado dispõe de argamassas pré-doseadas em sacos (ex: argamassa de montagem Vale da Gândara ou equivalente) com os componentes adequados e pré-doseados às quais é apenas necessário acrescentar água nas quantidades recomendadas pelo fornecedor. Estas argamassas prontas asseguram a qualidade das matérias-primas e proporcionam os desempenhos desejados. No que diz respeito ao dimensionamento e configuração das juntas verticais e horizontais de assentamento dos tijolos face à vista, estas deverão apresentar uma espessura compreendida entre 1 e 1,5 cm, podendo assumir diferentes acabamentos de remate, dos quais o mais comum é o refundado (Figura 4b,c). 4.1.2. Fissuras nos tijolos face à vista As fissuras que se apresentam nos tijolos (Figura 5a) estão relacionadas principalmente: com a expansão anormal do material cerâmico por absorção de água, movimentações e deformações dos elementos estruturais, ausência de reforço dos paramentos em casos específicos de acentuadas variações de cota e défice e/ou inadequadas juntas de movimento/dilatação. Para evitar este tipo de problema é fundamental a adoção de uma estratégia de prevenção que passa por estabelecer logo na fase de projeto pormenores construtivos que permitam definir o posicionamento e execução corretos das juntas de movimento/dilatação necessárias e apropriadas.

Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 40 Para prevenir a ocorrência de patologias de fissuração nos panos de tijolo poderá ser adotado o uso da aplicação de armaduras metálicas em forma de treliça plana em arame de aço zincado (Figura 5b) numa ou mais fiadas consecutivas de modo a reforçar situações particulares das fachadas onde por especificidade da configuração arquitetónica se prevejam pontos sensíveis mais suscetíveis á ocorrência destes fenómenos. Nos casos simples de fissuração, como por exemplo retração, o método de reabilitação poderá passar pela limpeza das fissuras e aplicação de produtos adequados disponíveis no mercado. Nos casos mais graves poderá ser necessário, antes de proceder à correção do problema na fachada, o reforço da estrutura para que se possa estabilizar estes movimentos. Neste tipo de fissuras, com aberturas de expressão significativa, a estratégia de reabilitação assenta, na generalidade dos casos, sobre uma intervenção mais agressiva e dispendiosa, caracterizada por uma substituição pontual dos tijolos danificados ou mesmo pela demolição e reconstrução total ou parcial de paredes da fachada. Normalmente na reconstrução das paredes são introduzidos elementos de reforço e prevenção como: grampeamento ou reforço deste e aplicação de armaduras metálicas entre fiadas. (a) (b) (c) Figura 4: (a) Fissuração de juntas [2]; (b) exemplo de acabamento de juntas de assentamento refundadas; (c) execução do refundado das juntas [1] (a) (b) Figura 5: (a) Exemplo de fissuras em tijolo face à vista; (b) aplicação de armaduras em alvenarias de tijolos face à vista [1] 4.2. Deformação das juntas de dilatação Os fenómenos de fissuração, esmagamento localizado e destacamento de revestimentos, caracterizam-se como as patologias mais comuns relacionadas com as juntas de expansão/contração (dilatação). Na generalidade dos casos as patologias relacionadas com as juntas de dilatação ocorrem devido a negligências que se praticam em primeira instância na fase de projeto e posteriormente no momento de execução em obra. Na fase de projeto, de construções em alvenaria de tijolo face à vista, observa-se um défice na definição das juntas de dilatação verticais e horizontais necessárias à absorção as movimentações previsíveis por parte do edifício. Regista-se uma alienação da consideração dos fatores que influenciam o seu cálculo e distribuição como a exposição solar a que estão sujeitas

E. Costa 41 as diferentes fachadas e a própria dimensão dos panos de parede ao nível da sua altura e comprimento. Pela verificação das obras construídas constata-se que nos locais onde estão omissas estas juntas acabam por surgir ruturas dos panos de parede que se traduzem em patologias graves com impacto negativo ao nível estético e funcional no edifício. (Figura 6d) Na fase de construção os erros cometidos na execução das juntas de expansão/contração verificam-se na omissão juntas previstas no projeto e incorreta realização das mesmas não sendo respeitadas as espessuras recomendadas e as características dos componentes materiais de preenchimento e vedação prescritos em caderno de encargos. As variações dos teores de humidade e temperatura proporcionam movimentos naturais de expansão ou contração nos diferentes materiais. Para que os panos de parede e os próprios edifícios se possam adaptar a estas movimentações sem entrarem em rutura devem existir juntas de movimento/dilatação distribuídas de acordo com um estudo rigoroso dos edifícios na fase de projeto, tendo em consideração a sua configuração volumétrica e as diferentes exposições solares a que estão sujeitas as fachadas. No caso específico das alvenarias em tijolo face à vista para além de se fazer corresponder as juntas de dilatação do edifício no pano exterior de fachada, deverão também ser previstas juntas de movimento horizontais e verticais que serão realizadas apenas ao nível deste paramento exterior, uma vez que neste sistema de parede dupla com isolamento no interior é o pano exterior que sofre maior variação do diferencial térmico entre dia e noite. A localização das juntas deverá considerar a estética do edifício e ao mesmo tempo respeitar as necessidades de expansão de pontos particulares. As juntas de movimento verticais devem estar distanciadas cerca de 10 metros entre si (Figura 6a). Nos cunhais devem também existir juntas de movimento verticais principalmente nos que ligam com fachadas orientadas a Sul e a Poente. Estas juntas podem adquirir uma configuração retilínea ou em zig-zag acompanhando o traçado das juntas verticais e horizontais que contornam os tijolos (Figura 6b). (a) (b) (c) Figura 6: (a) Posicionamento das juntas de movimento em função da orientação dos alçados; (b) exemplo de junta de movimento vertical retilínea e em zig-zag a acompanhar o traçado das juntas; (c) pormenor de junta de dilatação horizontal [1]; (d) rotura de cunhal As juntas de movimento horizontais devem ser previstas a cada 6 m de altura ou sempre que as soluções construtivas o justifiquem (Figura 6c). Estes valores variam consoante a localização geográfica, das amplitudes térmicas dos locais, da exposição solar e das propriedades do tijolo usado. (d)

Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 42 A largura destas juntas deve estar compreendida entre 15 a 20 mm e deverão ser preenchidas com cordão celular, de diâmetro superior à largura da junta, e posteriormente seladas com silicone neutro, resistente aos raios solares, para evitar a sua degradação precoce e consequente penetração da água. Para evitar a diminuição da resistência do pano de parede onde são executadas as juntas de dilatação verticais deverá ser utilizado um sistema de ancoragem metálico com bainha plástica a cada 50 cm. Além das juntas referidas anteriormente, devem ser criadas juntas de dilatação sempre que haja pontos frágeis como grandes vãos, portas ou janelas. 4.3. Humidades Os fenómenos de humidades derivam em grande parte das patologias de fissuração abordadas anteriormente. A água infiltra-se pelas fissuras da argamassa ou tijolo atravessando as juntas de assentamento em argamassa e o próprio tijolo, e vai-se depositando na caixa-de-ar. Associadas a estas patologias estão também problemas relacionados com a drenagem/ventilação da caixa-de-ar caracterizados pela inexistência ou má execução de juntas de ventilação e pela ausência ou incorreta impermeabilização da meia cana entre a base da caixa-de-ar e o arranque da parede interior. Nos casos mais graves, quando este sistema de drenagem/ventilação das paredes de tijolo face à vista, não está corretamente executado aliado à falta de impermeabilização dos arranques das paredes interiores, a água acaba por se infiltrar no pano interior. O tijolo de alvenaria normalmente utilizado na parede interior apresenta menor resistência à água relativamente ao tijolo face à vista do pano exterior, dando origem a graves problemas de humidades no interior dos edifícios. Os vãos, quando mal executados, constituem também focos críticos para a penetração de humidades, estando na origem de grande percentagem das humidades patológicas registadas. As humidades nas paredes de tijolo face à vista podem também derivar do solo. Através da capilaridade da água, quando existe contacto destas paredes diretamente ou por via de elementos construtivos com solos húmidos, a humidade ascende originando patologias de difícil resolução com manifestações visuais no pano exterior da parede. Para garantir um correto escoamento das águas, resultantes das condensações que ocorram na caixa-de-ar e eventuais infiltrações de água pela parede exterior, devem ser executados quartos de cana ou meias canas, em argamassa hidrófuga, na ligação da parede interior com a base de assentamento (Figura 7b). As pendentes de escoamento devem ser direcionadas no sentido do pano de parede exterior. As meias canas deverão ser repetidas sempre que haja uma interrupção da caixa-de-ar, como por exemplo, os vão de janelas e portas onde a sua implementação deverá estar prevista nos pormenores de padieiras. O arranque das paredes interiores e as ligações destas paredes com os elementos estruturais deverá ser rebocado a uma altura de 40 cm, que posteriormente serão impermeabilizados com uma tela, pintura de borracha liquida, etc. Na fiada de tijolo do pano exterior, alinhada com a cota de base onde termina a meia cana, deverão ser garantidas juntas de ventilação executadas através das juntas verticais (entre tijolos consecutivos) abertas ou por grelhas de ventilação (Figura 7c). Estas juntas deverão existir no máximo de 4 em 4 tijolos e deverão fazer-se corresponder o mesmo tipo de juntas no remate superior da parede, na fiada abaixo da laje, para garantir a ventilação da caixa-de-ar (Figura 7a). Por sua vez, a caixa-de-ar cuja largura compreenderá 4 a 7 cm, deverá estar limpa e completamente desobstruída de argamassa. Isto, permite evitar pontos de contacto entre os dois panos de parede (interior e exterior) e a obstrução do normal escoamento das águas na sua base, garantido assim a sua perfeita ventilação. No âmbito da salvaguarda destas questões, durante o processo de construção da parede de tijolo face à vista, poderão ser utilizados acessórios que permitam fechar momentaneamente a caixa-de-ar, bloqueando a passagem da argamassa para a sua abertura, à medida que se vai levantando a parede. No caso específico dos vãos, para evitar pontes de transmissão de humidades, deve-se garantir sempre uma separação nas ligações entre o pano de parede exterior e interior, nas diferentes zonas do vão como: padeiras, ombreiras, peitoris e soleiras através do recurso a barreiras antihumidade. Estas barreiras serão tratadas como uma junta de dilatação com um mínimo de 1 cm

E. Costa 43 de afastamento. Na impossibilidade de cumprir este afastamento deverão ser previstas zonas de proteção devidamente tratadas com mais de 10 cm para cada um dos lados a partir da zona de contacto, por forma a evitar que se estabeleça esta ligação. (b) (a) (c) Figura 7: (a) Juntas de ventilação e drenagem da caixa-de-ar; (b) pormenor da meia cana na caixa-de-ar; (c) exemplo de colocação de grelhas de ventilação [1] A nível das humidades ascensionais as estratégias de prevenção deverão passar pela atuação nos fatores, que conjugados originam estes problemas como: presença de água, existência de materiais com porosidade capilar e possibilidade de contacto entre ambos. Assim, deverão ser adotados um conjunto de procedimentos de modo a precaver a ocorrência destas situações: prever a correta drenagem do terreno para evitar a presença de água; usar materiais com porosidade de dimensão não capilar em contacto com as zonas húmidas (por exemplo, enrocamentos de brita sem finos ) ou colmatar os poros dos cerâmicos e betões com produtos hidrófugos; impermeabilização de fundações e outros elementos em contacto com o solo através de barreiras hídricas ou criar baixas horizontais de impermeabilização numa das primeiras fiadas de alvenaria elevada, conhecida na gíria inglesa como DPC ( damp proof course ) [4]. Nos casos em que as paredes estejam em contato direto com as fundações devem ser aplicadas telas impermeabilizantes entre duas camadas de argamassa para corte da capilaridade. A correta execução da caixa-de-ar e a consequente eficaz ventilação da mesma, indicada anteriormente, contribui decisivamente para secagem das infiltrações nas paredes exteriores. 4.4. Eflorescências Este fenómeno patológico decorre normalmente das características e componentes das argamassas de assentamento utilizadas e da quantidade de água que se utiliza na sua composição. Estas patologias podem se manifestar em escorrimentos provenientes de humidades que se libertam para o exterior pelas juntas de argamassa entre tijolos, provocando carbonatações vulgarmente designados por babados de junta ou escorridos (Figura 8). Este fenómeno dá-se devido à presença de uma quantidade de água na argamassa superior ao recomendado. A presença de sais solúveis em elevado teor nos componentes da argamassa constitui também um fator preponderante para a formação das manchas de eflorescências sobre os tijolos. As condições climatéricas e atmosféricas na fase de execução destas paredes influência também diretamente a probabilidade de formação desta patologia, por isso é essencial a tomada de medidas de proteção específicas para garantir que o processo de execução não seja prejudicado por fenómenos atmosféricos. Os componentes das argamassas de assentamento do tijolo face à vista, assim como os próprios tijolos devem conter apenas os teores admissíveis de sais solúveis. Deste modo, deve-se ter em consideração a utilização de argamassas compostas por matérias-primas de origem controlada e

Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 44 respeitar as quantidades de água recomendadas pelos fornecedores para se conseguir uma consistência com o mais baixo teor de água possível. Ao nível do projeto de Arquitetura é necessário prever elementos como: platibandas, caleiras, rufos, etc., que funcionem como sistemas de desvio das águas que possam incidir diretamente sobre as fachadas em tijolo face à vista, minimizando assim de uma forma eficaz o risco destas ocorrências. Durante o processo de construção da parede de tijolo face à vista e de modo a garantir as condições ideais para a realização deste trabalho, devem ser previstas precauções de proteção dos agentes atmosféricos: - Proteção das fiadas recentemente executadas com capas plásticas ou semelhante quando se registarem chuvas fortes, de modo a evitar o dano das juntas e a absorção de água em demasia pela argamassa fresca; - Na presença de geadas, verificar o estado do trabalho realizado previamente ao nível das fiadas de tijolo e perceber se é necessário a recuperação de juntas danificadas. Nos casos em que estas condições adversas persistam, deve ser providenciada a proteção das alvenarias; - Durante a execução dos trabalhos em períodos de calor é necessário manter húmidas as fiadas de tijolo para prevenir uma secagem rápida da argamassa diminuindo a sua aderência; - Em locais com predominância de ventos fortes, é conveniente assegurar o travamento dos paramentos de dimensão considerável, que poderá ser realizado a partir dos andaimes ao final de cada dia de trabalho. Figura 8: efloresce ncias generalizadas [2] 4.5. Deformação da fachada para fora do plano A projeção e empolamento das paredes ou setores destas nas fachadas em tijolo face à vista está normalmente associado à inexistência ou inadequado grampeamento de ligação das paredes. Nos casos de utilização das paredes de tijolo face à vista em fachada ventilada, o insuficiente número de apoios e respetiva divisão horizontal através de interrupção dos panos e criação de juntas de movimento horizontais (no máximo a cada 6 m) poderá estar também na origem desta patologia. Regra geral, a criação de paredes duplas pressupõe o seu funcionamento em conjunto o que se traduz no aumento dos seus desempenhos individuais ao nível de aspetos como por exemplo a estabilidade. No caso das paredes em tijolo face à vista, motivado pelo seu perfil esbelto, a necessidade de solidarização das duas paredes é essencial. Esta ligação dos paramentos é realizada em termos mecânicos através do recurso a um grampeamento entre as duas paredes (Figura 9a). Estes elementos mecânicos, normalmente denominados de grampos de ligação ou ancoragem permitem a amarração dos panos interiores em tijolo face à vista ao pano interior da parede dupla. O grampeamento deve dispor de 5 grampos/m2 distribuídos em quincôncio (Figura 9b). Devem ser utlizados grampos em aço inoxidável Ø 3 mm e munidos com pingadeira. Nos cunhais, na aproximação das juntas de dilatação e junto aos vãos serão aplicados mais três grampos por metro linear (Figura 9c). Os grampos são aplicados na argamassa das juntas de assentamento dos tijolos quando estão a ser levantadas as paredes interiores. Durante o levantamento da parede interior são colocados os grampos nas juntas de argamassa entre fiadas de tijolo, ficando ai fica uma das suas extremidades. A extremidade oposta do grampo será posteriormente fixa na parede exterior do

E. Costa 45 tijolo face à vista. Na execução da parede exterior os grampos devem ser empurrados e imersos na argamassa da junta do TFV, sendo que a parte mais baixa dos grampos terá sempre de ficar para o lado da parede exterior para evitar que as eventuais condensações não escorram no sentido da parede interior. (a) (b) (c) Figura 9: (a) pormenor de aplicação do grampo; (b) esquema de grampeamento de pano exterior em tijolos face à vista ao pano interior (5 grampos/m2 em quincôncio); (c) esquema de reforço do grampeamento (vãos) [1] 5. NOVO SISTEMA DE REABILITAÇÃO TERMOFACE 5.1. Descrição No âmbito da reabilitação das fachadas de edifícios, com especial enfase nas de acabamento cerâmico, a Cerâmica Vale da Gândara desenvolveu um novo sistema designado TERMOFACE. Trata-se de um sistema compósito de isolamento pelo exterior (ETICS) com acabamento a ladrilhos cerâmicos (plaquetas) (Figura 10a). (a) Figura 10: (a) Pormenor legendado da composição do sistema TERMOFACE [5]; (b) pormenor 3D da constituição do sistema TERMOFACE (b)

Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 46 O sistema destina-se à aplicação sobre as zonas opacas das fachadas conferindo-lhe regularização, impermeabilização isolamento térmico e um acabamento final cerâmico. A reduzida espessura do sistema confere-lhe vantagens praticas principalmente ao nível da reabilitação já que não reduz a área interior e minimiza os constrangimentos na sua adaptação ao edifício existente. O sistema é constituído por uma camada de isolante térmico de poliestireno expandido moldado (TERMOFACE.Neo) que é fixada diretamente ao suporte por um produto de colagem (TERMOFACE.Flex)); este mesmo produto é também utilizado para a colagem do acabamento à camada de isolante térmico. O acabamento é constituído por ladrilhos cerâmicos (TERMOFACE.Slip) com juntas refechadas com argamassa de junta (TERMOFACE.Color), com funções de proteção e decorativas. O sistema inclui ainda componentes auxiliares, tais como cavilhas de fixação adicionais (TERMOFACE.Fix) e perfil de arranque (TERMOFACE. Start) (Figura 10b) [5]. 5.2. Processo de Montagem Depois de devidamente preparada a parede de suporte são coladas as placas de isolamento (TERMOFACE.Neo) de baixo para cima a partir do perfil de arranque com o produto de colagem (TERMOFACE.Flex) (Figura 11a, b). Depois de coladas as placas são fixas mecanicamente através de cavilhas (TERMOFACE.Fix) em quantidade nunca inferior a 9 unidades/m 2 e distribuídas 5 por placa em quincôncio (Figura 11c a f) [5]. (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) Figura 11 - Processo de Montagem: (a) Passo 1: Barrar a argamassa de colagem na parte lesa da placa de isolamento (b) passo 2: Pressionar a placa de isolamento contra o suporte de forma a colá-la firmemente; (c) passo 3: com uma broca para poliestireno fazer um rebaixo de 3-4mm; (d) passo 4: com um berbequim fazer orifício na placa de isolamento e no suporte; (e) passo 5: colocar a fixação mecânica no orifício, de forma a que não fique saliente da placa de isolamento; (f) passo 6: com um martelo golpear a cavilha de aço; (g) passo 7: barrar a plaqueta com argamassa de colagem; (h) passo 8: colocar a plaqueta no intervalo das guias da placa de isolamento e pressionar; (i) passo 9: proceder ao enchimento das juntas. Posteriormente são coladas as plaquetas cerâmicas (TERMOFACE.Slip) sobre isolamento com aplicação em camada única do (TERMOFACE.Flex) sobre a zona entre guias das placas (TERMOFACE.Neo) na qual os ladrilhos serão colocados com uma ligeira pressão (Figura

E. Costa 47 11g,h). As guias do isolamento servem ao mesmo tempo de encaixe e auxiliar para a realização das juntas horizontais. As juntas verticais deverão ser salvaguardadas com recurso a uma bitola de dimensão apropriada para o espaçamento em plaquetas. Para o refecho das juntas horizontais e verticais entre plaquetas (TERMOFACE.Slip), é utilizada a argamassa (TERMOFACE.Color) com recurso a talocha ou a pistola (Figura 11i) [5]. 5.3. Vantagens Isolamento Térmico O sistema confere isolamento térmico à envolvente opaca das fachadas dos edifícios permitindo a correção das pontes térmicas, o que contribui para o conforto térmico e higrotérmico dos edifícios. Proporciona um desempenho térmico do edifício ideal tanto nas estações frias como nas estações quentes ao permitir que a espessura total da parede contribuía para a inércia térmica. Isolamento Acústico A utilização da plaqueta cerâmica Klinker, como acabamento deste sistema de isolamento pelo exterior, permite um melhor desempenho acústico relativamente a sistemas semelhantes com outros acabamentos. A maior espessura do cerâmico facilita a reflexão do ruído para o ambiente exterior ao mesmo tempo amortece a sua transmissão. Eficiência Energética A beneficiação térmica proporcionada pelo sistema traduz-se num melhor desempenho energético. Com a maior estabilidade das temperaturas interiores diminui a necessidade de recurso aos meios de climatização artificial para garantir o conforto térmico. Esta eficiência permite um aumento da poupança de energia e consequente maior economia a longo prazo. Resistência mecânica O sistema é adequado para aplicação em zonas das fachadas acessíveis ao público e como tal sujeitas a choques fortes, o que confere maior segurança e durabilidade para o edifício. Quando comparado com sistemas congéneres, está vantagem torna-se preponderante, uma vez que na maior parte dos sistemas ETICS a fragilidade nas zonas acessíveis é assinalada como uma das principais desvantagens. Resistência ao fogo - O material cerâmico é incombustível, apresentando propriedades otimizadas de resistência ao fogo. A utilização das plaquetas cerâmicas no acabamento do sistema proporciona um maior desempenho de reação ao fogo quando comparado com sistemas semelhantes com outros tipos de revestimentos. Durabilidade As Plaquetas cerâmicas, utilizadas no revestimento do sistema TERMOFACE, resultam de um processo de sintetização das argilas por ação do calor que lhes confere características de resistência e estabilidade. Deste modo, este acabamento cerâmico apresenta uma grande durabilidade devido à sua capacidade para suportar climas agressivos sendo inerte à maioria dos ataques químicos. A cor do tijolo é permanente e não se degrada com o tempo. O Sistema serve de proteção aos elementos estruturais e alvenarias o que contribui para a sua durabilidade. Custos de manutenção - O acabamento cerâmico do sistema TERMOFACE necessita de uma reduzida manutenção, mantendo a sua aparência, com um envelhecimento nobre ao longo do tempo. Deste modo o investimento inicial é recuperado a medio/longo prazo. Estética Ambiental Integrada As plaquetas cerâmicas apresentam cores naturais, esteticamente agradáveis e atrativas que derivam de complexas reações físico-químicas ocorridas durante o processo de cozedura das matérias primas naturais baseadas em argila. 5.4. Certificação O sistema TERMOFACE está homologado pelo LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil). Durante o processo de homologação o sistema foi submetido a um conjunto de ensaios: reação ao fogo; resistência à sucção do vento; absorção de água por capilaridade;

Paredes de alvenaria de tijolo face à vista: projeto, conceção e reabilitação 48 comportamento higrotérmico; resistência ao choque; resistência à perfuração; permeabilidade ao vapor de água; substâncias perigosas; segurança no uso; resistência térmica; resistência aos fungos; durabilidade e adequação ao uso; tendo obtido apreciação geral satisfatória. Os detalhes dos resultados dos ensaios poderão ser consultados no documento de homologação DH 938 [5] disponível para consulta pública no portal do LNEC (www.lnec.pt). 5.5. Aplicações Como exemplo de aplicação apresenta-se o caso de uma moradia unifamiliar isolada, construída em estrutura porticada com paredes exteriores construídas em parede simples de alvenaria de tijolo (20 cm de largura) e acabamento das fachadas em reboco areado grosso pintado com tinta branca. A construção não dispunha de nenhum tipo de isolamento térmico. Eram visíveis sinais de degradação no acabamento das fachadas com necessidade de manutenção ao nível das pinturas, o que afetavam a estética do edifício. No entanto, o principal problema da casa consistia no seu péssimo desempenho térmico consequente da total ausência de isolamento aliado ao faco da inexistência de caixa-de-ar, devido à utilização de apenas um pano de parede. Esta circunstância traduzia-se no funcionamento em ponte térmica de toda a envolvente exterior da casa. Deste modo, como estratégia de reabilitação foi aplicado o sistema TERMOFACE sobre as paredes de fachada existentes que apresentavam o desempeno e regularização exigidos. A beneficiação do desempenho térmico e o recurso a um acabamento de fachada cerâmico de baixa manutenção constituíram os dois fatores decisivos para a opção desta solução por parte do cliente. Nas imagens apresentadas demonstra-se a comparação da aparência estética da casa antes e depois da aplicação do sistema. Figura 12: comparação do aspeto visual da casa antes e depois da aplicação do TERMOFACE

E. Costa 49 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A reabilitação posiciona-se em Portugal como último recurso para a resolução de problemas que poderiam ser evitados ou minimizados através da implementação das boas práticas construtivas, desde a fase de projeto e posteriormente respeitadas em obra. A esta conjuntura, soma-se a o descuramento da manutenção exigida ao longo da vida útil do edifico, que permitiria o desagravamento ou mesmo eliminação de algumas patologias com forte impacto na componente estética e funcional dos edifícios. No caso específico da construção em tijolo face à vista, embora a manutenção não revele os mesmos níveis de exigência de outras soluções construtivas, os erros de projeto e construção manifestam-se de forma mais evidente. Neste sentido, é fundamental adotar uma estratégia de prevenção assente na salvaguarda das boas práticas construtivas, testadas e aperfeiçoadas ao longo dos anos, durante as fases de projeto e conceção. Para a reabilitação em construções em tijolo face à vista, a estratégia poderá consistir numa aproximação tradicional caracterizada pela correção das anomalias com base nos princípios fundamentais deste sistema construtivo. As intervenções pontuais ou reconstruções alargadas definem-se através da substituição do material danificado e retificação dos erros cometidos na execução. Noutra perspetiva, o sistema TERMOFACE surge como uma nova abordagem no campo da reabilitação de edifícios com acabamento cerâmico nas fachadas. Salvaguardada a estabilidade da parede de base, esta solução, enquanto sistema compósito de isolamento pelo exterior, possibilita a eliminação das patologias na origem das infiltrações pelas fachadas e ao mesmo tempo corrige eventuais pontes térmicas existentes. Poderá constituir uma intervenção mais ligeira e económica, principalmente nos casos com maior área de atuação. No caso específico das construções em tijolo face à vista ou acabamento a plaquetas cerâmicas, o recurso a este sistema não desvirtua a estética dos edifícios garantindo a sua imagem no final da aplicação. 7. REFERÊNCIAS [1] Manual de Aplicação de tijolos de face à vista e pavers cerâmicos, Cerâmica Vale da Gândara., Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, Mortágua. 2012. [2] Silva, J. Mendes - Alvenarias não estruturais. Patologias e estratégias de reabilitação, Seminário Paredes de Alvenaria, pp.187-206, 2002. [3] NP EN 998-2 - Especificações de argamassas para alvenaria. Parte 2: argamassas de montagem, 2012. [4] Silva, J. Mendes., Abrantes, V. Patologias em paredes de alvenaria: causas e soluções, Seminário Paredes de Alvenaria: Inovação e possibilidades atuais, Lourenço et al. (eds.), pp. 65-84, 2007. [5] DH 938 Documento de homologação, Termoface: Sistema compósito de isolamento térmico pelo exterior, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 12 pp., 2016.

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