Palavras-chave: Alargadores multicortantes, Ângulo de hélice, Estabilidade dimensional, Acabamento.

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Transcrição:

IMPORTÂNCIA DO ÂNGULO DE HÉLICE NO DESEMPENHO DOS ALARGADORES MULTICORTANTES Alexandre Araújo Bezerra Álisson Rocha Machado Universidade Federal de Uberlândia - Departamento de Engenharia Mecânica - Av. João Naves de Ávila, n 2160 - Campus Santa Mônica - CEP: 38400-902 - Uberlândia - MG - E-mail: alissonm@mecanica.ufu.br. Antônio Maria de Souza Júnior FIAT Automóveis S.A. - BR 381 - KM 429 - CEP: 32501-970 - Betim - MG. Resumo. Este trabalho apresenta um estudo da estabilidade dimensional (diâmetro, cilindricidade e circularidade) e o acabamento de furos cilíndricos obtidos pelo processo de alargamento, com alargadores multicortantes de lâminas soldadas de metal duro K10 na usinagem de uma liga de alumínio-silício, em função de diferentes valores de ângulo de hélice: -10º; -7º; 0º; 7º; e 10º. Observou-se o comportamento de tais valores do ângulo de hélice em duas condições de avanço diferentes. A potência consumida foi monitorada durante a usinagem por um sensor de corrente que utiliza efeito Hall. No geral, observou-se menores erros de circularidade e cilindricidade, além de melhor precisão de diâmetro quando se usou alargadores com ângulos de hélice de 0º. Em contrapartida, melhores resultados quanto ao acabamento foi obtido com os alargadores helicoidais. Palavras-chave: Alargadores multicortantes, Ângulo de hélice, Estabilidade dimensional, Acabamento. 1. INTRODUÇÃO A necessidade de produzir grande número de furos cilíndricos com bom acabamento e precisão geométrica exige ferramentas capazes de atender tais requisitos. A broca helicoidal convencional, ferramenta de aresta frontal que produz furo em material sólido de forma bem econômica, não é capaz de produzir furos com tais níveis de exigências, pois o espaço nas suas estrias helicoidais para conduzir os cavacos para fora do furo nem sempre é suficiente para não comprometer o acabamento da superfície do furo. O corpo da broca deve ser ainda bastante resistente e rígido para transmitir o torque e as forças sem se quebrar e sem submeter o sistema a deformações e vibrações intoleráveis (Tönshoff et al., 1994). O alargador multicortante, ao contrário, além de atender tais requisitos, é capaz de alargar um grande número de furos pois tem características geométricas adequadas e executa apenas

um leve corte no furo circular. Pode também ser realizado com quase todas as máquinasferramentas que possuam árvore rotativa (Soratgar, 1987). O alargador multicortante possui duas ou mais estrias paralelas ao eixo da ferramenta ou em hélice, as quais propiciam dentes para o corte e ranhuras para a remoção dos cavacos (Metals Handbook, 1989). As lâminas estão num único conjunto e encontram-se simultaneamente em contato com a peça. A usinagem é subdividida em duas operações básicas: corte pelas arestas principais de corte e alisamento pelas arestas secundárias, as quais se apoiam numa extensão relativamente grande contra a superfície do furo já usinado e conduzem a ferramenta. Para isto as cunhas cortantes dispõe de uma superfície secundária que têm forte influência no resultado da usinagem durante o processo de alargamento (Weinert et al., 1998). Um elemento geométrico muito importante é o ângulo de hélice, pois a hélice das lâminas é fundamental para uma execução perfeita do furo. Ela pode ter sentido direito ou esquerdo. Aconselha-se para o alargamento de materiais dúcteis uma hélice a esquerda (ângulo de hélice negativo); para os materiais frágeis, como o ferro fundido e o bronze, uma hélice nula (canais retos) ou quase nulas, e para os materiais mais duros e tenazes, uma hélice direita (ângulo de hélice positiva) (Rossi, 1970). Os sentidos da hélice das lâminas cortantes, e os ângulos de hélice, têm sido razões de numerosas experiências que, às vezes, tem dado resultados contrastantes. Achou-se, segundo Rossi (1970), que os alargadores com dentes helicoidais de sentido esquerdo e de rotação direita têm produzido furos calibrados e perfeitamente lisos também num aço duro; requereu-se porém uma maior pressão axial. Desta forma, este trabalho avalia a influência do ângulo de hélice sobre a qualidade final dos furos alargados. 2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Os testes foram realizados na liga de alumínio-silício SAE 322 (ou A.A. 355.0) com dureza média de 95 HV e a seguinte composição química: 6,00 % Si; 2,06 % Cu; 0,38 % Mg; 0,15 % Ti; 1,00 % Fe; 0,50 % Mn; 1,00 % Zn; 0,20 % Ni; 0,15 % Pb; 0,10 % Sn; e o restante de Al. Tanto o pré-furo como a operação de alargamento foram realizados na fresadora CNC Romi Interact IV. O pré-furo foi realizado com brocas de aço-rápido (velocidade de corte (V c ) = 30 m/min e avanço (f) = 0,16 mm/rot) e o alargamento foi executado com alargadores com lâminas soldadas de metal duro K10 (ângulo de folga de 22, ângulo de saída de 10, guia cilíndrico de 0,4 mm, acabamento do plano de saída D15 (Ra na faixa de 0,05 µm) e número de lâminas (z) igual a 5), sem uso de bucha de guia. A Tabela 1 identifica os alargadores utilizados. O furo alargado tem diâmetro nominal e comprimento de 12 mm, sendo o mesmo cego e sem chanfro. Foi utilizado um fluido de base semi-sintética emulsionável a 3% para todos os ensaios, com vazão de 5,3 l/min. Tabela 1: Identificação dos alargadores utilizados nos ensaios. ITEM \ ALARGADOR 01 02 03 04 05 diâmetro (mm) 11,999 11,995 11,995 11,997 11,995 ângulo de hélice ( ) 0-7 - 10 + 7 + 10 batimento do diâmetro (mm) 0,003 0,004 0,003 0,005 0,006 As variáveis dependentes analisadas foram: diâmetro ( ), rugosidade média (R a ), erro de circularidade, ou simplesmente circularidade (Cr), erro de cilindricidade, ou simplesmente cilindricidade (Cl) e potência. Em cada etapa variou-se o valor do avanço, permanecendo constantes os demais, e para cada condição de usinagem, chamada de sub-etapa, foram

realizados 32 furos com ângulos de hélice (γ f ) diferentes, considerando a média desses resultados para análise. As etapas dos ensaios foram divididas conforme é mostrado na Tabela 2. Para medir o diâmetro, a rugosidade, a circularidade e a cilindricidade, usou-se um Micrômetro Interno Tesa, com resolução de 0,001 mm e faixa de indicação da escala principal de 10 a 12 mm, um Rugosímetro Surftest 211 da Mitutoyo e um Talyrond 3 da Rank Taylor Hobson, respectivamente. Para a medição da potência usou-se um sensor de corrente Hallsensor NW-SC-50 e uma placa A/D de aquisição de sinais CYRDAS 1602. Tabela 2: Etapas dos ensaios de alargamento. etapa variável sub-etapa e valor da variável respectiva sub-etapa 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1 γ f ( ) -10-7 0 7 10 alargador nº 03 02 01 04 05 sobremetal (mm) = 0,2; velocidade de corte (m/min) = 25; f (mm/rot) = 0,8 sub-etapa 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2 γ f ( ) -10-7 0 7 10 alargador nº 03 02 01 04 05 sobremetal (mm) = 0,2; velocidade de corte (m/min) = 25; f (mm/rot) = 0,1 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os valores constantes nos gráficos, apresentados a seguir, representam as médias de 32 furos executados nas mesmas condições e foram submetidos ao critério de rejeição Chauvenet (Holman, 1978). Detalhes desses valores são fornecidos por Bezerra (1998). A Tabela 3 mostra um resumo dos resultados médios e dos desvios padrões das variáveis dependentes nos furos alargados obtidos com a mudança do valor do ângulo de hélice para o caso de avanço igual a 0,8 mm/rot. Tabela 3 - Resumo dos resultados encontrados na etapa 1. sub-etapa 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 γ f ( ) -10-7 0 7 10 (mm) 12,0401 12,0316 12,0193 12,0308 12,0291 desvio(mm) 0,0076 0,0062 0,0055 0,0081 0,0067 R a (µm) 2,5258 2,6753 3,1406 2,6119 2,1259 desvio(µm) 0,8828 0,9624 0,7923 0,7737 0,6431 Cr(µm) 0,0352 0,0374 0,0119 0,0096 0,0467 desvio(µm) 0,0121 0,0119 0,0049 0,0037 0,0194 Cl(µm) 0,0315 0,0296 0,0156 0,0142 0,0338 desvio(µm) 0,0133 0,0113 0,0094 0,0064 0,0126 potência(w) 84,4198 91,6592 73,5297 72,5098 87,0993 desvio(w) 21,0090 22,5739 16,3431 18,8090 22,7899 A Tabela 4 mostra um resumo dos resultados médios e desvios padrões das variáveis dependentes nos furos alargados obtidos com a mudança do valor do ângulo de hélice para o caso de avanço igual a 0,1 mm/rot.

Tabela 4 - Resumo dos resultados encontrados na etapa 2. sub-etapa 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 γ f ( ) -10-7 0 7 10 (mm) 12,0531 12,0320 12,0310 12,0387 12,0439 desvio(mm) 0,0019 0,0093 0,0072 0,0067 0,0066 R a (µm) 2,0171 2,0780 2,7810 2,1152 2,2097 desvio(µm) 0,4425 0,4026 0,5394 0,4447 0,4293 Cr(µm) 0,0268 0,0286 0,0154 0,0235 0,0328 desvio(µm) 0,0127 0,0145 0,0038 0,0077 0,0119 Cl(µm) 0,0200 0,0227 0,0145 0,0460 0,0544 desvio(µm) 0,0077 0,0096 0,0085 0,0096 0,0111 potência(w) 9,9528 12,2196 26,0201 20,3240 28,2032 desvio(w) 6,8808 6,3981 5,3886 9,6070 9,2591 As Figuras de 1 a 10 apresentam os resultados na forma de gráficos. Em cada gráfico a curva central corresponde aos valores médios e as outras duas curvas representam a faixa de variação da grandeza, considerando um desvio padrão. 3.1 Influência do ângulo de hélice sobre a precisão de diâmetro O ângulo de hélice de 0 apresentou melhor precisão de diâmetro, tanto com valor de avanço igual a 0,8 mm/rot (Fig. 1) quanto a 0,1 mm/rot (Fig. 2). Verifica-se uma leve redução na precisão de diâmetro quando se usa avanço pequeno, o que está de acordo com Soratgar (1987), o qual afirma que, para as operações de alargamento, a maioria dos artigos publicados recomenda avanços maiores que nas operações de furação para um diâmetro correspondente. É importante lembrar que o avanço utilizado na furação foi de 0,16 mm/rot. Segundo Stemmer (1992), os alargadores de dentes retos são perfeitos para trabalhos de precisão. Os resultados deste trabalho confirmam esta tendência. 12,055 12,050 12,045 sobremetal = 0,4 mm; guia = 0,4 mm; Vc = 25 m/min; f = 0,8 mm/rot; z = 5; acabamento D15. Diâmetro (mm) 12,040 12,035 12,030 12,025 12,020 12,015 12,010 Figura 1: Influência da ângulo de hélice sobre diâmetro (avanço igual a 0,8 mm/rot).

12,066 12,060 12,054 sobremetal = 0,4 mm; guia = 0,4 mm; Vc = 25 m/min; f = 0,1 mm/rot; z = 5; acabamento D15. 12,048 Diâmetro (mm) 12,042 12,036 12,030 12,024 12,018 12,012 Figura 2: Influência da ângulo de hélice sobre diâmetro (avanço igual a 0,1 mm/rot). 3.2 Influência do ângulo de hélice sobre a rugosidade As Figuras 3 e 4 mostram a influência do ângulo de hélice sobre a rugosidade média. Os dentes helicoidais, em relação aos de dentes retos, favorecem o acabamento, pois permitem maior área de contato com a parede interna do furo através do guia cilíndrico, que tem função, além de guiar o próprio alargador dentro do furo, de alisar a parede do furo (Schroeter, 1989), apesar desta maior área aumentar as forças de atrito e, consequentemente, a potência e as vibrações, o que pode ser um fator desfavorável na obtenção de um furo com boa qualidade dimensional e superficial. 5,0 4,5 sobremetal = 0,4 mm; z = 5; Vc = 25 m/min; f = 0,8 mm/rot; guia = 0,4 mm; acabamento D15. 4,0 3,5 Ra (µm) 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 Figura 3 Influência do ângulo de hélice sobre a rugosidade (avanço igual a 0,8 mm/rot). No caso em estudo, acredita-se que nos alargadores com dentes helicoidais, a capacidade de alisar do guia cilíndrico foi preponderante comparado ao aumento das forças de atrito no

resultado final do acabamento. Da mesma forma, nos experimentos de Schroeter (1989) verificou-se um aumento da rugosidade com a diminuição do ângulo de hélice. Ra (µm) 4,0 3,8 3,6 3,4 3,2 3,0 2,8 2,6 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 sobremetal = 0,4 mm; Vc = 25 m/min; z = 5; f = 0,1 mm/rot; guia = 0,4 mm; acabamento D15. 1,4 Figura 4 Influência do ângulo de hélice sobre a rugosidade (avanço igual a 0,1 mm/rot). Observa-se nos dois gráficos que o ângulo de hélice nulo proporciona pior acabamento. Estes resultados coincidem com os encontrados por Miller (1986, apud Schroeter, 1989). 3.3 Influência do ângulo de hélice sobre a circularidade As Figuras 5 e 6 mostram menores variações dimensionais quanto à circularidade para os ângulos de hélice de 0 e 7 quando o avanço foi igual a 0,8 mm/rot (Fig. 5) e 0 para um avanço de 0,1 mm/rot (Fig. 6). 0,08 0,07 0,06 sobremetal = 0,4 mm; z = 5; Vc = 25 m/min; guia = 0,4 mm; f = 0,8 mm/rot; acabamento D15. Circularidade (µm) 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0,00-0,01 Figura 5 Influência do ângulo de hélice sobre a circularidade (avanço igual a 0,8 mm/rot).

Segundo Miller (1986, apud Schroeter, 1989), os alargadores de dentes retos, de menor custo, são os mais utilizados e preferidos para trabalhos de precisão. 0,060 0,055 0,050 sobremetal = 0,4 mm; z = 5; Vc = 25 m/min; f = 0,1 mm/rot; guia = 0,4 mm; acabamento D15. Circularidade (µm) 0,045 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 Figura 6 Influência do ângulo de hélice sobre a circularidade (avanço igual a 0,1 mm/rot). 3.4 Influência do ângulo de hélice sobre a cilindricidade Nas Figuras 7 e 8, onde temos o comportamento da cilindricidade dos furos alargados em função da variação do ângulo de hélice, notam-se a mesma tendência encontrada com a circularidade para avanço igual a 0,8 mm/rot (Fig. 7). 0,060 0,055 0,050 0,045 sobremetal = 0,4 mm; Vc = 25 m/min; z = 5; f = 0,8 mm/rot; guia = 0,4 mm; acabamento D15. Cilindricidade (µm) 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000 Figura 7 Influência do ângulo de hélice sobre a cilindricidade (avanço igual a 0,8 mm/rot). Observa-se também que o menor erro de cilindricidade foi obtido com o alargador de canal reto para o avanço de 0,1 mm/rot (Fig. 8). Isto confirma a tendência do alargador com ângulo de hélice igual a 0 proporcionar maior estabilidade dimensional que os alargadores helicoidais. Entretanto, Ohgo et al. (1979) observaram que o uso de um alargador de hélice a

esquerda com um chanfro de dois estágios e uma quantidade muito pequena de fluido de corte solúvel preveniram os efeitos adversos da APC e dos cavacos sobre a precisão do alargamento dos ferro-fundidos cinzentos. Cilindricidade (µm) 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 sobremetal = 0,4 mm; Vc = 25 m/min; z = 5; f = 0,1 mm/rot; guia = 0,4 mm; acabamento D15. 0,01 0,00 Figura 8 Influência do ângulo de hélice sobre a cilindricidade (avanço igual a 0,1 mm/rot). 3.5 Influência do ângulo de hélice sobre o consumo de potência As Figuras 9 e 10 apresentam a influência do ângulo de hélice sobre o consumo de potência. 140 130 120 sobremetal = 0,4 mm; Vc = 25 m/min; z = 5; f = 0,8 mm/rot; guia = 0,4 mm; acabamento D15. 110 Potência (W) 100 90 80 70 60 50 Figura 9 Influência do ângulo de hélice sobre o consumo de potência (avanço igual a 0,8 mm/rot). Os alargadores em geral são de corte à direita. Usando-se, então, uma hélice esquerda, o cavaco é empurrado para frente, evitando que prejudique a superfície já usinada. Além disto,

ocorre um empuxo axial que fixa melhor a ferramenta no cone e elimina eventuais folgas da máquina. O emprego de uma hélice direita com alargador de corte à direita faz com que o cavaco seja puxado para cima, onde, se penetrar entre as paredes do furo e as guias do alargador, provoca arranhões. O empuxo é no sentido de arrancar o alargador do mandril. Por estas razões, a hélice direita só deve ser usada no alargamento de furos cegos, nos quais o cavaco, jogado para frente, não encontraria lugar para se alojar (Stemmer, 1992). Teoricamente, um alargador corta mais facilmente e requer menos força se ele é um alargador com hélice à direita (Soratgar, 1987). 50 45 40 sobremetal = 0,4 mm; Vc = 25 m/min; z = 5; f = 0,1 mm/rot; guia = 0,4 mm; acabamento D15. Potência (W) 35 30 25 20 15 10 5 0 Figura 10 Influência do ângulo de hélice sobre o consumo de potência (avanço igual a 0,1 mm/rot). Os resultados apresentados pelas Figuras 9 e 10 mostram que o avanço tem influência nesta análise. Com o avanço de 0,8 mm/rot. a vantagem foi para os alargadores com ângulo de hélice à direita, o que confirma a teoria de Soratgar (1987), enquanto o avanço de 0,1 mm/rot. os melhores resultados foram com os alargadores de ângulo de hélice à esquerda. Pode-se notar uma grande diferença no consumo de potência quando se alterou o avanço. Isso mostra que o avanço apresenta uma grande influência sobre a potência. 4. CONCLUSÕES O ângulo de hélice é uma importante variável no alargamento de furos cilíndricos. Para cada parâmetro considerado vai existir um valor mais indicado. Alargadores com ângulo de hélice de 0 são mais adequados para trabalhos de precisão, enquanto o alargador com dentes helicoidais proporciona melhor acabamento, e menor consumo de potência, embora o avanço possa alterar esta conclusão. Agradecimentos Os autores agradecem à FIAT Automóveis S.A. pelo suporte técnico, à CAPES pelo financeiro e ao Técnico Reginaldo Ferreira de Souza pelo apoio na condução dos experimentos.

REFERÊNCIAS Bezerra, A.A., 1998, Influência dos principais parâmetros no alargamento de uma liga de alumínio-silício, Dissertação de Mestrado, UFU, Uberlândia, pp. 120-139. Holman, J.P., 1978, Experimental Methods for Engineers, 3 rd edition, McGraw-Hill, USA, pp. 59-67. Metals Handbook, 1989, Reaming, vol. 16 - Machining, 9 th edition, American Society for Metals, pp. 239-248. Miller, P.C., 1986, Better tools upgrade boring and reaming, Tooling and Production, vol. 10, pp. 30-32, apud Schroeter, R.B., 1989, Alargamento de precisão em alumínio aeronáutico com ferramentas de gume único regulável, Dissertação de Mestrado, UFSC, Florianópolis, 113 pags. Ohgo, K., Satoh, A., Mizuno, T. and Itoh, T, 1979, Relation between cutting conditions and precision in the reaming of gray iron castings, Wear, vol. 52, n. 1, pp. 79-88. Rossi, M., 1970, Máquinas-Operatrizes Modernas, Livro Ibero-Americano Ltda., Rio de Janeiro, 562 pags. Schroeter, R.B., 1989, Alargamento de precisão em alumínio aeronáutico com ferramentas de gume único regulável, Dissertação de Mestrado, UFSC, Florianópolis, 113 pags. Soratgar, M.S., 1987, An analysis of the effectiveness of reaming as a secondary operation for hole production, Ph.D. Thesis, Texas Technology University, USA, 298 pags. Stemmer, C.E., 1992, Ferramentas de Corte II: brocas, alargadores, ferramentas de roscar, fresas, brochas, rebolos, abrasivos, Editora da UFSC, Florianópolis, pp. 33-43. Tönshoff, H.K., Spintig, W., König, W. and Neises, A., 1994, Machining of holes developments in drilling technology, Annals of the CIRP, vol. 43/2, pp. 551-561. Weinert, K., Adams, F., Biermann, D. and Thamke, D., 1998, Alargadores de corte único: corte mais eficiente, além de vantagens econômicas, Máquinas e Metais, Aranda Editora, Ano XXXIV, n. 384, pp. 38-57. IMPORTANCE OF THE HELIX ANGLE ON THE PERFORMANCE OF MULTI- BLADES REAMERS Abstract. This work presents a study of the dimensional stability (diameter, cylindricity and roundness) and surface finishing of cylindrical holes produced by reaming process with K10 cemented carbide welded blade reamers possessing several helix angles (-10º; -7º; 0º; 7º; and 10º) in aluminium-silicon alloy. Two differents feed rates were used. The power consumption were monitored during tests with a Hall sensor based equipment. In general the minor error of cylindricity and roundness, besides better diameter precision, was obtained when using reamers with 0º of helix angle. On the other hand, better results with relationship to the surface finishing were obtained with the helical reamers. Key words: Multi-blades reamers, Helix angle, Dimensional stability, Surface finishing.