Jornalismo, meio ambiente, saneamento

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Transcrição:

Cabo Frio 12/09/2016 Jornalismo, meio ambiente, saneamento Por menos que se queira analisar por esses ângulos, hoje é praticamente impossível tratar qualquer tema no jornalismo sem tratar também de suas relações com o meio ambiente, o meio físico onde tudo acontece - pode ser a questão da água, do solo, do clima, planejamento urbano, da economia, dos resíduos, da energia, do transporte etc. E das perspectivas, do futuro. Hoje, somos 7,4 bilhões de habitantes da Terra. Em2030 seremos 8,5 bilhões; em 2050, chegaremos a 9,9 bilhões; em 2053 seremos 10 bilhões. No Brasil, 206 milhões, hoje, em 5.570 municípios. Mais de 50% (56,4%) em 309 municípios com mais de 100 mil habitantes. 5,5% dos municípios concentram 116,1 milhões de pessoas. São Paulo tem 12,04 milhões. Rio, 6,5 milhões; Brasília, 2,98 milhões; Salvador, 2,94 milhões; Fortaleza,2,61 milhões; Belo Horizonte, 2,51 milhões; Manaus, 2,09 milhões.

Saneamento Como o tema central aqui é saneamento, pode-se começar pelos números mais amplos. Quase 20% (18%) não dispõem de água tratada no Brasil. Só 50% têm suas casas ligadas à rede de esgotos. Dos esgotos recolhidos, só 39% são tratados. O restante é despejado sem tratamento em cursos d água. Em São Paulo, o saneamento básico beneficia 95% dos habitantes. Os 5% restantes também não recebem água tratada. 5% (um milhão de pessoas) não contam com coleta de esgotos. Entre os 10 municípios de maior porte no país e em pior situação estão Belém, Rio Branco (AC), Santarem (PA), Manaus (AM), Macapá (AP), Porto Velho (RO) e Ananindeua (PA). Em Santarem (96%) e Ananindeua (100%) estão os piores números da falta de esgotos.porto Velho (99%), Manaus (97%), Macapá (92%), Belem (87%) também têm números preocupantes na área de água. Metade dos municípios do Rio Grande do Norte não têm tratamento satisfatório de água, assim como Rio Branco (50,1% - AC) e Santarem (45,34%). Macapá, Porto Velho e Ananindeua estão abaixo de 40%. Perdas de água são da mesma forma inquietantes em Macapá (77,35%), Porto Velho (70,72%), Rio Branco

(61,53%, Manaus (49,28%). Na média das cidades, as perdas são de 38,34%. O mercado O mercado mundial do saneamento é do tamanho do mundo 7 bilhões de pessoas. Mas a caminhada rumo à universalização segue devagar. 2,4 bilhões não dispõem de saneamento adequado; só 68% da população mundial têm acesso. Nas cidades, 82% da população têm saneamento, contra 51% da população rural. No Brasil, menos de metade (48%) da população têm coleta de esgoto e isso quer dizer mais de 100 milhões de pessoas sem esse serviço. Entre os problemas principais estão um modelo de negócio intensivo em capital e com altos custos operacionais. Precisa de investimentos vultosos e um sistema de cobranças eficaz, que nãoprejudique o direito de acesso ao serviço. Pode gerar boa rentabilidade para empresas públicas e privadas. A maioria dos municípios delega os serviços a companhias estaduais, com contratos de concessões. Também na maioria dos municípios o valor do tratamento de esgotos é cobrado já na fatura de água das residências, calculado com base no consumo de água.

Investimentos Os repasses financeiros para o setor de saneamento são feitos principalmente pela Caixa Econômica Federal e BNDES. O PAC contratou R$46 bilhões para obras de coleta e tratamento de esgotos, abastecimento de água, drenagem e destinação final do lixo, no período 2011/2014. Para levar abastecimento de água e esgotamento sanitário a todo o país até 2033 seria necessário mais do que dobrar o atual nível de investimento, passar de uma média de R$7,6 bilhões ao ano para R$15,2 bilhões anuais entre 2013 e 2033. Com isso o país chegaria a 79% o acesso a esgotamento. A universalização absoluta ocorreria em 2054. No orçamento federal para 2015 o governo cortou R$5,1 bilhões destinados a investimentos embora o Brasil seja um dos países com maior número de pessoas sem instalações sanitárias 100 milhões.

O futuro Não há tarefa mais urgente para o poder público que enfrentar o déficit na área de abastecimento de água e implantação de redes de coleta e tratamento de esgotos. A saúde pública e a qualidade de vida estão ligadas. A classe política precisa mobilizar-se em cada lugar. A aproximação de eleições pode permitir que a sociedade se organize e pressione. Também será importante que uma reforma política crie um sistema em que o voto distrital permita ao eleitor cobrar especificamente do candidato no distrito onde vote as soluções para o problema o que não está vista hoje. Nos formatos de hoje, o tema está distante dos candidatos e o eleitor não tem caminhos para aproximálo e cobrar depois se houve esforços nessa direção.

Meio ambiente, saneamento e jornalismo As relações do saneamento e do meio ambiente com o jornalismo são vitais. A sociedade depende de informações que o jornalismo pode proporcionar sobre as questões do saneamento e das finanças públicas em toda parte, para organizar-se, mobilizar-se e exigir das instâncias públicas que aja para suprir as deficiências. Essas deficiências são muito graves em quase toda parte no Brasil, especialmente nesta hora de extremas dificuldades para o poder público nessa área. A parceria sociedade/comunicação será de extrema valia. O texto anexo da ProLagos tem uma síntese bastante abrangente da situação nessa área de Cabo Frio, Búzios, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Arraial do Cabo, que poderá ser muito útil para os interessados. Permito-me apenas lembrar de dois ângulos que poderão ser úteis na expansão das redes de esgotos, principalmente em áreas novas: o primeiro é o formato do esgoto condominial, criado pelo engenheiro José Carlos Melo em Pernambuco, e que permite importante redução de custos. Nessas áreas novas não é preciso implantar a rede coletora em torno de cada quadra e ligála a cada casa; se for possível, deve-se implantá-la apenas no meio de cada quadra e fazer a ligação de cada

propriedade com a rede apenas por essa ligação em um só ponto com a rede externa. O autor desta palestra, quando secretário do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal, chegou a implantar o método em alguns pontos da cidade, com forte economia de recursos. O segundo é a possibilidade, em alguns locais, de implantar consórcios intermunicipais para certas obras na área de saneamento e outras - que também podem reduzir muito os custos de implantação aterros sanitários e compostagem de materiais orgânicos; aterros apenas de materiais secos; depósitos de água e serviços de abastecimento de água; estações de tratamento de esgotos. São muitas possibilidades. A organização de setores da sociedade e sua aproximação com meios de comunicação também pode viabilizar e dar velocidade de execução a projetos importantes para os setores que reivindiquem.